*Artigo de Dom Walmor Oliveira de Azevedo,
Arcebispo
Metropolitano de Belo Horizonte, MG
As
derrocadas, cada vez mais frequentes, sofridas por toda a sociedade exigem
novas atitudes, sob pena de se aumentar o enorme precipício que se interpõe nos
caminhos da humanidade. Não se trata aqui de fazer terrorismo, mas alertar para
os prejuízos em decorrência da falta de comprometimento com a autenticidade e a
coerência. Não se pode permitir que esses princípios cedam lugar à inversão de
valores, a exemplo da idolatria do dinheiro, que faz crescer a indiferença
entre as pessoas e à Casa Comum. É urgente que todos reconheçam : buscar
somente o próprio bem-estar, de modo egoísta, submetendo tudo à lógica do
dinheiro, impede o êxito dos esforços para se alcançar a verdadeira paz. Uma
atitude, comum e patológica, que torna a vida um pesadelo, contribuindo, paradoxalmente,
para alimentar as mazelas que vão atingir, cedo ou tarde, os que se percebem
seguros no seu bem-estar, ancorados somente no que possuem.
A
necessária correção de rumos exige, assim, a superação do egoísmo e da
indiferença. Nesse sentido, um caminho seguro e aberto a todos é acolher a
convocação redentora deste tempo da Quaresma, que vem do coração do Mestre e
Salvador Jesus : convertei-vos e crede no Evangelho. Quem acolhe esse convite
com humildade consegue engajar-se verdadeiramente nas suas comunidades
familiar, religiosa, governamental e em tantas outras, de modo autêntico e
coerente, indo além do simples investimento no acúmulo de ganhos pessoais, das
ações fundamentadas nas futilidades e vaidades.
Mas
acolher o convite de Jesus é também um desafio, neste tempo de tantas
polarizações, comprovadamente perigosas. Quem age de modo coerente com o
Evangelho não pode enrijecer-se nos estreitamentos de mentalidades e de juízos
tendenciosos, distantes da verdade, da justiça e, consequentemente, do amor.
Por isso mesmo, o tempo da Quaresma pede a cada pessoa compromisso com a
humildade na vivência do jejum, da oração e da caridade – dedicação,
principalmente, aos que mais precisam de amparo. Caminho bem diferente do que é
trilhado por quem se contenta com o fracasso dos outros ou se dedica a propagar
mentiras para conquistar benesses e comodidades.
Lamentavelmente,
a mentira é também um mal que se expande velozmente no mundo contemporâneo,
contaminando os mais diversos tipos de relações. As pessoas parecem se
habituar, cada vez mais, com a mentira e, consequentemente, se distanciam da
verdade. Oportuno é lembrar o que diz Santo Agostinho, quando relata ter visto
muitas pessoas que enganam outras, mas jamais ter encontrado alguém que
gostasse de ser enganado. Se todos assumissem o propósito de nunca mentir por
não apreciar o prejuízo de ser enganado, a realidade mudaria para melhor e a
verdade seria reconhecida, de fato, como bem imprescindível. Há, pois, de se
tomar consciência sobre a negatividade ética das mais diversas formas da
mentira – a que é dita sobre os outros, a que se propaga para arquitetar a
corrupção, a que busca assegurar cargos nas instituições e também a que
alimenta ilusões sobre si mesmo.
Enfrentar
a mentira e as muitas crises que ameaçam a humanidade é uma urgência. A sincera
oração a Deus, inspirada pelas palavras de Santo Agostinho, contribui para a
superação desse desafio, qualificando a própria interioridade : ‘Fazei que eu Vos conheça, ó Conhecedor de
mim mesmo, sim, que Vos conheça como de Vós sou conhecido. Ó virtude da minha
alma, entrai nela, adaptai-a a Vós, para a terdes sem mancha e sem ruga’.
Todos tenham, assim, iluminados pela fé, oportunidade de investir mais na
autenticidade e na coerência, alicerces
imprescindíveis para a edificação da própria interioridade.’
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