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terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

Chamados à Esperança

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 

*Artigo de Miguel Oliveira Panão,

professor

 

‘Num mundo marcado por crises sociais, ambientais e espirituais, somos desafiados a refletir sobre o nosso papel enquanto seres humanos, como faróis de esperança. No meio do caos, há uma necessidade urgente de irradiarmos uma luz proveniente do interior para retirar o mundo ao nosso redor da escuridão da indiferença e do desespero. Este é um chamamento universal que se torna ainda mais premente nas periferias, onde habitam aqueles que, muitas vezes, são relegados para as margens da sociedade : os mais frágeis, invisíveis no quotidiano de muitos.

A esperança, porém, não é uma ideia abstrata ou romântica. Ela ganha corpo em ações concretas que transformam realidades. Pensemos, por exemplo, nas redes de solidariedade que se formam espontaneamente nas comunidades desfavorecidas. Em bairros periféricos, onde as condições materiais são escassas, sendo comum encontrar pessoas que partilham o pouco que têm. Seja um prato de comida partilhado com um vizinho, seja o apoio emocional dado àquela mãe solteira que luta para criar os filhos, cada gesto é uma semente de esperança plantada em terreno árido.

Nas periferias urbanas, também encontramos exemplos de resiliência através da educação e da cultura. Projetos comunitários que oferecem reforço escolar, aulas de música ou formação profissional para jovens marginalizados são provas de que o ser humano pode resistir à adversidade. Ao abrir caminhos para um futuro mais digno, essas iniciativas não apenas melhoram a vida pessoal de quem delas participa, mas também regeneram o tecido social de comunidades inteiras.

Na dimensão espiritual, a esperança também se manifesta de forma marcante e transformativa. Nas igrejas, mesquitas ou templos que se erguem nos cantos mais pobres das cidades, encontramos pessoas que, através da fé, encontram sentido e força para enfrentar os pequenos-grandes desafios. Nesses espaços, a espiritualidade torna-se uma fonte de resistência à desumanização. É ali que o coletivo se une, que as vozes silenciadas são amplificadas, que as histórias de sofrimento são compartilhadas e readquirem significado.

Uma boa parte de nós, muitas vezes distantes dessas realidades, somos igualmente chamados a agir. Ser um ser de esperança implica olhar para a periferia – geográfica ou existencial – com olhos de empatia. Implica reconhecer a dignidade do outro e comprometer-se com a construção de um mundo onde ninguém seja deixado para trás. Isso pode significar envolver-se em iniciativas sociais, apoiar organizações que atuam diretamente junto dos mais vulneráveis ou, simplesmente, abrir espaço para ouvir e acolher o próximo.

Ser portador de esperança é acreditar que a transformação é possível, imaginável e concretizável. Como disse o médico Jonas Salk, «a esperança reside nos sonhos, na imaginação e na coragem daqueles que se atrevem a tornar os sonhos uma realidade». Nas periferias do mundo e do coração, a nossa luz interior brilha nos sorrisos e na forma de atos de bondade e gratuidade. O desafio que temos diante de nós é deixar que a fonte dessa luz interior, Deus, brilhe em nós e entre nós, deixando um legado de esperança para as atuais e futuras gerações.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.combonianos.pt/alem-mar/opiniao/4/1302/chamados-a-esperanca/


domingo, 30 de julho de 2017

Autoimagem e autoestima

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

A autoimagem é voraz e se alimenta principalmente da nossa autoestima.
*Artigo de Evaldo D´Assumpção,
médico e escritor


‘Hoje fala-se muito em autoimagem e autoestima, contudo nem todas as pessoas tem uma noção mais aprofundada do significado dessas duas palavras, tampouco o quanto são importantes para a nossa qualidade de vida.

Imagem é a impressão que se tem de uma pessoa. Se for de si própria, é o que se chama de autoimagem, se for de outra, é a denominada heteroimagem. Quase sempre as duas são falsas ou incompletas, pois consequências que são das expectativas fantasiosas e dos pré-julgamentos que se costumam fazer e ou cobrar dos outros. Elas vão sendo implantadas e reforçadas ao longo da vida, pelos elogios ou pelas críticas que se ouve. Quando elogios, se moderados e sinceros, contribuem para o crescimento de quem os recebe; se hipócritas ou exagerados, estimulam-se neles a vaidade e a prepotência. Sendo críticas e excessivas, e direcionadas especialmente para crianças e adolescentes – quase sempre pelos pais e mestres – elas os tornam complexados, revoltados, inseguros e infelizes.

A autoimagem é voraz e se alimenta principalmente da nossa autoestima. Exemplo disso é o laboradicto, aquela pessoa que se diz ‘viciada’ em trabalho. Aquela que não gosta de férias, nem pretende se aposentar. Sacrifica sua família, sua saúde, seu bem-estar e sua paz interior, tudo para saciar uma autoimagem de eficiente, produtiva e trabalhadora, criada e ampliada sempre e mais, pela bajulação dos chefes e companheiros de trabalho, que se aproveitam disso para extrair dela mais resultados. Até que um esgotamento psíquico, um derrame, um infarto fulminante, a leve ou a inutilize para sempre.

 Já a autoestima é o legítimo gostar de si próprio. Nada tem a ver com egoísmo, pois o egoísta, o egocêntrico, é alguém que se detesta, e tanto, que está sempre querendo e tomando tudo para si. E faz isso na tentativa – quase sempre frustrada – de conquistar-se a si próprio. Contudo, quanto mais coisas e vantagens toma para si, mais prejudica aos outros, e interiormente se sente mais frustrado e infeliz, pois de alguma forma sabe que está causando danos a alguém. Pode-se dizer que ele vive num permanente círculo vicioso, tentando amar-se, mas aumentando, cada vez mais, sua auto rejeição, o abismo que o separa de si mesmo.

Gostar genuinamente de si próprio é respeitar-se, é aceitar seus próprios limites, é permitir-se ter momentos de lazer e de descanso.

Fazer do trabalho uma parte importante de sua vida, mas nunca a essencial. Ele o tem como meio e nunca como fim, pois seu objetivo maior é ser feliz. Como consequência do gostar de si próprio, gostar também dos outros. Não os inveja, mas os respeita e os aceita exatamente como são. Procura cumprir adequadamente as suas obrigações, mantendo sempre a sua palavra e seus compromissos, pois os assume conscientemente, sem prometer além de suas possibilidades. Está sempre pronto a ajudar a quem precisa, tanto quanto aceita a ajuda dos outros, quando dela necessita. Não se sente humilhado por isso, mas se identifica como parte de um todo, que é a humanidade : uns pelos outros e nunca ‘uns devorando os outros’. Quem tem autoestima é feliz e irradia felicidade em torno de si. Sua paz interior é evidente, gerando sempre a paz entre os que o cercam e contribuindo permanentemente para que todos se sintam bem em sua companhia.

Uma das vantagens da autoestima é possuir alto grau de resiliência, que é a capacidade para superar traumas e estresses. Na física, resiliência é definida como a propriedade de certos materiais para restabelecer a sua forma original, depois de submetidos a uma deformação. Bom exemplo disso é a mola de aço. Submetida a forte pressão, ela se achata e perde sua forma de origem. Cessando a pressão, ela imediatamente retoma ao que era. Na natureza também encontramos vários exemplos de resiliência. Um dos melhores exemplos é o pé de bambu, que açoitado pelo vento curva-se, mas não se quebra. Cessando a ventania, ele volta a sua posição original.

Outras árvores, imponentes e firmes, servem como bom exemplo da total falta de resiliência : quando sopra o vento forte elas se partem ao meio, pois em consequência de sua rigidez, não conseguem vergar. E morrem.

Da mesma maneira, uma pessoa com boa resiliência, ao sofrer uma perda significativa, se vê esmagada, mas não se abate. Com o tempo vai se recompondo até readquirir o equilíbrio anterior. Quanto maior a resiliência, mais rápida, melhor e completa será a sua recomposição. Já as pessoas rígidas, sem autoestima, presas em sua autoimagem de ‘durões’, de inflexíveis, diante de um revés se abatem e dificilmente se recuperam.

A resiliência é uma das principais consequências da autoestima. Consequentemente, trabalhar para se ter uma melhor autoestima é o caminho mais curto para a paz interior, a felicidade pessoal, uma melhor qualidade de vida.’


Fonte :