Por Eliana Maria
(Ir. Gabriela, Obl. OSB)
eremita
na Diocese de Amparo, BA
‘Iniciamos este artigo
com uma afirmação do Pe. Dr. Jesús Hortal, SJ, ao comentar o cânon 603 do Código
de Direito Canônico a regular a consagração puramente eremítica na
Igreja. Diz o sábio canonista : ‘A vida eremítica foi o primeiro tipo de vida
consagrada masculina, muito florescente a partir do último terço do século III’.
Entre os eremitas
eram mais ou menos comuns cinco pontos : o silêncio, a oração, o trabalho
manual (faziam cestas, esteiras, cordames etc.), a hospitalidade para com algum
peregrino ou candidato à vida eremítica e a consulta dos mais jovens a monges
experientes nos caminhos do deserto a fim de saberem se estavam trilhando bem a
via da ascese. Esses monges mais velhos eram chamados de Abba (=
Pai), pois sempre tinham algo a ensinar aos seus filhos espirituais, pela
palavra e pelo exemplo da própria vida penitente que levavam.
No entanto, o modo de
ser eremita variava muito a ponto de cada um escolher uma forma de vida que
mais lhe parecia agradar a Deus e servir de penitência pelos próprios pecados e
pelos males do mundo. Assim, se sobressaíram os estilitas, os reclusos, os
pascolantes ou herbívoros, os sarabaítas, os dendritas e os adamitas.
Os estilitas seguiam
o exemplo de São Simeão, o Estilita, cognome dado pelo modo como vivia. Habitou
por 30 anos no topo de uma coluna de 40 cúbitos de altura. De lá, exercia a
direção espiritual de homens e mulheres recém-chegados ao deserto e socorria os
necessitados como podia. Despertou, com isso, muitos seguidores. Junto a esses
existiam os reclusos, religiosos que ficavam por muitos e muitos
anos, outros até a morte, fechados voluntariamente numa cela estreita por eles
mesmos construída. Foram deveras estimados pelas pessoas que com eles
contatavam e suscitavam discípulos desejosos de uma vida mais santa entregue só
a Deus.
Ficaram também
conhecidos, nesse período, os pascolantes ou herbívoros,
pois, a partir de seus eremitérios, saíam pelos campos a fim de colher ervas
para se alimentarem só delas. Havia ainda os giróvagos que,
como o nome diz, perambulavam de mosteiro em mosteiro, ficando neles como
hóspedes por três ou quatro dias participando da comunidade em que faziam suas
estadias, e os sarabaítas a viverem em grupos de dois ou três
em celas distintas, mas sem superior nem Regra. São Bento, na sua Regra,
capítulo 1,6-12, condena esses dois últimos tipos de monges. Além desses
existiam, embora em menor número, os dendritas, que moravam em
árvores, e os adamitas, assim chamados por usarem a roupa até que
ela se acabasse. Imitavam Adão, antes do pecado original (cf. Gn 2,25) (cf. Dom
E. Bettencourt, OSB. História da Igreja. Rio de Janeiro: Mater
Ecclesiae, 2012, p. 126, J. Comby. Para ler a história da Igreja I: das
origens ao século XV. São Paulo: Loyola, 1993, p. 85).
Como se vê, esse tipo
de vida – em si muito belo, louvável e santo – poderia levar alguns deles, mais
dados à fantasia do que à razão, a caírem em deslizes, inclusive doutrinários;
por isso, São Basílio, Bispo de Cesareia (330-379), reagiu contra os desvios na
forma de se praticar o eremitismo. Ele aconselhava os monges a viverem em
comunidade; encorajava-os a empreenderem um trabalho intelectual e a favor dos
pobres. O ideal do cenobita é a primitiva comunidade de Jerusalém (cf. At
2,42-47), na qual devem conviver em obediência a um superior. Este não faz mais
do que interpretar e aplicar à vida diária a regra suprema que é o Evangelho.
Notamos aqui que o
eremitismo, fortíssimo nos séculos IV e V, especialmente no Egito, na Síria e
na Palestina, começou a perder, por razões práticas, terreno para a vida
cenobítica, ou em comunidade, mas nunca deixou de existir na Igreja e se acha,
como dito, regulamentada no Código de Direito Canônico de
1983, cânon 603. ‘Aí não se leva, como se vê na Regra de São Bento 2,3-5
a recomendar que se viva vida cenobítica antes de se tornar eremita’, como
muito bem notou Dom Orani Tempesta, O. Cist. (O Papa e a intercessão pela
evangelização, 02/05/2023, on-line). Basta, portanto, a decisão do bispo
diocesano de acolher, em sua diocese, segundo critérios próprios, um(a)
eremita.’
Fonte : *Artigo na íntegra
https://pt.aleteia.org/2023/10/01/as-variedades-no-monaquismo-eremitico/
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