Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
teólogo protestante
‘Moltmann
é, sem dúvida, um dos maiores teólogos protestantes do século 20. Dentre seus
inúmeros trabalhos, Teologia da Esperança, lançado na década de
60, traz um grande estudo sobre escatologia.
Tal
esperança, por sua vez, segundo o pensamento moltmanniano tem íntima relação
com a promessa que é feita por Deus a seu povo. O próprio evangelho da
revelação deve considerar a dimensão da promessa, uma vez que, segundo
Moltmann, o evangelho da revelação de Deus em Cristo estará, portanto,
ameaçado de mutilação e ruína, se nele não se considerar a dimensão da
promessa. Da mesma forma, corrompe-se a cristologia, se nela não se vê o ‘futuro
de Cristo’ como um elemento constitutivo (MOLTMANN, 2005, p. 182).
Nesse
sentido, Moltmann vê problemas nas propostas das cristologias antigas, seja a
de perspectivas descentes, seja na de perspectiva ascendente (da existência
humana na história). Com relação às de perspectivas descendentes, o problema
está em identificar o Pai de Jesus Cristo com o Deus da metafísica grega. Com
relação, às perspectivas ascendentes, o problema se encontra em desconsiderar
que a autocompreensão da existência humana na história foi revelada por meio de
Jesus Cristo (cf. MOLTMANN, 1971, p. 158-159).
O
problema que Moltmann vê nessas cristologias é que esses dois modos partem do
universal e encontram o universal no concreto o que, segundo ele, não
corroboram o Antigo Testamento em seu caminho. Para Moltmann, é importante
lembrar que o sentido de Jesus para todos os seres humanos tem o Antigo
Testamento como pressuposto necessário o que implica assumir que foi Javé quem
ressuscitou Jesus dos mortos e, assim, o Deus que se revela em Jesus resulta de
forma única da diferença e identidade com o Deus do Antigo Testamento, bem como
o fato de que Jesus era judeu, o que implica que o ser humano que Jesus foi
resulta do seu confronto com a lei e a promessa do Antigo Testamento. Dessa
forma, a proposta de Moltmann é que partamos do histórico para o universal e não
o contrário.
As
propriedades de Deus devem ser pensadas por meio da memória e da narração da
história de sua promessa o que implica que o caminho vá do concreto para o
concreto universal. Não é o universal que se torna concreto em Jesus, mas o
evento Jesus, sua morte, crucifixão e ressurreição por parte de Javé, que é o
Deus da promessa, torna-se universal por meio do horizonte universal e
escatológico que cria.
Para
nosso teólogo, a ressurreição como símbolo escatológico significa que no Cristo
crucificado já começou o futuro da ressurreição e da vida eterna, da destruição
da morte e da nova criação.
A
ressuscitação de Jesus é escatológica, pois ele foi ressuscitado para sua vida
escatológica. Se isso acontece, a ressuscitação não pode ser evento da sua
vida. A morte é histórica e a ressuscitação precisa ser escatológica. O momento
escatológico da ressuscitação deve ser entendido como momento eterno de Deus.
Se olharmos assim, a ressuscitação é sincrônica e diacrônica com todo o Jesus
em todos os momentos da sua vida e pregação.
Assim,
segundo Moltmann, é à luz da ressurreição que sua história é interpretada e
representada retroativamente, mas ele é revelado para dentro dessa história a
partir de seu futuro presente³.’
Notas :
¹Este texto é parte do artigo publicado em 2019, na revista
Cultura Teológica. Para ler o artigo completo, clique em https://revistas.pucsp.br/culturateo/article/view/41686.
³Cf. MOLTMANN, Jürgen. O caminho de Jesus Cristo: Cristologia
em dimensões messiânicas, p. 128-129.
Fonte : *Artigo na íntegra
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