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domingo, 7 de abril de 2019

Autênticos e coerentes

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 As pessoas parecem se habituar, cada vez mais, com a mentira e, consequentemente, se distanciam da verdade
*Artigo de Dom Walmor Oliveira de Azevedo,
Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, MG



As derrocadas, cada vez mais frequentes, sofridas por toda a sociedade exigem novas atitudes, sob pena de se aumentar o enorme precipício que se interpõe nos caminhos da humanidade. Não se trata aqui de fazer terrorismo, mas alertar para os prejuízos em decorrência da falta de comprometimento com a autenticidade e a coerência. Não se pode permitir que esses princípios cedam lugar à inversão de valores, a exemplo da idolatria do dinheiro, que faz crescer a indiferença entre as pessoas e à Casa Comum. É urgente que todos reconheçam : buscar somente o próprio bem-estar, de modo egoísta, submetendo tudo à lógica do dinheiro, impede o êxito dos esforços para se alcançar a verdadeira paz. Uma atitude, comum e patológica, que torna a vida um pesadelo, contribuindo, paradoxalmente, para alimentar as mazelas que vão atingir, cedo ou tarde, os que se percebem seguros no seu bem-estar, ancorados somente no que possuem.
 
A necessária correção de rumos exige, assim, a superação do egoísmo e da indiferença. Nesse sentido, um caminho seguro e aberto a todos é acolher a convocação redentora deste tempo da Quaresma, que vem do coração do Mestre e Salvador Jesus : convertei-vos e crede no Evangelho. Quem acolhe esse convite com humildade consegue engajar-se verdadeiramente nas suas comunidades familiar, religiosa, governamental e em tantas outras, de modo autêntico e coerente, indo além do simples investimento no acúmulo de ganhos pessoais, das ações fundamentadas nas futilidades e vaidades.

Mas acolher o convite de Jesus é também um desafio, neste tempo de tantas polarizações, comprovadamente perigosas. Quem age de modo coerente com o Evangelho não pode enrijecer-se nos estreitamentos de mentalidades e de juízos tendenciosos, distantes da verdade, da justiça e, consequentemente, do amor. Por isso mesmo, o tempo da Quaresma pede a cada pessoa compromisso com a humildade na vivência do jejum, da oração e da caridade – dedicação, principalmente, aos que mais precisam de amparo. Caminho bem diferente do que é trilhado por quem se contenta com o fracasso dos outros ou se dedica a propagar mentiras para conquistar benesses e comodidades.

Lamentavelmente, a mentira é também um mal que se expande velozmente no mundo contemporâneo, contaminando os mais diversos tipos de relações. As pessoas parecem se habituar, cada vez mais, com a mentira e, consequentemente, se distanciam da verdade. Oportuno é lembrar o que diz Santo Agostinho, quando relata ter visto muitas pessoas que enganam outras, mas jamais ter encontrado alguém que gostasse de ser enganado. Se todos assumissem o propósito de nunca mentir por não apreciar o prejuízo de ser enganado, a realidade mudaria para melhor e a verdade seria reconhecida, de fato, como bem imprescindível. Há, pois, de se tomar consciência sobre a negatividade ética das mais diversas formas da mentira – a que é dita sobre os outros, a que se propaga para arquitetar a corrupção, a que busca assegurar cargos nas instituições e também a que alimenta ilusões sobre si mesmo.

Enfrentar a mentira e as muitas crises que ameaçam a humanidade é uma urgência. A sincera oração a Deus, inspirada pelas palavras de Santo Agostinho, contribui para a superação desse desafio, qualificando a própria interioridade : ‘Fazei que eu Vos conheça, ó Conhecedor de mim mesmo, sim, que Vos conheça como de Vós sou conhecido. Ó virtude da minha alma, entrai nela, adaptai-a a Vós, para a terdes sem mancha e sem ruga’. Todos tenham, assim, iluminados pela fé, oportunidade de investir mais na autenticidade e na coerência, alicerces  imprescindíveis para a edificação da própria interioridade.’


Fonte :

quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Construído na Itália primeiro mosteiro de madeira totalmente sustentável

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

Irmãs buscam simplicidade e coerência com a opção religiosa que fizeram


‘Um mosteiro seguindo os princípios de construção de pré-fabricados, com todos os benefícios que uma estrutura de madeira pode oferecer : 100% natural, sustentável, mantendo a temperatura e a umidade ideais nos espaços internos.
Atendendo a um pedido das Clarissas Franciscanas, a empresa Rubner Haus construiu em apenas 8 meses, a poucos metros da Via Adriatica na Província de Lecce, Itália, o primeiro mosteiro de madeira totalmente sustentável, com o uso do sistema ‘Casablanca’.

Sobriedade e funcionalidade
O que nos conquistou foi a ideia de simplicidade e frugalidade no respeito à natureza e ao ambiente – conta Irmã Marilú, uma das religiosas que vive no novo mosteiro. Para nós, que somos ordens mendicantes, a casa de madeira simboliza ser o mais possível coerentes com a vida natural e simples que escolhemos seguir’.
O mosteiro, que também desperta muita curiosidade e admiração nos visitantes é uma moradia acolhedora, cômoda e funcional’, disse a religiosa, agradecendo aos construtores pela ‘competência e disponibilidade, dedicando-nos tempo, mesmo longos, para esclarecer com paciência e cortesia todos aspectos sobre a técnica de construção e todas dúvidas que foram surgindo ao longo da construção’.

Sustentabilidade
A empresa explica que as construções de madeira respeitam o ambiente e as pessoas que nelas vivem, e quando bem projetadas, garantem eficiência energética e isolamento acústico. Também a quantidade de abetos usados em média para a construção de uma casa, é reposta na natureza em cerca de 23 segundos.
O sistema ‘Casablanca’ conjuga madeira maciça com reboco nas paredes externas.  Assim – afirmam os responsáveis – a construção responde às exigências de sobriedade das religiosas que optaram por madeira à vista na parte externa do mosteiro e reboco na parte externa da igreja adjacente.

O mosteiro
O novo mosteiro, com cerca de 600 m² de área, respeita as características típicas da arquitetura rural salentina.
A capela de 12m x 7 m - números que repropõe o número dos apóstolos e os dias da criação – separa a área da vida monástica daquela da acolhida.
A parte central da estrutura é ocupada pelo capítulo (sala destinada aos encontros da comunidade religiosa), biblioteca, laboratórios, cozinha e refeitório. Nos fundos, as seis celas com 9m² cada uma. Também há vários pátios internos e um claustro para as atividades ao ar livre.
Separado da estrutura principal, há um alojamento destinado a acolher pessoas necessitadas ou interessados em fazer um retiro espiritual.

A madeira
A madeira - natural e ecológica- usada pela empresa é proveniente de áreas de reflorestamento – 150 km² - da região alpina, próxima à Áustria.
A empresa nasceu na Província de Bolzano, de uma serraria movida à água. Atualmente o grupo emprega 1.250 pessoas, com presença além da Itália, na Áustria, Alemanha e França.’

Fonte :


domingo, 19 de março de 2017

As interpelações quaresmais e a experiência da vida nova

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Lorena Alves Silveira,
graduanda em teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia


‘Dizer sobre o cansaço e o stress da sociedade em que estamos inseridos já é um clichê. Continuamente somos bombardeados por uma série de informações de todos os tipos possíveis. Ao mesmo tempo, recebemos, através das redes sociais, inúmeras mensagens nos alertando sobre a importância de parar um pouco, refletir sobre a vida, reorganizar as prioridades, redescobrir e se importar com o que realmente é essencial.

Interromper o ritmo cotidiano para retirar-se da agitação desenfreada que nos envolve e transborda em nós, nunca foi tão necessário. Essa é a proposta quaresmal : um grande retiro! Retiro que não está atrelado ao espaço físico, ao silêncio meramente exterior, ao estar só. O desafio é justamente este : retirar-se estando em meio à efervescência urbana, cercado por pessoas, bombardeado por sons e imagens, permeado por conflitos internos, caos social, econômico e cultural.

Lançado o desafio, eis pergunta fundamental : retirar-se para quê? E é aí que costumamos nos perder... Se perguntarmos à muitas pessoas de nosso convívio o que as vêm em mente quando se diz ‘quaresma’, muitas irão nos responder ‘sacrifício’, ‘penitência’, ‘sofrimento’. A quaresma, não raramente, nos coloca em contato com pessoas que, nesse período, se dispõem à algum tipo de ‘sacrifício’, se abstendo de carnes, guloseimas, bebidas alcóolicas. Muitas vezes, atos vazios de sentido e perdidos neles mesmos.

Se retomarmos às fontes desse tempo litúrgico, veremos que a quaresma surge como oportunidade para os catecúmenos se prepararem mais intensamente para receber o batismo na celebração anual da Páscoa do Senhor, a Vigília Pascal. Essa experiência catecumenal é estendida a todos os já batizados, que na Noite Santa do Senhor irão renovar suas promessas batismais.

Voltemos para a pergunta fundamental : retirar-se para quê? Para revermos nossa vida a partir da experiência com o Ressuscitado e, alimentados por ela, renovarmos os compromissos assumidos em nosso batismo.

Todo acordo, contrato, combinação, carece de ser revisitado, para que nos recordemos de nossas motivações e tenhamos a possibilidade de avaliar a coerência de nosso caminhar. Assim, o período quaresmal deve ser um movimento de retirar-se da superfície de nós mesmos e irmos a fundo.

As perguntas a serem respondidas por todos os batizados durante a Vigília Pascal são um bom fio condutor para nossa reflexão nesses 40 dias. Para vivermos na liberdade dos filhos e filhas de Deus, para vivermos como irmãos e irmãs, renunciamos a todo o pecado, a tudo o que pode nos desunir? Cremos no Pai, Filho, e Espírito, que são amor, relação, fonte de vida?

Perguntas genéricas que encontram inúmeras possibilidades no particular de nosso viver. Pessoalmente e em comunidade, podemos nos colocar ao encontro dessas respostas. Afinal, em que Deus a nossa fé está fundamentada? Cremos na misericórdia, no amor, nas relações? Quais são meus valores fundamentais a partir de minha crença? Sou capaz de renunciar a tudo o que é contrário ao Reino?

Conduzidos por estes questionamentos, somos convidados aos três pilares desse tempo litúrgico, recebidos da fé judaica : a oração, o jejum, e a esmola. Essas práticas certamente nos auxiliam na busca pela coerência em nossos compromissos batismais, tão exigentes e fundamentais para o cristão.

Se colocar na dinâmica de diálogo com o Senhor, ouvir o que Ele nos ensina a partir do seu Evangelho, percebê-lo no grito ou silêncio do pobre, daqueles que estão às margens. É na oração que conhecemos a Deus, mas na oração verdadeira, sensível ao Senhor que se comunica através da vida. Conhecendo-o e atraídos pelo seu amor, somos capazes de entregá-lo nossas misérias mais profundas, nossas reais necessidades, nosso canto de louvor e gratidão.

A partir desse encontro amoroso, que é a oração, estamos aptos para reconhecer o outro em suas carências e alimentá-lo a partir de nossas renúncias, como irmãos e irmãs que somos. A esmola nada mais é do que o fruto do nosso jejum, que vai em socorro à necessidade do outro. Assim, o pão que não esteve em minha mesa voluntariamente, deve estar na mesa daqueles que não o tem todos os dias, para que a súplica ‘o pão nosso de cada dia nos dai hoje’ se concretize e o Reino aconteça.

Como o jejum dos alimentos encontra seu sentido alimentando o outro, toda renúncia encontra sua significação na cura das relações. Jejuar da malícia, da maldade, do egoísmo, da ambição... isso cura a todos nós, nos reconfigura como filhos do mesmo Pai amoroso, nos restabelece irmãos e irmãs.

Ser batizado é fazer experiência da morte para, com Cristo, encontrar a vida, vida nova, vida nele. Essa experiência é profunda, transformadora, comprometedora. Dessa forma, identificar a quaresma como sofrimento em si mesmo, é rejeitar a vida que o Ressuscitado nos oferece.

Pensemos em nosso batismo, na coerência de nossa vida batismal. Sejamos pessoas, comunidades, uma sociedade ressuscitada, o que só é possível a partir da nossa decisão pelo amor, pela verdade, pelas relações cheias de saúde. Relação com Deus, conosco mesmos, com nossos irmãos e irmãs, com nossa casa comum.

Como carecemos de saúde, de salvação! Cercados por crises, por mentiras, corrupção, por escândalos e mais escândalos nacionais, mundiais, não sejamos, nós, cristãos, também motivo de escândalo.

Mas o que é o escândalo? O escândalo é dizer uma coisa e fazer outra; é ter vida dupla. Vida dupla em tudo : sou muito católico, vou sempre à missa, pertenço a esta e aquela associação; mas a minha vida não é cristã. Não pago o que é justo aos meus funcionários, exploro as pessoas, faço jogo sujo nos negócios, reciclo dinheiro, vida dupla. Muitos católicos são assim. Eles escandalizam. Quantas vezes ouvimos dizer, nos bairros e outras partes : ‘Ser católico como aquele, melhor ser ateu’. O escândalo é isso. Destrói. Joga você no chão. Isso acontece todos os dias, basta ver os telejornais e ler os jornais. Os jornais noticiam vários escândalos e fazem publicidade de escândalos. Com os escândalos se destrói.’ Papa Francisco (Homilia da missa matutina celebrada, no dia 23/02/2017, na Casa Santa Marta).

Sejamos coerentes, sejamos fiéis, sejamos amor!’


Fonte :