Por Eliana
Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
teóloga
‘Não
é raro o espanto de muitas pessoas quando se deparam com alguém que tenha
estudado a teologia na escola. E esse espanto sempre vem acompanhado de um
silêncio e de uma pergunta sobre o objeto que é tomado como estudo por essa
ciência.
A
resposta, obviamente, desconcerta e parece não esclarecer nada. Porque se trata
de investigar Deus, que está, para a fé e nossas compreensões, para além de
toda investigação e de reducionismos. Por isso mesmo, a teóloga e o teólogo são
vistos como estranhos, por se ocuparem de uma tarefa que, em si mesma, parece,
logicamente, impossível.
Nós
compreendemos a teologia como um discurso sobre Deus e sobre as coisas a Ele
relacionadas. Por isso, elegendo um olhar sapiencial, conforme ensinado pela
tradição bíblica, podemos dizer que o ser humano, o mundo, as sociedades, os
indivíduos e suas vidas também recebem atenção especial da teologia.
Mas,
como discurso sobre Deus, a teologia não deve ser mais que uma resposta ao que
Deus falou e continua falando de si mesmo na vida de homens e mulheres, na vida
do mundo. Por essa razão, é falsa, e deve ser combatida, a ideia de que a
teologia tem a última palavra no colóquio. Nesse sentido, qualquer teologia que
tenha a pretensão de encerrar a discussão sobre um assunto deve ser tomada como
suspeita.
No
fundo, deveríamos compreender todo discurso teológico como uma penúltima
palavra a ser pronunciada com relação aos assuntos e situações vividos.
Partindo dessa máxima, a teologia gozaria de maior respeito diante de outros
saberes. Afinal de contas, ela não pretende fechar, mas abrir as perspectivas
de legibilidade da vida, à luz da fé e das elaborações discursivas que desse
lugar são possíveis de se fazer.
Nessa
esteira, também é importante considerar que a teologia não pretende operar nenhuma
transformação em Deus, no mundo, no ser humano, etc.. Por isso, a teóloga ou o
teólogo quando escrevem, por exemplo, cumprem apenas a inútil função de fazer o
que deve ser feito (Cf. Lc 17,10) : ouvir, responder-anunciar. Mas a teologia
aí realizada não deve se eximir da desconstrução de outras linguagens e
discursos que pretendem silenciar Deus e nos impedir de tomar a sério os
acontecimentos que experienciamos em nossas vidas.
O
momento em que vivemos carece de discursos que deem conta da nossa fé e da
nossa vida. Carece também de teologia. Porque nossas palavras estão viciadas.
Nossos discursos estão viciados, justamente porque pretendem colocar um ponto
final sobre nossos problemas e as situações que vivemos, porque pretendem
explicar Deus, sem ouvir o que Deus fala de si no imediato da vida de cada
indivíduo e grupo que, nesse momento, são confrontados em diferentes dimensões
do vivido.
Por
essa razão, uma teologia sem vícios é uma palavra possível para esse momento.
Trata-se de uma palavra que não irá dizer nada de maneira absoluta,
totalizadora, porque sabe que ela mesma não dá conta de narrar sozinha o drama
da existência, quando essa está amplamente confrontada com a brutalidade e a
violência do nada, da morte, com o qual nos acostumamos, por medo ou covardia
de mergulhar a fundo na busca de um sentido para os nossos dias tristes.’
Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1463613/2020/08/teologia-sem-vicios/
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