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quinta-feira, 24 de julho de 2025

Madre Marie-Chantal Modoux

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 

Madre Maria Chantal, OSB (1919-2020)

 

‘Madre Maria Chantal Modoux nasceu na Suíça, na região de Fribourg em 21 de Fevereiro de 1919. Filha de Léon Modoux e Marie-Jeanne Crausaz Modoux, foi a mais velha de 4 irmãs. Educadora nata formou-se no Magistério e trabalhou nesta área em várias famílias. Durante a 2ª Guerra viveu no Vaticano como professora de crianças de uma família de diplomatas, e depois na Espanha, em duas famílias. Vocação tardia, descobriu seu caminho monástico com a leitura de um livro de Dom Columba Marmion, abade do Mosteiro de Maredsous : ‘O Cristo Ideal do Monge’. Foi uma amiga, oblata do Mosteiro de Ligugé, que lhe passou esse livro. Ao fechá-lo disse : ‘É isto e mais nada!’. No seu processo de discernimento sobre aonde entrar, foi o Mosteiro de Nossa Senhora de Betânia, na Bélgica, que a cativou. Entrou no dia 16 de outubro de 1951, e no dia 4 de junho do ano seguinte começava o noviciado. Encontrou no grupo ‘dos véus brancos’ Ir. Anne Farcy, que mais tarde seria sua companheira na fundação do Brasil. Ir. Anne era, monasticamente, a mais velha do grupo, e era preciso obedecer-lhe. Durante o noviciado, nossa madre foi a enfermeira do grupo. No dia 21 de agosto de 1954 fez os primeiros votos e três anos depois, no dia 23 de agosto de 1957 fez a profissão perpétua. Nesse mesmo ano, em novembro, partiu para o Congo Belga, onde Betânia já tinha várias fundações. Integrou a comunidade de Kikula na região das Minas de Cobre, na cidade de Likasi. Em 1960 o Papa João XXIII fez um apelo aos contemplativos em favor da América Latina. A Madre, que se encontrava na Bélgica, falou numa reunião de comunidade que esperava que Betânia respondesse a esse apelo. Estava longe de saber que já pensavam nela para essa fundação no Brasil. Nossa Madre teria preferido um país de língua espanhola, língua que ela conhecia, mas a escolha foi o Brasil. Foram nomeadas 5 irmãs, sendo a Madre Chantal a responsável do grupo. As primeiras três saíram da Bélgica de navio cargueiro em novembro de 1963. Passaram no Rio de Janeiro, desembarcaram em Santos e no começo de 1964 chegaram a Curitiba, onde existia um Mosteiro de monges franceses vindos de Tournay, França. Existiam também os Padres MSC, vindos da Bélgica, que tinham uma paróquia no Pinheirinho. Era bispo de Curitiba Dom Manuel d’Elboux.

As irmãs, que não tinham onde morar, separaram-se, cada uma sendo acolhida numa casa de religiosas para também poderem aprender o português. Entretanto os padres MSC acharam um terreno para ser comprado e logo a construção começou. Um mosteiro muito simples em madeira, como as casas dos vizinhos. O Pinheirinho era uma zona rural, sem eletricidade, sem água, sem telefone. Para ir para o centro de Curitiba, que ficava a 3 Km, só havia um ônibus por dia. O Papa Paulo VI tinha falado de uma Igreja serva e pobre, e era isso que as fundadoras queriam. Quando os carpinteiros entregaram a chave do mosteiro, as irmãs partiram para Petrópolis, para fazerem o curso do Cenfi organizado pela Conferência Episcopal do Brasil para missionários estrangeiros. Tratava- se de aprender a língua, a história e a cultura do país. Foram seis meses duros, o método era o da repetição, aparentemente sem lógica, mas deu frutos e as irmãs criaram ainda laços com muitos outros religiosos (as) de várias nacionalidades. O mosteiro começou oficialmente no dia 1º de Novembro de 1965. A Madre Maria Chantal foi nomeada Prioresa, cargo que exerceu até ao ano 2000.

Os primeiros anos no mosteiro foram heróicos, faltava tudo, e sem eletricidade rezava-se o ofício antigo de 12 salmos, à noite, à luz de lâmpadas de querosene. Além disso, era preciso lavar a roupa e passar a ferro com carvão, a roupa da comunidade e a da sacristia dos padres MSC. Para conservar os alimentos era o único poço do terreno que servia de geladeira. Esse começo coincidiu com o tempo pós concílio, um período muito difícil para a vida religiosa e sacerdotal. Quantas pessoas a nossa Madre ajudou a sair da crise e a retomar o caminho certo. Ela tinha grande firmeza nos valores essenciais da vida religiosa. Era um tempo de ditadura militar, e as irmãs não podiam escrever, como gostariam, para a Bélgica, por causa da censura. Foram tempos de grande solidão. A Madre tinha o dom do acolhimento. Sua escuta e empatia, sua capacidade de memória fazia que as pessoas voltassem, sentindo-se valorizadas e únicas. Ela guardava os nomes das pessoas, suas fisionomias e sobretudo a conversa que tinha tido. A Madre cultivava esses laços com uma correspondência abundante. Ela escrevia muito, dormindo às vezes só 4 horas por noite. Ela não queria que esse correio a impedisse de estar presente nos atos comunitários. Muito cedo as pessoas descobriram o efeito de sua intercessão e, sobretudo de sua bênção. Suas tomadas de posição, às vezes audaciosas, sempre foram motivadas pela fidelidade ao Evangelho e pelo cuidado da pessoa humana e nunca ‘por política’.

Em 1988 a comunidade recebeu três pedidos de fundação de um mosteiro da parte de 3 bispos. A Madre Chantal e as irmãs escolheram o lugar mais necessitado, mais ‘fronteira’, a Prelazia de Itacoatiara, no Amazonas, a 4000 Km de Curitiba, onde foi fundado o Mosteiro da Água Viva em 1989.

Em uma visita canônica, no ano de 1998, ficou decidido que o nosso Mosteiro do Encontro deveria mudar de lugar. O Pinheirinho tinha se tornado um grande bairro de periferia, muito populoso, barulhento e violento. Com 80 anos de idade a Madre enfrentou a procura e compra de um novo terreno, não muito longe de Curitiba, nem muito longe dos irmãos trapistas, que tinham chegado em 1977. E a comunidade se mudou para o município de Mandirituba nas vésperas do Natal, no dia 23 de dezembro de 1999. A Dedicação da nova Igreja, em agosto de 2008, foi uma grande alegria para a nossa Madre, como um coroamento da fundação.

O lema da Madre era ‘A alegria do Senhor é a nossa força’ do livro de Neemias 8,10. E viveu sempre essa alegria. Ela era muito discreta sobre sua vida interior. Nunca falava de si mesma. Suas conferências à comunidade, suas aulas sobre o Seguimento de Jesus, revelavam sua profundidade espiritual. Seu olhar luminoso e seu sorriso tocavam as pessoas. Sua presença fiel no Ofício Divino, na lectio, nos trabalhos comuns, nos serviços da comunidade eram sinais do que ela vivia. Até aos 101 anos enxugava a louça e dobrava a roupa que vinha da lavanderia. Também assumia as sobremesas da comunidade e da hospedaria (até hoje lembradas pelos hóspedes). Na história da comunidade se conta com humor, num diário esquecido, que uma hóspede, na ausência da Madre, se queixava sobre o lanche do dia da Páscoa : ‘no tempo de Madre Chantal não era assim’. Quando deixou o cargo de Prioresa em 2000, era uma irmã na comunidade, pedindo a bênção, obediente à nova Prioresa, pedindo licenças do dia a dia, prestando contas quando saía. A Madre era muito ciosa da sua autonomia, mas a muita idade trouxe limites. Foi perdendo a audição e a visão, ela que lia muito e formou a nossa biblioteca. Sempre lúcida perguntava sobre as leituras do refeitório, e acompanhava as notícias do mundo e do país. Sirlene, nossa incomparável amiga, foi sua cuidadora atenta e discreta, que lhe dava muita segurança. Desde março passado, depois de uma queda, chegou o momento para a madre de precisar ser ajudada em tudo. Sempre tinha uma irmã com ela de dia e de noite e isso exigiu uma aceitação contínua de mais uma diminuição. Nunca se queixou, sempre agradeceu tudo. Sua última palavra foi ‘OBRIGADA’ Para as irmãs foi uma graça estar com ela. Mesmo as irmãs que estavam servindo outras comunidades da Congregação, voltaram à tempo e estavam presentes, o que muito alegrou nossa madre.

A Madre era uma mulher de fé; mas seus últimos meses foram um verdadeiro combate espiritual vivido numa certa noite escura. Perseverava na oração : ‘estou ali como diante de uma parede’, percebia-se uma certa angústia no rosto; às vezes dizia ‘como vai ser a morte?’ ‘o que é a vida eterna?’ ‘Será que amo bastante Jesus’? Queria que lhe lessem o Evangelho do dia várias vezes para ela memorizar o texto. A comunidade acompanhava-a com a oração.

A Madre amava profundamente sua família biológica e sua família monástica. Amava cada membro de nossas famílias e sabia os nomes de todos os nossos sobrinhos. Amava o meio onde estamos : os vizinhos, as crianças, o Brasil. Amava sobretudo a Igreja, acompanhava a CNBB, conhecia os bispos pelo nome, a CRB e evidentemente a Cimbra. Tudo lhe interessava. Foi uma grande monja, uma mulher profundamente habitada por uma Presença, com o espírito de uma criança que se maravilhava com tudo. Amava o louvor divino. Ela nos passou o amor pela vida monástica e a abertura ao mundo, vivida sobretudo pelo acolhimento e pela intercessão.

Toda a comunidade se juntou à sua volta na última noite. Cantamos o SUSCIPE da profissão e o Padre Jomar, nosso capelão, a ungiu com o óleo dos doentes. Seu último momento foi sem agonia, sua respiração parou, como uma vela que se consumiu amando até ao fim. Faleceu em sua cela como ela desejava, no dia 03 de setembro de 2020, festa de São Gregório Magno. O Padre Jomar a intitulou assim, minutos depois de sua partida ‘Madre Chantal Magna’!

Um casal amigo nos disse : ‘agora a Madre Chantal não é só vossa, na comunhão dos Santos, ela é de todos nós’.

Agradecemos de coração todas as mensagens recebidas e temos certeza, que lá do céu, nossa Madre Maria Chantal está muito mais presente em nossas vidas e intercede por cada um e cada uma.’ 

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.aimintl.org/pt/communication/report/120

sábado, 19 de outubro de 2024

A missionariedade na catequese, testemunho e serviço

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo do Padre Paulo Gil


‘É sempre bom recordar as palavras de Jesus quando, reunindo os seus apóstolos, apresentou suas últimas instruções antes de sua ascensão. O encontro foi de orientação e de motivação para o grupo que foi enviado em mandou-os em missão de fazer novos discípulos : ’Naquele tempo, os onze discípulos foram para a Galileia, ao monte que Jesus lhes tinha indicado. Quando viram Jesus, prostraram-se diante dele. Ainda assim alguns duvidaram. Então Jesus aproximou-se e falou : ‘Toda a autoridade me foi dada no Céu e sobre a Terra. Portanto, ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei! Eis que eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo’ (Mt 28,16-20).

Três aspectos que iluminam a nossa reflexão sobre o mandato de Jesus a seguir : 

  • A obediência dos discípulos – eles obedecem ao pedido do Senhor;
  • A contemplação dos discípulos – contemplam e adoram Cristo;
  • O envio dos discípulos – eles são enviados em missão. 

Temos, então, um itinerário de vida de fé : obediência, contemplação e missão.

Podemos conferir o contraste entre as expectativas dos apóstolos e a missão que Jesus se propunha a assumir. Ele chamava sua comunidade para uma missão além-fronteiras, motivando-os a abandonar a zona de conforto e as expectativas anteriores. 

Sair da própria terra é sempre um desafio. As palavras de Jesus remetem ao chamado de Abraão: ‘O Senhor disse a Abrão : ‘Sai da tua terra, do meio de teus parentes, da casa de teu pai, e vai para a terra que eu vou te mostrar. Farei de ti uma grande nação e te abençoarei : engrandecerei o teu nome, de modo que ele se torne uma bênção’’ (Gn 12,1-3). Observe-se : sair da sua terra; sair da casa da família; sair para um lugar desconhecido, uma terra prometida; ser pai da fé; pai de uma grande nação.

Gerar novos filhos para Deus e levá-los para uma rica experiência de fé é o mesmo que fazer novos discípulos como pede Jesus.

A comunidade dos discípulos é revestida de motivação : ’Eis que eu estarei convosco todos os dias’ (Mt 28,20) – motivação para uma missão que se fortalece quando se alimenta de fé, de confiança e de esperança. Observe-se : fé para reconhecer o seu chamado, escutar a sua voz; confiança para aceitar e se entregar em suas mãos; esperança para trilhar o caminho do seguimento; ir para onde Ele nos levar.

O que essa passagem do Evangelho traz de inspiração para a catequese hoje? A catequese tem uma árdua e encantadora missão : introduzir, com profundidade, a Palavra de Deus no processo de iniciação à vida cristã. 

No caminho do discipulado, catequético e missionário, é necessário que exista um progressivo envolvimento com a Sagrada Escritura, a Palavra de Deus : ‘A missão de iniciar na fé coube, na Igreja antiga, à liturgia e à catequese’ (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, Documento 107, 70). 

Catequese é ‘um processo dinâmico e abrangente de educação da fé, um itinerário, e não apenas uma instrução’ (Catequese renovada, 281); processo que leva ao acolhimento da Palavra de Deus e da Pessoa de Jesus Cristo; acolhimento da verdade de fé: a Palavra se fez carne e veio habitar entre nós (cf. Jo 1,14).

Uma verdade que precisa ser transmitida com competência

O Papa Francisco, em sua Carta Apostólica Antiquum Ministerium sob forma de motu próprio, diz : ‘Toda a história da evangelização destes dois milênios manifesta, com grande evidência, como foi eficaz a missão dos catequistas. Bispos, sacerdotes e diáconos, juntamente com muitos homens e mulheres de vida consagrada, dedicaram a sua vida à instrução catequética, para que a fé fosse um válido sustentáculo para a existência pessoal de cada ser humano. Além disso, alguns reuniram à sua volta outros irmãos e irmãs, que, partilhando o mesmo carisma, constituíram ordens religiosas totalmente dedicadas ao serviço da catequese. Não se pode esquecer a multidão incontável de leigos e leigas que tomaram parte, diretamente, na difusão do Evangelho através do ensino catequético. Homens e mulheres, animados por uma grande fé e verdadeiras testemunhas de santidade, que, em alguns casos, foram mesmo fundadores de Igrejas, chegando até a dar a sua vida’ (3).

Ele vai indicar que a missão da catequese é uma ação evangelizadora; é insubstituível; é missão própria do Bispo e dos outros sujeitos a serviço da catequese : presbíteros, diáconos, religiosos(as), famílias, catequistas, leigos(as) que estão presentes no mundo; é uma missão salvadora da Igreja para o mundo. 

Queridos catequistas, é importante reconhecer a incansável participação de vocês, anunciando o Evangelho de Cristo com competência, criatividade e dedicação.

É missão da catequese :

  • conduzir as pessoas na adesão a Jesus Cristo, introduzindo-as nos sacramentos da iniciação cristã : Batismo, Confirmação e Eucaristia; 
  • educar para a escuta da Palavra e para a oração pessoal, ‘mediante a leitura orante, evidenciando uma estreita relação entre Bíblia, catequese e liturgia’ (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, Documento 107, 66);
  • permanecer na centralidade do querigma (primeiro anúncio das verdades da fé) para o amadurecimento e para a maturidade da fé;
  • favorecer, no seguimento de Jesus, uma experiência mistagógica (pedagogia do mistério) para progredir no conhecimento e na vivência do mistério pascal.

Lembremo-nos sempre do que disse Jesus : ‘Asseguro-vos que quem ouve a minha Palavra e crê em quem me enviou, tem vida eterna’ (Jo 5,24). Hoje, desafia-nos a urgência de construirmos comunidades eclesiais missionárias, comprometidas com o anúncio da Palavra de Deus, nas diferentes realidades da vida.

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/a-missionariedade-na-catequese-testemunho-e-servico.html