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quinta-feira, 11 de novembro de 2021

Atentos à vida no Espírito

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo d0 Padre Alfredo Sampaio Costa, SJ


‘A Espiritualidade na sua riqueza e complexidade convive igualmente com uma ambiguidade inata. Quando pedimos a alguém para falar sobre sua vida ‘espiritual’, o que esperamos ouvir? Seguramente algo sobre sua oração ou algum aspecto concreto de sua vida na Igreja. Mas será que nossa vida ‘espiritual’ se circunscreve somente a isso?

Quando ouvimos falar de ‘vida espiritual’, quase automaticamente nossos olhos (e coração) se movem para o termo ‘espiritual’, que qualifica a vida aqui. Talvez seja esse o erro mais comum, que acaba por desviar a nossa atenção do que vem primeiro e que jamais deverá ser relegada a uma posição secundária : estamos falando da VIDA! Vida no Espírito! Se queremos compreender o que se passa na nossa vida espiritual, é preciso partir sempre da vida como tal!

Quem me abriu os olhos para essa realidade foi Ives Raguin, no seu livro ‘Atenção ao Mistério’. Deixemo-nos provocar por suas sugestivas reflexões.

Vida interior, vida espiritual e relação com Deus

Ao ouvir a expressão ‘experiência mística’ sentimos nossos pés se desprenderem do chão da realidade, rumo a cumes e êxtases. Mas será isso mesmo? Não deixa de ser curioso que sejam os místicos os primeiros a falarem que Deus deve ser experimentado na Vida!

Se queremos falar de ‘experiência’ e de ‘mística’, temos que forçosamente partir de algo que vivemos, que experimentamos, que faz parte da nossa vida. Na espiritualidade, trata-se sempre da nossa relação com Deus. Ou, se preferimos, como Deus está presente na nossa vida, como captamos, sentimos, experimentamos essa Presença e como reagimos diante dela.

Grandes místicos como Teresa de Ávila, João da Cruz, Inácio de Loyola acenaram com suas vidas para a necessidade de nos voltarmos para o mais profundo de nós. Os termos ‘vida interior’ e ‘vida espiritual’ significam praticamente a mesma coisa. Ainda devedores ao dualismo grego, tendemos a seguir opondo ‘carne/espírito’ como compartimentos estanques incomunicáveis, perdendo de vista a unidade da pessoa humana. Vem em nosso socorro a antropologia tripartida de Paulo, onde entra também o ‘espírito’ : ‘E o mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, alma e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo’ (1 Ts 5,23).

Aí compreenderemos : falar de vida ‘espiritual’ implica uma atenção às coisas do Espírito, diferenciadas aqui do carnal e do sensível. Convém, todavia, não confundir vida espiritual e vida intelectual. Há muita gente que coleciona diplomas e tem um currículo invejável, mas no que toca à vida espiritual é bastante frágil. Por outra parte, conhecemos muitas pessoas que, na sua simplicidade, revelam ter uma intensa e profunda vivência espiritual.

Falar de ‘vida espiritual’ implica sempre uma atenção à nossa relação com o Absoluto. Todos os seres humanos temos uma relação com o Transcendente e somente a partir dela nos compreendemos e somos. No cristão, essa relação é ainda mais íntima e, portanto, mais pessoal. O cristão precisa ‘viver’ essa relação. Viver essa relação supõe uma tomada de consciência, e em seguida uma orientação de todas as atividades humanas para a compreensão e a ‘realização’ da relação com Deus.

Ao considerarmos a nossa ‘vida espiritual’, é importante partir do primeiro termo : da ‘vida’! Temos que partir da nossa experiência vivida, experimentada. Não podemos nos limitar a uma mera reflexão. Tampouco a uma simples atenção curiosa. É preciso ‘viver’ a realidade da vida divina em nós… Ora, isso implica a pessoa toda : inteligência, sensibilidade, vontade, liberdade etc. Mais ainda : nossa existência é marcada (positiva ou negativamente) por muitas e muitas pessoas, que dão sentido, tempero, gosto ao que vivemos. Pessoas cuja presença ou ausência mudam tudo. Não podemos relegá-las a um plano inferior ou esquecê-las ao considerar nossa vida espiritual. Elas são, em grande parte, responsáveis pela nossa saúde interior!

No contexto tremendamente especializado em que vivemos, temos que cuidar para que a vida espiritual não seja uma especialização a mais, que alguns poucos estudiosos da espiritualidade consideram (e o restante da humanidade ignora), mas que todos possam assumir a responsabilidade de cuidar da sua vida espiritual e da dos outros (e da Igreja).

Falar de ‘vida espiritual’ e não ‘espiritualidade’ já indica que estamos considerando a pessoa nas suas mais diversas relações e atividades, em posse de todas as suas potências e qualidades humanas. Bem sabemos como a nossa relação com Deus toca de forma determinante a nossa vida em todas as suas expressões.
A pergunta que temos que nos fazer constantemente é : como anda a saúde da nossa vida espiritual. Ela existe? Como estamos cuidando dela? E o que podemos fazer para elevar o nível da saúde espiritual de nossa comunidade de fé e da Igreja como um todo? Como cuidar dos mais fragilizados?

Falamos grego ou hebraico?

Grande parte das confusões a respeito da espiritualidade seriam equacionadas respondendo à questão acima : ao falar de espiritualidade/espírito, estamos falando em que língua? Jean Daniélou apontava para esse perigo, quando afirmava : ‘Quando falamos que Deus é Espírito, que queremos dizer? Falamos grego ou hebraico? Se falamos grego, queremos dizer que Deus é imaterial etc. Se falamos hebraico, dizemos então que Deus é um furacão, uma tempestade, uma força irresistível. Daí todas as ambiguidades quando falamos de espiritualidade. Espiritualidade consiste em nos tornarmos imateriais ou em sermos animados pelo Espírito?(1).

O termo ‘espiritual’ deve ser tomado no sentido de ‘relativo a Deus’. O Espírito, em absoluto, é Deus. A vida é chamada de ‘espiritual’ por ser orientada para Deus. Ela será, portanto, no seu âmago, uma atenção ao Mistério da Presença da vida divina em nós, uma realização crescente da nossa relação com Deus. Dessa atitude fundamental irá decorrer todas as práticas que permitirão àquela ‘vida interior’ se desenvolver : esforços de conhecimento pelo estudo do Evangelho e da doutrina cristã, esforços de conformidade a Cristo, de contemplação, de união… Assim se explica a elaboração, ao longo dos tempos, de teorias e técnicas da vida espiritual, por todas as religiões (2).

Nossa vida é uma vida orientada para Deus? Pergunta provocadora e não fácil de responder. Como a desenvolvemos?

Vida interior sem relação explícita a Deus?

Seria possível algo assim? Ives Raguin faz notar que existem muitos métodos de vida interior e de meditação que nada tem de religioso, isso é, não possuem nenhuma referência objetiva a Deus. Cada vez mais e mais pessoas, no mundo secularizado em que vivemos, os utiliza e com resultados muito positivos. A finalidade desses métodos é oferecer meios para a pessoa poder se concentrar, harmonizar suas energias, pacificar-se interiormente. Tais métodos de controle mental e tomada de consciência foram particularmente desenvolvidos na Índia pela yoga e na China e no Japão pelo zen.

O confucionismo também desenvolveu certos métodos de cultura pessoal que nada tem a ver com uma busca religiosa. O taoísmo, da mesma forma, desenvolveu métodos muito elaborados cujo objetivo é alimentar as energias vitais que trazemos no nosso interior. Hoje encontramos muitas oficinas de meditação transcendental, por exemplo.

Tais métodos proporcionam uma tomada de consciência prazerosa da riqueza oculta do ser humano, produzindo assim sentimentos de alegria, de paz, de plenitude, por vezes tão grandes que nada mais parece desejado ou desejável. Contudo, essa experiência é sempre, de modo essencial, limitada ao meu ser. Seja qual for o sentimento de plenitude percebido no mais profundo de meu ser, não consigo explicar a mim mesmo o que sou nem de onde venho. A plenitude que vislumbro deve acabar por me parecer relativa em vista de outra relação que, essa sim, será plena, absoluta.

Ao me adentrar no mais íntimo da minha unidade e de minha identidade, perceberei a presença de um ‘Outro’ em quem nada é relativo. Ao pretender dar passos por um caminho humano, subitamente me encontrarei trilhando também uma estrada divina e, aí sim, minha experiência se tornará genuinamente religiosa.’

Notas :

[1] Citado em Y. CONGAR, Credo nello Spirito Santo, I, Queriniana, Brescia 1982,18.

[2] Yves RAGUIN, Atenção ao Mistério. Um aprofundamento na vida espiritual. Paulinas, SP 1981, 12-16.

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1550063/2021/11/atentos-a-vida-no-espirito/

sexta-feira, 11 de junho de 2021

Liturgia: sopro do Espírito

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Daniel Reis


 ‘A liturgia é obra da Trindade (opus Trinitatis). Nela, a Igreja, pela ação do Espírito Santo, é congregada e constituída no corpo de Cristo, que, exercendo seu sacerdócio, presta a Deus Pai o culto que lhe é devido, para o louvor de sua glória e para a nossa santificação (cf. Sacrosanctum Concilium, n. 7). Cada pessoa divina age na liturgia de acordo com seus atributos e características próprias, mas sempre em unidade e em plena comunhão.

No que pese a ação litúrgica ser essencialmente trinitária, costuma-se destacar as figuras do Pai, como fonte e fim da liturgia, e do Filho como mediador. Por um certo esquecimento histórico que a Igreja no Ocidente carrega em relação ao Espírito Santo, sua presença e atividade nas celebrações são percebidas com maior dificuldade. Isso se deve ao fato de que são tímidas, de modo expresso, as referências à terceira Pessoa da Trindade nos formulários e textos eucológicos (oracionais) da liturgia romana. No missal, por exemplo, a maioria das Orações coleta só mencionam o Espírito Santo como arremate (‘...na unidade do Espírito Santo.’), e a maioria esmagadora das Orações sobre as oferendasOrações depois da comunhão e mesmo os Prefácios não citam o Espírito, dirigindo-se a Deus (Pai), ‘por Cristo, nosso Senhor’.

O catecismo da Igreja Católica (CIC 1091-1112) nos apresenta uma belíssima pneumatologia litúrgica, ajudando-nos a reconhecer a atuação do Espírito Santo nas celebrações da Igreja em quatro frentes : preparação da assembleia, recordação de Cristo, atualização de seu mistério e realização da comunhão (cf. CIC 1092). Vejamos cada uma delas, tomando como base a celebração da eucaristia.

O Espírito Santo nos prepara para nos aproximarmos da fonte da liturgia, da qual ele mesmo é a água pura, inspirando-nos o desejo e a disposição para nela nos dessedentarmos. Nos Ritos Iniciais, somos reunidos em assembleia por sua ação unitiva, pois sendo o Amor do Amante (o Pai) e do Amado (o Filho), nos enlaça na caridade divina e nos abre para acolhermos a graça salvífica dispensada e celebrada na liturgia.

Na Liturgia da Palavra, ‘o Espírito Santo recorda primeiro à assembleia litúrgica o sentido do evento da salvação, dando vida à palavra de Deus, que é anunciada para ser recebida e vivida’ (CIC 1100). A ruah divina é o fôlego de Cristo - que se dirige à assembleia (cf. SC 7) através dos ministros leitores, salmistas e do homiliasta -, inspirando a encarnação do Verbo em seus corações e expirando esta mesma palavra da salvação nos ouvidos da assembleia. Esta, por sua vez, também com o auxílio do Espírito, inspira a palavra proclamada, acolhendo-a pela escuta atenta, devendo expirá-la através de seus gestos e ações na vida.

Pelo Espírito Santo, ‘memória viva da Igreja’ (cf. Jo 14,26 e CIC 1099), somos recordados das maravilhas realizadas por Deus ao povo de Israel e das obras de Cristo às pessoas de seu tempo, e somos inseridos nessa história da salvação pela atualização que o Espírito Santo realiza no ‘hoje’ de cada celebração litúrgica. Como ensina magistralmente o catecismo :

A liturgia cristã não somente recorda os acontecimentos que nos salvaram, como também os atualiza, torna-os presentes. O mistério pascal de Cristo é celebrado, não é repetido; o que se repete são as celebrações; em cada uma delas sobrevém a efusão do Espírito Santo que atualiza o único mistério’ (CIC 1104).

É a força do Espírito que rompe as malhas do tempo (chronos) e do espaço, fazendo de cada liturgia o momento histórico da salvação (kairós). Pelo impulso do Sopro Santo, a assembleia celebrante é introduzida no evento pascal, colocada aos pés da cruz no calvário e à porta do túmulo vazio da ressurreição, haurindo os frutos da redenção na atualidade salvífica que o Espírito realiza na liturgia.

O ‘fim da missão do Espírito Santo em toda ação litúrgica’ (CIC 1108) é realizar a comunhão da Igreja. De modo especial, na Oração Eucarística o invocamos (epiclese) uma primeira vez sobre os dons do pão e do vinho para que sejam transformados no corpo e no sangue de Cristo, e uma segunda vez sobre nós, comungantes, para que ‘quando recebermos pão e vinho, o corpo e sangue dele oferecidos, o Espírito nos una num só corpo, para sermos um só povo em seu amor’ (Oração Eucarística V).

Nos Ritos finais, uma vez alimentados e transformados no corpo de Cristo, somos impelidos por seu Espírito a agir como ele, em favor de nossos irmãos e irmãs, estendendo ao mundo a comunhão que experimentamos na celebração. Através da liturgia, o Espírito Santo sopra sobre nós as virtudes do Filho e os desígnios do Pai, a fim de que ‘todos se tornem um só corpo bem unido, no qual todas as divisões sejam superadas’ (Oração Eucarística VII).’

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1520624/2021/06/liturgia-sopro-do-espirito/

sábado, 22 de abril de 2017

Três dons do Ressuscitado : o Espírito, o perdão, a missão

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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II Domingo de Páscoa
Domingo da Divina Misericórdia
Ano A - Domingo 23.4.2017

Atos 2, 42-47
Salmo 117
1 Pedro 1, 3-9
João 20, 19-31

Reflexões

‘É significativa a cronologia que nos oferece o Evangelho de João sobre «aquele dia, o primeiro da semana» (v. 19), o dia mais importante da história. Porque naquele dia Cristo Ressuscitou. Aquele dia tinha iniciado com a ida de Maria Madalena ao sepulcro «logo de manhã ainda escuro» (Jo 20,1). No Evangelho de hoje, estamos na «tarde daquele dia… estando as portas fechadas… com medo dos judeus» (v. 19). A reconstituição de espaço e tempo, e também a psicológica, é completa. Iniciou enfim a história nova para a humanidade, no sinal de Cristo ressuscitado. Prescindir d’Ele seria uma perda de valores e um risco para a própria sobrevivência humana.

As portas fechadas e o medo são ultrapassados com a presença de Jesus, o Vivente, que por bem três vezes anuncia : «A paz esteja convosco!» (v. 19.21.26), provocando a alegria intensa dos discípulos «ao ver o Senhor» (v. 20). Paz e alegria encontram-se entre as características mais evidentes da primeira comunidade cristã (I leitura) : tomavam o alimento com alegria e simplicidade de coração e gozavam da simpatia de todo o povo (v. 46-47). Uma simpatia justificada, dada a solidez e a irradiação missionária daquele novo grupo que se alicerçava sobre quatro pilares (42) : ensino dos apóstolos, fração do pão, oração e koinonia (união fraterna, partilha de bens). Pedro (II leitura), por sua vez, exorta os fiéis a estar «cheios de alegria, embora seja preciso ainda… passar por diversas provações» (v. 6). A Páscoa de Jesus faz ultrapassar os medos do cristão e do missionário; a fé, que conduz ao encontro com Cristo ressuscitado, ajuda a ultrapassar também as dificuldades psicológicas, como a angústia, os receios, a depressão…

São três os principais dons que Cristo ressuscitado oferece à comunidade : o Espírito, o perdão dos pecados e a missão. O fruto maior da Páscoa é sem dúvida o dom do Espírito Santo, que Jesus sopra sobre os discípulos : «Recebei o Espírito Santo» (v. 22). Ele é o Espírito da criação redimida e renovada, que Jesus derrama no momento da morte na cruz (Jo 19, 30), como prelúdio do Pentecostes (Atos 2ss).

Para João o dom do Espírito está essencialmente relacionado com o dom da paz e, portanto, com o perdão dos pecados, como disse Jesus : «Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados» (v. 23). A paz verdadeira tem as suas raízes na purificação dos corações, na reconciliação com Deus, com os irmãos e com toda a criação. Esta reconciliação é obra do Espírito, porque «Ele é a remissão de todos os pecados» (veja-se a oração sobre as ofertas, na Missa do sábado antes do Pentecostes, e a nova fórmula da absolvição sacramental). Para o evangelista Lucas «a conversão e o perdão dos pecados» são a mensagem que os discípulos deverão anunciar «a todas as gentes» (Lc 24, 47). Com razão, portanto, o sacramento da reconciliação é um inestimável presente pascal de Jesus : é o sacramento da alegria cristã (Bernardo Häring).

Os dons do Ressuscitado são para anunciar e partilhar com toda a família humana; por isso Jesus naquela tarde, anuncia uma missão universal, que Ele confia aos apóstolos e aos seus sucessores : «Assim como o Pai me enviou, também Eu vos envio a vós» (v. 21). São palavras que vinculam para sempre a missão da Igreja com a vida da Trindade, porque o Filho é o missionário enviado pelo Pai para salvar o mundo, por meio do amor. «Assim como o Pai me enviou, também Eu vos envio a vós», são palavras para ser lidas em paralelo com estas outras : «Assim como o Pai me amou, também Eu vos amei» (Jo 15, 9), estabelecendo uma ligação indivisível entre missão-amor, amor-missão. Com estas palavras permanece para sempre sancionado que a Missão universal nasce da Trindade (AG 1-6) e é dom-empenho pascal de Jesus ressuscitado.

Os três dons do Ressuscitado: o Espírito, a reconciliação e a missão, são vividos por nós na fé. Apesar de não vermos o Senhor, somos felizes (v. 29) se acreditarmos n’Ele e O amarmos. Estamos, portanto, gratos a Tomé (v. 25), que quis pôr a mão na ferida do Coração de Cristo, que «cubiculum est Ecclesiae», é o aposento íntimo/secreto da Igreja (Santo Ambrósio). Aquele Coração é o santuário da Divina Misericórdia, título e tesouro que neste domingo é celebrado com crescente devoção popular. (*) A misericórdia divina é, desde sempre, a mais vasta e consoladora revelação do mistério cristão : «A terra está cheia de miséria humana, mas repleta da misericórdia de Deus» (Santo Agostinho). Esta é a ‘boa-nova’ permanente, que a Missão leva à humanidade inteira.’


Fonte :

domingo, 20 de abril de 2014

Santo Anselmo, Bispo e Doutor da Igreja

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)


Nasceu em Aosta, no Piemonte (Itália), em 1033. Entrou para a Ordem de São Bento no mosteiro de Le Bec, na França. Ensinou Teologia a seus irmãos de hábito, ao mesmo tempo em que ia progredindo com entusiasmo no caminho da perfeição. Transferido para a Inglaterra, foi eleito bispo de Cantuária. Combateu valorosamente pela liberdade da Igreja, o que lhe causou duas vezes o exílio. Escreveu muitas obras de grande valor teológico e místico. Morreu em 1109.


A Liturgia das Horas e a reflexão no dia de Santo Anselmo,
Bispo e Doutor da Igreja :

Ofício das Leituras

Segunda leitura
Do livro ‘Proslógion’ de Santo Anselmo, bispo
(Cap. 14.16.26 : Opera omnia, edit. Schmitt,
Seccovii, 1938, 1,111-113.121-122)   (Séc.XI)

Que eu te conheça e te ame,
para encontrar em ti minha alegria
Encontraste, ó minh’alma, o que procuravas? Procuravas a Deus e viste que ele está muito acima de tudo, e nada melhor do que ele se pode pensar; que ele é a própria vida, a luz, a sabedoria, a bondade, a eterna felicidade e a feliz eternidade; e que ele é tudo isto sempre e em toda parte.

Senhor meu Deus, meu Criador e Redentor, dize à minh’alma sedenta em que és diferente daquilo que ela viu, para que veja mais claramente o que deseja. Ela se esforça por ver sempre mais; contudo nada vê além do que já viu, senão trevas. Ou melhor, não vê trevas, porque elas não existem em ti; porém vê que não pode enxergar mais por causa das trevas que possui.

Verdadeiramente, Senhor, esta é a luz inacessível em que habitas; verdadeiramente nada há que penetre nesta luz para ali te ver, tal como és. De fato, eu não vejo essa luz, porque é excessiva para mim; e, no entanto, tudo quanto vejo é através dela : semelhante à nossa vista humana que, pela sua fraqueza, só pode ver por meio da luz do sol e contudo não pode olhar diretamente para o sol.

Minha inteligência é incapaz de ver essa luz, demasiado brilhante para ser compreendida; os olhos de minh’alma não suportam fixar-se nela por muito tempo. Ficam ofuscados pelo seu esplendor, vencidos pela sua imensidade, confundidos pela sua grandeza.

Ó luz suprema e inacessível! Ó verdade plena e bem-aventurada! Como estás longe de mim que de ti estou tão perto! Quão afastada estás de meu olhar, de mim que estou tão presente ao teu olhar!

Estás presente em toda parte, e eu não te vejo. Em ti me movo, em ti existo, e de ti não posso me aproximar. Estás dentro de mim e a meu redor, e eu não te percebo.

Peço-te, meu Deus, faze que eu te conheça e te ame, para encontrar em ti minha alegria. E se não o posso alcançar plenamente nesta vida, que ao menos vá me aproximando, dia após dia, dessa plenitude. Cresça agora em mim o conhecimento de ti, para que chegue um dia ao conhecimento perfeito; cresça agora em mim o amor por ti até que chegue um dia à plenitude do amor; seja agora a minha alegria grande em esperança, para que um dia seja plena mediante a posse da realidade.

Senhor, por meio de teu Filho ordenas, ou melhor, aconselhas a pedir, e prometes acolher o pedido para que nossa alegria seja completa. Por isso, peço-te, Senhor, o que aconselhas por meio do nosso admirável Conselheiro; possa eu receber o que em tua fidelidade prometes, a fim de que minha alegria seja completa. Deus fiel, eu te peço : faze que o receba, para que minha alegria seja completa.

Por enquanto, nisto medite meu espírito e fale minha língua. Isto ame meu coração e proclame minha boca. Desta felicidade prometida tenha forme e sede a minha carne. Todo o meu ser a deseja, até que um dia entre na alegria do meu Senhor, que é Deus uno e trino, bendito pelos séculos. Amém.


Fonte :
‘In Liturgia das Horas II’, 1531, 1533


terça-feira, 21 de janeiro de 2014

São Vicente, Diácono e Mártir

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)



Vicente, diácono da Igreja de Saragoça, morreu mártir em Valência (Espanha), durante a perseguição de Diocleciano, depois de ter sofrido cruéis tormentos. Seu culto logo se propagou por toda a Igreja.


A Liturgia das Horas e a reflexão no dia de São Vicente : 

Ofício das Leituras

Segunda leitura
Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo
(Sermo 176, 1-2: PL 38, 1256)      (Séc.V)


Vicente venceu naquele por quem o mundo foi vencido
A vós foi dado por Cristo não apenas crerdes nele, mas também sofrerdes por causa dele (Fl 1, 29), diz a Escritura. O levita Vicente recebera e possuía um e outro dom. Se não tivesse recebido, como os haveria de possuir? Tinha confiança na palavra, tinha coragem no sofrimento.

Ninguém, portanto, se envaideça de sua força interior, quando fala; ninguém confie nas próprias forças, quando é tentado; porque se falamos bem e com prudência, é de Deus que vem nossa sabedoria e, se suportamos os males com firmeza, é dele que vem a nossa força.

Lembrai-vos de como, no Evangelho, Cristo Senhor adverte os que são seus; lembrai-vos do Rei dos mártires instruindo nas armas espirituais os seus exércitos, exortando-os para a guerra, dando-lhes ajuda e prometendo a recompensa. Ele que disse aos discípulos : No mundo, tereis tribulações, logo acrescenta, a fim de  consolar os medrosos : Mas tende coragem! Eu venci o mundo (Jo 16, 33).

Por que então nos admiramos, caríssimo, se Vicente venceu naquele por quem o mundo foi vencido? No mundo, tereis tribulações, diz o Senhor. O mundo persegue, mas não triunfa; ataca, mas não vence. O mundo conduz uma dupla batalha contra os soldados de Cristo : afaga-os para enganá-los, aterroriza-os para quebra-los. Que o nosso bem-estar não nos preocupe, não nos assuste a maldade alheia, e o mundo está vencido.

Cristo acorre a ambos os combates e o cristão não é vencido. Se neste martírio se considera a capacidade humana para suportá-lo, o fato torna-se incompreensível; mas se nele se reconhece o poder divino, nada há que se admirar.

Era tanta a crueldade que afligia o corpo do mártir, e tanta a serenidade que transparecia de sua voz; era tamanha a ferocidade dos suplícios que maltratavam os seus membros, e tamanha a firmeza que ressoava nas suas palavras que, de algum modo maravilhoso, enquanto Vicente suportava o martírio, julgávamos ser torturada outra pessoa diferente da que falava.

E era realmente assim, irmãos, era assim mesmo : era outro que falava. No Evangelho, Cristo prometeu também isto a suas testemunhas, ao prepará-las para tais combates . Falou deste modo : Não fiqueis preocupados como falar ou o que dizer. Com efeito, não sereis vós que havereis de falar, mas sim o Espírito do vosso Pai é que falará através de vós (Mt 10, 19-20).

Por conseguinte, a carne sofria e o Espírito falava; e enquanto o Espírito falava, não apenas era vencida a impiedade, mas também a fraqueza era confortada.


Fonte :
‘In Liturgia das Horas III’, pg. 1202, 1203


sexta-feira, 1 de novembro de 2013

O lado de lá e o lado de cá

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 * Artigo de Dom Alberto Taveira Corrêa,
arcebispo de Belém do Pará,
reflete sobre o Dia de todos os Santos e
a Comemoração dos Fiéis falecidos 
  
‘O calendário da Igreja nos oferece, neste final de semana, duas faces da magnífica medalha cunhada por Deus, que é a nossa vida, o Dia de todos os Santos e a Comemoração dos Fiéis falecidos; Olhamos primeiro para o ponto de chegada, que corresponde ao magnífico destino para o qual fomos criados, a plenitude da vida e da felicidade junto de Deus, “uma multidão imensa de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas, e que ninguém podia contar” (Ap 7, 9). Temos a certeza de que Ele não fez ninguém para a perdição, mas todos têm em si a vocação para a plena realização de todas as suas potencialidades. Tanto é verdade que o Pai do Céu enviou seu próprio Filho, como nosso Salvador e Redentor, para que todos tenham vida, e vida em abundância (Jo 10,10).
 
Vida plenamente humana é aquela que enxerga o horizonte aberto pelo próprio Deus. A Solenidade de todos os Santos indica a perspectiva da existência marcada por uma realidade descoberta pela fé: “Desde já somos filhos de Deus, mas nem sequer se manifestou o que seremos! Sabemos que, quando Jesus se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal como ele é” (1 Jo 3,2). Santidade é para todos! Se nos alegramos com a iminente canonização de dois papas do nosso tempo, os Beatos João XXIII e João Paulo II, é para que sejam reconhecidos como referência e como possibilidade. São duas personalidades carregadas de humanidade, cujo percurso histórico nesta terra teve muito de parecido conosco. São homens que vieram de famílias muito simples, lutaram e amadureceram em tempos de grandes desafios, com a provocação das ideologias do século XX. Souberam dialogar com a cultura de nossa época, alegraram-se e sofreram com as mesmas realidades que até hoje nos envolvem. Percorreram o caminho dos bem aventurados, de olhos fixos naquele que é “o bem-aventurado”, Jesus Cristo: os pobres em espírito, dos quais é Reino dos Céus; os aflitos, que serão consolados; os mansos, porque possuirão a terra; os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados; os misericordiosos, que alcançarão misericórdia; os puros de coração, porque verão a Deus; os que promovem a paz, chamados filhos de Deus; os que são perseguidos por causa da justiça, de quem é o Reino dos Céus! Homens e mulheres que se descobriram felizes quando injuriados e perseguidos por causa de Cristo. Pessoas portadoras de uma alegria invencível, certos da recompensa nos céus (Cf. Mt 5, 1-12).

A santidade, vocação universal dos cristãos, começa com coisas simples. João XXIII registrou em seu Diário íntimo um caminho bom para todos, adequado para uma festa de Todos os Santos bem vivida, chamado “Decálogo da serenidade” :
 
1. Procurarei viver pensando apenas no dia de hoje, exclusivamente neste dia, sem querer resolver todos os problemas da minha vida de uma só vez;
 
2. Hoje, apenas hoje, procurarei ter o máximo cuidado na minha convivência, cortês nas minhas maneiras, a ninguém criticarei, nem pretenderei melhorar ou corrigir à força ninguém, senão a mim mesmo;
 
3. Hoje, apenas hoje, serei feliz. Na certeza de que fui criado para a felicidade, não só no outro mundo, mas também já neste;
 
4. Hoje, apenas hoje, adaptar-me-ei às circunstâncias, sem pretender que sejam todas as circunstâncias a se adaptarem aos meus desejos;
 
5. Hoje, apenas hoje, dedicarei dez minutos do meu tempo à uma boa leitura, recordando que assim como o alimento é necessário para a vida do corpo, a boa leitura é necessária para a vida da alma;
 
6. Hoje, apenas hoje, farei uma boa ação, e não direi a ninguém;
 
7. Hoje, apenas hoje, farei ao menos uma coisa que me custe fazer, e se me sentir ofendido nos meus sentimentos, procurarei que ninguém o saiba;
 
8. Hoje, apenas hoje, executarei um programa pormenorizado. Talvez não o cumpra perfeitamente, mas ao menos o escreverei, e fugirei de dois males, a pressa e a indecisão;
 
9. Hoje, apenas hoje, acreditarei firmemente, embora as circunstâncias mostrem ao contrário, que a Providência de Deus se ocupa de mim, como se não existisse mais ninguém no mundo;
 
10. Hoje, apenas hoje, não terei nenhum temor, de modo especial não terei medo de gozar o que é belo, e de crer na bondade.
 

A santidade que começa com muita simplicidade, é destinada a fazer o bem aos outros. Não é feita para aparecer, não se incha de orgulho. Sua motivação de fundo é a caridade, sem a qual nada vale neste mundo. Até porque é apenas a caridade que será levada para o encontro definitivo com Deus, “o lado de lá”, quando veremos face a face o Senhor. Ela é uma aventura feliz e bem sucedida, construída no dia a dia e unificada pelo fio de ouro do amor de Deus, que nos faz ver o sentido de tudo o que vivemos. De fato, tudo concorrerá para o bem dos que amam a Deus (Cf. Rm 8, 29)! O Livro do Apocalipse vê uma imensa multidão, de toda língua, raça, povo e nação, “os que vieram da grande tribulação. Lavaram e alvejaram as suas roupas no sangue do Cordeiro” (Cf. Ap 7, 2-14).
 
O “lado de lá” é preparado pelo “lado de cá” bem vivido, com o qual os homens e as mulheres se preparam para a páscoa pessoal, enfrentando todas as dificuldades e ultrapassando o misterioso e também magnífico umbral da morte. Como ninguém ficará para semente nesta terra, ocorre meditar sobre esta realidade, tomar consciência de sua seriedade e preparar-se bem. Morremos do jeito que vivemos. Nossa morte e nosso Céu se constroem no dia a dia, para que o dia do Senhor não nos surpreenda, mas nos encontre vigilantes e preparados!
 
Ninguém precisa ficar preocupado com a morte, mas viver bem, amando a Deus e ao próximo, semeando o bem e a bem-aventurança. E quando a morte chegar, será a oportunidade de virar o jogo! O segredo está, também aqui, em nosso Salvador: “Ninguém tira a minha vida, eu a dou livremente” (Jo 10,18). Vale a pena antecipar a morte! Sim, morrendo cada dia para o egoísmo e para a maldade, transformando em dom a Deus e aos outros cada ato de nossa existência. Quem viver assim poderá dizer com São Paulo: “Para mim, de fato, o viver é Cristo e o morrer, lucro. Ora, se, continuando na vida corporal, eu posso produzir um trabalho fecundo, então já não sei o que escolher. Estou num grande dilema: por um lado, desejo ardentemente partir para estar com Cristo – o que para mim é muito melhor; por outro lado, parece mais necessário para o vosso bem que eu continue a viver neste mundo” (Fl 1,21-24). Que cheguemos a tais alturas: “Sabemos que, se a tenda em que moramos neste mundo for destruída, Deus nos dá outra moradia no céu, que não é obra de mãos humanas e que é eterna. Aliás, é por isso que gememos, suspirando por ser sobrevestidos com a nossa habitação celeste; sobrevestidos digo, se é que seremos encontrados vestidos e não nus. Sim, nós que moramos na tenda do corpo estamos oprimidos e gememos, porque, na verdade, não queremos ser despojados, mas sim sobrevestidos, de modo que o que é mortal em nós seja absorvido pela vida, quem nos preparou para isto é Deus, que nos deu seu Espírito em garantia. Estamos sempre cheios de confiança e bem lembrados de que, enquanto moramos no corpo, somos peregrinos, longe do Senhor; pois caminhamos pela fé e não pela visão. Mas estamos cheios de confiança e preferimos deixar a moradia do nosso corpo, para ir morar junto do Senhor” (2 Cor 5, 1-8).’
 
 
Fonte :
 

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Dia do Indio

Por Áurea Maria Corsi   

Tecumseh
 
                 Para deleite dos visitantes e uma justa homenagem ao dia do Índio, segue um poema que muito nos diz. Aos injustiçados, que haja Justiça, mesmo que tardia!

               (Tecumseh (1768 - 1812) é o nome aproximado de um líder indígena dos  Shawnee que viveu no estado de Michigan. Ficou famoso pela coragem e pelas vitórias em inúmeras batalhas. Tecumseh é um ícone, respeitado pelos povos indígenas americanos e considerado um herói nacional no Canadá. Mesmo o seus inimigos declaravam-no um  homem genial, de grande bravura e de sabedoria incontestável.)
 
 
Tecumseh
“Quando o tempo é negro,
É preciso suportar o sofrimento.
Se o coração ódio alenta,
Tudo será sufocado,
Como a pedra mata a relva.
E se a hora é chegada,
Empunha a clava,
No fogo da batalha
A coragem encara a morte!

Um guerreiro nada teme,
E é mais valente
Pelos pequenos
Que a ele vêm.

A terra vive no coração do bravo,
Que nunca será tão fraco
Para dizer: ‘Tomem tudo que é meu!’ ”

A luz da pantera já se apagava no céu...
E ele vagou por montanhas e vales,
Por onde havia árvores,
E límpida água,
Que espirra da fonte,
No ar, leve, como pena branca...
Vem de longe,
Deve estar com fome,
Não crê nas promessas dos homens,
E prefere morrer pela espada,
Que viver sob as botas.

“Seremos fortes,
Se o espírito for puro!
O Grande Espírito é meu pai,
A terra é minha mãe,
Em seu regaço me reúno.
Eu voltei pela paz...
Os homens que têm discórdia
Não devem conversar em público,
Mas sob as calmas espirais de fumaça,
Para que não os engane o orgulho.

                                                                      A vingança


é veneno

atirado

contra

o vento!

 
Palavras saem da boca
E volteiam nos ouvidos,
Palavras podem encher um grande livro...
Eu aprendi os seus caracteres escuros,
E li que Jesus veio ao mundo,
Eles o mataram – o filho de Deus!
E depois mataram
Aqueles que não acreditavam nele.
Quem pode confiar em gente assim?

O homem branco é como grande serpente,
Que a todos engana
E a tudo devora.
O seu modo de vida
É a maneira da morte,
Eu estive na grande cidade:

                                            O ruído

                       desagrega

       o espírito.

As coisas

soterram

até mesmo

o brilho

das estrelas.

De sorte

que deve haver guerra!”
 
 
Ele pressente no sinal
Riscado à Facalonga,
O guerreiro que sangra até que o sol se ponha...
Por entre as folhas de plátano,
Descansa o Grande Espírito.


(Poema escrito na primavera de 2002)