Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo do Padre Julio De La Vega Hazas
Em nossos momentos
de diálogo com Deus, nós agradecemos, louvamos, mas também abrimos nosso
coração ao Senhor, apresentando-lhe nossos pedidos. Mas por que temos essa
sensação de que nem sempre Ele nos escuta e nos atende?
‘Deus
sempre escuta as nossas orações, mas nem sempre faz o que lhe pedimos. O que
Deus permite é sempre para o nosso bem, ainda que às vezes seja difícil
compreender isso.
De
fato, essa é uma das grandes perguntas que surgem sobre a fé. A ela respondeu
Santo Agostinho, um dos grandes pilares do pensamento cristão.
Comentando
a 1ª Carta de São João, Santo Agostinho se encontra com a frase ‘tudo o que
lhe pedirmos, receberemos dele porque guardamos os seus mandamentos e fazemos o
que é agradável a seus olhos’ (1 Jo 3, 22). No entanto, ele menciona São
Paulo, quando este pede a Deus que o livre desse ‘espinho na carne, um anjo
de Satanás para me esbofetear’, mas explicitamente isso não lhe é concedido
(cf. 2 Cor 12, 7-9).
Aqui
se apresentam juntas pergunta e resposta : ‘Mas por quê? Porque isso não lhe
convinha. Por isso, foi escutado quanto à salvação aquele que não foi escutado
em sua vontade. (…) Discernamos as atenções de Deus. Encontramos aqueles que
não são escutados em sua vontade, mas o são em sua salvação, e também aqueles
que são escutados em sua vontade e não quanto à sua salvação’. O exemplo
que ele dá é muito significativo : o livro de Jó. Aqui, o que se lê em um
princípio é que quem é atendido em seus pedidos não é Jó, o homem bom, mas o
diabo, o mau por excelência.
O sofrimento do justo
Isso
entra no campo de uma questão ainda mais geral : a do sofrimento do justo. No
Antigo Testamento, valoriza-se a progressividade da Revelação. No começo, a
recompensa pela obediência a Deus é temporal : a terra prometida, que ‘emana
leite e mel’, e a consequente paz e prosperidade. O livro de Jó apresenta o
sofrimento do justo neste contexto.
Não
há dúvida de que Jó é bom, mas sofre muito. Por quê? A única resposta que se dá
é de que os desígnios de Deus são inescrutáveis : Ele sabe mais do que nós. Certamente,
é verdade e, em crenças como o Islã, esta é a resposta previsível. Mas, na
história da salvação, isso não fica assim. Em um dos últimos relatos do Antigo
Testamento, o martírio dos 7 irmãos macabeus junto à sua mãe (2 Mac 7),
continua-se falando do castigo pelos pecados, mas a perspectiva já é a
eternidade.
O
último irmão a morrer diz a Antíoco : ‘Quanto a nós, é por causa de nossos
pecados que sofremos e se, para nos punir e corrigir, o Deus vivo e Senhor
nosso se irou por pouco tempo contra nós, ele há de se reconciliar de novo com
seus servos’. Sua mãe havia lhe pedido : ‘Sê digno de teus irmãos e
aceita a morte, para que no dia da misericórdia eu te encontre no meio deles’.
Jesus Cristo : a
reposta
A
resposta definitiva chega com o Novo Testamento e tem nome próprio : Jesus
Cristo.
Jesus
Cristo é o Justo por excelência, que nos deixa o grande exemplo das orações
aparentemente não escutadas, quando pede, no Horto das Oliveiras, que Deus
afaste dele aquele cálice (cf. Lc 22, 42) – que era nada menos que a cruz. A
cruz, que parece humanamente como um fracasso, é instrumento para a redenção e
para a glorificação de Cristo – e a nossa.
O
cristão é filho e, como tal, acompanha o Filho na cruz, para acompanhá-lo
também como triunfador na glória. Este é o nosso bem definitivo, ainda que
neste mundo ele seja, às vezes, nosso doloroso bem.
Em
muitas ocasiões, quando entramos em uma igreja e ouvimos o cântico cuja letra
(tirada de São Paulo) diz ‘se com Ele morremos, com Ele reinaremos’,
possivelmente não captamos, na hora, seu significado profundo. Mas estas
palavras indicam o sentido da nossa existência, sua finalidade, e aquilo com
relação ao qual Deus sempre nos escuta.
Agora,
a oração de Jesus serviu e serve para que possamos seguir o caminho que Ele
seguiu e chegar ao mesmo final.’
Fonte : *Artigo na íntegra https://pt.aleteia.org/2020/11/10/por-que-as-vezes-parece-que-deus-nao-escuta-as-nossas-oracoes/
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