*Artigo
de Felipe Magalhães Francisco,
Doutorando
em Ciências da Religião, pela PUC-MG e
Mestre
em Teologia, pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia
‘A Quaresma é um
tempo litúrgico muito forte, seja na motivação de experiências religiosas, seja
na motivação de experiências espirituais. É certo que a última é teologicamente
preferível, pois esse importante tempo litúrgico precede a celebração daquilo que
é o coração da fé cristã : a Páscoa de Jesus. É a Páscoa o sentido mais
profundo da fé daquelas e daqueles que assumem o Cristo como Senhor : ‘Se Cristo não ressuscitou, a nossa pregação
é sem fundamento, e sem fundamento é também a nossa fé’ (1Cor 15,14).
A Quaresma, como
tempo de preparação, inspira os fiéis ao comprometimento com a fé que
professam. É nesse horizonte que se percebe a importância de se buscar e de se
viver a conversão. Converter-se remete à volta, mudança de mentalidade.
Abre-nos, ainda, à experiência com a profundidade da misericórdia divina que
sempre se desdobra sobre nós.
A dinâmica do
caminho quaresmal, nesse sentido, é dupla : reconhecimento da misericórdia
divina, que quer a todos e todas salvos, bem como comprometimento com a volta àquilo
que torna possível essa salvação, a saber, nossa fé no mistério da Páscoa de
Jesus. Simbolicamente, significa, entre outras coisas, rememorar nossa
experiência batismal, de mergulho na morte de Jesus e emersão em sua vida
ressurreta.
Essa é a pedagogia
da quaresma, em seu convite à conversão: num processo cotidiano de busca por
viver e testemunhar a fé em Jesus, morto-ressuscitado, o ano litúrgico desperta
nossa sensibilidade, nesse tempo todo especial, para um comprometimento que
deve ser vivido em toda a vida cristã.
É por isso que a
Quaresma nos remete à experiência do caminho e do deserto, elementos tão
importantes na vida do povo eleito, bem como na vida de Jesus. Caminho e
deserto nos remetem à dimensão do encontro : no esforço da caminhada e na
dificuldade desértica, somos chamados a nos voltarmos para dentro de nós
mesmos, para aí encontrar o dom salvífico do amor de Deus.
Tal como os
discípulos de Emaús, caminhando em meio às sombras da história, somos
convidados a fazer o caminho, meditando os acontecimentos da vida de Jesus,
dando abertura para que ele se ponha caminheiro no meio de nós. Só assim, no
itinerário espiritual do caminho, poderemos experimentar a força da
ressurreição de Jesus, que faz arder nosso coração e nos dá a alegria da salvação.
Quaresma é sempre volta, oportunidade de encontro com o sentido profundo de
nossa fé : esse é um tempo que o Senhor fez para nós, caminhemos rumo a Ele,
convertendo-nos ao seu amor!’
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