Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
eremita na Diocese de Amparo, BA
‘A Revelação pública
oficial da Igreja terminou com o fim da geração dos Apóstolos. Depois, ocorrem
apenas as chamadas ‘revelações particulares’ ou ‘privadas’ que não merecem
fé divina, mas apenas humana. Detalhemos isso.
O
Concílio Vaticano I assim declara : ‘Deve-se, pois, crer com fé divina e
católica tudo o que está contido na Palavra divina escrita ou transmitida pela
Tradição, bem como tudo o que a Igreja, quer em declaração solene, quer pelo
Magistério ordinário e universal, nos propõe a crer como revelado por Deus’ (Constituição
Dogmática Sobre A Fé Católica, s. III, 24-4-1870, c. 1792).
Vê-se
aí que o Magistério da Igreja é exercido de dois modos : o ordinário (=
ensinamento cotidiano dos Bispos espalhados pelo mundo unidos ao Bispo de Roma,
o Papa) e o extraordinário (= exercido bem mais raramente
pelos Concílios Ecumênicos ou Gerais sob a supervisão do Papa ou pelo próprio
Santo Padre quando, na função de confirmar seus irmãos na fé (cf. Lc 22,31s),
proclama um dogma ou uma definição ex cathedra (definitiva) em
temas de fé e moral). Já os demais pronunciamentos do Romano Pontífice merecem
religiosa submissão da vontade e da inteligência (cf. Concílio
Vaticano II. Lumen Gentium, 25).
Aqui,
perguntamos : e como ficam as revelações particulares? – ‘Elas não pertencem ao
depósito da fé’ (Catecismo da Igreja Católica n. 67); por isso, o
fiel é livre para nelas crer ou não. Afinal, ‘a Igreja não pode impor à crença
dos fiéis nem o presumido fato de uma aparição, nem o teor da respectiva
mensagem’ (Dom Estêvão Bettencourt, OSB. Teologia fundamental. Rio
de Janeiro: Mater Ecclesiae, 2013, p. 145). Mais : se o fiel quiser crer, será
apenas com fé humana, não divina. Sim, assegura o
renomado teólogo dominicano Antonio Royo Marín que ‘estão excluídas como objeto
material da fé divina e católica as revelações privadas que
algumas pessoas em particular podem receber (por exemplo, Santa Teresa), de
forma que somente elas estão obrigadas a crer com fé divina, caso tenham, em
virtude da luz profética [a iluminar apenas o receptor da mensagem – Nota
nossa], certeza da origem divina das mesmas’ (A fé da Igreja: em que deve
crer o cristão de hoje. 2ª ed. Campinas: Ecclesiae, 2018, p. 62). Por parte
dos demais fiéis, a expressão fé só humana é o assentimento
que se dá à revelação feita por uma pessoa digna de crédito (eu acredito porque
foi X que falou, se fosse Y não acreditaria). Distingue-se da fé divina que
está no plano sobrenatural. É um dom de Deus, e merece assentimento, pois é Ele
mesmo quem nos fala por meio de sua Palavra transmitida, interpretada e
chancelada pela Igreja (cf. idem, p. 45-60).
Daí
ser oportuno lembrar que, quando não se opõe à fé católica, mas está em
conformidade com ela, a Igreja – sem se comprometer diretamente com as
narrativas dos videntes – permite que o conteúdo edificante das visões seja
divulgado. Lê-se na Encíclica Pascendi Domini Gregis, VI, ‘Essas
aparições ou revelações não foram aprovadas nem condenadas pela Santa Sé, foram
apenas aceitas como merecedores de piedosa crença, com fé puramente humana, em
vista da tradição de que gozam, também confirmadas por testemunhas e documentos
idôneos’.
A
título de conclusão, devemos deixar claro – por meio de dois estudiosos
jesuítas – que, embora não se imponham à fé católica, muitas visões ocorridas
ao longo da história, ‘podem ser indícios da piedade dos videntes, e podem ser
muito úteis na edificação e na firmeza da fé do povo, podem ser providenciais,
podem até ser e virem acompanhadas de milagres de Deus’ (Pe. Oscar G. Quevedo,
SJ. Palavra de Iahweh. 2ª ed. São Paulo: Loyola, 2003, p. 125).
Mais : ‘Seria fruto de uma inteligência fechada para a verdade não colher as
jóias destas minas de valores humanos’ (Pe. Afonso Rodrigues, SJ. Psicologia
da Graça. 2ª ed. São Paulo: Loyola, 1995, p. 115). Embora jamais possam se
impor à fé católica, não devem ser, sem mais, rejeitadas como se nelas nada de
útil se pudesse transmitir, de modo privado, ao Povo de Deus.
Portanto,
examinemos tudo e fiquemos com o que é bom (cf. 1Ts 5,21).’
Fonte : *Artigo na íntegra
https://pt.aleteia.org/2020/08/09/a-igreja-ante-as-revelacoes-particulares/
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