Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
Monsenhor Tomasz Trafny
*Artigo
da Rádio Renascença
‘‘Há quem
queira desenvolver o ser humano 2.0’. A frase é de Monsenhor Tomasz Trafny,
responsável pelo departamento de Ciência e Fé do Conselho Pontifício para a
Cultura.
Há alguns dias, Trafny deslocou-se do Vaticano até
à capital portuguesa para participar na 6.ª edição do RALI - Realidade
Aumentada em Lisboa, onde foi um dos oradores do debate sobre ‘O impacto da Realidade Aumentada na Cultura
e no Homem’.
Em entrevista à Renascença, o sacerdote enaltece
muitas vantagens das novas tecnologias, como a realidade aumentada e a
realidade virtual, mas reconhece que há um ‘risco
de isolamento’.
Sobre os que defendem que ‘não devemos ter limites no nosso auto-desenvolvimento’, ressalta : ‘Precisamos de pensar sobre este assunto e
precisamos de saber lidar com estas pessoas, desafiá-las, manter o contato com
elas.’
Ferramentas
tecnológicas como a realidade aumentada preocupam o Vaticano?
Não é preocupar. Nós procuramos entender todas as
novas tecnologias. A linha orientadora do Conselho Pontifício para a Cultura é
acompanhar tudo o que está a crescer e a ganhar impacto cultural na nossa
sociedade. As tecnologias digitais, realidade virtual, realidade aumentada, já
estão a ter impacto na percepção de nós mesmos, estão a mudar a forma como nos
relacionamos e seguramente, no futuro, vão ser ferramentas poderosas usadas por
muitas pessoas, se não até pela maioria. Por isso, é importante compreender que
tipo de dinâmica está por trás do desenvolvimento destas tecnologias e que tipo
de impacto podemos esperar.
Mas vê
riscos nestas novas tecnologias?
Algumas pessoas acreditam que não devemos ter
limites no nosso auto-desenvolvimento e, claro, as novas tecnologias são
consideradas como oportunidades para isso, pelos que acham que devemos usar
todas as ferramentas para nos melhorarmos, melhorar as nossas performances a
nível físico e mental, tentar desenvolver um novo tipo de ser humano,
simbolicamente chamado ‘Humano 2.0’
ou ‘Humano +’. Este é, claro, um
assunto muito interessante, não só do ponto de vista moral, mas também do ponto
de vista antropológico e cultural. Demonstra-nos que as pessoas já não estão
satisfeitas com elas próprias ou que não querem ter qualquer tipo de restrições
no seu auto-desenvolvimento. Precisamos de pensar sobre este assunto e precisamos
de saber lidar com estas pessoas, desafiá-las, manter o contato com elas.
E que
vantagens encerram estas tecnologias?
Algumas tecnologias já trouxeram e podem vir a
trazer benefício para a humanidade, mas também levantam novos desafios. Um dos
desafios relacionados com a realidade virtual ou com a realidade aumentada é
que, no futuro, conferências como estas poderão realizar-se num ambiente
virtual e as pessoas poderão escolher a forma mais confortável de participar
nelas. Estas tecnologias também nos demonstram que uma das questões em causa é
a da solidão, do isolamento. Em muitos casos parece que as pessoas vão preferir
ficar em casa e participar virtualmente em encontros deste gênero, em vez de
viajar e de se encontrarem pessoalmente com os outros. Este é um dos aspectos a
ter em conta, que a forma de nos relacionarmos uns com os outros vai mudar.
Provavelmente, as pessoas vão tentar alienar-se e a tecnologia pode criar esta
nova esfera de isolamento.
No que
diz respeito à aplicação destas ferramentas na Igreja, acha que será possível,
por exemplo, ir à missa em realidade aumentada?
Estas podem ser ferramentas úteis mas, claro, os
sacramentos só podem ser recebidos presencialmente, por exemplo quando o
sacerdote vai distribuir a comunhão. O mesmo acontece na assistência a pessoas
doentes ou na confissão. Não se pode fazer isto através de tecnologias
digitais. A realidade aumentada pode ser útil no sentido em que, por vezes, por
razões de doença, de incapacidade de deslocação ou impossibilidade de estar em
contato direto com o sacerdote, as pessoas podem encontrar conforto por poderem
participar na Missa mas isso não substitui a vida sacramental.
Concluindo,
está atento mas não preocupado?
A principal regra é que toda e qualquer tecnologia
que possa trazer potenciais benefícios ao ser humano - para o melhorar, para
que seja mais sensível, mais ponderado, e que nos permita alcançar um novo
nível de conhecimento - deve ser apoiada e abraçada. Não quer dizer que não
vejamos dificuldades ou que não tenhamos preocupações. Há preocupações em torno
das novas tecnologias. A questão principal é: como é que vamos usar as novas
tecnologias, com que propósito e objetivos e como é que mensagens podem ser
disseminadas através delas em todo o mundo. É preciso não esquecer que a
tecnologia digital é muito poderosa, tem inúmeras possibilidades mas também
tem, digamos, alguns ‘lado negros’ que
não podemos ignorar. Há questões de segurança e de privacidade, questões
relacionadas com a capacidade de controlar as pessoas e de disseminar certas
mensagens por todo o mundo.’
Fonte :
* Artigo na íntegra http://domtotal.com/noticia/1264536/2018/06/igreja-esta-de-olho-na-realidade-aumentada/
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