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quarta-feira, 4 de setembro de 2024

Índia: religiosas ensinam teologia nas periferias

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

Ir. Shalini com dois membros de uma família que estão alojados em barracão temporário à beira da estrada 

*Artigo da Irmã Greta Pereira


A Irmã Shalini Mulackal ensina teologia sistemática no Vidyajyoti, um importante colégio teológico jesuíta em Délhi, na Índia, desde 1999. Enquanto fazia o mestrado na mesma faculdade, morava num bairro degradado, onde a sua comunidade vivia e trabalhava. A sua experiência na periferia tornou-se a base para a utilização coerente do método contextual da teologia, que procura realizar uma transformação dos indivíduos e da sociedade. Enquanto lecionava, continuou a visitar os bairros com os alunos e a orientá-los na sua reflexão teológica.

Ensinar teologia a partir dos últimos

A Ir. Shalini foi uma fonte de inspiração para muitos jovens teólogos na Índia graças ao seu estilo específico de ‘fazer teologia’. Leva frequentemente os seus estudantes aos bairros degradados, àqueles que vivem literalmente na periferia, como numa lixeira. Com os estudantes, a Irmã Shalini participou muitas vezes em protestos de mulheres que lutavam contra a violência e o estupro, mas também em manifestações de pessoas deslocadas e discriminadas contra os megaprojetos. A sua participação serviu como uma ação simbólica de solidariedade com grupos particulares dos seus direitos humanos fundamentais. A religiosa afirma que a sua força motriz como professora era a ‘paixão por Cristo e a compaixão pelas vítimas de sistemas sociais injustos’.

Teologia contextual

A Ir. Shalini acredita que a finalidade de fazer teologia é favorecer a transformação tanto no indivíduo como na sociedade. Por isso, o contexto da teologia deve partir da perspectiva e da experiência dos pobres. O seu método de ensino procura realçar a necessidade de abraçar uma opção preferencial pelos pobres e instilar o mesmo fogo nos seus estudantes. ‘Através do meu ensino, exemplos e interação com os alunos’, declarou ao Vatican News, ‘eu esperava que pelo menos alguns alunos se empenhassem verdadeiramente no serviço aos pobres’.

Necessidade de uma perspectiva feminina

A Ir. Shalini defende vigorosamente a perspectiva das mulheres em todas as disciplinas da teologia e em todos os aspectos da vida da igreja. ‘O nosso atual sistema de formação no seminário deve ser transformado’, afirmou. ‘A liderança da Igreja responsável pela formação nos seminários na Índia deverá pensar em fazer com que mais mulheres possam participar na formação e no ensino nos seminários’.

A religiosa contribuiu para o processo sinodal em curso, tanto na Arquidiocese de Délhi como na Conferência dos Bispos Católicos da Índia (CCBI). Analisando o relatório de síntese de 10 páginas das várias dioceses de rito latino na Índia, recordou que as mulheres se comoveram até às lágrimas quando experimentaram, pela primeira vez, a oportunidade de falar sem medo e de ser ouvidas.

‘Certamente a Igreja, sob a liderança do Papa Francisco, envia todos os esforços para ouvir as mulheres e responder às suas dificuldades’, declarou. ‘Por exemplo, não faz muito tempo, o Papa Francisco nomeou três mulheres no Dicastério para os Bispos. E, em 2020, nomeou 6 mulheres no Conselho para a Economia do Vaticano. O Papa Francisco permitiu também que as mulheres votassem no Sínodo sobre a sinodalidade’.

Religiosas do futuro

A Ir. Shalini sente fortemente que hoje, mais do que nunca, o mundo precisa de religiosas comprometidas que deem testemunho com a própria vida. Acredita que elas devem responder às novas necessidades como conselheiras, tutoras, guias espirituais, teólogas, terapeutas, ministras de cuidados pastorais e ativistas dos direitos humanos e ambientais.

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2024-08/projeto-sisters-india-delhi-irma-mulackal-professora-teologia-24.html


sexta-feira, 3 de julho de 2015

História a construir


*Artigo de Padre José Rebelo,
Missionário Comboniano

Os religiosos e missionários são chamados a estar nas fronteiras da Igreja e do mundo e ser um sinal de amor e esperança, sobretudo para quem mais precisa.


‘Em Abril, houve um congresso em Roma para formadores de todo o mundo no âmbito do Ano da Vida Consagrada. O evento contou com a presença de 1200 participantes. Ao dirigir-se-lhes, o Papa Francisco disse : ‘Vendo-vos assim numerosos, não se diria que há crise vocacional, mas na realidade há, sem dúvida, uma diminuição quantitativa. Com a escassez de vocações que existe, são mais os formadores que os formandos. Isso é um problema.

O papa falou de crise da Vida Consagrada. Há quem prefira falar apenas de ‘encruzilhada’. Mas o número elevado das desistências parece apontar para uma crise na linha do sentir do papa. Senão vejamos : a Igreja Católica conta com cerca de um milhão de religiosos (irmãos, irmãs e padres). Mas cerca de três a quatro mil, segundo a Santa Sé, desistem por ano deste estilo de vida.

O fenômeno indica uma crise de identidade que terá múltiplas explicações : perda de aspectos essenciais para a vida consagrada (oração, momentos de qualidade na comunidade, retiros), perda dos valores evangélicos (fraternidade, simplicidade e autodoação) e a assunção dos ideais da modernidade (individualismo, comodismo, prazer e materialismo). A experiência de Deus, a vida comunitária e o compromisso apostólico diluem-se, vive-se de rotinas e formalismos, perde-se a paixão e o profetismo e, por fim, experimenta-se cansaço e desilusão.

O Ano da Vida Consagrada questiona-nos sobre a fidelidade à missão que nos foi confiada’, escreveu o papa na carta apostólica para este ano. Tal requer que os institutos e os seus membros se deixem interpelar pelo Evangelho e procurem ser fiéis ao seu carisma – e não se contentem com superficialismos, ou se deixem enganar por meias-verdades. Para um instituto missionário, uma delas pode ser aquela de dizer que ‘a Europa também é missão’ e aceitar os mais variados empenhos pastorais sem muito discernimento.

Quando trabalhava nas Filipinas, na revista World Mission, quisemos fazer um especial sobre a missão. Procuramos peritos em Roma. Um dos textos, de um professor de Missiologia numa das universidades pontifícias e originário do Oriente, discutia o mandato universal de Jesus, em particular o conceito ‘confins da terra’ no verso ‘Sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria, e até aos confins da Terra’ (Act 1, 8). Defendia ele que os ‘confins da Terra’ se tinham invertido : vinham agora aos ‘centros tradicionais da Cristandade’ na pessoa dos turistas, estudantes e imigrantes pelo que o mais importante seria cuidar deles aqui entre nós. Portanto, já não seria preciso viajar para fazer missão : o ‘turismo missionário’, como ele o chamou, já estaria ultrapassado.

Os imigrantes e os estudantes que chegam à Europa precisam, seguramente, de ajuda. Mas a missão nas ‘periferias existenciais’ não se reduz ao que pode ser feito por eles, nem a ‘missão geográfica’ está definitivamente ultrapassada : periferias humanas e geográficas, frequentemente, coincidem. Os religiosos e missionários são chamados a estar nas fronteiras da Igreja e do mundo e ser um sinal de amor e esperança, sobretudo para quem mais precisa. Por isso é que o papa os desafia a olhar com gratidão para o passado, viver com paixão o presente e abraçar com esperança o futuro : ‘Vós não tendes apenas uma história gloriosa para recordar e narrar, mas uma grande história a construir!’ Sem medo, com generosidade e alegria, deixando-se guiar pelo Espírito em toda a sua imprevisibilidade.’


Fonte :
* Artigo na íntegra de http://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EuFVAkFZuAaceTzcYb