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terça-feira, 25 de janeiro de 2022

“Catolicismos” ideológicos de esquerda e de direita: heresias farisaicas disfarçadas de zelo

  Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo da redação da Aleteia  


Fariseus de esquerda e direita estarão sempre a postos para condenar a justiça, o amor e a misericórdia em nome de regras - esquecendo que as regras só fazem sentido quando baseadas na justiça, no amor e na misericórdia


Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos : se vos amardes uns aos outros’ (João 13,35).

Não existe absolutamente nenhuma forma de ‘provar’ o próprio catolicismo que não seja o amor ao próximo.

E como se prova o amor ao próximo?

Cristo responde : ‘Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos seus amigos’ (João 15,13).

E quem é amigo de Cristo?

Cristo responde : ‘Vós sois meus amigos se fizerdes o que vos mando’ (João 15,14).

E o que Cristo nos manda?

Cristo responde : ‘Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos maltratam e perseguem. Deste modo sereis os filhos de vosso Pai que está no céu, pois Ele faz nascer o sol tanto sobre os maus como sobre os bons e faz chover sobre os justos e sobre os injustos. Se amais somente os que vos amam, que recompensa tereis? Não fazem assim os próprios publicanos?’ (Mateus 5,44-46).

Tudo isso deveria ser a coisa mais batida do universo para qualquer um que tem o atrevimento de se dizer ‘cristão autêntico’.

Mas…

Assim como ocorria no tempo do próprio Jesus sobre esta terra, o aparente zelo religioso pode ser um abominável disfarce para um nível assassino, apóstata, diabólico de egoísmo, vaidade, arrogância, sectarismo e desprezo escandaloso pelo próximo.

Aparentavam grande zelo aqueles que não hesitavam em ‘coar um mosquito e engolir um camelo’ (cf. Mt 23,24), denunciou Jesus depois de descrevê-los : ‘Atam fardos pesados e esmagadores e com eles sobrecarregam os ombros dos homens, mas não querem movê-los sequer com o dedo’ (Mt 23,4). Mais veemente ainda : ‘Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Percorreis mares e terras para fazer um prosélito e, quando o conseguis, fazeis dele um filho do inferno duas vezes pior que vós mesmos’ (Mt 23,15).

Os fariseus hipócritas prezam a forma acima do conteúdo. Para eles, o importante é o protocolo, a regra, a lei exterior – mesmo que o espírito seja traído da mais nefasta e satânica maneira em nome das aparências.

Um fariseu preza as exterioridades e se preocupa com as aparências, formalidades e rigidezes protocolares. E não há nada de errado nisto – desde que não se fique apenas nisto. ’Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Pagais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e desprezais os preceitos mais importantes da lei : a justiça, a misericórdia, a fidelidade. Eis o que era preciso praticar em primeiro lugar, sem contudo deixar o restante’ (Mt 23,23).

Justiça, misericórdia, fidelidadeAmor ao próximo – inclusive aos inimigos. Amor ao próximo até dar a vida pelos amigos. Orar pelos que nos perseguem. Perdoar até setenta vezes sete. ‘Eis o que era preciso praticar em primeiro lugar’.

O erro dos fariseus, que se explicita nas suas palavras e nos seus atos (porque ‘pelos seus frutos os conhecereis’, cf. Mt 7,20), é um erro de priorização.

Nos tempos atuais, como em qualquer outro tempo, esses erros continuam a ser cometidos na priorização da forma, do protocolo, da regra, que, mesmo sendo necessários, não podem jamais sobrepor-se ao amor. Afinal, é só a serviço do amor que existem as formas boas de comportamento.

O papa Francisco vai a Cuba? Não pode. É comunista. Mas e o amor ao próximo? Não pode. É comunista. Mas como ajudar os cubanos a viverem a fé com liberdade sem ir até as causas da sua falta de liberdade para superá-las com amor, misericórdia, justiça? Não pode. É comunista.

O papa Francisco se encontra com o patriarca Kirill? Não pode. É laranja da KGB. Mas e a reconciliação? E o pedido de Cristo ‘para que todos sejam um’? Não pode. É laranja da KGB. Mas a Igreja ortodoxa existe há mil anos, séculos e séculos antes do surgimento da KGB. Não pode. É laranja da KGB.

O papa Francisco escreve uma encíclica sobre o cuidado da nossa casa comum? Não pode. É New Age, ecologismo e comunismo verde. Mas Deus não nos confiou o cuidado responsável da criação já no primeiro livro da Bíblia? Não pode. É New Age, ecologismo e comunismo verde. Mas Jesus mesmo não estava sempre em contato com a natureza, não contemplava e citava constantemente em suas parábolas e discursos as sementes, os ramos, as árvores, os campos, os lírios, as flores, o trigo, os frutos, o mar, os pássaros? Não pode. É New Age, ecologismo e comunismo verde. E São Francisco de Assis, que chamava de irmãos e irmãs o sol e a lua e os animais e plantas? Não pode. É New Age, ecologismo e comunismo verde.

O papa Francisco fala de justiça na distribuição dos bens materiais? Não pode. É teologia da libertação. O papa defende uma economia a serviço das pessoas e não pessoas a serviço da economia? Não pode. É teologia da libertação. Ir até as periferias da existência, promover a equidade no acesso aos recursos, garantir uma sobrevivência digna, derrotar o pecado gravíssimo da usura e da ganância? Não pode. É teologia da libertação.

O papa Francisco denuncia a cultura do descarte e da coisificação dos seres humanos? Não pode. É obscurantismo e insensibilidade reacionária. O papa arremete contra a irresponsabilidade no desfrute inconsequente do sexo? Não pode. É obscurantismo e insensibilidade reacionária. O papa reitera que o aborto é um crime abominável, perpetrado em nome do egoísmo, do utilitarismo e da eugenia, que inventaram o suposto ‘direito’ a ter ‘filhos perfeitos’, como se uma vida humana fosse comparável a um ‘sonho de consumo’? Não pode. É obscurantismo e insensibilidade reacionária.

O papa Francisco reafirma a doutrina moral da Igreja? Não pode. É dogmatismo e intolerância. Ele reitera que o sacerdócio instituído por Cristo foi confiado somente aos seus discípulos homens? Não pode. É dogmatismo e intolerância. O papa Francisco reafirma que o matrimônio – não só cristão, mas natural – é exclusivamente entre um homem e uma mulher, é indissolúvel e é aberto à vida? Não pode. É dogmatismo e intolerância.

O papa Francisco prioriza a misericórdia na pastoral familiar? Não pode. É modernismo, heresia e sentimentalismo. Os casais em segunda união devem receber compreensão, amor e misericórdia, precisamente porque é necessário testemunhar ao mundo o compromisso indissolúvel do matrimônio para as próximas gerações? Não pode. É modernismo, heresia e sentimentalismo. Os homossexuais não devem ser julgados e condenados, mas sim acolhidos com respeito, fraternidade e amor cristão? Não pode. É modernismo, heresia e sentimentalismo. Mas Cristo não andava com as prostitutas, pecadores e publicanos? Não pode. É modernismo, heresia e sentimentalismo. Mas Cristo não acolhia e oferecia amor e misericórdia a samaritanos, pagãos e romanos drasticamente imorais? Não pode. É modernismo, heresia e sentimentalismo.

O papa Francisco pede acolhimento para migrantes e refugiados? Não pode. São terroristas infiltrados. O papa mandou abrir as portas das igrejas de todo o mundo para acolher os refugiados, ainda que não sejam cristãos, ainda que sejam muçulmanos? Não pode. São terroristas infiltrados. Mas muitos deles são crianças. Não pode. São terroristas infiltrados. Mas milhares deles, mesmo muçulmanos, estão sendo perseguidos, torturados e assassinados em seus países. Não pode. São terroristas infiltrados. E as obras de misericórdia? Não pode. São terroristas infiltrados.

O papa Francisco pede ecumenismo entre os cristãos e diálogo civilizado e amoroso com as outras religiões? Não pode. É estupidez, frouxidão e traição. Mas como é que os não cristãos vão conhecer a Cristo se os cristãos não O testemunharem na prática? Não pode. É estupidez, frouxidão e traição. E como vai brilhar a nossa luz diante dos homens se a escondemos deles, recusando-nos até a manter contato? Não pode. É estupidez, frouxidão e traição.

Os fariseus de esquerda e direita estarão sempre a postos para condenar a justiça, o amor e a misericórdia em nome de regras e protocolos, esquecendo que as regras e protocolos só fazem sentido quando baseadas precisamente na justiça, no amor e na misericórdia.

Diante da tentação constante do farisaísmo de direita e de esquerda, sejamos justosamemos e pratiquemos a misericórdia.

Afinal, ‘ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, sou como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine’ (I Coríntios 13,1).

Afinal, ‘ama e faz o que queres’ (Santo Agostinho), porque, se amas de verdade, só vais querer fazer o melhor pelo próximo.

Amemos. Com obras. Na prática. Inclusive aos inimigos. Até dar a vida. Isto é o Evangelho. Isto é o cristianismo.

O resto é ideologia farisaica.’

 

Fonte  *Artigo na íntegra

https ://pt.aleteia.org/2016/02/15/catolicismos-ideologicos-de-esquerda-e-de-direita-heresias-farisaicas-disfarcadas-de-zelo/

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Neo-Fariseus

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 Neo-fariseus ensinam mentiras como se fossem verdades.
*Artigo de Fabrício Veliq,
protestante, é mestre e doutorando em teologia 
pela Faculdade Jesuíta de Belo Horizonte (FAJE),
doutorando em teologia na Katholieke Universiteit Leuven - Bélgica,
formado em matemática e graduando em filosofia pela UFMG


‘É comum no mundo atual ter-se um discurso desassociado da prática. E isso não é só de hoje. Jesus, desde seu tempo, já criticava isso na postura dos fariseus.

Porém, aquilo que era condenado em Jesus nessas pessoas não era sua classe na sociedade, embora muitos pensem que Jesus criticava os fariseus por eles serem fariseus, antes suas hipocrisias ao exigirem do povo algo que nem eles estavam dispostos a fazer.

Na igreja atual, não são poucos os que criticam os fariseus colocando-os como escória da sociedade da época e coisas do tipo, o que só revela um não conhecimento de quem esses eram.

Os fariseus tinham uma qualidade acerca do conhecimento a respeito de Deus : eles conheciam aquilo que a Torá falava sobre Ele. Os fariseus foram os responsáveis pela manutenção dos ensinamentos da Torá no período de silêncio entre Malaquias e Mateus.

Durante o período inter-testamentário, os fariseus foram aqueles que lutaram para a manutenção dos costumes do povo de Israel, bem como foram os grandes responsáveis pela volta ao culto monoteísta na comunidade de Israel o que sem dúvida, preparou terreno para a vinda do Cristo.

No entanto, hoje percebemos um movimento diferente ao qual chamarei de neo-farisaísmo. Os neo-fariseus são os que falam sem saber sobre o deus que se fala e ainda são hipócritas, tendo suas práticas desvencilhadas dos discursos que pregam.

Não sei nem se podemos falar que são fariseus, uma vez que falta uma das características principais destes que é o conhecimento com relação ao deus que se prega. Diante disso, optei por chamá-los de neo-fariseus.

Esses, muito presentes em nossos dias, são aqueles que não conhecem o que a bíblia fala sobre Deus, têm um discurso aprendido somente pelos programas de televisões ou via rádios, e ainda assim, não mantêm uma prática condizente com o discurso que afirmam. Pregam a muitos coisas erradas sobre Deus sob um pretexto de certa revelação divina. Revelações essas que partem mais de experiências pessoais e que muitas vezes vão contra os princípios bíblicos. Assim, penso que esses ainda são piores do que aqueles condenados por Jesus na época em que esteve entre nós. Os que eram criticados por Jesus eram condenados pela hipocrisia e não pela falta de conhecimento. Aos de hoje, porém, aliado com a hipocrisia, há a falta de conhecimento, ensinando mentiras como se fossem verdades.

Quanto aos fariseus hipócritas propriamente ditos, esses também ainda existem entre nós, ou seja, pessoas que conhecem o que a bíblia diz sobre Deus, falam sobre ele com propriedade não vivendo segundo Ele. Esses são os mais sutis, uma vez que conseguem justificar suas práticas com embasamento bíblico bem fundamentados. São como os fariseus da época de Jesus devido ao fato de não atentarem aos princípios da lei e sim à sua forma, causando opressão aos que os seguem e 'se apoderando da chave do conhecimento, não entram e impedem os que querem entrar'.

No entanto, ainda há os fariseus verdadeiros : aqueles que conhecem o que se diz sobre Deus, entenderam os princípios do reino e vivem de acordo com o que conhecem, lutando para que aquilo que se entende como sendo a palavra de Deus seja pregada sempre.

Em nossos dias, aparentemente, são os neo-fariseus os que mais estão presentes. Infelizmente, na maioria das vezes, são esses que estão à frente das instituições, fazendo de pessoas simples massas de manobra de seus devaneios.

Algo que precisamos ter em mente é que se falamos de Deus sem vivê-lo e sem fazer diferença no meio em que estamos inseridos, temos que rever urgentemente se é a Deus mesmo que estamos seguindo e se é realmente o evangelho das boas novas que temos pregado.

Uma das críticas de Jesus era que os fariseus negligenciavam a misericórdia e a justiça, preocupando-se somente na obediência às formas da lei e não aos seus princípios.

Infelizmente, há muito disso em nossos dias. Intolerância com os que pensam diferente, pretensão de conhecimento das verdades absolutas e negação da justiça para satisfazer instituições.

Nossa tarefa enquanto cristãos é, então, testemunhar que a aceitação de Jesus e a inclusão que Jesus promoveu àqueles e àquelas que eram excluídos da sociedade do seu tempo ainda continua verdade através de nosso viver no mundo. E assim, conhecendo a Palavra de Deus e o Evangelho, e vivendo de acordo com eles, zelando pelo seu cumprimento, quem sabe também não possamos ser contados entre os fariseus verdadeiros sem a hipocrisia que os condenavam.’


Fonte :