Mostrando postagens com marcador Credo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Credo. Mostrar todas as postagens

sábado, 27 de maio de 2017

Ascensão do Senhor

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

Resultado de imagem para ascensão do senhor
 *Artigo do Cardeal Dom Orani João Tempesta, O. Cist.,
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ


‘Depois de quarenta dias após a solenidade da Páscoa, temos a graça de celebrar a Solenidade da Ascensão do Senhor. A Igreja convida-nos a ter os olhos postos no Céu, a Pátria definitiva a que o Senhor nos chama.

No Credo, encontramos a afirmação de que Jesus ‘subiu aos céus e está sentado à direita do Pai’. A vida terrena de Jesus culmina no evento da Ascensão, quando Ele passa desse mundo ao Pai e é elevado à sua direita. Qual é o significado deste acontecimento? Quais são as consequências para a nossa vida? O que significa contemplar Jesus sentado à direita do Pai? Sobre isto, deixemo-nos guiar pelo evangelista Lucas.

São Lucas anota : ‘Aproximando-se o tempo em que Jesus devia ser arrebatado desse mundo, ele resolveu dirigir-se a Jerusalém’ (Lc 9, 51). Enquanto ‘ascende’ à Cidade Santa, onde se cumprirá o seu ‘êxodo’ dessa vida, Jesus vê já a meta, o Céu, mas sabe bem que o caminho que o leva de volta à glória do Pai passa pela Cruz, pela obediência ao desígnio divino de amor pela humanidade. O Catecismo da Igreja Católica afirma que ‘a elevação sobre a cruz significa e anuncia a elevação da ascensão ao céu’ (n. 661). Também nós devemos ter claro, na nossa vida cristã, que o entrar na glória de Deus exige a fidelidade cotidiana à Sua vontade, mesmo quando requer sacrifício, requer às vezes mudar os nossos programas. A Ascensão de Jesus, segundo os Atos dos Apóstolos, acontece concretamente no Monte das Oliveiras, próximo ao lugar onde havia se retirado em oração antes da paixão para permanecer em profunda união com o Pai : mais uma vez vemos que a oração nos dá a graça de viver fiéis ao projeto de Deus.

A elevação de Jesus na Cruz significa e anuncia a elevação da Ascensão ao céu. Jesus Cristo, o único Sacerdote da nova e eterna Aliança, não ‘entrou em um santuário feito por mão de homem… e sim no próprio céu, a fim de comparecer agora diante da face de Deus a nosso favor’ (Hb 9,24). No céu, Cristo exerce em caráter permanente seu sacerdócio, ‘por isso é capaz de salvar totalmente aqueles que, por meio dele, se aproximam de Deus, visto que ele vive eternamente para interceder por eles’ (Hb 7,25). Como ‘sumo sacerdote dos bens vindouros’ (Hb 9,11), ele é o centro e o ator principal da liturgia que honra o Pai nos Céus. (cf. Cat. §662)

Por ‘estar sentado à direita do Pai’, entendemos a glória e a honra da divindade, onde aquele que existia como Filho de Deus antes de todos os séculos, se sentou corporalmente junto do Pai, como homem também, com a sua carne glorificada. Assim, através de Jesus, a humanidade, outrora expulsa do Paraíso, agora volta para o convívio de Deus. Daí, Cristo glorioso vai derramar o Espírito Santo sobre a Igreja para que ela cumpra a sua missão de resgatar os filhos de Deus.

O sentar-se à direita do Pai significa também ‘a inauguração do Reino do Messias’, realização da visão do profeta Daniel no tocante ao Filho do Homem : ‘A Ele foram outorgados o império, a honra e o reino, e todos os povos, nações e línguas o serviram. Seu império é um império eterno, que jamais passará, e seu reino jamais será destruído’ (Dn 7,14). A partir desse momento, os Apóstolos se tornaram as testemunhas do ‘Reino que não terá fim’. (Cat. §664)

Na Carta aos efésios, São Paulo diz : ‘Deus manifestou a sua força em Cristo quando o ressuscitou dos mortos e o fez sentar-se à sua direita no céu, bem acima de toda autoridade, poder, potência, soberania ou qualquer título que se possa nomear não somente neste mundo, mas ainda no futuro. Sim, ele pôs tudo sob os seus pés e fez dele, que está acima de tudo, a Cabeça da Igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que possui a plenitude universal’ (Ef 1, 20-23).

A Igreja ensina que ‘Jesus, rei da glória, subiu ante os anjos maravilhados ao mais alto dos Céus, e tornou-se o mediador entre Deus e a humanidade redimida, juiz do mundo e Senhor do universo. Ele, nossa Cabeça e princípio, subiu aos Céus não para afastar-se de nossa humildade, mas para dar-nos a certeza de que nos conduzirá à glória da imortalidade… Ele, após a ressurreição, apareceu aos discípulos e, à vista deles, subiu aos céus, a fim de nos tornar participantes da sua divindade’. (Prefácio da Ascensão I, II)

Por isso, na Solenidade da Ascensão do Senhor a Igreja reza : ‘Ó Deus todo poderoso, a Ascensão do vosso Filho já é nossa vitória. Fazei-nos exultar de alegria e fervorosa ação de graças, pois, membros do seu corpo, somos chamados na esperança a participar da sua glória’. Assim, a Ascensão de Jesus é uma preparação e antecipação da glorificação também de cada cristão que O segue fielmente. Significa que o cristão deve viver com os pés na terra, mas com o coração no céu, a nossa pátria definitiva e verdadeira, como São Paulo lembrou aos filipenses : ‘nós somos cidadãos do Céu’ (Fl 3, 30).

Em vista da Ascensão de Jesus ao Céu, São Paulo nos exorta : ‘Se, portanto, ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Afeiçoai-vos às coisas lá de cima, e não às da terra. Porque estais mortos e a vossa vida está escondida com Cristo, em Deus… Mortificai, pois, os vossos membros no que têm de terreno : a devassidão, a impureza, as paixões, os maus desejos, a cobiça, que é uma idolatria’ (Col 3, 1-3). O cristão vive neste mundo sem ser do mundo, caminha entre as coisas que passam abraçando somente as que não passam.

A Ascensão não indica a ausência de Jesus, mas nos diz que Ele está vivo em meio a nós de modo novo; não está mais em um lugar preciso no mundo como o era antes da Ascensão; agora está no senhorio de Deus, presente em cada espaço e tempo, próximo a cada um de nós. Na nossa vida nunca estamos sozinhos : temos este advogado que nos espera, que nos defende. Nunca estamos sozinhos : o Senhor crucificado e ressuscitado nos guia; conosco há tantos irmãos e irmãs que no silêncio e na ocultação, em sua vida de família e de trabalho, em seus problemas e dificuldades, em suas alegrias e esperanças vivem cotidianamente a fé e levam, junto a nós, ao mundo, o senhorio do amor de Deus, em Cristo Jesus ressuscitado. Por isso, devemos dar graças a Deus!’

           
Fonte :

sexta-feira, 22 de março de 2013

O Credo e a Eucaristia

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 

Alguns leitores do periódico Zenit questionaram por que a Eucaristia não é citada no Credo e a resposta foi dada pelo *padre Edward McNamara :  

As razões são principalmente de natureza histórica, mas dizem respeito também à própria finalidade da liturgia.

Do ponto de vista histórico, o Credo como o conhecemos, foi desenhado primeiro nos Concílios de Nicéia (325) e de Constantinopla (381), embora em sua forma elaborada aparece pela primeira vez nos atos do Concílio de Calcedônia (451). 

Este Credo estava provavelmente baseado numa profissão de fé batismal e continha todos os elementos essenciais da fé da Igreja. 

Ele era principalmente uma resposta a Ário e às outras heresias, e defendia a doutrina da Trindade e da verdadeira e plena divindade e humanidade de Cristo. Nunca foi concebido como uma exposição exaustiva de cada aspecto da fé.

Uma vez que era necessário defender os fundamentos da fé, questões como a natureza da Eucaristia simplesmente não apareceram no horizonte teológico até vários séculos depois.

Além disso, durante este primeiro período, a plenitude da doutrina eucarística era muitas vezes explicada só depois do batismo, ou seja, só depois de que o novo cristão tinha recitado em público o Credo.

A prática de recitar o Credo na Missa é atribuída à Timóteo, Patriarca de Constantinopla (511-517), uma iniciativa que foi copiada por outras Igrejas sob influência bizantina, incluindo a parte da Espanha, que estava então sob o domínio de Bizâncio.

Por volta do ano 568, o imperador bizantino Justiniano ordenou que o Credo fosse recitado em cada Missa celebrada nos seus domínios. Vinte anos depois, em 589, o rei visigodo da Espanha, Recaredo, renunciou à heresia ariana em favor do catolicismo e, por sua vez ordenou que o Credo fosse proclamado em cada Missa.

Cerca de dois séculos mais tarde, reencontramos a prática de recitar o Credo na França e de lá o costume foi se espalhando lentamente em outras partes do Norte da Europa. Por fim, quando no ano de 1114 Henrique II veio à Roma para ser coroado imperador do Sacro Império Romano, ficou surpreso de que lá o Credo não fosse recitado. Responderam-lhe dizendo que Roma nunca tinha cometido um erro em matéria de doutrina, e que por isso não era necessário para os romanos proclamar o Credo durante a Missa. No entanto, foi incluído na liturgia em honra do imperador e, desde então, embora não em todas as missas, mas apenas aos domingos e em algumas festividades.

Os cristãos do Oriente e do Ocidente usam o mesmo Credo, com excessão da expressão Filioque (e o Filho), que a versão latina adiciona como uma referência da processão do Espírito Santo, uma adição que deu origem a intermináveis e complicadíssimas discussões teológicas.

Apesar desta diferença, há um consenso entre todos os cristãos de que o Credo deveria permanecer assim como está e que nem o Credo, nem muito menos a mesma Missa, seja um lugar apto para dar expressão técnica a cada princípio da fé.

Em outro nível, no entanto, toda a Missa em si é uma profissão de fé. É a fé viva celebrada e anunciada num grande e sublime ato de culto que é transformada numa fé que permeia cada aspecto da atividade diária.

Mesmo se não é explicitamente mencionada a presença real no Credo, os católicos proclamam a sua fé eucarística com quase cada palavra e gesto da Missa e, de modo particular, com o seu Amém no final da oração eucarística e quando recebem a Comunhão.
 


Fonte :
* Padre Edward McNamara, L.C. (Legionário de Cristo), professor de Liturgia e Deão de Teologia na universidade Ateneo Pontifício Regina Apostolorum, de Roma.