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domingo, 23 de fevereiro de 2020

Jejum: de que adianta não comer carne, se você devora seu irmão?

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Corazones.org


‘São João Crisóstomo ensina :

‘A honra do jejum consiste não na abstinência da comida, mas em evitar as ações pecaminosas; quem limita o seu jejum apenas à abstinência de carnes o desonra. Praticas o jejum? Prova-me por tuas obras! Perguntas que tipo de obras?

Se vires um inimigo, reconcilia-te com ele!
Se vires um amigo tendo sucesso, não o inveje!
Se vires uma mulher bonita, passe sem olhar!
Que não apenas a boca jejue, mas também os olhos, e os ouvidos, e os pés, e as mãos, e todos os membros de nossos corpos.
Que as mãos jejuem sendo puras da avareza e da rapina.
Que os pés jejuem, deixando de caminhar para espetáculos imorais.
Que os olhos jejuem, não se detendo sobre feições belas, ou se ocupando de belezas exóticas.

Pois o que é visto é a comida dos olhos, mas se o que for visto for imoral ou proibido, macula-se o jejum e perturba toda a segurança da alma se for moral e seguro, o que é visto adorna o jejum. Pois seria absurdo abster-se da comida permitida por causa do jejum, mas devem os olhos absterem-se até de tocar o que é proibido. Não comes carne? Então não se alimente de luxúria através dos olhos.

Que também os ouvidos jejuem. O jejum dos ouvidos consiste em recusar-se a ouvir assuntos perversos e calúnias. ‘Não receberás notícias falsas’, já foi dito.

Que a boca também jejue de falar coisas vergonhosas e de ficar reclamando. Pois que ganhas se te absténs de pássaros e peixes, e mesmo assim mordes e devoras teu próximo? O que tem fala maligna come a carne de seu irmão, e morde o corpo de seu próximo.’

O que São João Crisóstomo nos diz com esta reflexão?

Que os dias de jejum devem ser especialmente dias para evitarmos o uso desordenado ou inclusive exagerado dos outros sentidos : evitar o que não devo fazer, falar, ouvir, desejar; não buscar satisfazer todas as minhas necessidades emocionais e espirituais; não buscar a todo custo saciar minha solidão; não querer saber tudo; não exigir respostas imediatas a tudo o que vier à minha mente etc.

Nós jejuamos buscando a conversão. Portanto, jejuemos de todas estas atitudes contrárias à virtude. Talvez o seu jejum consista em ser mais serviçal (jejum da sua preguiça e comodidade), pois, assim como precisamos rezar com o coração, também precisamos jejuar com o coração.

Talvez você tenha de jejuar da sua ira, sendo mais amável, mais dócil. Ou jejuar da sua soberba, buscando ativamente viver a humildade em atos concretos.’


Fonte :

domingo, 25 de setembro de 2016

Misericórdia : Em lugar de palavras, obras

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

Madre Teresa podia ter sido muito religiosa e indiferente, mas, não quis ser incoerente.

*Artigo de Dom Reginaldo Andrietta,
Bispo de Jales


‘Poucos dias após a canonização da Madre Teresa de Calcutá, o Papa Francisco, em uma audiência concedida a 153 novos bispos de todo o mundo, reunidos em Roma para um Curso de Formação, no qual estive presente, expressou a importância de seguirmos o exemplo dessa querida ‘mãe dos pobres’, recomendando que nossa vida expresse também a misericórdia de Deus.

O Papa nos convidou a tornar a misericórdia pastoralmente concreta, solidarizando-nos com os que sofrem, seguindo o exemplo do Bom Samaritano, do Evangelho de Lucas :  ele toca as feridas e cuida do homem roubado e violentado no caminho de Jericó. Nessa parábola, Jesus também denuncia a lógica da indiferença, manifestada, paradoxalmente, por duas pessoas religiosas.

Madre Teresa podia ter sido muito religiosa e indiferente, mas, não quis ser incoerente. Ela assumiu crianças abandonadas, moradores de rua, doentes e moribundos, os que a sociedade marginaliza, como seus amigos preferidos, porque são amados, em primeiro lugar por Deus. Diante desses e de outros que a sociedade explora e descarta, diferentemente dela, muitos mantêm seus olhos fechados e seus corações endurecidos.

A violência e a indiferença, presentes no mundo, nos fazem pensar sobre algumas palavras que o Papa dirigiu aos novos Bispos : ‘O caminho de Jericó não está distante de nós’; ele pode estar até mesmo em nossos lares; e reafirmou o que já havia expressado na Exortação Apostólica Alegria do Amor : ‘deem uma atenção especial a todas as famílias’; ‘acompanhem sobretudo as mais feridas’.

A misericórdia foi tão enfatizada no Curso para Novos Bispos, que o Cardeal Marc Ouellet, do Canadá, prefeito da Congregação Pontifícia para os Bispos, ao concluir o Curso, ressaltou que, embora a misericórdia tenha sido evidenciada neste Ano Santo, os Bispos devem expressar o perfil de pastores misericordiosos, sempre, porque este é o perfil de Cristo e da Igreja.

Logo encerraremos o Ano Santo da Misericórdia, certamente mais comprometidos em obras de misericórdia, que tornam a fé viva, conforme salienta o apóstolo Tiago : ‘De que aproveitará a alguém dizer que tem fé se não tiver obras. Acaso a fé poderá salvá-lo? Se a um irmão ou a uma irmã faltarem roupas e o alimento cotidiano, e alguém lhe disser ide em paz, sem dar-lhe o necessário para o corpo, de que lhe aproveitará? Assim também a fé: se não tiver obras é morta’.

Os novos Bispos, ouvimos com insistência em Roma, que devemos ser apóstolos da misericórdia, expressão real de Cristo, Bom Pastor, que dá a vida por suas ovelhas. Os membros de nossas comunidades não podem, portanto, estranhar que nosso testemunho e nossos ensinamentos, sejam focados na espiritualidade e na ética da solidariedade, da misericórdia e da justiça, tão necessárias e urgentes na sociedade atual, extremamente dividida entre ricos e pobres, poderosos e explorados.

Se isso parecer estranho, entendamos, conforme diz o Papa, que Santa Teresa de Calcutá também fez ‘sua voz chegar aos poderosos da terra para que reconheçam sua culpa perante os crimes de pobreza criados por eles mesmos’. Que esta ‘incansável trabalhadora da misericórdia’ nos inspire a compreender o que o apóstolo João expressou sobre o que aprendeu de Jesus a respeito da misericórdia : em lugar de palavras, obras (1 João 3,18).’


Fonte :



sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Infância Missionária

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Cardeal Dom Orani João Tempesta, O. Cist.,
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ


‘Neste domingo celebramos o Dia Mundial das Missões, com a mensagem do Papa Francisco comentando sobre a vida religiosa missionária, e o tema do Brasil sobre a Missão como serviço. É também o Dia da Obra Pontifícia da Infância Missionária.

Eu me recordo de que nos meus tempos de criança uma das revistas que nos alimentava na reflexão se chamava ‘O pequeno missionário’, e que tanto bem me fez. Isso me remete a empreender uma reflexão sobre a Infância Missionária.

Acrescento a isso a importância do nosso gesto concreto neste Ano da Esperança, que é a continuação das reuniões missionárias, neste mês levando a cruz em forma de chama para marcar nossa presença de evangelizadores. Daqui a dois meses aproximadamente estaremos dentro do Ano do Jubileu da Misericórdia. Creio que será muito bom meditar sobre a necessidade de nossa consciência sobre essa obra pontifícia.

A Pontifícia Obra da Infância e Adolescência Missionária (IAM) foi fundada por Dom Carlos Forbin Janson, Bispo de Nancy, França, em 19 de maio de 1843. Carlos Forbin Janson sempre se interessou muito pela realidade e evangelização dos povos. Já na adolescência manteve estreita ligação com os missionários da China. Seu desejo era ir à China e ser missionário com os missionários.

Era frequente receber cartas como estas, da qual transcrevemos algumas passagens : ‘Encontro-me rodeado, mesmo sem saber como, de uma dezena de crianças, umas de peito, outras de dois, três, quatro anos de idade, algumas cobertas de sarna, outras, de feridas. Os pobrezinhos já não têm o que comer e se cansam de chorar. É preciso conseguir comida para eles, e pagá-la... Enquanto isso, para não morrerem de fome, vejo-me obrigado a preparar-lhes eu mesmo um prato de farinha e açúcar, depois tento arranjar-lhes roupa, medicá-los, lavá-los, dar-lhes um teto, enfim, fazer às vezes de uma mãe... Deus concede-me as forças para sustentar tantas crianças, mas, se eu não for ajudado com alguma esmola, morrerei com eles’. ‘(...) falando de batizados, refiro-me a adultos. Na realidade, batizamos muitas crianças que são expostas diariamente nas ruas (...). Para nós, uma das primeiras preocupações é mandar todas as manhãs nossos catequistas para todos os arredores da cidade e batizar as crianças que ainda estão vivas. De 20 a 30 mil que são expostas cada ano, nossos catequistas conseguem batizar cerca de três mil’.

De posse de informações a respeito do sofrimento de milhares de crianças, o bispo teve a inspiração de convocar as crianças católicas para se organizarem com o objetivo de prestar socorro às crianças nas mais tristes situações. Como fazer? Dom Carlos conversou com Paulina Jaricot. Ela, quando jovem, tinha dado início à Obra da Propagação da Fé. Ouvindo o plano de Dom Carlos, apoiou a ideia dele, e definiu essa iniciativa como ‘Obra da Propagação da Fé para as Crianças’. Ela mesma expressou seu desejo de se alistar como primeira associada para a divulgação da Obra.

Era preciso fazer alguma coisa : Dom Carlos Forbin Janson resolveu convocar as crianças para socorrer as crianças. Propôs às crianças da França que ajudassem outras crianças recitando uma Ave Maria por dia e doando um dinheiro por mês; assim surgiu a Pontifícia Obra da Infância e Adolescência Missionária.

Dom Carlos tinha em mente visitar, uma após a outra, as nações da Europa, pregando esta nova cruzada de batismo, educação e resgate das crianças chinesas, e, uma vez garantida a Obra, embarcar ele próprio para aquele país, onde esperava que Deus lhe desse a graça de misturar seu sangue ao sangue dos outros mártires. Mas, esgotado com tanta atividade, sua saúde não resistiu, enquanto sua Obra se ia difundindo. No dia de sua morte repentina, em 11 de julho de 1844, a Obra da Santa Infância estava estabelecida em 65 dioceses. Hoje, a IAM está presente em todos os continentes, em mais de 130 países.

Em 1922, o Papa Pio XI a declarou Pontifícia, isto é, do Papa, e, portanto, de toda a Igreja, juntamente com as obras missionárias da Propagação da Fé e de São Pedro Apóstolo, às quais se uniu, em 1956 (Pio XII), a União Missionária, constituiu-se as Pontifícias Obras Missionárias. No Brasil, ela foi trazida por missionários franceses, em 1958. A partir de 1993, nas comemorações dos 150 anos de fundação, sua ‘chama ainda fumegante’ readquiriu novo ardor, organizando-se e difundindo-se em todo o país.

Os protagonistas são as crianças e adolescentes, que se dedicam em favor das crianças do mundo inteiro, independentemente da cultura, raça ou religião. O nome ‘Infância e Adolescência Missionária’ vem de uma devoção existente então na França : a infância do Menino Jesus. Por isto surgiu com o nome de ‘Santa Infância’.

É missionária porque educa as crianças no crescimento da fé, inserindo-as nas atividades missionárias numa dimensão universal. Pelo compromisso do batismo, vivem concretamente a experiência da partilha da fé e seus bens com todas as crianças do mundo.

É Pontifícia porque se diferencia de uma atividade apostólica transitória. Sua organização, a presença em todo o mundo, pelo seu testemunho e eficiência, tendo sido aprovada e assumida pelo Papa (Pio XI) como Obra evangelizadora a serviço de toda a Igreja.

Tem como finalidade suscitar o espírito missionário universal nas crianças, desenvolvendo-lhes o protagonismo na solidariedade e na evangelização e, por meio delas, em todo o Povo de Deus : ‘Crianças ajudam e evangelizam crianças’. São crianças em favor de outras crianças. Tomando como exemplo a vida de Jesus e de seus discípulos, a Infância Missionária tem em Maria, a mãe de Jesus, uma fiel testemunha da autêntica ação evangelizadora. Inspira-se tam­bém em São Francisco Xavier e Santa Teresinha do Menino Jesus, Padroeiros das Missões. Ambos viveram ardentemente o carisma missionário universal, doando suas vidas pelo anúncio do Evangelho.

Embora a Obra tenha nascido para socorrer a triste situação das crianças chinesas, logo abriu seus horizontes para o mundo inteiro. O resgate, o batismo, o sustento e a educação das crianças dos povos que não conhecem Jesus Cristo foram, desde o início, os objetivos da Infância e Adolescência Missionária. Um plano ambicioso : prestar todos os socorros materiais, morais, intelectuais e religiosos de que necessitam as crianças de todos os lugares, culturas, raças e crenças.’


Fonte :