*Artigo
de Patrícia Prado,
doutora em Relações Internacionais
Mas,
falar sobre o Islã a partir da paz parece-nos estranho, especialmente quando
pensamos nos meios de comunicação e seus distintos programas como novelas,
filmes, noticiários, etc. Nesses, que seriam canais de propagação e, por que
não pensar, de transmissão de conhecimento temos muitas vezes a imagem da
religião e de seus seguidores categorizadas e estereotipadas em imagens que
caminham desde a ideia de que todos os árabes são muçulmanos até a de que a
religião apoia o terror. Assim, através da mídia e do conhecimento forjado no
senso comum, ao se pensar e falar sobre o Islã a ideia que geralmente se
vincula é de uma religião fundamentalista, violenta, opressora, logo, fechada
ao diálogo com o outro.
Apesar
da imagem que se propaga gerar tal pensamento, a história tem nos mostrado algo
bem diferente : um Islã aberto, envolvido e interessado pelas questões do
mundo, disposto a dialogar. Um exemplo recente confirma essa ideia : o encontro
entre o chefe de Estado e líder da maior Igreja cristã do mundo, papa
Francisco, e o príncipe herdeiro de Abu Dhabi, Mohammed bin Zayed al-Nahyan,
para a celebração dos 800 anos do encontro entre o sultão Al Malik e Francisco
de Assis. Um encontro que nos revela a abertura para o diálogo entre o Islã e
outras religiões e da disposição de seus seguidores.
Entretanto,
o diálogo não se dá apenas entre os grandes líderes : ele se dá no momento em
que judeus da cidade de Nova York em solidariedade aos muçulmanos que perderam
o espaço sagrado devido a um incêndio,
abrem as portas de sua sinagoga (em 23 de março) para que 500 deles
pudessem rezar; quando cristãos da cidade de Foz do Iguaçu juntamente com
muçulmanos se reúnem para juntos lembrarem Maria, a mãe de Jesus, a bem
aventurada entre as mulheres citadas no Alcorão. O diálogo se dá, também, nos
eventos silenciosos do cotidiano não noticiados pelos grandes meios de
comunicação, mas que ocorrem diariamente em uma busca sincera e verdadeira da
vivência dos pressupostos da fé que direcionam para uma vida de entrega e
submissão a Deus.
Sim,
o Islã é uma religião de encontro, de diálogo, de partilha, que pode ser
compreendido a partir da ideia que os organiza : a de comunidade (ummah). Uma
comunidade que entende que são unidos na diversidade, pois ‘no Islã as pessoas são iguais, todos são de
Adão e Eva (...)’ (Dito do Profeta Mohammad). Uma comunidade que busca, na
observância da fé através de seus pilares, estar mais próximo da vontade de seu
criador. Nesse esforço (jihad) que deve ser diário, o muçulmano vai se tornando
aquilo para o qual foi criado : um entregue a Deus; e nessa entrega o respeito
e cuidado pela criatura e pela criação se torna parte de sua missão, como bem
ensinou o seu Profeta : ‘Um muçulmano que
planta uma árvore ou semeia um campo, a partir do qual homens, aves e animais
podem comer, está praticando um ato de caridade.’
É
esse Islã do qual pouco se ouve falar que devemos compartilhar : o Islã da
busca sincera pelo cumprimento da vontade de Deus, da partilha com o
necessitado, seja ele um muçulmano ou não muçulmano, afinal para os seguidores
do Islã ‘somos irmãos ou na fé ou na
criação’; o Islã aberto ao diálogo, que luta contra a opressão pois entende
que a paz só será possível quando houver justiça; o Islã da paz e que é paz.
Sim, é sobre esse Islã que devemos e queremos ouvir falar.’
Fonte
:
Nenhum comentário:
Postar um comentário