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sexta-feira, 21 de junho de 2024

Qual a relação da solenidade de São João Batista com as festas juninas?

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Valdeci Toledo


Em 24 de junho, a Igreja celebra o nascimento de São João Batista. A data dessa festa, três meses após a anunciação e seis meses antes do Natal, corresponde às indicações de Lucas (1,36.56-57) e é uma das festas mais antigas, pois desde o século IV já havia celebrações litúrgicas em honra a João Batista. 

No dia 29 de agosto, a Igreja celebrará também a memória do seu martírio. João Batista é o único santo, além de Maria, a mãe de Jesus, de quem se celebra também o nascimento segundo a carne, pois na liturgia católica é comum celebrar o dies natalis, nascimento para o Céu dos seus santos, quando eles morrem biologicamente. No caso de João Batista, podemos dizer que se celebram os dois nascimentos, na Terra e no Céu. 

Anúncio da chegada dos tempos messiânicos

A Sagrada Escritura nos relata que Maria, logo após o anúncio do nascimento de Jesus, também foi informada pelo Anjo Gabriel sobre a gravidez de sua prima Isabel, o que a fez se dirigir à casa de sua prima para ajudá-la em seus últimos meses de gestação. Assim, Maria, grávida de Jesus, deve ter sido aquela que ajudou no parto de João Batista e o segurou em seus braços. 

João é filho de Zacarias e Isabel e seu nascimento anuncia a chegada do Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo. O Evangelho dá João o apelido de ‘Batista’ porque ele anuncia um novo rito de purificação (cf. Mt 3,13-17), no qual o batizado não imerge sozinho na água, como nos ritos judaicos, mas recebe a água batismal das mãos de algum ministro. João pretendia mostrar, assim, que o homem não se pode purificar sozinho, mas que toda santidade vem de Deus. João Batista é também lembrado como homem de grande mortificação, pois habitava o deserto, vestia-se de pelos de camelo e se alimentava de gafanhotos e mel silvestre (cf. Mt 3,4). 

O maior dos profetas

João Batista foi o maior entre os profetas, pois foi ele quem anunciou o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (cf. Lc 7,26-28; Jo 1,29.36). Sua vocação profética desde o ventre materno reveste-se de acontecimentos extraordinários, pois é um tempo repleto de alegria, é o momento da preparação para o nascimento de Jesus (cf. Lc 1,14.58). O Batismo de penitência que acompanha o anúncio dos últimos tempos é figura do Batismo segundo o Espírito Santo, que renovará todas as coisas (cf. Mt 3,11). 

É Jesus mesmo quem declara quem é esse profeta : ‘Em verdade vos digo : entre os filhos de mulheres, não surgiu outro maior que João Batista’ (Mt11,11). Assim, João Batista é o último dos grandes profetas de Israel, o primeiro a dar testemunho de Jesus e a iniciar o Batismo para o perdão dos pecados; nesse contexto, batizou Jesus e foi mártir em defesa da lei judaica. 

A origem das festas juninas e o dia de São João

As festas juninas, também conhecidas como festas de São João, são as comemorações anuais brasileiras adaptadas do solstício de verão europeu, haja vista que aqui no Brasil ocorrem no meio do inverno. Essas festividades, introduzidas pelos portugueses, são celebradas durante o mês de junho em todo o país. 

A prática de fazer fogueiras, na tradição pagã, era para combater as pestes que provocavam mortandades. Contra isso, as pessoas descobriram um remédio, fazer com ossos de animais uma fogueira cuja fumaça afugentava os males. Essa relação das festas juninas com as fogueiras soma-se também a uma tradição que lembra que os ossos de São João Batista foram queimados na cidade de Sebasta ou Sebaste (localizada na Palestina). A cidade de Gênova conserva as cinzas de São João Batista como relíquias veneradas em sua catedral. 

Essas práticas pagãs dos povos europeus foram cristianizadas quando o cristianismo passou a ser a principal religião do continente europeu. Para facilitar a conversão dos diferentes povos pagãos, a Igreja Católica utilizava a inculturação das festividades, adicionando-as ao calendário católico e acrescentando nelas elementos cristãos, com o propósito de purificá-las dando-lhes novo sentido. Outra festa na qual essa prática se repetiu, por exemplo, foi a comemoração do Natal, que acontece todo mês de dezembro, na qual se dá o solstício do inverno, quando a duração dos dias começa a aumentar, um perfeito paralelismo sobre o que disse João ‘importa que Ele cresça e eu diminua’ (Jo 3,30).

Por analogia, podemos dizer que a fogueira lembra que João também foi uma tocha acesa e ardente no seu compromisso com a vontade de Deus.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/qual-a-relacao-da-solenidade-de-sao-joao-batista-com-as-festas-juninas.html

terça-feira, 23 de janeiro de 2024

Joel, o profeta do Pentecostes

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo do Padre Nilton César Boni, CMF


Joel significa ‘Javé é Deus’. Ele era filho de Fatuel (cf. Jl 1,1) e fez parte do grupo dos doze profetas menores que viveram no pós-exílio de Judá (reino do sul). Infelizmente, pouco sabemos sobre sua vida. Não há precisão sobre o período em que viveu, provavelmente entre os séculos VIII e V a.C. Seu livro possui poucos capítulos, divididos em duas partes, que tratam da praga de gafanhotos e do Dia do Senhor. Talvez fosse um profeta ou sacerdote ligado ao culto. Para o cristianismo, ele é conhecido como o profeta do Pentecostes quando faz menção ao Espírito Santo derramado sobre todos (cf. Jl 3,1) e da penitência, pois exortou ativamente o povo à prática do jejum, da oração e do arrependimento, a restaurarem sua fé em Deus, sobretudo nos tempos difíceis pelos quais passou.

Ao descrever, na primeira parte de seu livro, a desgraça que se abateu sobre o povo proveniente da praga de gafanhotos, entendeu-a como castigo divino e um pedido a que restaurassem a aliança com o Senhor. Deus se compadecerá e não mais os destruirá se derem a Ele sua vida, serão abençoados e fecundos. Já na segunda parte, fala da paz e da harmonia por meio do Espírito Santo derramado nos corações. Essa graça trará abundância ao povo, pois o ‘Dia do Senhor’ é a vitória sobre o mal e o sofrimento. Por meio da vinda do Espírito, Deus manifestará seu perdão e seu amor aos eleitos e os farão participar da salvação.

Joel, em sua pregação, faz um convite ao ser humano a reconquistar sua amizade com Deus e servi-lo com alegria, com um coração que se abre à paz e destrói o mal. Somente pela conversão é que Deus pode reinar e habitar o santuário das almas. Podemos trazer para nosso tempo esse desejo e interpretar os sinais da natureza, sobretudo as catástrofes, que se somam aos fracassos humanos, como expressão de que precisamos mudar as atitudes para que a vida respire e nossa sociedade tenha sentido.

Os profetas, assim como Joel, estão conscientes de que não vale a pena afastar-se da criação; devemos cuidar e amar, pois é a morada do Espírito, o lugar sagrado onde Deus se manifesta e se relaciona. Sem coerência de vida e zelo pelo bem comum nos tornamos bárbaros de nós mesmos e nos rendemos à devastação.

Joel é um homem atento, sensível, responsável e comprometido com seu Deus. Entrega sua vida para abrir os olhos da cegueira social e reconquistar a paz. Exorta a confiar no Senhor e reconhecê-lo como único : ‘Sabereis então que estou no meio de Israel, que sou o Senhor, vosso Deus, e que não há outro. E jamais meu povo será confundido’ (Jl 2,27).

O Dia do Senhor é o tempo da esperança, em que o povo redimido encontrará consolo e traçará um projeto sustentável ao lado do Criador. A vocação de Joel é mostrar ao povo que diante das calamidades Deus não o abandona, mas pede que retorne ao primeiro amor e seja feliz em sua missão filial.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/wp-content/uploads/2023/11/dezembro-2023.pdf

domingo, 14 de janeiro de 2024

Amós, o justo

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 

*Artigo do Padre Nilton Cesar Boni, CMF


Sobre as origens do profeta Amós, temos poucos dados. Ele representa o mais antigo profetismo escriturístico. Nasceu em Tegoa (cidade localizada a dezessete quilômetros ao sul de Jerusalém) e apresentou-se no reino do norte (Samaria) em 760 a.C. como profeta do juízo. Em seu livro ele aparece como sendo homem do campo, lavrador. Diz-se que era pastor, mas, isso não pode ser entendido como sua profissão e sim no sentido de salvação e libertação do seu povo, ao estilo de Moisés e Davi, pois sua participação profética se dá a partir do chamado a obedecer a Deus (cf. Am 7,14-15).

Nessa época, o reino de Israel encontrava-se economicamente em ascendência, contudo, a hipocrisia religiosa, o luxo e a perversão sexual tomaram conta da sociedade, destruindo moralmente as consciências. Embora o povo se sentisse religioso e fizesse peregrinações aos santuários, os excessos de promiscuidade eram evidentes. Amós anuncia a ruína desse estilo de vida desmascarando a segurança dos israelitas e a queda do reino do norte (cf. Am 7,7-8).

No entanto, nesse horizonte ameaçador aparece uma pequena luz consoladora. Acontecerá uma mudança drástica, mas o Senhor não os abandonará e manterá a aliança feita com os antepassados. A esperança está numa mudança sincera de vida por meio da penitência. A glória de Israel virá com o Messias prometido da descendência de Davi.

A mensagem de Amós é bem clara: de esperança e perdão para que se restabeleçam os princípios morais de Javé. Os sinais que acompanham esse desejo de mudança estão na natureza e nos acontecimentos históricos, isto é, o Senhor dá sinais para retomarem o caminho correto.

Amós representa um novo jeito de ser profeta, centrado na justiça social baseada na solidariedade com os oprimidos e pisados pelo sistema dominante vigente. Dentro de um povo dominado pela violência, manipulado pela idolatria, tendo a vida assaltada pelo sofrimento, resta ao profeta levantar sua voz contra tudo aquilo que fere a dignidade humana. Foi ameaçado, perseguido, insultado e perseverou na luta por Deus.

Com ele aprendemos a ser perseverantes e nunca nos vender aos sistemas que exploram e nos afastam da graça de Deus. A verdade deve reinar em nossas condutas para que a beleza da Palavra de Deus resplandeça com fervor sobre aqueles que ainda vivem na cegueira da ganância e do egoísmo. Essa é a vocação do profeta : sacudir a consciência dos que se acomodaram e compactuam com a cultura da conformidade e da indiferença. Os profetas não vieram para agradar e falar coisas bonitas, mas, para nos ensinar a viver com fidelidade à missão que Deus nos reservou.

‘A verdadeira profecia nasce de Deus, da amizade com Ele, da escuta diligente da sua Palavra nas diversas circunstâncias da história. O profeta sente arder no coração a paixão pela santidade de Deus e, depois de ter acolhido a Palavra no diálogo da oração, proclama-a com a vida, com os lábios e com os gestos, fazendo-se porta-voz de Deus contra o mal e o pecado.’ (São João Paulo II)

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/amos-o-justo.html


sexta-feira, 23 de junho de 2017

João Batista, o glorioso

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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*Artigo do Padre Geovane Saraiva,
Pároco de Santo Afonso de Fortaleza, CE,
e vice-presidente da Previdência Sacerdotal


‘Lembrado como uma pessoa que viveu com muita seriedade e com muito rigor, na austeridade e na penitência, João Batista é defensor da verdade e da justiça, prometendo tempos bons e o futuro tão esperado pela humanidade. Figura humana, ungida e santa, segundo o Livro Sagrado, é aquele que, ainda no seio materno, exultou com o Salvador da humanidade que estava para chegar. Seu nascimento trouxe grande alegria, não só pela esterilidade de seu pai, Zacarias, que se transformou em fecundidade, e o homem mudo passou a ser um profeta corajoso e exuberante (cf. Lc 1, 57s), mas como sinal e farol da realização das promessas redentoras, com tempos novos e messiânicos. O maior entre os nascidos de mulher ensine-nos, indignados, o valor do que é essencial à fé, diante do clamor por justiça e paz, dos empobrecidos de toda a terra.

João Batista preparou o povo para o início da missão pública de Jesus, dizendo, com todas as letras, que ele mesmo caminharia à frente do Cristo Jesus, anunciando que os sinais dos tempos chegariam e as promessas anunciadas por Zacarias estavam para se realizar. O seu vibrante convite foi o de acordar o povo do sono, muitas vezes profundo, para reconhecer o Salvador como o Sol que veio nos visitar; que temos que colocar na mente e no coração o nascimento do precursor, indicando-nos o caminho da solidariedade e da justiça, rumo à Cidade Santa, que é obra de Deus e das pessoas de boa vontade que aceitam o Seu projeto por João Batista anunciado.

O nascimento do maior de todos os profetas quer mostrar ao nosso mundo que não podemos nos cansar de dizer que a salvação chegou para todos e que a proclamação da verdade e da justiça indica tempos novos para a humanidade e assegura-lhe aquele futuro tão esperado. O filho do sacerdote Zacarias e de Isabel é também conhecido como aquele que mostrou o Cristo, o Cordeiro de Deus que tira o pecado mundo. Ele, grandioso aos olhos de Deus, não exerceu função sacerdotal, a exemplo de seu pai Zacarias, mas se tornou conhecido de todos por suas pregações e por seu convite à penitência, no bom desempenho das funções que Deus lhe confiou, anunciando um batismo de penitência para o perdão dos pecados.

Inspirados na figura de São João Batista, que possamos olhar o mundo, conscientes das marcas de profundas desigualdades sociais e econômicas, sem esquecer a dor e o gemido da realidade ecológica. Seu grande trunfo consistiu no anúncio da vinda do Salvador da humanidade. Sua vocação profética, desde o ventre materno, reveste-se de algo extraordinário, repleta de júbilo messiânico, ao preparar um ambiente favorável ao nascimento do Salvador da humanidade. Vida misteriosa, de tão bela, excelsa e maravilhosa, não podemos jamais esquecer o precursor. Numa jubilosa gratidão ao nosso Deus infinitamente bom, estejamos alegremente pasmados, pelo nascimento do glorioso São João Batista.’

           
Fonte :

sexta-feira, 24 de junho de 2016

Comunicar Boas Notícias

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Dom Rodolfo Luís Weber,
Arcebispo de Passo Fundo, RS


‘A celebração do nascimento de São João tem a marca da alegria. A liturgia da Igreja recorda que João é um dom gratuito de Deus. O nome João significa ‘Deus se mostrou misericordioso’. Isto se mostra de diversas maneiras : a idade avançada de seus pais, ninguém na família tinha este nome e seu pai volta a falar quando dá o nome ao filho. Mais tarde, São João irá preparar e anunciar a presença de Jesus Cristo no meio de nós, uma presença que marca a história da humanidade. Além da festa religiosa, temos muitas festas juninas inspiradas em São João, cuja tônica é a simplicidade, a alegria e o humor.

A festa de São João provoca uma reflexão sobre o modo como se olha e se avalia a vida e o mundo. Cotidianamente, ocupa-se muito tempo para comentar as notícias de violência, corrupção, injustiças, polêmicas. Isto está presente na boca das pessoas e nos meios de comunicação. Isto é notícia e desperta interesse. Numa análise mais profunda da realidade e da vida percebe-se que esta é uma parte da verdade. Ver, julgar, criticar o que está errado é necessário. O profetismo de São João foi marcado por denúncias e um forte apelo à conversão. Foi um profeta incômodo e por isso foi martirizado.

Mas também foi o profeta que apontou em meio às realidades que denunciava uma luz ainda desconhecida, uma boa notícia, Jesus Cristo. Aquele que se preocupa com os pobres, que traz liberdade aos oprimidos, anuncia a graça, vive na verdade, prega a justiça, o amor e a paz. Convoca as pessoas a viverem fraternalmente e se amarem.

É só olhar ao nosso redor e perceberemos uma quantidade de gestos de amor, de atenção, de carinho. Nem é preciso fazer muito esforço. Uma infinidade de gestos individuais e institucionais de cuidado com a vida das pessoas, do meio ambiente, dos animais, acontecem permanentemente. Estas ações não requerem, nem necessitam de publicidade. Olhando na perspectiva cristã, vale a recomendação de Cristo, que a tua mão esquerda não saiba o bem que fez a mão direita.

Ver o bem existente é uma questão de justiça para com as pessoas e as instituições. O reconhecimento gera gratidão, gera emoção por saber que uma pessoa fez uma boa ação, um auxílio, um favor a alguém. Gratidão é uma espécie de dívida, é querer agradecer a outra pessoa por ter feito algo muito benéfico para alguém.

Ver e reconhecer o bem gera otimismo que é necessário para vivermos com as imperfeições nossas, dos outros e das instituições. O otimismo estimula à ação. É um remédio contra o azedume que contamina as relações humanas e pinta o mundo com cores falsas.

Se as notícias do mal são replicadas e amplificadas, com muito mais razão as notícias do bem devem ser comunicadas, repetidas e amplificadas.’


Fonte :
* Artigo na íntegra


sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Profetas da misericórdia

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Dom Alberto Taveira Corrêa,
Arcebispo Metropolitano de Belém, PA


Jesus viveu na cidade de Nazaré, dentro de todas as relações sociais de uma vilazinha habitada por pessoas briguentas e implicantes com as outras, com relações mais provincianas do que aquelas ainda encontradas em nossos dias, malgrado o crescimento, a técnica, comunicações e outros acréscimos mais oferecidos pela cultura corrente. Ali, quando alguém, criado nas vielas e no meio da criançada e depois juventude, aprendiz de carpinteiro, certamente amigo de tanta gente, volta e se faz realizador das profecias, o fato suscitou reações fortes que chegaram aos limites do ódio, com o qual muitos pretenderam eliminá-lo. Jesus teve que passar pelo meio da multidão, escapando para não ser lançado no precipício (Cf. Lc 4, 21-30). Entretanto, sua presença deixou estupefatos os habitantes de Nazaré : ‘Seus discípulos o acompanhavam. No sábado, começou a ensinar na sinagoga, e muitos se admiravam. ‘De onde lhe vem isso?’, diziam. ‘Que sabedoria é esta que lhe foi dada? E esses milagres realizados por suas mãos? Não é ele o carpinteiro, o filho de Maria, irmão de Tiago, Joset, Judas e Simão? E suas irmãs não estão aqui conosco?’ E mostravam-se chocados com ele. Jesus, então, dizia-lhes : ‘Um profeta só não é valorizado na sua própria terra, entre os parentes e na própria casa’. E não conseguiu fazer ali nenhum milagre, a não ser impor as mãos a uns poucos doentes. Ele se admirava da incredulidade deles. E percorria os povoados da região, ensinando (Mc 6, 1-6).

Por onde passava, o povo experimentava a alegria : ‘Cheios de grande admiração, diziam : Tudo ele tem feito bem. Faz os surdos ouvirem e os mudos falarem’ (Mc 7, 37). O Senhor Jesus só fez o bem e manifestou a infinita misericórdia do Pai, não deixando passar perto de si os cegos, os coxos e estropiados, mudos, paralíticos, marginalizados e pecadores de todo tipo. Justamente por isso foi julgado, condenado e morto, para depois ressuscitar glorioso ao terceiro dia. Perto dele se encontravam os discípulos, começando pelos apóstolos, para alargar cada vez mais o círculo, chamando homens e mulheres do meio das multidões que se multiplicam pelos séculos afora. A porta é sempre a do perdão e da misericórdia. As testemunhas mais significativas são justamente aquelas que foram banhadas pelo óleo do perdão e acolhidas com o abraço do pastor, que vai ao encontro da ovelha perdida e a traz sobre os ombros. Há poucos dias, o Papa Francisco abençoou os carneirinhos dos quais é tirada a lã para confeccionar os pálios dos Arcebispos nomeados a cada ano, chamados justamente a serem sinais do amor misericordioso, que busca quem está perdido.

Mas esta é a vocação de todos os cristãos, feita também matéria do exame a ser aplicado no fim dos tempos, a prova da misericórdia. Se a Igreja e os cristãos são julgados, quem sabe condenados, perseguidos e incompreendidos, que seja pela prática da bondade e da misericórdia. Nas ‘nazarés’ de todos os tempos, permita o Senhor que todos os discípulos de Jesus passem fazendo apenas o bem, e que suas mãos não se manchem com a iniquidade e eles não sejam motivo de escândalo para os pequeninos.

Como a fragilidade humana acompanha nossa história pessoal e de Igreja, a proclamação contínua da misericórdia, mormente em tempos transformados em ‘Jubileu’, somos convidados a acorrer ao trono do perdão ilimitado do Senhor. Ponto de partida é o reconhecimento sincero e honesto das fraquezas e pecados cometidos, para que assim o Espírito Santo encontre corações abertos à unção do perdão. Quem se julga mais perfeito do que os outros, espécime superior diante do comum dos mortais, fecha a porta para a experiência magnífica do perdão misericordioso de Deus e para o consequente crescimento na virtude. Daí a insistência da Igreja, no Ano da Misericórdia, convidando à peregrinação, oração, sacramento da Penitência, tudo isso simbolizado na passagem pelas muitas portas santas da Misericórdia abertas por toda parte.

Entretanto, a Igreja convida a espalhar a misericórdia, através das chamadas ‘Obras de Misericórdia’, para que todos experimentem a alegria de ser misericordiosos como o Pai. A Arquidiocese de Belém, inspirada pela proposta feita pelo Papa Francisco aos jovens que se preparam à Jornada Mundial da Juventude, convida todos os irmãos e irmãs que se sentem tocados pela graça do Jubileu, a colocarem em prática, pouco a pouco, estes gestos corporais e espirituais, durante o ano corrente. Para o mês de fevereiro, desejamos juntos praticar duas obras de misericórdia espirituais : Dar bom conselhos e ensinar os que precisam.

Aconselhar é orientar e ajudar a quem precisa. O Salmista nos convida a rezar : ‘Bendigo o Senhor que me aconselhou; mesmo de noite meu coração me instrui’ (Sl 16, 7). Jesus nos orientou e aconselhou a não sermos cegos guiando cegos (Cf. Mt 15, 14), e também a primeiro tirarmos a trave do nosso olho, para depois tirar o cisco do olho do irmão (Lc 6, 39). Dar bons conselhos e não qualquer conselho. Para isso, é preciso mergulhar na graça do Espírito Santo e perceber os sinais de Deus que nos auxiliam na compreensão dos fatos. Aconselhar não é pretender adivinhar o futuro, muito menos projetar nossas angústias; é ajudar, à luz da oração e do conhecimento da vontade de Deus, a quem nos pede um discernimento nas opções e decisões a serem tomadas.

Ensinar os que precisam não é apenas transmitir conhecimentos, ensinar os valores do Evangelho, formar na doutrina e nos bons costumes éticos e morais. A história da salvação é sem dúvida uma instrução contínua e interrupta da parte de Deus para com a humanidade. Nossa tarefa é instruir as pessoas, começando pelo nosso exemplo, chegando à Palavra e os ensinamentos sistemáticos. À comunidade dos Colossenses Paulo diz : ‘A palavra de Cristo permaneça em vós com toda sua riqueza, de sorte que com toda sabedoria possais instruir e exortar-vos mutuamente.’ (Cl 3, 16). Toda instrução que brota da caridade, oração e paciência gera frutos em abundância.’


Fonte :