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quinta-feira, 15 de junho de 2023

O Sagrado Coração de Jesus entre os místicos cistercienses

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Vanderlei de Lima, 

eremita na Diocese de Amparo, BA

 

‘O século XII é, sem dúvida, na vida da Igreja, o tempo áureo dos grandes místicos cistercienses, ou seja, dos membros da Ordem monástica homônima fundada em 1098, em Cister, na França.

Sobre tais místicos escreve Dom Luís Alberto Ruas Santos, O. Cist.: ‘Os mosteiros cistercienses produziram grandes místicos. […] Talvez não tenha havido na Igreja uma escola de espiritualidade tão uniforme na temática e com tantos autores como a cisterciense’ (Os cistercienses : uma espiritualidade abrangente e criativa. Itatinga: Abadia cisterciense de Nossa Senhora da Assunção de Hardehausen-Itatinga, 1998, p. 17).

Daí a questão : quem são eles? – Todos foram Abades. Deixaram-nos uma rica espiritualidade marcada por três pontos : o pastoral, visava, em forma de Sermões, a santificação dos monges, seus primeiros destinatários; o patrístico, pois continuava a teologia bíblico-simbólica dos Padres da Igreja (escritores cristãos – não necessariamente sacerdotes – dos primeiros sete séculos que muito ajudaram na formulação da reta fé) e também o místico, ou seja, a vivência da verdadeira e estável união com Deus a fim de se tornarem um só com Ele. São grandes expoentes dessa corrente mística Bernardo de Claraval (o pai ou iniciador), Guilherme de Saint-Thierry, Elredo de Rievaulx, Guerrico de Igny, Balduíno de Ford etc. (cf. Dom Bernardo Bonowitz. Os místicos cistercienses do século XII. Juiz de Fora: Subiaco, 2005, p. 7-11). Alguns destes homens tratarão do Sagrado Coração de Jesus em seus escritos. Ei-los :

São Bernardo de Claraval escreve : ‘O ferro da lança transpassou sua alma e aproximou-se de Seu coração para que ele pudesse sentir conosco, com a nossa fraqueza. O segredo do Coração tornar-se-á visível através da abertura do corpo. Abre-se aquele grande mistério de sua clemência, abre-se o íntimo trancado da misericórdia de Deus’ (PL CLXXXIII. 1072 in Dom Veremundo A. Toth, OSB. Por sinais ao invisível, Juiz de Fora: Subiaco, 2003, p. 144). 

Guilherme de Saint-Thierry registra : ‘Assim como Tomé, o cético, expressando seu desejo, também eu desejo vê-lo por inteiro e tocá-lo; mas não apenas isso, e sim chegar junto da sagrada chaga de seu lado; até a fenda da arca da aliança que se abriu no seu lado, para que eu pudesse introduzir não apenas meus dedos e minha inteira mão, mas todo eu pudesse achegar-me ao próprio Coração de Jesus, ao Santo dos Santos à arca da aliança’ (PL CLXXXIV. 368, idem, p. 144). 

Guilbert de Hoyland diz : ‘A chaga do coração assinala o ardor do amor. Em verdade, é um doce Coração que induz nossos sentimentos à reciprocidade afetuosa. Por mais que ame, não ama, mas apenas retribui o amor… Esposa, não consegues corresponder totalmente ao teu Amado. Mesmo assim Ele não cessa de se dar inteiramente. O que ele te oferece ainda não é completo, mas se compromete. Todo o amor que Lhe retribuis, Ele o recebe não como uma dívida, mas sim como uma oferenda espontânea. Ele sente uma espécie de desafio ao amor, enquanto apresenta seu Coração ferido’ (PL CLXXXIV. 155, ibidem, 2003, p. 144-145).

Guerrico d’Igny chega, por sua vez, ao símbolo preciso do Coração, ao escrever : ‘Para que eu pudesse construir meu ninho na fenda de um rochedo, bendito seja quem suportou que traspassassem seus pés, sua mão e o lado e se abriu totalmente para mim para que eu pudesse adentrar na maravilhosa tenda e encontrasse proteção no refúgio do seu interior… Por isso, Ele abriu misericordiosamente seu lado, para que o sangue de sua chaga me vivificasse, o calor de seu corpo me alentasse, o sopro libertador do hálito puro de seu Coração me reanimasse’ (PL CLXXXV. 140, ibidem, p. 146).

Que tão preciosos ensinamentos dos grandes místicos cistercienses do século XII sobre o Sagrado Coração de Jesus fale alto no nosso coração neste conturbado século XXI.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://pt.aleteia.org/2021/06/13/o-sagrado-coracao-de-jesus-entre-os-misticos-cistercienses/


domingo, 20 de junho de 2021

Duas místicas cistercienses e o Sagrado Coração de Jesus

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Vanderlei de Lima, 

eremita na Diocese de Amparo, BA


‘Nas místicas medievais, em especial nas de tradição cisterciense – Ordem monástica fundada em 1098, em Cister, na França –, aparece a devoção à humanidade de Cristo centrada, sobretudo, no Coração de Jesus.

Vemos que ‘já na vida de Santa Lutgarda, nos é narrada a primeira aparição do Coração de Jesus traspassado, mas é com Santa Gertrudes que a devoção ao Coração de Jesus se sobressairá. De fato, para Gertrudes, o Coração de Jesus é o próprio Jesus revelando ao ser humano ‘o mais oculto dos segredos’; isto é, uma inteligência maior e mais profunda de sua intimidade mais íntima, que não é senão a superabundância e a maravilha de seu amor-ternura (Pietas). O coração como símbolo do amor de Cristo é um lugar soteriológico, onde a mística possui plena experiência de Deus e de sua infinita ternura encarnada. Espaço onde as místicas querem perder-se e ser encontradas’ (VV. AA. A mulher, a monja e a mística cisterciense. São Paulo : Cultor de Livros, 2019, p. 78-79). Eis algo sobre duas dessas místicas : Santa Lutgarda e Santa Matilde de Hackeborn

Lutgarda de Aywières, ao contrário de Matilde, nada escreveu, mas deixou-nos o relato de uma marcante experiência mística. Sim, essa monja trazia em si – por devoção a Santa Inês – forte desejo de morrer mártir, ou seja, de derramar o seu sangue por Cristo. ‘Ora, uma noite, estava no dormitório e rezava junto ao leito antes de repousar, quando a ideia do martírio se lhe apresentou ao espírito. Lembrou-se de Santa Inês. Foi tomada por um desejo tão veemente e inflamado de morrer por Cristo, como a virgem mártir de Roma, e o ímpeto de seu amor tornou-se de tal maneira forte, que a poderia ter matado naquela hora. Uma veia rompeu-se perto do coração e por uma larga ferida aberta no lado, o sangue começou a jorrar, inundando-lhe a túnica e a cogula. Lutgarda caiu sem sentido ao solo e Cristo, em toda a sua glória, com a face reluzente de júbilo, apareceu-lhe’ (Thomas Merton. O que são essas chagas? Campinas : Ecclesiae, 2017, p. 159).

De Matilde citaremos, aqui, a título de ilustração, algumas passagens. Desde a infância, esta santa recebeu revelações dos segredos divinos e um deles diz respeito ao Sagrado Coração de Jesus, que Nosso Senhor não só lhe apresentou, mas também colocou no peito de sua santa esposa. Eis uma descrição : ‘Na quarta-feira da Semana de Páscoa, ouvindo na Missa as palavras Venite benedicit Patris mei, sentiu-se possuída por deliciosa e extraordinária alegria e disse a Nosso Senhor : ‘Oxalá seja eu uma das benditas almas a ouvirem essas doces palavras de Vossos lábios!’ Nosso Senhor respondeu : ‘Podes ficar bem certa de que o serás, e como prova dou-te o Meu Coração para guardá-lo e só me restituíres quando Eu houver realizado o teu desejo. Dou-te o Meu Coração como lugar de refúgio; à hora da morte será impossível te desviares para outro caminho; terás somente o Meu Coração onde repousar eternamente’ (Padre Granger. O amor do Sagrado Coração explicados segundo os escritos de Santa Mechtilde. Renânia : Typ. Butzon & Bercher, 1928, p. 15-16).

Ainda, o Sagrado Coração de Jesus revela a sua infinita misericórdia para com o pecador que se arrepende : ‘Quando o pobre coração humano, contrito e partido pela dor, exclama : ‘Eu me levantarei e irei a meu Pai’, o Sagrado Coração estremece de alegria. Digo-te, por maiores que houverem sido os seus pecados, nesse mesmo instante, se o arrependimento for sincero Eu os perdoo todos e o Meu Coração inclina-se com tanta misericórdia e doçura como se nunca tivesse pecado’. Ouvindo isso, Santa Matilde exclamou : ‘Ó profundeza verdadeira insondável! Ó profundeza de vossa sabedoria e misericórdia!’ (Idem, p. 87).

Também os sofrimentos são acompanhados de perto por Nosso Senhor em seu Sagrado Coração. Com efeito, diz Cristo a Santa Matilde : ‘Quando estás doente, Eu te seguro com o Meu braço esquerdo e quando estás bem com o direito; mas lembra-te que ao segurar-te o braço esquerdo ficas muito mais perto de Meu Coração’ (Ibidem, p. 127).

Eis alguns aspectos do amor ao Sagrado Coração de Jesus a inflamar as místicas cistercienses do século XIII.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://pt.aleteia.org/2021/06/20/duas-misticas-cistercienses-e-o-sagrado-coracao-de-jesus/

sexta-feira, 18 de junho de 2021

A pedagogia do Coração de Jesus

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

Cartaz representando o Sagrado Coração de Jesus, por volta de 1880 (Coleção de Auguste Martin, Bibliotecas da Universidade de Dayt) 

*Artigo do Padre Francisco Thallys Rodrigues 


‘Em nossa cultura atual, a imagem do coração é comumente evocada, em nossos espaços e reflexões, para expressar sentimentos de afeto e enamoramento ou para ilustrar o fechamento egoísta diante da necessidade do próximo. Por sua vez, na perspectiva da fé bíblica, o coração é usado enquanto símbolo/imagem que remete ao centro existencial de todo ser humano com a sua afetividade, suas decisões mais íntimas e sua capacidade de discernimento. Neste sentido, o coração de Jesus, por um lado, abarca a íntima relação de fidelidade e amor com o Pai, e, por outro lado possibilita que, pedagogicamente, mergulhemos no mistério do amor de Deus pela humanidade, expressos no cuidado de Jesus com os pequenos e pobres.

Na antropologia bíblica, o coração é a sede da vontade, dos afetos, do discernimento e da decisão. Dele emanam os projetos, sonhos e desejos. Por conseguinte, contemplar o coração de Jesus é descobrir, passo a passo, a fonte da qual emanava a sua ação profético-salvífica. Profética enquanto denúncia à infidelidade, diante da aliança, que gerava injustiça e se expressava como opressão exercida pelo poder político e religioso. Ação salvífica na medida em que Jesus recuperava a dignidade de cada pessoa que era curada ou que Nele encontrava o perdão de seus pecados. Na base destas ações estavam a profunda relação com o Pai, por meio da oração, a experiência apreendida na sabedoria do povo e o encontro com o próximo. Mas era no coração ou melhor a partir do coração que Jesus tomava as suas decisões.

No centro do Coração de Jesus estava o anúncio da boa nova do Reino de Deus. Todas as suas palavras e ações podem ser compreendidas a partir desta centralidade. Tornar-se seu seguidor implica uma constante saída de si mesmo para o encontro com o próximo, na busca por viver o mandamento fundamental por Ele ensinado : amar o próximo como a si mesmo. O Coração de Jesus atua, pedagogicamente, a fim de destacar aquilo que foi o essencial na vida do Mestre e que deve se tornar o fio condutor na vida de cada cristão, isto é, o amor pelos pequenos e pobres expressos na luta pela justiça do Reino de Deus.

Nós, seres humanos, somos muito visuais, necessitados de símbolos e imagens que nos ajudam a compreender e acolher o mistério que nos circunda. Por isso, a imagem do Coração de Jesus, tão difundida pelo Apostolado da Oração, é como um instrumento pedagógico que nos conduz para a vida de Jesus, assumindo as mesmas causas que animaram a sua missão. A partir de nosso coração humano nós decidimos pela acolhida ou rejeição ao Reino de Deus.

A imagem do Coração de Jesus transpassado recorda a humanidade de Jesus para que não caiamos num devocionismo desencarnado. O divino quis se encarnar no humano assumindo todas as consequências, inserindo-se a partir de uma família pobre e esquecida na periferia de Nazaré. A devoção ao Sagrado Coração de Jesus deve nos levar a perceber no mundo quais são as forças que promovem o Reino, a fraternidade e a justiça, bem como aquelas forças que se apresentam como o anti-reino : egoísmo, injustiça, lucro desmedido. Por conseguinte, não há sentido sermos devotos do Coração de Jesus se não assumirmos as mesmas causas que moveram o Coração de Jesus, o fizeram pulsar.

Além disso, o Coração de Jesus pode ensinar, aos homens e mulheres de nosso tempo, a discernir diante das situações de nosso dia a dia. O homem de Nazaré tomou decisões muito claras e de consequências exigentes que o conduziram à morte. Optou pela vida em primeiro lugar, expressão de fidelidade ao Reinado de Deus. Isto só foi possível na medida em que Ele discerniu, à luz da fé e das experiências de seu tempo, qual o caminho tomar. Caberia nos perguntar : o que ocupa o centro do meu coração? Para onde tem se inclinado minhas decisões? Como faço o meu discernimento?

Urge recuperar o valor e sentido da imagem simbólica do coração, em nossa sociedade, como o centro existencial de nosso ser. Em nossas palavras e ações manifestam-se as opções fundamentais que tomamos desde o nosso coração, pois ‘a boca fala daquilo de que está cheio o coração’ (Lc 6,45). Por isso, é preciso, a partir do seguimento a Jesus, discernimos que tipo de fé cristã desejamos viver. O Coração de Jesus nos coloca nos conduz, como um pedagogo, a conhecer e entender o amor superabundante do homem de Nazaré, derramado na cruz, mas a adesão ou não a este estilo de vida está em nossas mãos.  

Por fim, trago uma experiência vivida por um padre que assumiu a radicalidade do evangelho, ocupando o último lugar, este relato expressa o que procuramos acenar nesta reflexão. Padre Júlio Lancellotti, seguidor de Jesus no cuidado com os abandonados e esquecidos nas ruas de São Paulo, conta que certa vez um garotinho, portador do vírus HIV, olhando para a imagem do Coração de Jesus, o perguntou : ‘Por que o coração dele é para fora?’, ao que o padre respondeu : ‘Por que amou muito’, o menino continuou sua indagação : ‘E dói?’, Padre Júlio respondeu : ‘Sim. Aprendi : não há amor sem dor’. Com esta breve resposta, padre Júlio expressa o amor vivido por Jesus em sua radicalidade, ao mesmo tempo em que chama nossa a atenção para compreendermos que todo autêntico amor implica certo padecimento, dor e sofrimento, porque exige descentramento, cuidado e desgaste de si mesmo em vista do outro.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1522464/2021/06/a-pedagogia-do-coracao-de-jesus/

domingo, 13 de junho de 2021

O Sagrado Coração de Jesus entre os místicos cistercienses

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Vanderlei de Lima, 

eremita na Diocese de Amparo, BA


‘O século XII é, sem dúvida, na vida da Igreja, o tempo áureo dos grandes místicos cistercienses, ou seja, dos membros da Ordem monástica homônima fundada em 1098, em Cister, na França.

Sobre tais místicos escreve Dom Luís Alberto Ruas Santos, O. Cist. : ‘Os mosteiros cistercienses produziram grandes místicos. […] Talvez não tenha havido na Igreja uma escola de espiritualidade tão uniforme na temática e com tantos autores como a cisterciense’ (Os cistercienses : uma espiritualidade abrangente e criativa. Itatinga : Abadia cisterciense de Nossa Senhora da Assunção de Hardehausen-Itatinga, 1998, p. 17).

Daí a questão : quem são eles? – Todos foram Abades. Deixaram-nos uma rica espiritualidade marcada por três pontos : pastoral, visava, em forma de Sermões, a santificação dos monges, seus primeiros destinatários; patrístico, pois continuava a teologia bíblico-simbólica dos Padres da Igreja (escritores cristãos – não necessariamente sacerdotes – dos primeiros sete séculos que muito ajudaram na formulação da reta fé) e também místico, ou seja, a vivência da verdadeira e estável união com Deus a fim de se tornarem um só com Ele. São grandes expoentes dessa corrente mística Bernardo de Claraval (o pai ou iniciador), Guilherme de Saint-Thierry, Elredo de Rievaulx, Guerrico de Igny, Balduíno de Ford etc. (cf. Dom Bernardo Bonowitz. Os místicos cistercienses do século XII. Juiz de Fora : Subiaco, 2005, p. 7-11). Alguns destes homens tratarão do Sagrado Coração de Jesus em seus escritos. Ei-los :

São Bernardo de Claraval escreve : ‘O ferro da lança transpassou sua alma e aproximou-se de Seu coração para que ele pudesse sentir conosco, com a nossa fraqueza. O segredo do Coração tornar-se-á visível através da abertura do corpo. Abre-se aquele grande mistério de sua clemência, abre-se o íntimo trancado da misericórdia de Deus’ (PL CLXXXIII. 1072 in Dom Veremundo A. Toth, OSB. Por sinais ao invisível, Juiz de Fora : Subiaco, 2003, p. 144). 

Guilherme de Saint-Thierry registra : ‘Assim como Tomé, o cético, expressando seu desejo, também eu desejo vê-lo por inteiro e tocá-lo; mas não apenas isso, e sim chegar junto da sagrada chaga de seu lado; até a fenda da arca da aliança que se abriu no seu lado, para que eu pudesse introduzir não apenas meus dedos e minha inteira mão, mas todo eu pudesse achegar-me ao próprio Coração de Jesus, ao Santo dos Santos à arca da aliança’ (PL CLXXXIV. 368, idem, p. 144). 

Guilbert de Hoyland diz : ‘A chaga do coração assinala o ardor do amor. Em verdade, é um doce Coração que induz nossos sentimentos à reciprocidade afetuosa. Por mais que ame, não ama, mas apenas retribui o amor… Esposa, não consegues corresponder totalmente ao teu Amado. Mesmo assim Ele não cessa de se dar inteiramente. O que ele te oferece ainda não é completo, mas se compromete. Todo o amor que Lhe retribuis, Ele o recebe não como uma dívida, mas sim como uma oferenda espontânea. Ele sente uma espécie de desafio ao amor, enquanto apresenta seu Coração ferido’ (PL CLXXXIV. 155, ibidem, 2003, p. 144-145).

Guerrico d’Igny chega, por sua vez, ao símbolo preciso do Coração, ao escrever : ‘Para que eu pudesse construir meu ninho na fenda de um rochedo, bendito seja quem suportou que traspassassem seus pés, sua mão e o lado e se abriu totalmente para mim para que eu pudesse adentrar na maravilhosa tenda e encontrasse proteção no refúgio do seu interior… Por isso, Ele abriu misericordiosamente seu lado, para que o sangue de sua chaga me vivificasse, o calor de seu corpo me alentasse, o sopro libertador do hálito puro de seu Coração me reanimasse’ (PL CLXXXV. 140, ibidem, p. 146).

Que tão preciosos ensinamentos dos grandes místicos cistercienses do século XII sobre o Sagrado Coração de Jesus fale alto no nosso coração neste conturbado século XXI.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://pt.aleteia.org/2021/06/13/o-sagrado-coracao-de-jesus-entre-os-misticos-cistercienses/

quinta-feira, 10 de junho de 2021

O coração, profundidade onde Deus mora

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo do Padre Alfredo Sampaio Costa, SJ

 

‘O coração é o centro da pessoa, o campo da profundidade, na qual alma e corpo entrelaçam as suas raízes1. Estamos dispostos a deixar nossa zona de conforto, a abandonar a segura superficialidade de nossa vida espiritual, para adentrarmos no mais íntimo de nós mesmos?

Aprendamos hoje da sabedoria dos Padres :

Macário, o grande, padre do quarto século, mestre espiritual, dizia em uma de suas homilias espirituais : ‘O coração, de fato, é o patrão e o rei de todo o organismo corpóreo, e quando a graça se apossa dos pastos do coração, reina sobre todos os seus membros e sobre todos os pensamentos; nele está a inteligência, nele se encontram todos os pensamentos da alma, a qual dele espera o bem2.

Outro grande mestre, Teófano, o Recluso, afirmava : ‘Se o coração é o centro da pessoa humana, então é através dele que a pessoa entra em relação com tudo o que existe3.

Há uma expressão antiga para designar o que chamamos ‘coração’ : é o termo ‘fundo da alma4 : Já S. Agostinho fala de ‘fundus’ da alma ou da ‘memória’ (Confissões X,8,15; PL 32.785). Mas será M. Eckhart a desenvolvê-la em um sentido metafísico para além de todo sentido sensível, espacial ou psicológico quando afirma : ‘De fato ele é ao mesmo tempo alto e profundo’ (In Sapientiam, n.48; In Exodum n. 242). S. Alberto Magno já tinha afirmado o mesmo no seu Comentário ao Evangelho de S. Lucas : ‘Altum et profundum idem est’ (In Lucam 1,32; Opera Omnia, éd. A. Borgnet, Paris 1890-1899, t.22, 76b). Neste sentido, a expressão ‘fundo da alma’ pode ser aproximada a outras expressões do vocabulário espiritual como ‘a parte superior da alma’, ‘o cume da alma’, ‘a centelha’, a ‘sindérese’.

Nas suas variadas expressões, remete a uma perfeita interioridade, como Santo Tomás de Aquino reuniu na sua reflexão : ‘Deus é interior a cada um de nós, como o ser próprio de uma coisa é interior a essa coisa, a qual não poderia nem começar nem durar sem a operação de Deus’ (Sent. I, dist. 37 q.1 a. 1 sol).

Eckhart utiliza dois símbolos para desenvolver o seu pensamento sobre o fundo da alma : o da semente jogada na terra e o do poço. A imagem da semente que lança as suas raízes na terra se liga facilmente com a ideia da ‘semente de Deus’ plantada no interior do ser humano : ‘Deus está no fundo da alma com toda a sua divindade’ (Predigt 10, DW 1, p. 162,5). Eckhart compreende essa semente como a presença de Deus na alma, como o nascimento de Deus na alma.

A imagem do poço é utilizada no seu escrito O homem nobre quando escreve : ‘A imagem de Deus, o Filho de Deus, está no fundo da alma como um poço de água viva’ (DW 5, p.113,5). Esta presença de Deus vai muito além de uma simples interioridade ‘natural’ : pois só Deus pode penetrar no íntimo do espírito da sua criatura. Já S. Tomás de Aquino afirmava o mesmo : ‘Só Deus pode penetrar no íntimo da alma’ (Summa Teológica 1 a. q. 89 a. 2 obj. 2). Portanto, a alma criada não possui as suas raízes em si mesma. Todo ser recebe o seu ser de Deus!

Eckhart deixou vários sucessores no uso dessa linguagem : Jean Tauler, Henri Suso, Jean Ruysbroeck, Louis de Blois, e também Santa Teresa de Ávila e S. João da Cruz.

No século 17, na França, a expressão ‘fundo do coração’ recorre com insistência. No assim chamado ‘ambiente devoto’, o termo ‘fundo’ é uma tentativa de traduzir o que o alemão medieval ‘grunt’ de Echkart queria dizer. Este termo procurava encontrar um lugar, na topografia psicológica, onde se exprimisse simbolicamente um processo de geração, o florescer de uma nova e misteriosa vida5.

Se o fundo do coração é o centro da pessoa, onde é impresso a marca da imagem divina, onde acontece a inserção da graça6, a ele é preciso aplicar a impressionante fórmula de S. João da Cruz : ‘O centro da alma é Deus’ (Chama Viva, 1,3). S. Francisco de Sales também usa a expressão no seu Tratado do Amor de Deus (livro 6, cap.7).

A ursulina Marie de l'Incarnation (1599-1672) utiliza diversas expressões para descrever essa realidade : ‘centro da alma’, ‘o quarto do Esposo’, ‘a sede de Deus’, a ‘morada de Deus’, ‘a parte suprema da alma’, ‘o mais íntimo do ser’, ‘a substância do espírito7.

A palavra ‘centro’ se encontra com frequência unida a até mesmo identificada a Deus presente na alma : ‘A alma está unida a Deus como ao seu centro’ (Écrits, t.1, p.200, 217, 323; t.4, p. 248-249). O fundo da alma é a unidade da alma, tocada intuitivamente por meio de uma experiência passiva da unidade da essência divina.

O fundo se determina por um ‘sim’ ou por um ‘não8 : é uma liberdade a decidir-se, um atravessar íntimo rumo à escolha mais dramática da existência9.

A devoção ao Coração de Jesus nos leva a fixar nosso olhar no Coração Amante e Amoroso do Senhor, verdadeira imagem de Deus, todo-amor. O seu Coração é símbolo e sinal de uma existência totalmente ex-cêntrica. A pessoa de Jesus é ‘ser-para-os-demais10.

Trata-se, pois, de um encontro de coração a coração. Não é por acaso que muitos santos falam da ‘troca de corações’, como Santa Catarina de Sena, para expressar esse intercâmbio de amor profundo.

Portanto, o que está em jogo ao falarmos de uma espiritualidade do Coração de Jesus é se estamos dispostos(as) a conformar o nosso coração (ser, pessoa, totalidade) a um Coração que expressa o Amor inesgotável do Pai por nós.

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Notas :

[1] Jacques SERR /Olivier CLEMENT, La preghiera del Cuore, Editrice Ancora, Milano 1980, 14.

[2] Macário, Hom. Spir. XV,20.

[3] Teófano, o Recluso, Compêndio Moral, 306.

[4] Cf. Héribert FISCHER, ‘Fond del'ame. Chez Eckhart’, in DSAM V, coll. 650-651.

[5] Cf. Charles-André BERNARD, Théologie Symbolique, Téqui, Paris 1978, 221-226.

[6] Benedetta PAPASOGLI, ‘Il 'Fondo del cuore' dalla mistica all'etica nel Seicento Francese’, in Antropologia dei maestri spirituali (a cura di Ch.-A. BERNARD), Paoline, Cinisello Balsamo (MI) 1991. 317.

[7] Cf. Fernand JETTÉ, ‘Fond del’ ame. Chez Marie de l'Incarnation’, in DSAM V, coll. 661-662.

[8] Cf. SAINT-CYRAN, ‘Du Coeur Nouveau’, in Théologie Familière, avec autres petits traités de devotion, Muguet, Paris 1669.

[9] Cf. Benedetta PAPASOGLI, ‘Il 'Fondo del cuore' dalla mistica all'etica nel Seicento Francese’, 321.

[10] Alejandro DÍEZ-MACHO, ‘Fundamentación bíblica de la devoción al Corazón de Jesús’, em: Pablo Cervera Barranco, Enciclopedia temática del Corazón de Cristo, Madrid: BAC 2017, 210-211.

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1521044/2021/06/o-coracao-profundidade-onde-deus-mora/ 

sexta-feira, 19 de junho de 2020

Sagrados Corações de Jesus e Maria, escutai nossa oração!

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)        

 THE PROMISES OF THE TWO HEARTS OF LOVE - apostolat-of-the-two ...

 *Artigo do Santuário Nacional Aparecida


‘A devoção ao Sacratíssimo Coração de Jesus e ao Puríssimo Coração de Maria são muito próximas na piedade dos fiéis e isto se reflete na Liturgia da Igreja, que fixa a memória do Imaculado Coração de Maria no sábado logo depois da Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, que se dá na sexta-feira da semana seguinte à Festa de Corpus Christi.

 A Solenidade do Sagrado Coração de Jesus celebra a segunda pessoa da Santíssima Trindade, Jesus Cristo. O Papa Francisco diz que Cristo é o rosto da Misericórdia do Pai. Nele podemos ver a misericórdia de Deus. Enquanto esteve na terra, através de Seu manso e humilde Coração, fez o bem e conquistou discípulos.

 Quando somos firmes nessa devoção, deixamos ser conquistados por Deus.

 

Oração

 Santíssimos corações de Jesus e Maria,

unidos no amor perfeito,

como nos olhais com carinho e misericórdia,

consagramos nossos corações,

nossas vidas e nossas famílias a Vós.

 

Conhecemos que o belo exemplo de Vosso lar em Nazaré

foi um modelo para cada uma de nossas famílias.

Esperamos obter, com Vossa ajuda, 

a união e o amor forte e perdurável que vós nos destes.

 

Que nosso lar seja cheio de alegria.

Que o afeto sincero, a paciência, a tolerância e o respeito mútuo

sejam dados livremente a todos.

 

Que nossas orações incluam as necessidades dos outros,

não somente as nossas.

E que sempre estejamos próximos dos sacramentos.

 

Abençoai todos os presentes e também os ausentes,

tantos os vivos como os falecidos;

que a paz esteja conosco, e, quando formos provados,

concedei a resignação cristã à vontade de Deus.


Mantende nossas famílias perto de Vosso Coração;

que Vossa proteção especial esteja sempre conosco.


Sagrados Corações de Jesus e Maria, escutai nossa oração.

Amém.

  

Fonte : *Artigo na íntegra https://www.a12.com/santuario/campanha-dos-devotos/noticias/sagrados-coracoes-de-jesus-e-maria-escutai-nossa-oracao


sexta-feira, 30 de junho de 2017

O Imaculado Coração de Maria é um só com o Sagrado Coração de Jesus

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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‘Devemos entender como ‘Coração de Maria’ tanto o coração material do seu corpo quanto o coração espiritual da sua alma, bem como o que poderíamos chamar de seu ‘Coração Divino’, ou seja, o Amor eterno e substancial, o Espírito Santo, do qual a bem-aventurada Virgem Maria esteve total e divinamente repleta.

Desta tríplice perspectiva, o Coração Imaculado de Maria é todo de Jesus e tem vínculo tão indissolúvel com o Coração do Filho de Deus que essa união consuma os dois numa espécie de unidade; consummati in unum.

O Coração material de Jesus veio todo inteiro do coração virginal de Sua Mãe, que proporcionou ao Verbo encarnado a substância da Sua humanidade e, por conseguinte, a substância do mais nobre e principal órgão desta humanidade adorável, que é o Seu Coração.

A fé nos ensina que o Pai celestial gerou no tempo, no seio da Virgem, Aquele a Quem gera eternamente nos céus, e que o Espírito Santo, Espírito de amor e de união, operou o inefável mistério da Encarnação do Verbo tomando a mais pura flor do sangue imaculado de Maria para formar dela o corpo adorável de Jesus.

Todos sabemos que o sangue e o coração formam uma unidade no corpo humano : o coração difunde o sangue por todos os membros para vivificá-los e o sangue volta a ele fielmente, como a seu primeiro princípio, para ser novamente difundido pelo corpo. O Coração Divino do Menino Jesus foi todo formado da substância mesma e da mesma substância da Virgem, Sua Mãe : se é obra do Espírito Santo, é igualmente obra de Maria, e pertence todo à Sua Mãe como ao Seu Divino Pai.

Se Santo Agostinho disse e pode dizer que ‘A carne de Cristo é a carne de Maria; caro Christi, caro Mariae’, com não menos verdade pode-se dizer também que não por efeito de uma confusão, mas em virtude de uma íntima união, o Coração de Jesus é o Coração de Maria e o Coração de Maria é o Coração de Jesus.

O Coração espiritual de Maria e o Sagrado Coração de Jesus, igualmente, fazem um só coração como consequência de uma indissolúvel união de espírito, de vontade, de sentimentos e de afetos. Diz-se que os primeiros cristãos tinham ‘um só coração e uma só alma; cor unum et anima una’ (At 4, 32); com quanto mais razão se pode e deve dizer o mesmo do Filho único de Maria e desta Sua Santíssima Mãe?

São Bernardo declarou, de si mesmo, que, sendo Jesus sua cabeça, então o Coração de Jesus é seu coração, e, portanto, ele ‘tem verdadeiramente um só coração com Jesus; ego vere cum Jesu cor unum habeo’. Com quanto mais verdade não pode dizer a Imaculada Virgem Maria : ‘O Coração de minha Cabeça e de meu Filho é meu coração, e não tenho com Ele mais do que um mesmo coração’!

Por isto ela disse um dia à sua querida filha e serva Santa Brígida :

‘Saibas que amei o meu Filho tão ardentemente, e que Ele me amou tão certamente, que Ele e eu éramos um só coração; quasi cor unum ambo fuimus. Meu Filho era verdadeiramente para mim como o meu coração; quando Ele sofria, era como se o meu Coração sofresse suas penas e tormentos. Sua dor era a minha dor e Seu Coração era o meu Coração’.

Isto mesmo ensinou por sua vez Nosso Senhor à mesma Santa Brígida quando, aparecendo-lhe um dia e conversando familiarmente com ela, assim lhe disse :

‘Eu, que sou Deus e Filho de Deus desde toda a eternidade, fiz-me homem no seio da Virgem, cujo Coração era como o meu Coração : e, por isto, pode-se dizer que minha Mãe e Eu operamos a salvação do homem com um mesmo Coração’.

Assim, pois, o Coração da Santíssima Virgem e a sua alma imaculada, impecável, perfeitamente santa, humilde, doce e obediente, formava uma só coisa com o Coração e a alma do seu adorável Filho.

 

Finalmente, deve dizer-se com precisão ainda mais absoluta que o Coração divino e eterno de Jesus, que é o Espírito de Amor e o próprio Amor, era verdadeiramente o Coração divino de Maria e o princípio único de sua vida, de seus pensamentos, de seus afetos e de todos os seus movimentos.

O Espírito Santo, que em nós é o Espírito de Jesus Cristo, Spiritus Christi (Rm 8, 9), sendo-o em plenitude na alma da Santíssima Virgem, a unia de maneira tão perfeita e divina a Jesus, e por Jesus ao Pai Celestial, que esta união, que é a graça, a alegria e a coroa da Mãe de Deus, constitui um mistério insondável em cujas santas profundezas somente Deus pode penetrar, e no qual São Boaventura via ‘algo infinito’. Assim, pois, o Coração de Maria e o Coração de Jesus são um só no Espírito Santo. Oh, sejam também um só em nosso amor e em nossas homenagens!

Sim, Jesus é o coração e a vida de Sua bem-aventurada Mãe; e lhe comunica a Sua vida divina com tal superabundância que é até impossível comparar esta vida de Jesus em Maria à vida de Jesus em Seus maiores Santos e em Seus mais exaltados Anjos. ‘Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim’ (Gl 2, 20). ‘Eu vivo, diz-nos do alto do céu a Rainha dos Anjos e dos Santos, a Mãe da vida, a celestial Mãe de Deus; eu vivo, mas já não sou eu, é meu Filho, meu Senhor e meu Salvador quem vive em mim. Vive em minha alma, em meu corpo, em todas as potências da minha alma e em todos os sentidos de meu corpo’.

Jesus está inteiramente vivo em Maria; tudo o que é comunicável em Jesus vive em Maria : o Seu Coração vive em seu Coração, a Sua alma em sua alma, o Seu espírito em seu espírito.

O que Deus uniu, o homem não separe’, disse Nosso Senhor (Quod Deus conjunxit, homo non separet; Mt 19, 6). Havendo Deus, em Seu plano divino, unido intimamente Jesus e Maria, o Coração do Filho e o Coração da Mãe, não os separe ninguém em seu próprio coração. Ao adorar o Coração de Jesus, veneremos e bendigamos o Coração de Maria; e ao tributar esse culto de hiperdulia ao Imaculado Coração da Mãe de Deus, tributemos ao Sacratíssimo Coração de seu Filho o culto de latria, ou seja, de adoração propriamente dita, que lhe devem o céu e a terra. No céu continuaremos eternamente este duplo culto em união dos anjos e bem-aventurados. Que alegria será bendizer ali a Jesus e Maria, contemplá-los face a face, sentir o nosso coração junto ao Seu Coração e inebriar-nos de Seu santo Amor!

Ó Coração Sacratíssimo de Jesus, tende piedade de nós! Cor Jesu Sacratissimum, miserere nobis! Ó Coração Imaculado de Maria, rogai por nós! Cor Mariae Immaculatum, ora pro nobis!’

           
Fonte :

Traduzido da obra de Monsenhor De Ségur, ‘El Sagrado Corazón de Jesús’, págs. 169-174. Casa Editorial de Manuel Galindo y Bezares, 1888.

sexta-feira, 23 de junho de 2017

Qual a origem da devoção ao Sagrado Coração de Jesus?

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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*Artigo do Professor Felipe de Aquino


‘A devoção ao Sagrado Coração de Jesus é muito antiga; os Padres da Igreja já falavam dela; tudo brota daquele Coração ‘manso e humilde’ que por nós foi transpassado pela lança do soldado Longuinho, na Cruz do Calvário. Dele saiu sangue e água, símbolos do Batismo e da Eucaristia, e também da Igreja, Esposa de Cristo, que nasce do lado aberto do novo Adão, como Eva nasceu do lado aberto do primeiro.

Após uma fase de eclipse, esta devoção ganhou novo impulso após as visões de Santa Margarida Maria Alacoque (1647-1690), difundidas por seu confessor São Claude de la Colombière (1673-1675). Era uma época difícil, onde havia uma heresia chamada Jansenismo, de Jansen, que pregava um cristianismo triste, onde poucos se salvavam, onde se disseminava um medo de receber Jesus eucarístico, etc.

Para eliminar essa tristeza Jesus mostrou seu Coração humano e misericordioso a Santa Margarida, como tábua de salvação para todos os pecadores que nele confiassem.

Santa Margarida Maria Alacoque foi uma freira que nunca transpôs os muros do seu convento das visitandinas de Paray-le-Monial da Ordem da Visitação de Santa Maria, instituição religiosa fundada por São Francisco de Sales (1567-1622) e Santa Joana de Chantal (1572-1641), morrendo antes de completar 45 anos, em 17 de outubro de 1690, sendo canonizada em 1920, pelo papa Bento XV. Recolhida, em profunda oração, pela porta do tabernáculo saiu uma espécie de vapor que foi se transformando na figura de homem que se encaminhou até ela e ali na sua presença abriu a túnica que lhe cobria o peito, lhe mostrando o coração em chamas inextinguível e lhe disse :

Eis aqui o coração que tanto amou os homens e pelos quais e tão mal correspondido pelo menos tu, filha minha, chora pelos que me ofendem, geme pelos que não querem orar, imola-te pelos que renegam e blasfemam contra o meu santo nome. Prometo-te na grandeza do meu amor que abençoarei os lares que neles me hospedem, que os que comungarem durante nove primeiras sextas-feiras seguidas, não morrerão sem receber os sacramentos da penitência e da Eucaristia.’

Depois de 150 anos de enormes dificuldades impostas especialmente pelos jansenistas e o terror da Revolução Francesa, em 1856, Pio IX instituiu a festa litúrgica do Sagrado Coração de Jesus, propondo, segundo a recomendação dos santos, a consagração do mundo ao Coração de Jesus. Duzentos anos depois que Santa Margarida pediu ao Rei Luís XIV a consagração da França ao Coração de Jesus, o grande presidente do Equador, Gabriel Garcia Moreno, consagrou seu país em 1873, ao Coração de Jesus.

Vários Papas incentivarem esta devoção através de encíclicas. Atualmente a festa do Sagrado Coração na sexta-feira após a festa de Corpus Cristi. Leão XIII na ‘Annum Sacrum’ (1899), deixou-nos a Oração para consagração ao Sagrado Coração. Pio XI na ‘Miserentissimus Redemptor’ (1928); Pio XII na ‘Haurietis aquas’ (1956); João Paulo II na ‘Redemptor Hominis’ (1979) e Bento XVI em carta ao Pe. Kolvenbach Geral da Comapanhia de Jesus, falaram da importância dessa devoção. Em 1872, Pio IX concedeu indulgências especiais aos que portassem o escapulário com a imagem do Sagrado Coração.

A piedade ligada ao Coração de Jesus está em união com a devoção ao Imaculado Coração de Maria. Muitos santos recomendaram esta devoção : São João Eudes, Santa Margarida Maria Alacoque, São Luís Grignion de Montfort, Santa Catarina Labouré e São Maximiliano Kolbe.


Numerosas foram às promessas do Sagrado Coração de Jesus sendo as mais admiráveis as seguintes :

1. Eu lhes darei todas as graças necessárias ao seu estado de vida.

2. Eu farei reinar a paz em suas famílias.

3. Eu os consolarei em todas as suas aflições.

4. Serei seu refúgio seguro durante a vida e sobretudo na morte.

5. Derramarei muitíssimas bênçãos sobre todas as suas empresas.

6. Os pecadores encontrão em meu Coração a fonte e o mar infinito da misericórdia.

7. As almas tíbias se tornarão fervorosas.

8. As almas fervorosas elevar-se-ão rapidamente a grande perfeição.

9. Abençoarei Eu mesmo as casas onde a imagem do meu Coração estiver exposta e venerada.

10. Darei aos sacerdotes o dom de abrandar os corações mais endurecidos.

11. As pessoas que propagarem esta devoção terão os seus nomes escritos no meu Coração e dele nunca serão apagados.

12. No excesso da misericórdia do meu amor todo poderoso darei a graça da perseverança final aos que comungarem na primeira sexta feira de nove meses seguidos.’

           
Fonte :