Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo do Padre Denis Marie Chesquières
‘No
final da sua viagem espiritual, Santa Teresa de Jesus escreveu o livro das Moradas,
no qual compara a nossa alma – o lar de Deus – com um castelo. As primeiras
moradas correspondem à entrada na vida espiritual e são o fundamento de todas
as posteriores.
Santa
Teresa de Jesus, também conhecida como Santa Teresa de Ávila, apoia-se principalmente
em quatro citações bíblicas :
‘Na
casa do meu Pai há muitas moradas’ (João 14,2) – esta passagem, segundo a
santa, evoca o ‘castelo interior’.
‘Quem
me ama guardará a minha palavra; meu Pai o amará e viremos a ele e nele faremos
a nossa morada’ (João 14,23) – um resumo do itinerário espiritual que ela
explica.
‘Minhas
delícias estão nos filhos dos homens’ (Provérbios 8,31) – mostra que nós
somos o paraíso de Deus.
‘Façamos
o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança’ (Gênesis 1,26) – a mostra
de que fomos criados para amar como Deus ama, porque Deus é amor. A vontade de
Deus é que nós nos amemos como Ele nos ama.
A primeira morada é o
portal de entrada na vida espiritual
Nós
o cruzamos mediante a decisão de buscar a Deus em nós, apoiando-nos n’Ele, já
que a pior das misérias, para Santa Teresa de Jesus, é viver sem Deus e até
imaginar que podemos fazer o bem sem Deus.
Os
quatro frutos da primeira morada, que amadurecerão ao longo do nosso caminho
espiritual, são a liberdade, a humildade, o desprendimento e, acima de tudo, a
caridade, que é o fim e a culminação.
A
segunda, terceira e quarta moradas permitirão aprofundar na vida espiritual
entendida como caminho rumo a Deus, como busca de Deus e participação
progressiva na vida divina.
Este
dom é gratuito, mas temos que estar determinados a recebê-lo e fazer desse
recebimento o centro da nossa vida, purificando, assim, o lugar de nós onde
habita Deus.
É
Deus quem nos faz passar de uma morada à outra, quando quer e da forma que
quer.
A segunda morada diz
respeito à purificação da nossa relação com o mundo
A
arma utilizada para triunfar aqui é a fé em Cristo e a confiança na Sua vinda
para nos libertar (cf. Gálatas 5,1).
A terceira morada está
ligada ao esclarecimento da relação com nós mesmos
Corremos
o risco de ser como aquele jovem rico que teve um bom começo, mas que termina
todo triste.
O
desafio desta terceira morada é reconhecer-nos como um ‘servo qualquer’,
que recebe tudo de Deus.
A quarta morada
aprofunda a nossa relação com Deus
Uma
grande paz vai se instaurando progressivamente nas profundidades da nossa alma.
A confiança, a humildade e a gratidão são realidades que vão sendo vividas cada
vez mais profundamente.
A entrada na quinta
morada marca uma transição
Não
passamos da quarta à quinta da mesma forma que tínhamos passado da segunda à
terceira ou da terceira à quarta.
Consideramos
a nossa vida não tanto como um caminho rumo a Deus, mas experimentamos Deus
vivendo em nós, como explica a frase de São Paulo : ‘Já não sou eu quem
vive, é Cristo que vive em mim!’ (Gálatas 2,20).
O
desejo de amar é mais intenso; ao receber uma vida nova, perdemos os nossos
antigos pontos de referência e as nossas seguranças habituais.
A sexta morada
consiste nos ‘compromissos espirituais’
Há
uma alternância de sofrimentos ligados ao sentimento de ausência de Deus e a
experiências muito profundas da presença de Cristo. Aqui intervém uma dilatação
ainda mais profunda do coração e do desejo de Deus.
A
arma utilizada aqui é sempre a volta à santa humanidade de Cristo : Jesus se
une a nós em nossa debilidade humana para transformá-la, para revitalizar o
nosso desejo de amar em comunhão com Ele.
A sétima morada,
enfim, é o ponto de culminação definido pela união com Deus no ‘matrimônio
espiritual’
Este
matrimônio espiritual foi concedido a Santa Teresa de Jesus em 18 de novembro de
1572.
A
união com Deus é uma participação profunda no desejo de Deus de salvar todas as
pessoas.
Através
do matrimônio espiritual, tudo fica transformado e se recebe um renovado desejo
de viver assumindo a própria condição e os próprios compromissos terrenos de
maneira ainda mais concreta e sem fugir da realidade.’
Fonte : *Artigo na íntegra https://pt.aleteia.org/2020/11/06/moradas-da-alma-as-etapas-da-vida-mistica-segundo-santa-teresa-de-avila/
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