Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de Dom Walmor Oliveira de Azevedo,
Arcebispo
Metropolitano de Belo Horizonte, MG
‘Os acontecimentos da vida, que é uma escola, são
lições. Por isso, é muito comum ouvir o dito popular ‘vivendo e aprendendo’. As lições são muitas e o desafio maior é
aprendê-las. Só as aprende quem se coloca no lugar de aprendiz. Há quem se
arvora em mestre dos outros e perde a capacidade para aprender, pois acredita
que já sabe de tudo. Aprende mais quem está disposto a escutar.
A incompetência para o aprendizado atinge seu patamar avassalador quando incide
no tecido cultural da sociedade, revelando um fenômeno : muitos se julgam na
condição de ensinar, e acreditam que não precisam mais aprender.
Consequentemente, há o travamento das dinâmicas que
promovem as evoluções na compreensão. Falta lucidez para a solução dos
problemas e a sociedade permanece ameaçada pelos extremismos. Nesse contexto,
convive-se ainda com desmandos e corrupção. Falta vergonha aos que se permitem
usufruir de privilégios, que alimentam exclusões e discriminações. Eis a névoa
que confunde as feições e paira sobre a sociedade brasileira, obscurecendo a
verdade e tornando a mentira a protagonista da história. Tudo vale para
defender interesses particulares, até mesmo ações inconsequentes.
Não deveria ser assim, pois a sociedade brasileira,
em seus mais de cinco séculos de história, já deveria ter assimilado muitas
lições. Mas a incapacidade para aprender pode explicar o desenvolvimento pífio
do país. Se as lições da história fossem aprendidas, a classe política
brasileira poderia, agora, ajudar o Brasil a sair do caos dos desencontros e
aproveitar melhor as oportunidades deste tempo, valendo-se das riquezas
ambientais e culturais da nação. Ao invés disso, vê-se um pavoroso ‘bate-cabeça’ entre os que ocupam os
lugares de lideranças sem serem líderes. A consequência é a disseminação de um
jeito de ser que contamina também os espaços políticos. A demagogia torna-se a
tônica principal, contracenando com a desconfiança e os ataques mútuos.
Os posicionamentos polarizados, quando se
transformam em hostilidades, ferem visceralmente o andamento da vida do povo,
enfraquecem as indispensáveis alianças, obscurecem os diálogos e instalam o
caos. Há uma completa perda do sentido de limite. A insistência nos equívocos e
as miopias que impedem enxergar as soluções agravam os problemas e multiplicam
os pesos sobre os ombros de todos. Assim, o cidadão se distancia das lições que
o possibilitariam ajudar na construção de um país melhor. Passa-se a enxergar
apenas a própria causa, a considerar como único e intocável o discurso que se
defende. O resultado é a gravíssima perda da sensibilidade para se abrir a uma
inadiável dinâmica de conversão, capaz de inspirar atitudes com força de
mudanças.
Sem os aprendizados necessários, contenta-se apenas
com o conforto institucional do lugar ocupado e seus privilégios – a
incapacidade para se colocar no lugar do outro, a quem se deveria servir e
ajudar. Para mudar essa postura, devem-se habilitar os olhos para enxergar além
dos próprios interesses e comodidades. Admitir que o exercício qualificado da
cidadania não pode conviver com os conchavos, os privilégios e a busca por
vantagens a partir da corrupção.
A sociedade brasileira clama precisada de um novo
ciclo de aprendizagens das muitas lições que estão inseridas em sua história.
As instituições e segmentos da sociedade carecem de gestos corajosos para
aprender, por meio do diálogo, a cuidar do bem comum a todo custo. A
transformação do país, para conseguir sair dos limites perigosos a que chegou,
exige de todos um gesto de conversão, bem concreto. É preciso modificar
funcionamentos para recuperar a credibilidade perdida, importante para o
urgente processo de mudança : um tempo novo para o aprendizado das lições,
Brasil!’
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