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sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Vocação a serviço da vida

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)        

Dicas para começar o ano vivendo a sua vocação | Camilianos 

*Artigo do Padre Geovane Saraiva,

jornalista, colunista e pároco

de Santo Afonso de Fortaleza, CE


‘Na vastidão do enorme teatro da história e da vida humana, na ampla dinâmica de seu todo, duas dramáticas, inquietantes e abissais forças edificaram duas cidades, a saber, na repetição da pertinente afirmação do doutor da graça, Santo Agostinho : ‘Dois amores fundaram, pois, duas cidades : o amor próprio, levado ao desprezo a Deus, a terrena; e o amor a Deus, levado pelo despojamento de si próprio, a cidade celestial’. 

Aos olhos da fé, como é imprescindível o sentido da transcendência! Ela agarra-se à compaixão de Deus como irresistível, no seu coração em chamas num olhar elevado, indo às alturas : ‘Chamaste, clamaste e rompeste minha surdez’.

Neste mês de agosto pensemos, pois, nas vocações, no chamado que Deus constantemente quer fazer a nós, interpelando com insistência, no exemplo do vocacionado do primeiro dia do mês, Santo Afonso Maria de Ligório, uma vocação a serviço da vida e do Reino de Deus; ele com o crucifixo às mãos, sem esquecer o Livro Sagrado e a imagem daquela mulher da mão grande, a Senhora do Perpétuo Socorro, estava sempre pronto para o bom combate da fé. 

A inspiração, que venha mesmo de Jesus, que, humanamente entristecido com a morte de João Batista, não se sente impedido. Ao contrário, move-se de compaixão, não permitindo que a tristeza o torne insensível à dor e à fome de uma multidão de irmãos (cf. Mt 14, 14).

Que saibamos, pois, ver a vida como insuspeita e comprovada, inaudito mistério de amor, como dom e graça de Deus. O agosto vocacional pede de nós discernimento no chamado de Deus, pede ânimo e coragem diante da falta de compromisso, no desapego de si próprio, em vista da cidade celestial, idealizado por Santo Agostinho e que se concretizou em Afonso Maria de Ligório, mas na convicção de que o amor é gigantescamente maior e incomparável à tristeza de uma multidão incontável de irmãos, pelos que passam a não existir mais. 

É o mesmo espírito de Jesus de Nazaré, diante da morte de João e da Covid-19, dizendo-nos : deixe-nos livres, pois a morte de muitos irmãos nos inquieta e nos compromete.

Só mesmo num compenetrar sedutor e esperançoso, na alegria da manifestação do Cristo Senhor, a nos dizer que em tudo somos mais que vencedores, graças àquele que nos amou, na certeza de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os poderes celestiais, nem o presente, nem o futuro, nem as forças cósmicas, nem a altura, nem a profundeza, nem outra criatura qualquer nos poderá separar do amor de Deus por nós (cf. Rm 8, 38-39). Assim seja!’

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1463815/2020/08/vocacao-a-servico-da-vida/

sábado, 14 de março de 2020

A qual Deus servimos e anunciamos?

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 Se Deus é amor e este lança fora todo medo, a pregação do terror não pode fazer parte do anúncio cristão
*Artigo de Fabrício Veliq,
teólogo protestante

‘Embora muitas pessoas em nosso país se digam cristãs, vê-se que várias servem a um deus que não é quem Jesus chamava Pai. Isso é perceptível em suas atitudes, modos de vida e falas sobre ele. Comumente se ouve sobre uma imagem divina punidora dos maus e recompensadora dos bons, que odeia certas manifestações culturais, artísticas, litúrgicas e religiosas. Trata-se de um deus que demanda obediência cega a um livro milenar e que condenaria quem não o seguisse - condenação parcelada em diversas prestações, mas cujo débito final é cobrado no pós-vida. A desobediência àquilo que ‘Deus escreveu em seu livro’ levaria a negócios mal sucedidos, falta de prosperidade, de paz, de alegria etc. como sinal da condenação divina. Após sua morte, o desobediente ainda seria condenado à danação eterna, à câmara de tortura onde será atormentado por toda a eternidade.

Contudo, essa imagem em nada se assemelha àquela pregada por Jesus Cristo, nem às elaborações feitas pelos apóstolos depois de sua morte e ressurreição. Muito pelo contrário, as narrativas evangélicas mostram um Deus que se coloca como Pai amoroso, distribuidor da graça sem limites, acolhedor, disposto a perdoar, que faz vir a chuva sobre bons e maus, que não retribui a cada um segundo seu mérito, uma vez que o critério do Reino é justamente não ter mérito algum. Não foi à toa que Jesus disse que às crianças pertence o Reino de Deus. Elas, nos tempos bíblicos, não tinham mérito e eram consideradas as mais baixas e inúteis dentre a população, não podendo oferecer força de trabalho e, ainda, dependendo absolutamente de seus pais. Em outras palavras, Jesus afirma que o Reino de Deus é revelado às pessoas consideradas mais miseráveis, excluídas e sem valor para a sociedade de seu tempo. Mais ainda, diz que é a elas que o Reino pertence.

Assim, esse dois discursos são inconciliáveis. Do contrário, o Deus anunciado por Jesus seria alguém falso, que diz uma coisa, mas intenta outra; dá com a direita e, entretanto, retira com a esquerda. De acordo com a fé cristã, isso não faz o menor sentido. Portanto, é necessário escolher a qual Deus se serve, o que, sem dúvida, implica o modo como se vive.

Claramente, a pregação de uma divindade que traz o medo tem suas vantagens. Afinal, o terror frente à condenação eterna faz com que diversas pessoas se submetam a normas impostas por outrem, desde que sejam convencidas de que elas foram ditas primeiro por Deus. Como não é difícil convencer a maioria das pessoas a respeito de questões espirituais, bastando para isso um discurso eloquente e firme, tem-se aqui uma boa pista do porquê do grande crescimento de Igrejas fundamentalistas e comandadas por charlatões da fé. Ao mesmo tempo, sabe-se que o discurso de ‘certo e errado’ traz segurança. Afinal, com a ciência do que agrada e desagrada a Deus, basta seguir a lista dos primeiros para garantir a estadia no céu. Como plus, ainda tem-se um instrumento maravilhoso para condenar toda pessoa que pensa diferente, bastando simplesmente citar a lista do ‘não pode’ divino. Nada disso tem a ver com a proposta de Jesus e com o Deus anunciado por ele, mas traz novamente a questão da escolha de qual Deus anunciar e seguir.

Se Deus é amor, como afirma 1ª João, e ele lança fora todo medo, então a pregação do terror não pode fazer parte do anúncio cristão. Isso não implica em ‘libertinagem’ (grande medo dos fundamentalistas), antes, liberdade que todo amor traz consigo. Afinal, amor sem liberdade não é verdadeiro e seguir por medo nunca foi a proposta do Evangelho anunciado por Cristo.’


Fonte :