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segunda-feira, 25 de junho de 2018

Minoria católica na península arábica terá uma catedral dedicada à Virgem Maria


Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
Nossa Senhora da Arábia


‘No último dia 10 de junho, foi colocada a pedra fundamental da Catedral de Nossa Senhora da Arábia, na cidade de Awali (Bahrein).

Segundo informações a Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN), esta será a sede da Igreja na península do norte da Arábia.

O projeto de construção desta catedral começou em 11 de fevereiro de 2013, quando o rei do Bahrein, Hamad Bin Isa Al Khalifa, doou à comunidade católica um terreno de nove mil metros quadrados para construir uma nova igreja.

A construção depende de muitos fatores e está sendo realizada graças à perseverança e boa vontade dos fiéis e das autoridades locais. Entretanto, a obtenção de fundos sempre é complicada.

A Ajuda à Igreja que Sofre (ACN) está colaborando ativamente na construção da catedral e é um dos principais doadores.

Pe. Andrzej Halemba, responsável pelo projeto por parte da ACN, esteve presente na cerimônia do início das obras e assegurou que foi um acontecimento memorável ver como a catedral dá um passo a mais para se tornar realidade.

O sacerdote sublinhou que ‘foi um momento de muita alegria’ e também ‘um momento para rezar, um encontro profundamente espiritual e um momento para depositar a nossa confiança no Senhor. Na Liturgia da Palavra, rezamos pelo país e pelas pessoas que vivem aqui’.

Entretanto, o projeto ainda precisa de mais dinheiro, muitos crentes no Bahrein contribuíram com uma grande parte dos fundos, apesar de seus escassos recursos, para que a catedral finalmente se torne realidade.

A ACN sublinhou que a Catedral de Nossa Senhora da Arábia será um edifício que não só responderá às necessidades espirituais dos crentes – no total, uma população de aproximadamente 5 milhões de pessoas nos quatro países do Vicariato Apostólico –, mas também terá um prédio adjacente para eventos sociais e educacionais.

Esta é uma necessidade muito importante para os católicos ‘locais’, um grupo formado principalmente por imigrantes da Índia, das Filipinas e de Bangladesh que trabalham como diaristas e empregados domésticos para apoiar as famílias que deixaram para trás em seus países.

No Bahrein, a situação não é tão ruim, o pior que pode acontecer é a tentação de explorar os trabalhadores que vêm para cá. Às vezes, os imigrantes são obrigados a trabalhar em condições extremas, como em maio, com mais de 47 graus Celsius’, destacou Pe. Halemba.

Os católicos nesses territórios são uma minoria religiosa e étnica, por isso, geralmente são discriminados e têm desvantagens em suas condições de trabalho.

Por isso, o sacerdote sublinhou que estão ‘oferecendo aulas de inglês e cursos para sensibilizar os imigrantes sobre a cultura local. Isto é muito importante para as pessoas que vêm trabalhar, porque facilita a sua estadia aqui, longe de suas casas’.

Além disso, indicou que conhecer a cultura é absolutamente necessário para a sua segurança, pois podem ‘correr perigo se não forem conscientes da cultura e se, sem querer, se comportarem de uma maneira que ofenda a população local’.

Na cerimônia em que foi colocada a pedra fundamental da catedral, estiveram presentes os representantes do Bahrein, Kuwait, Catar e Arábia Saudita, que formam o Vicariato Apostólico da Arábia do Norte.

Também participaram da cerimônia um representante do rei do Bahrein, o Núncio Apostólico, Dom Francisco Montecillo Padilla, e o Bispo do Vicariato Apostólico, Dom Camillo Ballin, assim como os embaixadores da Itália e da França.’


Fonte :

domingo, 7 de maio de 2017

A devoção a Maria

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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*Artigo do Cardeal Dom Orani João Tempesta, O. Cist.,
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ


‘A devoção à Virgem Maria, Mãe de Deus, é sem dúvida um diferencial em nossa vida cristã, porque, longe de desviar nossa atenção do Cristo, ela nos integra no plano de salvação proposto por Deus e realizado por seu Filho único, Jesus Cristo, que Se encarnou e veio ao mundo por meio dela. Nós celebramos as festas de Maria porque é Mãe de Deus, porque nos deu o Salvador. Foi Deus que, em sua infinita sabedoria e bondade, estabeleceu que a redenção da humanidade acontecesse através de seu Filho único nascido de uma Virgem; e a Virgem escolhida foi Maria. Ora, se Deus, o Senhor de todas as coisas, o Infinito e o Absoluto, não se envergonhou de escolher Maria, e a fez Cheia de Graça, para ser a Mãe de seu Filho, por que haveríamos nós, simples mortais, de recusar-nos a ter para com ela uma devoção toda especial?

É bom lembrar ainda que a nossa devoção a Maria deve fundamentar-se na inspiração de suas virtudes e no seguimento de Cristo. Quando Cristo disse : ‘Se alguém quiser me seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e me siga’ (Mt 16,24), Ele se colocou como o primeiro e principal modelo a ser seguido. Se nos inspirarmos na fidelidade de Maria, no seu amor a Deus e aos irmãos, com toda a certeza ela nos apresentará e conduzirá pelos caminhos de seu Filho Jesus.

Ao lermos a Bíblia, os Evangelhos nos mostrarão que Maria, como a primeira cristã, viveu as virtudes da Fé, da Esperança e da Caridade. Antes de trazer o Filho de Deus em seu seio, já O trazia no desejo de seu coração, pois como mulher judia esperava e acreditava que Deus um dia enviaria o Messias. Como modelo de caridade, deixa sua casa e vai servir Isabel, sua prima de idade avançada que está grávida, permanecendo com ela os três meses finais (Lc 1,36;56), e ainda estando presente com a Igreja que está nascendo e sendo perseguida. (At 1,14)

 Foi modelo de um olhar de fé e de esperança, sobretudo quando, na tormenta da paixão do Filho, conservou no coração uma fé total n’Ele e no Pai. Enquanto os discípulos, envolvidos pelos acontecimentos, ficaram profundamente abalados na sua fé, Maria, embora provada pelo sofrimento, permaneceu íntegra na certeza de que se realizaria a predição de Jesus : ‘O Filho do Homem... ao terceiro dia, ressuscitará’ (Mt 17, 22-23). Com este olhar de fé e de esperança, Maria encoraja a Igreja e os cristãos a cumprirem sempre a vontade do Pai, que nos foi manifestado por Cristo e que, através de sua intercessão, sejamos homens e mulheres da Fé, da Esperança e da Caridade.

A Virgem tem na Bíblia um lugar discreto. Ela aí é representada toda em função de Cristo e não por si mesma. Mas sua importância consiste na estreiteza de seus laços com Cristo. Maria está presente em todos os momentos de importância fundamental na História da salvação : não somente no princípio (Lc 1 – 2) e no fim (Jo 19,27) da vida de Cristo, mistérios da Encarnação e da morte redentora, mas na inauguração de Seu ministério (Jo 2) e no nascimento da Igreja (At 1,14). Presença discreta, na maior parte das vezes, silenciosa, animada pelo ideal de uma fé pura, e de um amor pronto a compreender e a servir aos desejos de Deus e dos homens. (Lc 1,38-39.46-56; Jo 2,3)

Esta presença revela seu sentido total, e com toda a Escritura se a recolocarmos nos grandes quadros e correntes da teologia bíblica onde eles se situam. Ela se apossa, pela fé, da promessa que ele havia recebido na fé. Se alargarmos a perspectiva da história de Israel à história cósmica, segundo as insinuações de João e de Lucas, se compreendermos que Cristo inaugura uma nova criação, Maria aparece no início da salvação, como restauração de Eva : Ela acolhe a promessa de vida onde a primeira mulher havia acolhido a palavra de morte e se torna perto da nova árvore da vida, a mãe dos vivos.

O lugar de Maria na liturgia se insere na celebração da obra salvífica do Pai : o Mistério de Cristo. Neste mistério inseriu-se a memória de Maria como Mãe de Cristo, celebrando-se de forma explícita a íntima ligação que a Mãe tem de mistérios da salvação; Maria aparece associada ao Filho em primeiro lugar na Celebração Eucarística, quando se invoca a memória da ‘sempre Virgem Maria, Mãe de Deus e Senhor Jesus Cristo’ (Oração Eucarística I), as memórias incorporadas pela liturgia da Igreja e aquelas que nascem da experiência de fé das comunidades cristãs. Da tradição perene e viva da fé da Igreja colhem-se as mais significativas expressões da piedade e devoção marianas. (Cfr. Marialis Cultus 9-15)

Temos ao longo do ano várias celebrações que evocam a Bem-aventurada Virgem Maria. Este ano temos a graça de celebrar os 300 anos do encontro da Imagem de Nossa Senhora Aparecida no Rio Paraíba do Sul, jubileu nacional da Virgem Maria, e os cem anos das aparições de Nossa Senhora de Fátima aos pastorinhos. Em Maria, a Igreja evoca e celebra a própria vocação.

Pedindo pela paz, convidamos todos os nossos diocesanos a rezarem o Rosário em público nesses abençoados dias de maio deste Ano Mariano.’

           
Fonte :
  

segunda-feira, 17 de abril de 2017

A Virgem Maria no Tempo da Páscoa

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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*Artigo do Padre Jesús Castellano Cervera, OCD,
(30.7.1941 – 15.06.2006)


‘Quisera oferecer uma meditação sobre o sentido da presença discreta e até escondida da Mãe do Ressuscitado, no mistério desses cinqüenta dias de alegria pascal que chamamos de Tempo de Pentecostes.

É tempo do Cristo Ressuscitado, presente no meio de seus discípulos desde a manhã da Páscoa. É tempo do Espírito Santo cuja efusão, São João Evangelista antecipa na tarde do Domingo da Ressurreição, para sublinhar que o dom do Espírito Santo é sopro do próprio Ressuscitado, transmitido a seus apóstolos (cf. Jo 20,22-23), para que prossigam a mesma obra que Jesus levou até o fim. É tempo da Igreja, da humanidade nova que é o corpo do Ressuscitado que através das aparições de Jesus a seus discípulos, alegra-se com a certeza de sua presença até o fim dos tempos em sua peregrinação histórica (Mt 28,20). É tempo de Maria, a Mãe de Cristo Ressuscitado que sente a alegria pelo triunfo de seu Filho, discípula entre os discípulos, aquela que foi testemunha da Ressurreição, da Ascensão e de Pentecostes.

Vamos elucidar de uma maneira simples, a presença de Maria nestas três ocasiões, à luz da Liturgia, com elementos tradicionais e novos, do Oriente e do Ocidente, baseando-se também na iconografia e na tradição bíblico-litúrgica. Queremos assim, suprir discretamente, o silêncio dos dados encontrados nos evangelhos sobre Maria.

Trata-se da presença e do exemplo de Maria no centro dos mistérios que selam a missão salvadora de seu Filho, da Ressurreição até o Pentecostes.


1. Maria na alegria da Ressurreição

Não vamos embarcar na difícil tarefa de justificar uma aparição de Jesus Ressuscitado à Virgem Maria. Existe literatura abundante, nos apócrifos, nos escritos dos Padres que se deixaram convencer pelos apócrifos, e até mesmo nos Evangelhos que se esforçam para ver em uma das Marias que receberam a aparição de Jesus, à Virgem Mãe de Deus. Nem é este o lugar para que sejamos seduzidos pelos clássicos livros da Vida de Maria que falam da primeira aparição do Senhor a sua Mãe, ou pela abundante literatura espiritual sobre este tema. Vamos simplesmente perscrutar os textos litúrgicos, que são escritos de fé, que no âmbito da celebração dos mistérios, adquirem o valor do verdadeiro ‘sensus fidelium’.

Que Maria seja testemunha da Ressurreição de seu Filho, ninguém duvida. Sua presença no cenáculo, à espera do Espírito Santo, é um dado essencial. A experiência de Maria como Mãe e discípula não terminou ao pé da Cruz. Maria é associada plenamente à continuidade do mistério de Cristo na dimensão do Espírito, que se inaugura na manhã da Páscoa e tem como momento estrelar a efusão do Espírito Santo, em Pentecostes. A experiência de Maria se enriquece, cresce e adquire, como no Calvário, toda a dimensão tipológica de ‘experiência eclesial’, quando a Mãe de Jesus aparece como figura e Mãe da Igreja nascente.


2. O oriente bizantino

A Liturgia bizantina que com tanta emoção canta a presença de Maria ao pé da Cruz e põe em seus lábios os mais comovedores lamentos pela morte de seu Filho, é bastante discreta quando se refere à alegria Pascal que sente a Mãe de Jesus. O ‘megalinário’ ou Canto à Maria que se intercala nas orações Eucarísticas depois da epíclese, no momento em que se recorda a Virgem na comunhão dos Santos, tem a finalidade, de acentuar esta alegria :

«O Anjo exclamou a Cheia de Graça :
‘Virgem Pura rejubila!’
De novo digo, rejubila,
teu Filho ressuscitou do túmulo ao terceiro dia.
Resplandece, resplandece, ó Nova Jerusalém,
pois a glória do Senhor, brilhou sobre ti.
Exulta agora, e alegra-te Sião.
E tu, ó Mãe de Deus toda pura,
Rejubila na Ressurreição do teu Filho

A última parte deste hino é de autoria de São João Damasceno, que é cantado na Grande Vigília Pascal Bizantina. A Mãe de Cristo é associada à alegria da Nova Jerusalém, da Igreja que nasce da Ressurreição. Mas o texto tem conteúdo simbólico sugestivo. As palavras do Anjo no primeiro anúncio ‘Alegra-te, cheia de Graça’, tem agora a dimensão do grande anúncio da Páscoa. Os anjos são os primeiros evangelistas, como também as mulheres que receberam o anúncio e o comunicaram aos discípulos incrédulos. A liturgia bizantina por isso, as honras com o título de ‘iguais-aos-apóstolos’ ou, ‘apóstola-dos-apóstolos’.

Entre estas mulheres, portadoras de perfumes (miróforas) e evangelistas, Maria está incluída, e é testemunha da Ressurreição. A alegria deste segundo anúncio que a Virgem recebeu, parece, nos sugerir o texto bizantino, recordar todas as promessas do primeiro ‘alegra-te’ da Anunciação como também as palavras que Jesus repetiu muitas vezes a seus discípulos e que Maria, junto com tantas outras, conservava em seu coração : ‘Ao terceiro dia ressuscitarei’. Neste texto bizantino, podemos encontrar a fonte da antífona Mariana que a Igreja do Ocidente repete durante todo o tempo pascal : ‘Rainha do Céu, alegrai-vos, aleluia’.

Entre os tropários da Ressurreição que a Liturgia Bizantina canta todos os domingos, o do sexto tom, conservou também uma breve recordação do encontro de Jesus com sua Mãe:

«Enquanto Maria estava diante do sepulcro
a procura de teu imaculado corpo,
os anjos apareceram em teu túmulo
e as sentinelas desfaleceram.
Sem ser vencido pela morte,
submeteste ao teu domínio o reino dos mortos,
e vieste ao encontro da Virgem revelando a Vida.
Senhor, que ressurgiste dos mortos, glória a Ti!»

Uma antiqüíssima ilustração iconográfica faz eco a esta convicção dos cristãos, transmitida pela tradição oral. O Evangeliário de Rábbula de Edessa, dos finais do século VI, conservado hoje na Biblioteca Laurenziana de Florença, apresenta a cena das mulheres indo ao sepulcro na manhã da Páscoa, ao lado da cena de Maria junto ao pé da Cruz.


3. A liturgia do ocidente

Em plena consonância com as expressões bizantinas, uma oração visigótica para o Dia da Ressurreição é dedicada à Virgem Mãe de Deus, quando  vai buscar o corpo de Jesus no sepulcro, que alguns evangelistas atribuem à Maria de Magdala :

«Senhor Jesus Cristo,
com que ardoroso  desejo e devoção
buscava tua bem aventurada Mãe, 
por todos os rincões teu corpo,
quando mereceu receber do Anjo o anúncio 
para que não mais chorasse,
pois estavas já ressuscitado...»

Como feliz prolongação da tradicional Antífona Mariana : ‘Rainha do Céu, alegrai-vos...’, o Missal Romano de Paulo VI elaborou várias orações para as Missas Votivas à Mãe Deus, no Tempo Pascal, recorrendo à alegria da Virgem pela Ressurreição de seu Filho.

Atualmente, compilou-se novas orações para as Missas dedicadas à Maria como a Missa ‘À Virgem Maria na Ressurreição do Senhor’, cujo conteúdo sintetiza de maneira apropriada o que a devoção dos fiéis havia sempre colocado em relevo : a presença de Maria no Mistério do Cristo Ressuscitado. Maria, a Virgem da Páscoa, tem na Liturgia Ocidental, orações litúrgicas que celebram e propõem uma união indissolúvel da Mãe de Deus com o triunfo de seu Filho. Como canta o Prefácio desta Missa :

«Porque na Ressurreição de Jesus Cristo, teu Filho, encheste de alegria a Santíssima Virgem e premiaste maravilhosamente sua fé; ela havia concebido o Filho crendo, e, crendo esperou sua Ressurreição; forte na fé, contemplou o dia da Luz e da Vida, na que, dissipada a noite da morte, o mundo inteiro alegrou-se e a Igreja nascente, ao ver novamente o seu Senhor imortal, se alegrou entusiasmada».

A alegria da Virgem na Páscoa, é a alegria da Igreja que se exulta pelo triunfo de Cristo e encontra a cada ano, no Mistério Pascal, a fonte de seu regozijo, de sua esperança e de seu empenho.


4. A Virgem na Ascensão do Senhor

A solenidade da Ascensão do Senhor, quarenta dias após a Ressurreição, celebra a subida gloriosa de Cristo à direita do Pai. É também o momento final da presença visível do Senhor Ressuscitado em meio a seus discípulos. Diz São Leão Magno : o que era visível em Cristo passou-se aos Sacramentos da Igreja

A presença de Maria na Ascensão do Senhor é um dado que a tradição nos passa através da iconografia. A liturgia bizantina recorreu aos ícones para elaborar seus ofícios litúrgicos para este dia, dando destaque a presença de Maria neste acontecimento.

Desde a primitiva representação da Ascensão do Senhor, em Monza, do século IV ou V, Maria ocupa o lugar central entre o grupo dos discípulos que dirigem seu olhar ao Senhor que ascende aos céus, rodeado por anjos. Os anjos anunciam que tal como havia subido ao céu, Ele voltará cheio de glória (At 1,10-11). O Evangelho de Rabbula de Edessa oferece uma imagem a este respeito com um colorido impressionante. Os detalhes da Virgem Maria são espetaculares. De pé, entre o grupo dos apóstolos ocupa o lugar central. Está revestida com um manto púrpura da ‘Theotokos’, a Mãe de Deus; suas mãos estão numa posição de oração, como se quisesse acompanhar o movimento de ascensão de seu Filho.

A liturgia bizantina recorre à iconografia para elaboração de alguns tropários referentes a esta festa, dando voz a expressão iconográfica. Um texto das Vésperas da Ascensão canta :

«Era conveniente que quem, como Mãe,
sofreu mais que ninguém a Paixão,
fosse agraciada por contemplar
a Gorificação de Teu Corpo».

E, associando a Mãe aos apóstolos, testemunhas essenciais dos acontecimentos, segundo as Escrituras, a Liturgia Bizantina expressa a Teologia deste mistério com esta oração :

«Doce Jesus,
que sem abandonar a comunhão com o Pai,
quiseste submeter a nossa humanidade
entre os habitantes desta terra,
e que hoje, do Monte das Oliveiras
subiste em glória,  elevando  o homem contigo
por amor à natureza decaída,
fizeste este mesmo homem
sentar-se contigo junto a teu Pai.
Por isso, os exércitos angélicos,
assombrados, cheios de   reverência,
magnificam teu imenso amor pelos homens.
Junto com eles, também nós habitantes da terra,
glorificamos tua vinda até nós
e tua ascensão aos céus.
Encheste de alegria o grupo dos doze apóstolos
e a Bem-aventurada Virgem Maria que te gerou,
faz-nos dignos da glória dos eleitos,
por suas orações e tua grande misericórdia».

A teologia litúrgica que se desprende da iconografia do Mistério da Ascensão desenvolve amplamente o significado da presença de Maria neste episódio. Sublinha especialmente o caráter eclesial desta presença. No meio dos discípulos e em uma antecipação da espera pelo Pentecostes, Maria é a imagem da Igreja nesta terra. Sua atitude orante, com as mãos elevadas para o céu, é a expressão da epíclese, ou seja, a ardente invocação do Espírito Santo pela Igreja, esposa de Cristo. Desde o momento da Ascensão do Senhor, a Virgem suplica que o Espírito Santo venha habitar entre nós.

A mesma série de ícones apresentada no Evangeliário de Rabbula apresenta a cena do Pentecostes com uma assombrosa identidade coma Ascensão : o lugar que ocupava o Senhor na cena da Ascensão é ocupado pela pomba do Espírito Santo que derrama chamas de fogo sobre as cabeças dos apóstolos e de Maria. Há uma razão profunda para a presença de Maria neste mistério. A Virgem foi testemunha da entrada de Jesus neste mundo pela encarnação em seu ventre. Dela o Verbo recebeu a carne que agora é levada à gloria do Pai e é introduzida para sempre no seio da Trindade. Maria aparece como testemunha da humanidade de Cristo que é glorificada. Termina desde modo os acontecimentos visíveis de seu Filho na Terra. Mas Jesus se faz presente visivelmente nos Sacramentos da Igreja. Da mesma forma que Maria sentiu o Senhor encarnar-se em seu seio, também ela, é digna de vê-lo subir em glória, cujo corpo passou por tantos sofrimentos.


5. A Virgem Maria no mistério do Pentecostes

«Os discípulos dedicavam-se à oração em comum,
junto com Maria, a Mãe de Jesus». (At 1,14)

Para a presença de Maria no Cenáculo de Pentecostes contamos com a breve e significativa referência de São Lucas que narra este acontecimento no Livro dos Atos dos Apóstolos. Desta forma, este texto coloca Maria inserida no seio da comunidade apostólica pois, no momento da descida do Espírito Santo, ela está com os apóstolos. Assim escreveu X. Pikaza, um dos melhores artigos escritos sobre este particular :

«Que contribuição traz Maria, na visão dos estudiosos que interpretam a vida de Jesus? Os Apóstolos são testemunhas de sua atividade e de sua Páscoa; as mulheres testemunham a força de seu amor pela humanidade e a realidade de sua morte; os seguidores testemunham os milagres e sua misericórdia. E Maria? Ela testemunha o seu nascimento e sua infância comprovando sua verdadeira humanidade».

Jesus não poderia ser concebido pela Igreja como plenamente humano se faltasse o testemunho de uma Mãe que o gerou e o educou. Na visão da Igreja, Maria faz parte da vida de Jesus, mesmo sendo uma testemunha silenciosa : ‘Guardava tudo em seu coração’ (Lc2,19-51). Há algo que nem os apóstolos, nem as mulheres nem seus seguidores poderiam testemunhar a não ser Maria que entregou à Igreja tal testemunho : sua humanidade e divindade.

O fato de Maria aparecer nos ícones sempre no meio dos Apóstolos embasa fortemente o pensamento de estar inserida significativamente na comunidade apostólica, pois ela continua, com sua presença, a evangelizar; e recebe, por outro lado, dos que compreenderam a profundidade de sua fé e missão, a honra de ser chamada   ‘Bem Aventurada’.

A efusão do Espírito, como sabemos, tem impressionantes semelhanças com o mistério da Anunciação. É a mesma força que desce do alto, a mesma que cobriu Maria com sua sombra e agora enche o coração dos apóstolos. Os lábios de Maria, na Anunciação se abriram para cantar o Magnificat; e no Pentecostes os apóstolos anunciaram as obras do Senhor a todos os homens em várias línguas. Lá é o mistério do Cristo que se encarna; aqui é o mistério da Igreja que nasce. Maria então é aquela que está presente de maneira singular nestes acontecimentos que obedecem uma continuidade : da Encarnação do Verbo   ao nascimento da Igreja, por meio do Espírito Santo.


6. A Iconografia

Também no Pentecostes, a iconografia nos oferece uma mensagem da fé da Igreja. O códice de Rabbula de Edessa, fonte inspiradora da iconografia oriental e ocidental, coloca a Virgem de pé no centro da Igreja apostólica; a pomba, símbolo do Espírito Santo, é colocada verticalmente sobre sua cabeça, lançando sobre ela a chama mais abundante do fogo pentecostal. Maria aparece, como na Ascensão, no centro, como figura e modelo da magnífica presença feminina na Igreja, e lembra também o rosto de Jesus, no meio de seus apóstolos.

Para este ícone quisera evocar sobriamente uma sugestiva exegese da Teologia Oriental. Escreve o Teólogo V. Lossky :

«O Espírito Santo
apareceu em forma de línguas de fogo,
separadas umas das outras,
e pousaram sobre a cabeça dos que ali estavam,
sobre cada um dos membros do Corpo de Cristo.
O Espírito Santo se comunica com as pessoas,
marcando cada membro da Igreja
com o selo da relação pessoal
e única com a Trindade».

O Espírito de Pentecostes une e distingue. Plasma a pessoa em sua irrepetível singularidade, em seu próprio carisma mas, por sua vez, faz destas mesmas pessoas comunhão umas com as outras. Não é uma fusão que as despersonaliza. A Igreja é comunhão de pessoas, chamadas uma a uma pelo mesmo Espírito, salvaguardando cada singularidade, cada vocação e cada missão, para que participem da plena unidade, como imagem da Trindade. Maria ocupa assim seu lugar na Igreja, pela sua missão, carisma, solidariedade, unidade e comunhão com os demais. Ela é parte da Igreja, discípula e apóstola, e que pela sua maternidade, teve a função de congregar a todos na comunhão, na oração perseverante, à espera do Paráclito.


7. Novas missas

A Liturgia da Igreja quis preencher um vazio mariano na ‘eucologia’ ocidental com as orações litúrgicas das missas votivas à Virgem Maria, que é o centro do mistério do cenáculo com a ‘Missa da Virgem Maria no Cenáculo’ e a ‘Missa da Virgem Maria, Rainha dos Apóstolos’. Vale a pena recordar os textos centrais do Prefácio que evocam a simetria entre a Anunciação e a vinda do Espírito Santo e a simetria entre a Visitação de Maria à Isabel com a Missão dos Apóstolos :

«Por que nos deste na Igreja Primitiva um exemplo de oração e de unidade admiráveis : a Mãe de Jesus orando com os discípulos. Aquela que esperou em oração a vinda de Cristo invoca, agora, o Defensor prometido com seus rogos ardentes e que na Encarnação do Verbo foi coberta pela sombra do Espírito, de novo é cheia de graça pelo dom divino, no nascimento de teu novo povo...»

Assim, com feliz intuição litúrgica, a Igreja reconhece em Maria as primícias de sua missão apostólica que parte do cenáculo cheio de ardor e da força do Espírito Santo:

«Porque ela, conduzida pelo Espírito Santo visitou, levando Cristo em seu ventre, o Precursor, dando-lhe alegria e benção; do mesmo modo Pedro e os demais apóstolos, movidos pelo mesmo Espírito, anunciaram a todos os povos o Evangelho que havia de ser para eles causa de alegria e salvação. Agora também a Santíssima Virgem pede, com sua intercessão incessante, para que anunciem o Cristo Salvador para o mundo».

Em plena recuperação do exemplo de Maria para a Igreja no exercício do culto divino, estas contribuições da espiritualidade litúrgica, com a ajuda do Oriente cristão e o inesperado presente da primitiva iconografia Mariana que é fonte da ‘lex credendi’ (a norma da fé), podemos viver o Mistério do tempo Pascal. Na celebração do Mistério de Cristo que ressuscitou, subiu aos céus e enviou o Paráclito, a Igreja vê Maria, como testemunha especial destes acontecimentos, vivendo tais mistérios e os comunicando ao mundo.’

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Fonte :


Tradução : Padre Paulo Augusto Tamanini

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Primeira Mesquita dedicada a Virgem Maria inaugurada na Síria

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

  

‘Justamente em um dos países onde a liberdade religiosa está mais seriamente ameaçada, foi construído o primeiro lugar de culto do mundo islâmico dedicado a Virgem Maria. Trata-se da nova Mesquita Al-Sayyida Maryam, localizada na cidade costeira de Tartous, segundo porto da Síria, inaugurada no último sábado (6 de junho).

Al-Sayyida Maryam é um dos diversos nomes árabes da Mãe de Jesus, como recordou na cerimônia de inauguração o Ministro para os Bens religiosos e Culturais, Mohammad Abdel-Sattar al-Sayyed. Esta iniciativa – disse ele - é ‘um sinal da abertura daquele Islã afastado dos desvios e extremismos’. O Delegado do Patriarcado Maronita de Tartous e Lattakia, Antoine Dib, também presente na cerimônia, declarou-se ‘orgulhoso pela iniciativa’, desejando que o gesto possa representar uma esperança de paz para cada lugar do país.

A dedicação de uma mesquita a Nossa Senhora poderia parecer um anacronismo, mas não é. No Alcorão, de fato, existe uma autêntica veneração a Virgem Maria. Um dos maiores estudiosos católicos contemporâneos sobre este tema, o franciscano florentino Giulio Basetti-Sani (1912-2001), discípulo do orientalista Louis Massignon, dedicou a sua vida à difusão do conhecimento sobre a religião islâmica, sentida por ele como uma ‘fé irmã’. Um de seus conhecidos livros intitula-se ‘Maria e Jesus filho de Maria no Alcorão’. Após séculos de incompreensões e preconceitos, o religioso desenvolveu sua obra na esteira de São Francisco de Assis e de seu programa missionário voltado ao encontro com os muçulmanos.

A teologia muçulmana não concebe Deus como pessoa. Assim nos seus 99 nomes, falta a palavra ‘Pai’. Portanto, impensável também um ‘Filho de Deus’. A Virgem Maria, no entanto, é apresentada como ‘escolhida por Deus’ e ‘eleita entre todas as mulheres da Criação’ (Sura 3,42). Jesus não é filho de Deus, mas ‘filho de Maria’ (‘Isa ibn Maryam’), lê-se nos versículos 34-36 da Sura 19, onde é narrado o acontecimento de uma virgem que, afastando-se da família, tem um filho (‘Masîh’, o ‘Ungido’, um dos nomes tradicionais de Jesus), ‘dom’ de Alá que ‘cria aquilo que quer’.

A este respeito, recorda-se que já há alguns anos no Líbano, o 25 de março (Festa da Anunciação para a Igreja Católica) foi proclamado, após longas tratativas conduzidas pelo Comitê islâmico-cristão, Festa Nacional.

O fundador do Instituto da Caridade, o beato Antonio Rosmini-Serbati (1797-1855), um dos maiores filósofos italianos do século XIX, foi autor da obra ‘As cinco chagas da Santa Igreja’ (1832). Neste período pré-Concílio, quando os seguidores de Maomé eram colocados pela Igreja entre os ‘infiéis’, seguidores de uma ‘falsa religião’, Rosmini, apoiado pelo Cardeal Castruccio Castracane dos Antelminelli, publicou o texto ‘Sobre testemunhos dados pelo Alcorão a Virgem Maria’, desconsiderado na época, mas que no decorrer do tempo e ainda hoje desempenha um papel no diálogo inter-religioso a partir do reconhecimento comum da maternidade de Maria (sancionada pelo Concílio de Éfeso, em 431).’


Fonte :
* Artigo na íntegra de http://www.news.va/pt/news/primeira-mesquita-dedicada-a-virgem-maria-inaugura

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Assunção de Nossa Senhora

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)


A Liturgia das Horas e a reflexão no dia da Assunção de Nossa Senhora :

Ofício das Leituras

Segunda leitura
Da Constituição Apostólica Munificentíssimus Deus, do papa Pio XII
(AAS42 [1950], 760-762. 767-769)     (Séc.XX)

Teu corpo é santo e cheio de glória
Nas homilias e orações para o povo na festa da Assunção da Mãe de Deus, santos padres e grandes doutores dela falaram como de uma festa já conhecida e aceita. Com a maior clareza a expuseram; apresentaram seu sentido e conteúdo com profundas razões, colocando especialmente em plena luz o que esta festa temem vista : não apenas que o corpo morto da Santa Virgem Maria não sofrera corrupção, mas ainda o triunfo que ela alcançou sobre a morte e a sua celeste glorificação, a exemplo de seu Unigênito, Jesus Cristo.

São João Damasceno, entre todos o mais notável pregoeiro desta verdade da tradição, comparando a Assunção em corpo e alma da Mãe de Deus com seus outros dons e privilégios, declarou com vigorosa eloquência : ‘Convinha que aquela que guardara ilesa a virgindade no parto, conservasse seu corpo, mesmo depois da morte, imune de toda corrupção. Convinha que aquela que trouxera no seio o Criador como criancinha fosse morar nos tabernáculos divinos. Convinha que a esposa, desposada pelo Pai, habitasse na câmara nupcial dos céus. Convinha que, tendo demorado o olhar em seu Filho na cruz e recebido no peito a espada da dor, ausente no parto, o contemplasse assentado junto do Pai. Convinha que a Mãe de Deus possuísse tudo o que pertence ao Filho e fosse venerada por toda criatura como mãe e serva de Deus’.

São Germano de Constantinopla julgava que o fato de o corpo da Virgem Mãe de Deus estar incorrupto e ser levado ao céu não apenas concordava com sua maternidade divina, mas ainda conforme a peculiar santidade deste corpo virginal : ‘Tu, está escrito, surges com beleza (cf. Sl 44,14); e teu corpo virginal é todo santo, todo casto, todo morada de Deus; de tal forma que ele está para sempre bem longe de desfazer-se em pó; imutado, sim, por ser humano, para a excelsa vida da incorruptibilidade. Está vivo e cheio de glória, incólume e participante da vida perfeita’.

Outro antiquíssimo escritor assevera : ‘Portanto, como gloriosa mãe de Cristo, nosso Deus salvador, doador da vida e da imortalidade, foi por ele vivificada para sempre em seu corpo na incorruptibilidade; ele a ergueu do sepulcro e tomou para si, como só ele sabe’.

Todos estes argumentos e reflexões dos santos padres apóiam-se como em seu maior fundamento nas Sagradas Escrituras. Estas como que põem diante dos olhos a santa Mãe de Deus profundamente unida a seu divino Filho, participando constantemente de seu destino.

De modo especial é de lembrar que, desde o segundo século, os santos padres apresentam a Virgem Maria qual nova Eva para o novo Adão : intimamente unida a ele – embora com submissão – na mesma luta contra o inimigo infernal (como tinha sido previamente anunciado no proto-evangelho [cf. Gn 3,15]), luta que iria terminar com a completa vitória sobre o pecado e a morte, coisas que sempre estão juntas nos escritos do Apóstolo das gentes (cf. Rm 5 e 6; 1Cor 15,21-26.54-57). Por este motivo, assim como a gloriosa ressurreição de Cristo era parte essencial e o último sinal desta vitória, assim também devia ser incluída a luta da santa Virgem, a mesma que a de seu Filho, pela glorificação do corpo virginal. O mesmo Apóstolo dissera : Quando o que é mortal se revestir de imortalidade, então se cumprirá o que foi escrito : A morte foi tragada pela vitória (1Cor 15,54; cf. Os 13,14).

Por conseguinte, desde toda a eternidade unida misteriosamente a Jesus Cristo, pelo mesmo desígnio de predestinação, a augusta Mãe de Deus, imaculada na concepção, virgem inteiramente intacta na divina maternidade, generosa companheira do divino Redentor, que obteve pleno triunfo sobre o pecado e suas consequências, ela alcançou ser guardada imune da corrupção do sepulcro, como suprema coroa dos seus privilégios. Semelhantemente a seu Filho, uma vez vencida a morte, foi levada em corpo e alma à glória celeste, onde, rainha, refulge à direita do seu Filho, o imortal rei dos séculos.


Fonte :
‘In Liturgia das Horas IV’, 1197, 1199