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sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Novas regras de Francisco refletem luta contra abuso de poder

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)        

 
*Artigo de Mirticeli Dias de Medeiros,

jornalista e mestre em História da Igreja, uma das poucas brasileiras

credenciadas como vaticanista junto à Sala de Imprensa da Santa Sé


‘Enclausurado no Vaticano, por causa da segunda onda de Covid-19 na Itália, papa Francisco aproveitou o confinamento para colocar a máquina vaticana nos trilhos. Em uma semana, mexeu numa das leis da Igreja e até na Secretaria de Estado.

Na quarta-feira (3), através do documento Authenticum charismatis, exigiu que os bispos, a partir de agora, não aprovem nenhum instituto religioso (de freiras e frades) sem que a Santa Sé dê seu nulla osta. Antes da mudança, um prelado tinha certa autonomia para reconhecer tais comunidades, como previa o artigo 579 do Código de Direito Canônico : ‘Os bispos diocesanos, cada qual no seu território, podem erigir, por decreto formal, institutos de vida consagrada, contanto que tenha sido consultada a Sé Apostólica’.

Na prática, por se tratar de um assunto local, bastava que o bispo comunicasse sua decisão a Roma. Agora, além de ‘consultar’, como especificava a medida antiga, o processo não pode ser levado adiante sem que o papa autorize primeiro. De acordo com o novo artigo, o pontífice deve ‘dar uma licença prévia’ para que, aí sim, o bispo possa seguir com a autorização.

Francisco vai contra o que defende?

Alguns consideraram a medida centralizadora e incoerente, tendo em vista que o santo padre tem promovido bastante o protagonismo dos bispos. No entanto, lendo o documento e conhecendo as motivações para publicá-lo, é compreensível essa intervenção do papa. Nada que esteja fora do seu plano de reforma.

O surgimento de ‘guetos religiosos’ tem preocupado muito o Vaticano. Por conta disso, Francisco faz questão de reiterar no texto que um carisma de uma associação ‘não é uma realidade isolada ou marginal, mas pertence à Igreja’.

Com isso, ele quer conter essa onda de ‘autorreferencialidade espiritual’ que se manifesta em algumas dessas congregações nos últimos anos. E tem se preocupado com o ‘culto excessivo’ à figura dos fundadores desses institutos, os quais, muitas vezes, não promovem a comunhão com a própria Igreja, como no caso de alguns grupos tradicionalistas que vemos por aí.

Lembrando que, no atual pontificado, não foram poucos os institutos que tiveram que ser fechados pelo Vaticano por causa desse tipo de postura. E não só : o papa também quer impedir a ascensão de líderes religiosos autoritários; ‘estilos de espiritualidade’ que segregam e rompem com a tradição milenar da Igreja; garantir que essas comunidades tenham uma formação teológica robusta e que sejam transparentes na captação e distribuição de recursos, já que muitas vivem de doações.

Caso 2 

No que se refere à Secretaria de Estado, onde atua o ‘premiê’ da Santa Sé, uma medida ainda mais drástica foi tomada por Francisco nesta quinta-feira (4). Ele não permitirá mais que o organismo administre alguns fundos da instituição. Em carta, ele explicou que, com isso, pretende ‘organizar melhor as atividades econômicas e financeiras (do Vaticano), bem como promover uma gestão que seja mais transparente e mais evangélica’.

Um desses fundos era o Óbulo de São Pedro, um sistema de captação de recursos, mantida por fiéis do mundo todo, para sustentar as obras de caridade do papa. O montante fica à disposição do pontífice caso ele precise fazer uma doação em seu nome. Porém, é administrado por seus colaboradores, que também atuam na distribuição desse dinheiro quando acontecem catástrofes naturais, crises humanitárias e etc. No meio desta pandemia, foi desse montante que o Vaticano tirou dinheiro para comprar as centenas de respiradores que foram enviados aos países mais pobres, por exemplo.

Após escândalo envolvendo justamente esse fundo, que culminou na demissão do cardeal Angelo Becciu, em outubro, o papa resolveu submeter esse e outros fundos à Administração do Patrimônio da Sé Apostólica (Apsa). O escritório é ligado à Secretaria de Economia, que foi criada por Francisco, em 2014, para fiscalizar melhor as finanças vaticanas. Suspeito de peculato, Becciu teria desviado parte do dinheiro ‘do cofre da caridade do papa’ a uma associação administrada pelo próprio irmão na Sardenha, na Itália. Na época, o purpurado era ‘substituto da Secretaria de Estado’, uma espécie de ‘chefe de gabinete’ do papa.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1481414/2020/11/novas-regras-de-francisco-refletem-luta-contra-abuso-de-poder/

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