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sexta-feira, 30 de julho de 2021

Pandemia feriu nossa ilusão de onipotência

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Octavio Messias,

jornalista

‘Quem, como eu, nasceu a partir da segunda metade do século XX, cresceu sob ilusão de que de que o pior na história da humanidade já tinha ficado para trás. Pragas, pestes, guerras, escravidão, colapsos do sistema social… Tudo isso parecia coisa do passado, especialmente no mundo ocidental. 

Com a evolução das ciências humanas, biológicas e exatas que nos precedeu, com a evolução da civilização, com hábitos de higiene e normas de saneamento básico, tínhamos a ilusão de que a humanidade já tinha encontrado seu caminho, que estávamos na trilha da luz, e que, embora ainda atravessássemos crises pontuais e ajustes obviamente ainda se fizessem necessários, tudo tendia a melhorar sempre.

Até que, em 2020, mais de 50 anos depois de o homem ter chegado à Lua; quando é possível fazer contato em tempo real por áudio e vídeo com qualquer pessoa do planeta, quando existem telefones equipados com dispositivos de identificação facial, edifícios com amortecimento para terremotos e até carros autônomos capazes de atravessar continentes através de comandos por satélite, surge uma crise sanitária global que nos mostra como não somos tão avançados quanto imaginávamos.  

Uma pandemia que jogou por terra nosso equivocado senso de onipotência, que foi capaz de revelar o quão frágeis somos, que nos fez lembrar que não existimos sem respirar, que nos mostrou o quanto somos dependentes dos outros e dos recursos naturais para sobreviver e que atestou, de maneira incisiva, o quanto somos humanos. 

Correção de rumo

A pandemia expôs, de maneira brutal, as principais falhas da nossa sociedade. Revelou toda a desigualdade social, o descaso com nossos sistemas de saúde, a falta de preocupação com o meio-ambiente, a falta de informação e o descompasso na nossa comunicação. Além disso, ainda se tornou estopim para o ódio e para disputas de poder. 

Mas não nos desesperemos. Essa, a pandemia, me parece uma daquelas muitas provações pelas quais as civilizações passaram, e superaram, ao longo da história. Eclesiastes, capítulo 7, versículo 10 : ‘Nunca digas : Por que foram os dias passados melhores do que estes? Porque não provém da sabedoria esta pergunta’.

De nada adianta idealizarmos o passado e nos remoermos pelo presente. Mesmo em um momento difícil como o atual, me parece mais sábio refletir sobre onde estamos, enquanto espécie humana, e como aqui viemos parar. 

A maior parte das crises que atravessamos até hoje, de alguma forma, foram fundamentais para que delas surgisse algo melhor, para que o ser humano respondesse por meio da ação de modo que aquilo não se repetisse ou para que pelo menos estivéssemos prontos para lidar com tais acometimentos de maneira a minimizar seus estragos.

Quem sabe deste momento não surja uma oportunidade para corrigirmos os erros do passado?

Por isso é importante que encaremos a situação com humildade. Pois ela nos mostra, de maneira incontestável, que ainda temos muito o que aprender.

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://pt.aleteia.org/2021/07/29/pandemia-feriu-nossa-ilusao-de-onipotencia/

domingo, 15 de março de 2020

O coronavírus e a ilusão do isolamento

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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*Artigo de Alexandre Ribeiro,
jornalista


‘A pandemia do coronavírus colocou o mundo em quarentena. As medidas de isolamento na China soaram para muitos como excesso de autoritarismo.

Mas, pouco a pouco, outros povos se viram obrigados a restringir a livre circulação de pessoas pelas ruas, cidades e fronteiras, tendo em vista a rápida propagação do novo vírus.

A quarentena obrigatória é a última de uma série de medidas de isolamento.

Primeiro, cancelam-se as grandes aglomerações de pessoas. Depois, suspendem-se as aulas em escolas e universidades.

Depois, fecham-se temporariamente fábricas e centros de serviço. Por fim, determina-se que as pessoas permaneçam em suas casas.

E assim se cria a ilusão de que o isolamento – ainda que necessário – é possível.

Mas não é.

No sentido correto do termo, isolar significa fechar todos os canais de contato de um sistema com o seu entorno. Um sistema isolado seria aquele que não troca matéria, energia e informação com o seu ambiente.

Mas tudo que existe troca matéria, energia ou informação com aquilo que o cerca. Uma árvore, por exemplo, mesmo que esteja morta, se decompõe, dando continuidade ao processo de relacionamento com o seu entorno.

Nada no universo está isolado.

Nenhuma pessoa pode se isolar completamente, mesmo que construa um bunker de sobrevivência (como algum milionário excêntrico poderia fazer), ou se mude para o alto de uma montanha numa região remota.

Em qualquer lugar que você esteja, você continua conectado ao seu entorno.

Com isso, não queremos dizer que as medidas restritivas e de quarentena são inúteis. Muito pelo contrário, elas são necessárias e eficazes no combate à pandemia do coronavírus.

Mas elas não são medidas de isolamento. São apenas medidas restritivas de circulação e distanciamento social.

isolamento completo é uma mera ilusão.

Uma ilusão de que os problemas não chegarão até nós.

Uma ilusão de que aquela primeira tosse contaminada, da qual alguém padeceu há meses em Wuhan, nunca chegaria a nós.

Uma ilusão de que não somos determinados por aquilo que nos cerca.

Uma ilusão de que não temos nada a ver com os problemas ao nosso redor, estejam eles próximos ou distantes.

Quando a quarentena passar e o mundo voltar à normalidade, o que acontecerá em breve, se tivermos paciência e disciplina, façamos o exercício de recordar que o coronavírus não foi apenas uma pandemia.

Recordemos a pandemia do coronavírus na particularidade de um evento pequeno : uma tosse. A tosse de alguém que estava sofrendo.

E que esse pensamento nos ajude a cuidar de cada pequeno sofrimento, de cada pequena miséria, de cada pequena tosse.

E que seja assim por justiça e caridade. Mas, se assim não for, que seja pelo alerta.

O alerta de que, por mais recursos que possamos amealhar, nunca estaremos completamente isolados. Aquela pequena tosse chegará a nós.


Fonte :

domingo, 19 de novembro de 2017

O fascínio do poder

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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*Artigo de Evaldo D´Assumpção,
médico e escritor
  
‘Quando se conversa com um jovem sobre seus projetos para o futuro, é comum ouvir dele que seu sonho é ter uma profissão bem rentável, proporcionando-lhe recursos que lhe dê vida farta e confortável. Bem, é verdade que nem sempre a resposta é tão direta assim, todavia nas linhas e entrelinhas o que, com facilidade se deduz, é esta obviedade de seus anseios. Ter dinheiro, muito dinheiro, é a síntese dos sonhos de muitos jovens e adultos.
Permitindo-me um pequeno deslize para lugar comum, nos dias atuais os ocupantes de cargos políticos são, talvez com raríssimas exceções, exemplos típicos dos caçadores de tesouros, cujo objetivo máxime é exatamente este : grandes fortunas. Disputam cargos eletivos sem qualquer motivação altruística, pouco se importando com a fome e a miséria dos que os cercam, muitos deles seus futuros eleitores. Estão com os olhos dilatados em busca de polpudos ganhos, não importando a forma, a origem, nem as retribuições que por eles terão de dar. Há muito ouvi de um familiar, já falecido, e na época bastante envolvido com a política, que a única coisa importante na vida é o dinheiro. Afirmava, com insistência e convicção, que o dinheiro é a força única que move o mundo. E por dinheiro, muitos fazem qualquer coisa, sem qualquer escrúpulo. Vendem seu corpo, sua alma, sua dignidade, sua família e, se preciso for, matam pessoas, mesmo sendo pais, irmãos, parentes e amigos, bastando para isso que eles obstaculizem os seus ambicionados projetos de polpudos ganhos. Na verdade, o fazem até mesmo por modestos estipêndios...
Contudo, hoje tenho absoluta convicção de que o dinheiro não é o objetivo final dessas pessoas. Se assim fosse, ao chegar a um certo teto – digamos, bastante elevado – certamente parariam com sua fúria conquistadora para poder desfrutar, da melhor maneira possível, dos milhões arrecadados, sem outras preocupações. Mas, observando bem, elas não se contentam com teto algum. Algumas, nem sequer usufruem das benesses proporcionadas pelas grandes fortunas amealhadas. Querem mais, sempre mais, muito mais do que lhes será possível gastar, por mais perdulários que sejam, por mais longa que imaginem suas vidas. Basta observar as cifras levantadas por esta avalanche moralista que está sendo a ‘Operação Lava jato’. Montantes de dinheiro que nem sequer ousávamos pensar existir em qualquer corporação, são abocanhadas insaciavelmente por deputados, senadores, seus asseclas e outros ocupantes de cargos públicos. Tudo à custa de manobras sujas, das quais sequer se envergonham quando desveladas as suas safadezas, e são conduzidos coercivamente por policiais federais fortemente armados. Basta observar o cinismo com que os seguem. Como explicar então essa ganância? Respondo que é pelo verdadeiro objetivo final de sua fome insaciável : o poder. O que realmente almejam é o poder, e este não tem limites. Para conseguir todo o poder que desejam, em níveis insanamente sonhados, somente através do dinheiro, muito dinheiro. Daí a sua necessidade, sempre crescente, de arrecadar mais e mais, permitindo-lhes comprar pessoas, cargos, e tudo o mais que representa ou que lhes possa proporcionar o poder com que sonham.  
Vem então uma pergunta crucial : para que se quer, ou se precisa de tanto poder? Pesquisando a história descobrimos que nenhuma pessoa, mesmo conquistando poderes em níveis inimagináveis, logrou alcançar a felicidade, esta sim o desejo oculto no fundo dos corações e mentes de todos os humanos. Para quem goza de poder extremo, extremos também são os riscos que corre. Sua vida é uma constante caminhada em corda bamba, equilibrando-se no tênue fio da navalha, sem poder nem conseguir viver plenamente a vida. Seus prazeres são fugazes, sempre com o sabor amargo da insegurança que os cerca e que fingem ignorar. Vaidosos e arrogantes, vivem enquistados num mundo de iguais, com os quais compete e por vezes são por eles traídos. Afinal, a luta pelo pódio não tem quartel nem condescendência. Tudo é válido para sobrepujar o outro, ou para se livrar das perdas que lhes acontecem. Exemplos evidentes eram as lutas de gângsteres nos anos 30, e são as dos grupos de traficantes nos dias atuais; entre os coronéis da política no passado e a larga safra de políticos desnudados pela ‘Lava jato’ na atualidade. A delação premiada é hoje a arma de dois gumes para tentar se safar, ao mesmo tempo em que destroem os concorrentes. Cabeças raspadas, tornozeleiras eletrônicas, escolta da Federal, apontam os poderosos em declínio.
Curiosamente, o símbolo do poder total é Deus. Não é sem razão o que dizem dos poderosos : ‘Eles se julgam deuses!’ Mas poucos têm a consciência de que Deus, aquele que É, não tem, não precisa, nem quer poder algum. Se assim fosse, seríamos todos marionetes sem vontade própria, manipulados por um ser todo poderoso. Quem tem poder sempre quer dominar os mais fracos, exercendo sobre eles a força que acreditam possuir, ampliando seus próprios benefícios, espoliando os dominados, insensíveis às suas penúrias e aos seus sofrimentos.  
Deus, na sua imensidade infinita, jamais precisou nem buscou dominar ninguém, pois se assim fosse ele não seria amado, e sim temido. Condição incompatível com a perfeição de um Ser supremo. Nós é que distorcemos o que desconhecemos, como o frequentemente referido ‘temor de Deus’, usado para amedrontar e ameaçar os crentes mais ingênuos. O sentido real dessa expressão é o profundo respeito que devemos ter à Deus, resultado do máximo amor que lhe temos, em retribuição ao amor infinito que Ele nos dedica. Assim como o temor dos pais e mestres, hoje tão fora de moda, nunca deve ser o medo, mas o respeito indispensável a quem devemos tanto, se não tudo. Onde existe verdadeiro amor, certamente o poder jamais encontra lugar ou guarita.’

Fonte :