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sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

"Reconstruir a Casa do Senhor. Uma Igreja sem contraposições" – Segunda Pregação do Advento de 2025

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Isabella Piro



`De que unidade devemos dar testemunho? E como oferecer ao mundo uma comunhão crível que não seja, genericamente, fraternidade? Estas foram as principais questões propostas na segunda de três meditações do Advento proferidas pelo Pe. Roberto Pasolini, pregador da Casa Pontifícia. O frade menor capuchinho propôs-as a Leão XIV e aos seus colaboradores da Cúria Romana na manhã desta sexta-feira, 12 de dezembro, na Sala Paulo VI. O tema escolhido para as três reflexões é: ""Aguardando e apressando a vinda do dia de Deus".


A Torre de Babel e o medo da dispersão

 

Após a primeira meditação de 5 de dezembro, dedicada à "Parusia do Senhor", nesta sexta-feira o Pe. Pasolini articulou sua reflexão em torno de três imagens: a Torre de Babel, o Pentecostes e a reconstrução do Templo de Jerusalém. A primeira imagem — a de uma cidade fortificada e uma torre imponente — é o emblema de uma família humana que, após o dilúvio, busca exorcizar "o medo da dispersão". Mas tal projeto esconde "uma lógica mortal", já que a unidade é buscada "não pela reconciliação das diferenças, mas pela uniformidade".

 

O pensamento único dos totalitarismo do Século XX

 

"É o sonho de um mundo onde ninguém é diferente, ninguém corre risco, tudo é previsível", observou o padre Pasolini, tanto que a torre é construída não com pedras irregulares, mas com tijolos idênticos entre eles. O resultado é, sim, a unanimidade, mas uma unanimidade aparente e ilusória, porque "é alcançada ao custo da eliminação das vozes individuais".

A partir daí, o pensamento do pregador volta-se para os tempos modernos e contemporâneos, nomeadamente, para os totalitarismos do século XX que impuseram o "pensamento único", silenciando e perseguindo a dissidência. Mas "cada vez que a unidade é construída suprimindo as diferenças - acrescentou - o resultado não é a comunhão, mas a morte".

 

O consenso rápido das redes sociais e da IA

 

Também hoje, "na era das redes sociais e da inteligência artificial", os riscos da padronização não faltam, antes pelo contrário; surgem em novas formas, em que os algoritmos criam "bolhas de informação" unívocas, esquemas previsíveis que reduzem a complexidade humana em um padrão, plataformas que visam o consenso rápido, penalizando a "dissidência reflexiva".

Trata-se de uma tentação que "não poupa sequer a Igreja", explicou o capuchinho, recordando as muitas vezes ao longo da história em que a unidade da fé foi confundida com uniformidade, em detrimento do "ritmo lento da comunhão que não teme o confronto e não apaga as nuances".


A diferença é a gramática da existência

 

Um mundo construído sobre a utopia de cópias idênticas, continuou o sacerdote, "é a antítese da criação", porque "Deus cria separando, distinguindo, diferenciando" a luz das trevas, as águas da terra, o dia da noite.

Nesse sentido, "a diferença é a própria gramática da existência", e rejeitá-la significa inverter "o impulso criador" em busca de uma falsa segurança que é, na verdade, "uma rejeição da liberdade".

 

Deus restaura a dignidade às singularidades

 

A confusão de línguas com que Deus responde à Torre de Babel, portanto, não é uma punição, mas sim "uma cura", enfatizou o pregador da Casa Pontifícia: o Senhor "restitui a dignidade às singularidades", dando novamente à humanidade "o bem mais precioso", ou seja, "a possibilidade de não sermos todos iguais". Porque "não existe comunhão sem diferença".

 

Pentecostes, emblema da comunhão

 

A segunda imagem é a de Pentecostes, o emblema da comunhão apesar da ausência de uniformidade. Os apóstolos falam a sua própria língua, e os ouvintes a compreendem na sua, porque "a diversidade permanece, mas não divide"; as diferenças não são eliminadas para criar unidade, mas transformadas "no tecido de uma comunhão mais ampla".

 

A renovação da Igreja, uma necessidade perene

 

O padre Pasolini ilustrou então a terceira imagem: o Templo de Jerusalém, destruído e reconstruído muitas vezes. Cada reconstrução, explicou ele, "nunca pode ser um caminho linear", porque a compô-la serão "entusiasmos e lágrimas, novos impulsos e arrependimentos profundos". Tudo isso é "um precioso compêndio" para compreender "a perene necessidade" de renovação da Igreja, bem encarnada por São Francisco de Assis.

A Igreja, de fato, é chamada a permitir-se ser continuamente reconstruída para revelar "a beleza do Evangelho", permanecendo fiel a si mesma e, ao mesmo tempo, continuando a "colocar-se a serviço do mundo".

 

Acolher a variedade, não apagá-la

 

Longe de ser "uma necessidade extraordinária", enfatizou o padre Pasolini, a renovação eclesial é "a atitude ordinária" da Igreja fiel ao mandato apostólico e, sobretudo, não é uniformidade, nem "uma obra pacífica". A Igreja que se renova, de fato, é aquela capaz de "acolher a diversidade" e capaz  de "um combate espiritual autêntico", livre dos "atalhos de puro conservadorismo e de inovação acrítica". Porque a comunhão nunca é "um sentimento homogêneo", nem uma recíproca eliminação, mas antes um lugar de "escuta recíproca". Só assim, de fato, "a Igreja pode verdadeiramente voltar a ser o lar de todos".

 

O Concílio Vaticano II e a "Primavera do Espírito"

 

Uma última reflexão do padre Pasolini foi dedicada ao Concílio Vaticano II: sessenta anos após, a grande assembleia , frequentemente descrita como a "primavera do Espírito", emerge quer "um declínio das práticas, dos números e das estruturas históricas da vida cristã" quanto um novo fermento do Espírito, evidenciado pela "centralidade da Palavra de Deus", por um laicato "mais livre e mais missionário", por "um caminho sinodal" que se tornou uma "forma necessária" e por um cristianismo que "floresce em muitas regiões do mundo".

 

Retornar ao coração do Evangelho

 

O declínio, explicou o pregador, torna-se decadência se a Igreja perde a "consciência da própria natureza sacramental e se percebe como uma organização social", reduzindo a fé à ética, a liturgia à performance e a vida cristã a moralismo.

Em vez disso, para além de posições ideológicas, como o tradicionalismo e o progressivo, o declínio pode se tornar "um tempo de graça" no momento em que a Igreja retorna "ao coração do Evangelho", distanciando-se de "estratégias" humanas, de "contraposições que dividem e tornam estéril cada diálogo", bem como de "soluções imediatas e fáceis".

 

A Igreja, dom a ser protegido e serviço

 

Em última análise, concluiu o padre Pasolini, a Igreja não é algo a ser edificado segundo critérios humanos, mas é "um dom a ser recebido, protegido e servido" com gestos humildes, dia após dia, cada um com um fragmento de fidelidade e caridade. O pregador da Casa Pontifícia concluiu então sua reflexão com uma oração ao Senhor para que "o povo dos fiéis possa sempre progredir na construção da Jerusalém celeste".

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.vaticannews.va/pt/vaticano/news/2025-12/segunda-pregacao-advento

terça-feira, 9 de dezembro de 2025

Francisco de Assis ensina: quem reza, serve!

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo do Frei Augusto Luiz Gabriel, ofm


‘A oração sempre ocupou lugar central na vida cristã, não apenas como devoção, mas como fonte que sustenta e inspira todas as escolhas e ações do discípulo. Desde os antigos mestres espirituais, passando pela experiência de Santo Afonso de Ligório, aprendemos que rezar é reconhecer que ‘sem mim nada podeis fazer’ e pedir o dom do Espírito para viver segundo o Evangelho. São Francisco de Assis é testemunha luminosa dessa verdade : sua profunda vida de oração, feita de silêncio, louvor, escuta e entrega, tornou-se ação concreta, serviço humilde, cuidado dos pequenos e reconstrução da vida dos que sofrem. Por isso, a oração cristã não permanece apenas na interioridade; ela abre o coração, purifica a intenção e conduz ao compromisso real com o Reino de Deus.

Orar é elevar a mente e o coração a Deus, confiando inteiramente na sua graça. Não se trata de um gesto isolado de devoção, mas da fonte que orienta toda ação cristã. Desde os antigos mestres, como Hugo de São Vítor, e conforme a tradição bíblica do Livro da Sabedoria, entende-se que a oração é o caminho pelo qual se recebe a sabedoria e o Espírito : ‘Invoquei o Senhor, e veio a mim o espírito da sabedoria.’ Hugo recorda que, sem o auxílio divino, a iniciativa humana é insuficiente. A oração, portanto, é o acesso à filiação divina e nos torna capazes de pedir e viver o dom do Espírito. Santo Afonso reforça essa verdade a partir do mandato de Cristo : ‘Sem mim nada podeis fazer’. A oração não é um adorno religioso, mas a respiração da vida cristã. Quem reza com sinceridade e constância pede, antes de tudo, o dom do Espírito, e desse encontro nascem a fé, a esperança e a caridade autênticas.

A oração genuína, porém, não se limita ao interior : ela transforma e encaminha para o serviço. Enzo Bianchi e a tradição litúrgica lembram que a liturgia é ‘parusia antecipada’, sinal do Reino que já vem ao encontro do povo. O ministro, o celebrante e todo cristão só podem comunicar aquilo que carregam no coração : ‘Se você não estiver evangelizado, não poderá evangelizar; se a Palavra não mora em você, não poderá comunicá-la à assembleia.’ São Carlos Borromeu aconselhava os ministros : ‘Se você administra os sacramentos, medite no que está fazendo. Se celebra a missa, medite no que está oferecendo. Se recita os salmos, medite a quem e do que está falando.’ A regra é clara : a liturgia molda o coração para a caridade; a oração prepara e orienta a ação sacramental e pastoral. Orar e celebrar é preparar-se para servir e levar à vida aquilo que a Palavra e os sacramentos suscitam.

A vida de São Francisco de Assis ilumina essa união inseparável entre contemplação e serviço. Seu Cântico das Criaturas, sua oração diante do crucifixo e sua intimidade com Deus revelam uma espiritualidade que transforma tudo em compaixão e prática solidária. Na prece diante do crucifixo — ‘Altíssimo, glorioso Deus, ilumina as trevas do meu coração. Dá-me fé reta, esperança certa e caridade perfeita. Dá-me, Senhor, senso e discernimento para que eu cumpra o teu santo e verdadeiro mandamento’ — Francisco mostra a prioridade da vida cristã : pedir a graça para viver o Evangelho. Ele viu a criação como ‘um grande coro de onde brota contínua oração’ e fez da atenção aos pobres a consequência necessária dessa experiência contemplativa. Para ele, a oração que não gera partilha não é conforme ao Evangelho : a verdadeira espiritualidade conduz ao encontro dos pequenos, ao cuidado dos leprosos, à partilha do alimento, à presença junto aos marginalizados. A caridade é o fruto visível da alma que reza.

Praticar a fé significa, portanto, transformar a contemplação em gestos cotidianos : cultivar a Palavra, estudá-la, meditá-la, deixá-la moldar o coração; buscar a reconciliação com Deus e com os irmãos; ajudar os necessitados com partilha e presença; oferecer escuta; promover a comunhão. A Eucaristia, centro da vida cristã, recorda esse movimento : alimentar-se do Corpo do Senhor é assumir a responsabilidade de levar alimento e dignidade aos famintos. A espiritualidade franciscana sublinha que solidariedade é prática de amor : viver a destinação universal dos bens, a fraternidade e a partilha como escolhas diárias. ‘O que eu tenho, eu dou’ resume a decisão de não viver para si, mas para quem precisa.

Há, portanto, um caminho claro : a oração nos dá o Espírito; o Espírito fecunda a fé; a fé se traduz em obras de amor. Tal percurso exige humildade — ser sinal pobre de Cristo — e coerência litúrgica : a celebração não é espetáculo, mas gesto formativo que converte. Quem preside, canta ou reza os ofícios deve fazê-lo com atenção e reverência, consciente de que a liturgia possui força evangelizadora quando é vivida em adoração. Ao mesmo tempo, a prática cristã é profética : uma espiritualidade que não promove transformação social nem se compromete com a justiça permanece mutilada. A fé que salva é a que humaniza, denuncia injustiças, reconstrói e liberta.

Concluímos com o mesmo espírito de Francisco, que inspirou gerações : oração e ação são duas faces da mesma vocação. Como escreveu o Poverello pouco antes de morrer : ‘Irmãos, até agora pouco ou nada fizemos; vamos recomeçar!’ Recomeçar na oração, que desarma o ego e prepara o coração; recomeçar na caridade, que torna crível a Palavra de Deus. Orar e praticar é viver a fé como caminho de amor — nas pequenas ações, nas decisões corajosas, na partilha cotidiana — até que o mundo reconheça, em nós, o rosto misericordioso de Deus.

Paz e Bem!

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/francisco-de-assis-ensina-quem-reza-serve.html

domingo, 7 de dezembro de 2025

O terremoto das migrações

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo do Padre Alfredo J. Gonçalves, CS

 

Acompanhamos perplexos uma escalada mundial da violência. Violência intra e intercontinental que se reflete seja nos governos e formas de oposição, seja nos governos locais. Tampouco ficam imunes as mais diversas instâncias e instituições da sociedade. Semelhante avanço da violência vem mexendo de maneira convulsiva com os ‘formigueiros humanos’. Com efeito, o modus vivendi de comunidades originárias, de povos, nações e culturas vem sendo fortemente sacudido ao redor do planeta. Resultado disso é a dispersão dos migrantes, tais como aves de arribação. A chamada transição paradigmática, de que tanto se tem falado, move as placas tectônicas da política econômica em termos nacionais, regionais e internacionais. É inegável que esse movimento subterrâneo provoca terremotos e tsunamis que, novamente, devastam os ‘formigueiros humanos’, colocando em fuga as formigas, aos milhares e milhões.

O modo de vida e a identidade de grupos inteiros são abalados desde a raiz, o que compromete as bases, os valores e os fundamentos tradicionalmente positivos. Migrantes isolados e/ou com suas famílias cruzam e atravessam fronteiras. Com grande dificuldade, atravessam mares, desertos e florestas para bater às portas de territórios diferentes. Chegam, em geral, cansados e abatidos, feridos e fragmentados. Pessoas e famílias se desfiguram e se desintegram pelo caminho, às vezes para não mais se encontrarem na tão sonhada e ansiada reunificação. As ‘formigas’ dificilmente têm a possibilidade de retornar ao formigueiro (abandonado às pressas no caso dos refugiados), para recriar o modus vivendi de seus antepassados. Milhões e milhões de pessoas vagueiam de cá para lá e de lá para cá, na vã tentativa de encontrar um refúgio seguro. Um solo a que se possa dar o nome de pátria parece cada vez mais distante.

Os abalos sísmicos, porém, tendem a desencadear tragédias climáticas sempre mais extremas e catastróficas. Novos formigueiros são abalados e desmantelados. Novas correntes migratórias se põem em marcha. Cresce progressivamente o número de pessoas sem raiz, sem rumo e sem horizonte. Os processos migratórios não se deixam classificar atualmente por uma origem e destino mais ou menos predeterminados, como ocorreu nas chamadas migrações históricas. Enquanto a origem segue sendo a terra natal, evidentemente, o destino se revela cada vez mais incerto, inseguro e inquietante. Nos dias de hoje, prevalecem, ao invés, a indignação e a impotência. Por toda parte. Multiplicam-se os adjetivos e expressões precedidos pelo prefixo negativo ‘in’, equivalente a um ‘não’. Resta uma certa esperança de que quando esse prefixo se acumula, dos subterrâneos emerge dialeticamente um ‘sim’, de acordo com o pensamento filosófico de Hegel.

Do ponto de vista das forças de esquerda, esse novo ‘sim’ consiste em um tremendo e gigantesco ‘não’. O efeito positivo do que podemos chamar mundo moderno ou modernidade reveste-se de uma marca registrada cunhada pela razão, a ciência e a tecnologia, bem como pelo progresso e pela democracia. Neste momento de mudança de época (não apenas época de mudanças), o que resulta da dialética hegeliana representa um ‘sim’ com sabor amargo de ‘não’. Consiste numa tentativa da extrema direita de usar os canais, instrumentos e mecanismos democráticos para instalar um autoritarismo populista que parecia morto e definitivamente enterrado. Não seria exagero falar de um imperialismo da economia globalizada. Imperialismo de mercado e de poder, contemporaneamente centrífugo e centrípeto. Centrífugo quanto à dispersão das unidades de produção e ao consumo generalizado, centrípeto no que diz respeito à tomada de decisões e à formação de megafusões e conglomerados hegemônicos para as fatias mais rentáveis do processo de produção, como petróleo, telecomunicações, aviação, metais preciosos, entre outras.

De tal maneira que, enquanto as nações mais poderosas ensaiam atritos, rivalidades e até mesmo conflitos bélicos (tendo o cuidado de exportar a guerra aberta para os países periféricos), globalmente o mercado se apresenta muito bem articulado. Exemplo : ao mesmo tempo que, do ponto de vista político, se verifica uma disputa cerrada pela hegemonia política e econômica planetária, desde o ponto de vista econômico, Estados Unidos e China seguem com seus acordos comerciais através desses oligopólios de empresas transnacionais. Numa expressão apocalíptica, semelhante ao imperialismo de mercado total, se converte em uma espécie de dragão de sete cabeças (coincidência com o G7?), onde qualquer uma delas pode assumir o controle global. O combate a essa besta fera passa, simultaneamente, por ações locais e por articulações globais. O desafio gigantesco é justamente equilibrar umas e outras.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://migramundo.com/o-terremoto-das-migracoes/

sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

‘A Parusia do Senhor’ – Primeira Pregação do Advento de 2025

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Benedetta Capelli


‘‘Não andarilhos sem rumo’, mas ‘sentinelas que, na noite do mundo, mantêm humildemente a sua fé’ para ver a luz ‘capaz de iluminar todo homem’. Padre Roberto Pasolini, pregador da Casa Pontifícia, acompanha-nos numa viagem em que o tempo do Advento se torna uma oportunidade para sermos ‘peregrinos rumo a uma pátria’, em um caminho marcado pela esperança e que tem como horizonte a salvação.

A primeira de três meditações previstas sobre o tema ‘Aguardando e apressando a vinda do dia de Deus’, centra-se na Parusia do Senhor e introduz em um tempo singular : a conclusão do Jubileu da Esperança. ‘O Advento’, sublinha o capuchinho, ‘é o tempo em que a Igreja reacende a esperança, contemplando não só a primeira vinda do Senhor, mas sobretudo o seu regresso no fim dos tempos.’ É o momento em que somos chamados a ‘aguardar e, ao mesmo tempo, apressar a vinda do Senhor com vigilância serena e diligente’.

Perceber a graça de Deus

‘Parusia’ é um termo usado quatro vezes pelo evangelista Mateus no capítulo 24 com um duplo significado : ‘presença’ e ‘vinda’. Jesus compara a expectativa de sua vinda aos dias de Noé antes do dilúvio universal. Eram dias em que a vida seguia normalmente e em que Noé sozinho construiu a arca, o instrumento da salvação. Sua história levanta questões essenciais para a compreensão do que o homem moderno precisa reconhecer. Diante de novos e complexos desafios, ‘a Igreja é chamada a permanecer um sacramento de salvação em uma era de mudanças’.

‘A paz - enfatiza o Padre Pasolini - permanece uma miragem em muitas regiões até que antigas injustiças e memórias feridas sejam curadas, enquanto na cultura ocidental o senso de transcendência é enfraquecido, esmagado pelo ídolo da eficiência, da riqueza e da tecnologia. O advento da inteligência artificial amplifica a tentação de uma humanidade sem limites e sem transcendência.’

O mistério de um Deus que tem confiança na humanidade

Perceber não basta, é preciso reconhecer ‘a direção para a qual o Reino de Deus continua a se mover dentro da história’, retornando à capacidade profética do Batismo. Perceber a graça de Deus, ‘esse dom da salvação universal que a Igreja humildemente celebra e oferece, para que a vida humana seja libertada do fardo do pecado e do medo da morte’. Uma graça à qual os ministros da Igreja não podem se habituar, correndo o risco de se familiarizarem tanto com Deus a ponto de o tomarem como óbvio. Assim, tomamos consciência do mistério de um Deus que ‘continua diante de sua criação com confiança inabalável, aguardando dias melhores’.

Apagar o mal

O pregador da Casa Pontifícia recorda que, para redescobrir o rosto de Deus que acompanha ‘sua criação ferida’, devemos recorrer à história do dilúvio universal, quando o Senhor vê o mal no coração humano. Esse mal não pode ser vencido pela mudança, pela evolução, porque à humanidade não serve somente realizar-se, mas também de salvar-se. ‘O mal não deve ser simplesmente perdoado : deve ser apagado, para que a vida possa finalmente florescer em sua verdade e beleza.’ Apagar, na cultura do cancelamento em que a humanidade de hoje está imersa, não é apenas destruir tudo, eliminar o que parece pesado nos outros. ‘Todos os dias cancelamos muitas coisas, sem nos sentirmos culpados ou causar qualquer dano. Apagamos - recorda Pasolini - mensagens, arquivos inúteis, erros em documentos, manchas, vestígios, dívidas. De fato, muitos desses gestos são necessários para permitir que nossos relacionamentos amadureçam e tornem o mundo habitável.’ Apagar significa abrir-nos a Deus, partindo de nossa própria fragilidade, e permitir que Ele nos cure.

A vida floresce quando Deus volta a estar no centro

O Senhor nunca se cansa de encontrar ‘um homem sábio, alguém que busca a Deus’, assim como fez com Noé, que por sua vez sentiu a graça do Senhor. No homem na arca, Deus encontra a possibilidade de apagar e recomeçar. ‘Somente quando o homem retorna para viver diante da verdadeira face de Deus é que a história pode realmente mudar’, enfatiza o monge capuchinho. ‘A história do dilúvio nos lembra que a vida floresce somente quando reconstruímos os céus, na medida em que colocamos Deus de volta no centro.’ O dilúvio se torna ‘uma passagem de recriação através de um momento de descrição’. ‘É uma mudança temporária nas regras do jogo, para salvar o próprio jogo que Deus havia inaugurado com confiança.’

Decidir não ferir 

O dilúvio é, portanto, ‘uma renovação paradoxal da vida’. Deus não se esquece da humanidade e coloca seu arco nas nuvens como sinal de aliança. O Senhor depõe suas armas com uma solene declaração de não violência. ‘Pode parecer - acrescenta o padre Pasolini - uma metáfora ousada, quase inadequada para falar de Deus e da forma como a sua graça se manifesta. No entanto, a humanidade, após milênios de história e evolução, ainda está longe de saber como imitá-lo.’

A Terra, de fato, está dilacerada ‘por conflitos atrozes e intermináveis, que não dão trégua a tantas pessoas fracas e indefesas.’ A decisão daqueles que, apesar de terem a capacidade, escolhem voluntariamente não ferir é reconfortante, porque compreendem que só acolhendo os outros é que a aliança ‘pode ser duradoura, verdadeira e livre.’

O tempo do bem

‘Vigiai pois, porque não sabeis o dia em que o seu Senhor virá’ : esta é a recomendação final de Jesus. Não saber o dia e a hora deste evento criou muita expectativa no passado, sublinha o pregador, mas hoje as coisas parecem ter invertido. ‘A espera diminuiu ao ponto de, por vezes, dar lugar a uma subtil resignação quanto ao seu cumprimento.’ Hoje, prevalece ‘uma vigilância cansada, tentada pelo desânimo’.

O tempo de espera é o tempo de semear o bem e aguardar a vinda de Jesus Cristo. Cuidado com duas grandes tentações que afetam a humanidade e a Igreja : ‘esquecer a necessidade da salvação e pensar que podemos recuperar o consenso cuidando da aparência externa da nossa imagem e diminuindo a radicalidade do Evangelho’. Devemos — enfatiza o capuchinho — retornar ‘à alegria — e também ao esforço — de seguir, sem domesticar a palavra de Cristo’. Somente como ‘sentinelas nas fronteiras do mundo’, como escreveu o monge Thomas Merton, podemos aguardar o retorno de Cristo.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.vaticannews.va/pt/vaticano/news/2025-12/predicatore-casa-pontificia-avvento-pasolini-parusia-attesa.html

quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

Gaza, denúncia de uma psicóloga: as crianças perderam tudo

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Federico Piana


‘As bombas israelenses não apenas destruíram sua casa, mataram sua mãe e sua irmã e feriram gravemente seu pai. Elas também roubaram sua infância. E a palavra. Nazek El Kord cruza o olhar com esta menina palestina de apenas cinco anos devastada pela dor e percebe imediatamente que está diante de um fantasma : apesar de ter se recuperado dos profundos ferimentos causados pelos estilhaços que lhe dilaceraram as pernas e as mãos, sua língua permanecia como paralisada.

Pequenos fantasmas

Nazek, em Gaza, já tinha visto muitos pequenos fantasmas assim. Ela, que é psicóloga clínica infantil e trabalha no Centro Médico Princesa Basma, instalado no Hospital Ahli Arab, se pudesse, contaria cada um deles, mas seria um trabalho imenso, porque significaria fazer uma lista exata de todas as crianças da cidade e da Faixa que permaneceram vivas. Ou que, infelizmente, não conseguiram fugir.

Memórias assustadoras

Com a pequena fantasma, que não fala, Nazek tentou brincar duas vezes por semana durante seis meses, de forma sistemática e terapêutica. ‘No final, lentamente, ela voltou a ter mais autoconfiança e começou a falar novamente. O seu mutismo histérico agora é apenas uma lembrança’. Embora agora haja uma trégua e os bombardeamentos tenham terminado, as crianças de Gaza não se sentem nada seguras, continuam a viver imersas nos piores pesadelos que se materializaram nas suas mentes desde o início do conflito. Nazek, todos os dias, fala com elas, ouve-as, cuida delas. Como pode. ‘Elas ainda têm ataques de pânico, lembranças assustadoras de perdas e destruição. Sentem-se ansiosas, reagem com força a ruídos altos ou movimentos repentinos, como se o perigo ainda estivesse à espreita’, conta à mídia vaticana. No fundo, para as crianças palestinas, a trégua não existe, é apenas uma invenção dos adultos que ‘brincam’ com a tragédia sem sentido da guerra. Pelo contrário, como Nazek repete várias vezes, a suspensão dos bombardeios representa para elas uma breve pausa entre dois medos : o medo do que aconteceu até agora e o medo do que ainda pode acontecer. ‘Mentalmente, as crianças tentam compreender todos os acontecimentos que estão vivendo. Fazem perguntas sérias sobre a morte, a justiça, o futuro. A maioria delas está convencida de que a trégua não durará muito e que em breve a violência recomeçará’.

Traumas prolongados

O medo e o estresse, que se manifestam com ansiedade, tristeza e dificuldade em controlar as próprias emoções, estão provocando a interrupção do crescimento emocional. Em essência, as crianças de Gaza deixaram de ser crianças, mas ainda não se tornaram adultas, estão perdidas em um limbo sombrio dominado por doenças mentais crescentes que devem ser tratadas o mais rápido possível. ‘Após mais de dois anos de conflito — é a amarga acusação de Nazek — quase todas as crianças de Gaza precisam de intervenções psicossociais direcionadas e prolongadas para lidar com os traumas, reconstruir a capacidade de recuperação e apoiar um desenvolvimento emocional saudável. Existem alguns esforços internacionais nesse sentido, mas não são suficientes para atender às necessidades generalizadas e urgentes’.

Para salvar esses pequenos fantasmas, como a menina sem voz que comoveu o coração de Nazek, psicólogos, psiquiatras profissionais, familiares e escolas deveriam poder trabalhar juntos, elaborando caminhos de cura compartilhados. Levando em conta, acrescenta Nazek, acima de tudo, uma coisa fundamental : ‘Quando está emocionalmente presente, muitas vezes é justamente a família a fonte mais forte de cura. Mesmo que agora os pais estejam em dificuldades, se forem ajudados e apoiados, podem oferecer amor, rotina e estabilidade, todos elementos que ajudam a criança a se sentir segura’. Nazek e seus colegas médicos palestinos estão se empenhando ao máximo para alcançar esse objetivo. Mas sem a ajuda da comunidade internacional, é como tentar esvaziar o mar com uma colher : ‘Com base na minha experiência de trabalho em hospitais, existe uma lacuna significativa na oferta de cuidados mentais especializados. E muitas crianças não conseguem receber apoio psicológico adequado’.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.vaticannews.va/pt/mundo/news/2025-12/gaza-denuncia-psicologa-criancas-perderam-tudo.html

segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

Líbano, mosaico de religiões e culturas

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 

Convento N. Sra. Bzommar, da Igreja Católica Armênia, Líbano

Foto: VaticanNews


*Artigo da Vatican News


‘No Líbano, terra rica de história milenar e um mosaico cultural e religioso único no Mediterrâneo, Paulo VI fez escala no Aeroporto de Beirute em 12 de dezembro de 1964, a caminho da Índia para presidir o Congresso Eucarístico Internacional. O Papa Wojtyla visitou o País dos Cedros em 10 e 11 de maio de 1997 (sua 77ª Viagem Apostólica), para a publicação da Exortação Apostólica Pós-Sinodal ‘Uma Nova Esperança para o Líbano’.

Bento XVI, em sua 24ª Viagem Apostólica (de 14 a 16 de setembro de 2012) assinou a Exortação Apostólica Pós-Sinodal ‘Ecclesia in Medio Oriente’ da Assembleia Especial para o Oriente Médio do Sínodo dos Bispos. O documento apela a um renovado testemunho cristão, ao diálogo inter-religioso e a um compromisso com a paz numa região marcada por complexos desafios sociais e políticos, enfatizando o papel fundamental do Líbano como ponte entre o Oriente e o Ocidente. 

As comunidades cristãs no País dos Cedros

Igreja Maronita 

A comunidade maronita tem como pai espiritual São Maron, um asceta que viveu no século V na Síria (região de Antioquia/Apameia), onde ‘os discípulos adotaram pela primeira vez o nome de cristãos’ (Atos 11,26). A perseguição pelos monofisitas e, posteriormente, a conquista árabe, levaram os monges, discípulos de São Maron, a emigrar para o Monte Líbano; ao redor de seus mosteiros, se agruparam progressivamente os primeiros núcleos de comunidades camponesas maronitas. A Igreja Maronita é caracterizada por uma forte tradição monástico-eremítica e por sua liturgia em língua siríaca (ocidental) e em árabe.

A Igreja Maronita (nome em homenagem ao seu fundador, o asceta São Maroun, que viveu em Antioquia e morreu em 410) sempre esteve em plena comunhão com a Sé Apostólica. Por esta razão, seus fiéis sofreram discriminação e perseguição ao longo da história nas mãos dos monofisitas, dos bizantinos, dos mamelucos, dos otomanos.

O primeiro Patriarca Maronita de Antioquia foi Sua Beatitude Youhanna Maroun (685-707). O atual Patriarca é Sua Beatitude Béchara Boutros Raï, O.M.M., nascido em Himlaya (Arquieparquia Maronita de Antélias) em 25 de fevereiro de 1940. Ordenado em 3 de setembro de 1967; consagrado em 12 de julho de 1986; transferido para a Diocese Maronita de Jbeil em 9 de junho de 1990; Eleito Patriarca em 15 de março de 2011. Bento XVI concedeu-lhe a ecclesiastica communio em 24 de março de 2011. 

Sede do Patriarcado de Antioquia dos Maronitas

Bkerké é uma pequena cidade localizada a cerca de 650 metros acima do nível do mar, com vista para a Baía de Jounieh. Desde 1830, é a sede do Patriarcado de Antioquia dos Maronitas, que até então residiam no Mosteiro de Qannubin, no Vale de Qadisha. O primeiro prédio no local de Bkerké foi um mosteiro construído em 1703 por Khattar al-Khazen. Em 1730, monges antonianos começaram a usar o mosteiro; em 1779, ele foi usado pela Igreja Maronita. Em 1830, tornou-se a residência de inverno do Patriarca Maronita do Líbano. A atual estrutura com telhado vermelho foi construída em 1893, durante o período do Patriarca João Pedro El Hajj. Foi projetada por Leonard al-Azari.

Mosteiro de São Maroun em Annaya

Annaya é um município no Líbano, localizado no distrito de Jbeil, na província do Monte Líbano. ‘Annaya’ é um termo siríaco que significa coro, um coro de devotos ou eremitas.  Em uma das colinas mais pitorescas do Líbano, ergue-se o Mosteiro de São Maron, da Ordem Maronita Libanesa, a oeste da vila de Ehmej e ao sul da vila de Mechmech, a uma altitude de 1.200 metros. O primeiro prédio do mosteiro foi concluído em 1828, ano do nascimento de São Charbel, que escolheu o eremitério como sua morada, e mais tarde conquistou muitos corações. O eremitério de São Pedro e São Paulo foi construído a 150 metros do mosteiro, e posteriormente anexado pela Ordem.

Após a beatificação de Charbel Makluf em 5 de dezembro de 1965, na véspera do encerramento do Concílio Vaticano II, a Ordem empreendeu a construção de uma nova igreja, projetada para acomodar as multidões de fiéis que afluíam a Annaya. A consagração da nova igreja, dedicada a São Charbel e localizada a oeste do mosteiro, ocorreu em 1974.

Até hoje, a Ordem continua a realizar reformas, tanto dentro como fora do mosteiro, para atender às necessidades espirituais e materiais dos peregrinos. Também criou um museu privado que abriga os objetos sagrados do santo. Todos os anos, milhares de peregrinos fazem uma peregrinação ao túmulo de São Charbel Makluf, canonizado por Paulo VI em 1977.

Nascido em 1828 no povoado de Biqa 'Kafra, o último dos cinco filhos de Antoun Makluf e Brigitta Al-Chidiac, ele perdeu o pai aos três anos de idade e foi confiado ao seu tio, que, segundo alguns testemunhos, opôs-se à sua decisão de empreender a vida monástica, que ele iniciou aos 23 anos no mosteiro de Nossa Senhora de Mayfouq, mudando seu nome de batismo—Youssef—para Charbel. Ordenado sacerdote da Ordem Maronita Libanesa em 1859, permaneceu em Annaya por 15 anos antes de obter permissão para retirar-se no eremitério dos Santos Pedro e Paulo, onde viveu por vinte e três anos, dedicando-se ao serviço do Senhor e vivendo a regra eremita com escrúpulos e plena consciência. Durante a celebração da Missa em 16 de dezembro de 1898, foi acometido por paralisia e entrou em agonia que durou oito dias. Faleceu em 24 de dezembro de 1898, após dias de terrível sofrimento. Alguns meses após sua morte, fenômenos extraordinários ocorreram ao redor de seu túmulo, que começou a brilhar, e entre aqueles que oravam no túmulo do monge, que exsudava sangue misturado com água, curas inexplicáveis ​​se multiplicaram, atraindo pessoas de todo o vale e de diferentes religiões.

Santuário de Nossa Senhora do Líbano

O Santuário em Harissa foi construído em 1904, por ocasião do 50º aniversário da proclamação do dogma da Imaculada Conceição pelo Papa Pio IX. A inauguração ocorreu no primeiro domingo de maio de 1908, que desde então se tornou a festa anual de Nossa Senhora do Líbano. A estátua de bronze branco da Madona, fundida em Lyon, França, mede 8,50 metros de altura e pesa aproximadamente 15 toneladas. A torre cônica de pedra talhada à mão tem 21 metros de altura, e sua escada em espiral é escalada por peregrinos em oração, muitas vezes descalços ou de joelhos, até a estátua da Virgem no topo. Confiado aos cuidados da Congregação dos Missionários Libaneses, está entre os mais importantes santuários marianos do Oriente Médio. Peregrinos acorrem aqui durante todo o ano, mas especialmente durante o mês de maio, quando procissões noturnas partem da costa. Muitos visitantes muçulmanos também vêm ao Santuário, frequentemente aos domingos, para venerar Maria. Uma nova Basílica foi construída ao lado do pedestal da torre do Santuário desde julho de 1993. Sua geometria arrojada pretende representar a proa de um navio fenício. Ela abriga uma réplica da estátua de Nossa Senhora de Lourdes, abençoada por João Paulo II em 22 de março de 1992, durante a Missa para os doentes na Basílica de São pedro, e levada ao Líbano pela Obra Romana Peregrinações.

Igreja Católica Greco-Melquita 

A separação da Igreja Ortodoxa de Antioquia (ou Igreja Greco-Ortodoxa) e a retomada da comunhão com Roma ocorreram em 1724, graças também à contribuição da Igreja Maronita e dos missionários ocidentais que chegaram ao Oriente nos séculos XVII e XVIII, incluindo os padres jesuítas.

Igreja Católica Armênia 

Surgiu com a separação da Igreja Apostólica Armênia em 1742. A comunidade católica armênia chegou ao Líbano em três ondas migratórias : (a) no século XVIII, após a perseguição que se seguiu ao restabelecimento da comunhão com Roma; (b) após a Primeira Guerra Mundial e os massacres perpetrados pelos otomanos; (c) finalmente, após a Segunda Guerra Mundial.

Igreja Católica Siríaca 

Separou-se da Igreja Ortodoxa Siríaca (ou Igreja siro-ortodoxa) para retornar à comunhão com a Sé Apostólica, sendo reconhecida por esta última em 1783 (com formalização subsequente em 1797).

Igreja Caldeia 

Esta é a Igreja da Mesopotâmia fundada pelo Apóstolo Tomé. A Igreja Caldeia surgiu da cisão com a Igreja Assíria do Oriente; tentativas de sua reunificação com a Igreja de Roma remontam ao século XVI, mas só foram oficialmente reconhecidas em 1830.

Comunidade Latina 

Parece certo que a atual comunidade latina no Líbano remonta ao século XIII (ou XIV), com a chegada dos franciscanos da Custódia da Terra Santa, que se dedicaram ao cuidado pastoral tanto dos comerciantes europeus nos portos da costa libanesa quanto dos fiéis maronitas e melquitas no Monte Líbano. Em seguida, vieram os capuchinhos em Sidon (1626), os carmelitas em Mar Lisha (1643) e os jesuítas em Sidon (1644).

Em 1772, foi criado o Vicariato Apostólico de Aleppo (ou Latino), com jurisdição sobre os territórios do Líbano e da Síria. A chegada de missionários protestantes de língua inglesa no início do século XIX impulsionou ainda mais as missões católicas : os vicentinos em Trípoli (1830) e os jesuítas em Bikfaya (1833), os maristas em Jounieh (1898), os Irmãos das Escolas Cristãs em Trípoli (1880) e depois em Beirute (1894).

No Líbano há :

Dos Latinos :

1 Vicariato Apostolico (Beirute)

Dos Maronitas :

1 Igreja Patriarcal (Antioquia)

4 Arquieparquiaa (Antélias, Beirute, Tripoli do Líbano, Tyr)

6 Eparquias (Baalbek-Deir El-Ahmar, Batrum, Jbeil, Joubbé, Sarba e Jounieh, Saïdā, Zahleh)

Dei Greco-Melkiti :

2 Metropolias (Beirute e Jbeil, Tyr)

5 Arquieparquias  (Baalbek, Bāniyās, Saïdā, Trípoli do Libano, Zahleh e Furzol)

Dos Sírios :

1 Igreja Patriarcal (Antioquia)

1 Eparquia (Beirute)

Dos Armênios :

1 Igreja Patriarcal (Cilícia dos Armênios)

1 Metropolia (Beirute)

Dos Caldeus :

1 Eparquia (Beirute)

Segundo o Escritório Central de Estatística da Igreja, no Líbano há 24 Circunscrições Eclesiásticas, 1.116 paróquias, 47 centros pastorais. O rebanho de fiéis é pastoreado por 49 bispos, 917 sacerdotes diocesanos e 647 sacerdotes religiosos (1.564 no total). Os seminaristas menores são 12 e os maiores 270.

Os diáconos permanentes são 46, os religiosos não sacerdotes 118 e as religiosas professas 1.698. Os membros de Institutos Seculares são 4, os missionários leigos 145 e os catequistas 402.

No País dos Cedros, a Igreja administra 503 maternais e escolas primárias, com 137.976 estudantes; 191 escolas inferiores e secundárias, com 49.367  estudantes; 50 institutos superiores e universidades, com 56.235.

A Igreja também tem 23 hospitais, 85 ambulatórios, 41 casas para idosos ou pessoas com invalidez, 56 jardins da infância e orfanatrófios, 4 centros especiais de educação ou reeducação social, além de 46 outras instituições.

Outras denominações cristãs : 

- Igreja Greco-Ortodoxa

- Igreja Apostólica Armênia

- Igreja Siro-Ortodoxa

- Igreja Assíria do Oriente

- Igreja Copta Ortodoxa

- Diversas comunidades protestantes

Comunidades islâmicas

Xiitas 

O xiismo surgiu dos seguidores de Ali, genro do Profeta, que reivindicaram para si e seus descendentes masculinos a sucessão a Maomé (Muhammad). O assassinato do filho de Ali, al-Hussein, em 680, causou a divisão definitiva entre o xiismo e o sunismo; esse martírio é comemorado anualmente na festa de Ashura. O xiismo deu origem a várias denominações, sendo a mais importante o xiismo duodecimano (ou Ithnāʿasharīyyah).

Sunitas 

Os muçulmanos sunitas seguem os ensinamentos da ‘Sunna’ (tradição), ou seja, o conjunto de ensinamentos transmitidos oralmente por Maomé (Muhammad) aos seus primeiros companheiros. Este ensinamento complementa a mensagem do Alcorão, revelada por Alá diretamente ao Selo dos Profetas. Aproximadamente 90% dos muçulmanos em todo o mundo são sunitas. O diretor espiritual da comunidade no Líbano é o Mufti da República, eleito para o cargo vitalício; ele é auxiliado por um Conselho Judicial Superior (ou Alto Conselho Islâmico). A residência e todos os serviços sob a autoridade do Mufti constituem o ‘Dar al-Fatwa’.

Drusos 

Este é um ramo do islamismo xiita ismaelita que surgiu no Cairo no início do século XI (ou século V da Hégira). O termo ‘druso’, embora difundido, é inadequado. Os membros desta comunidade, muito zelosos do conteúdo oculto de sua fé, se autodenominam ‘Muwahhidūn’ (ou al-Muwahhidūn), que significa monoteístas. Eles acreditam que a fé se divide em três disciplinas ou estágios sucessivos : o reconhecimento dos fundamentos do Islã (segundo a interpretação drusa), a interpretação da revelação feita exclusivamente pelos Imãs (mestres, ou seja, guias espirituais) e, finalmente, a verdadeira sabedoria que leva à unificação de todos no Justo (al-ākim).

Alauítas 

Uma denominação islâmica pertencente à tradição xiita, com suas particularidades. Presentes em pequeno número no norte do Líbano, enquanto a grande maioria dos alauítas se encontra na Síria.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2025-11/libano-papa-leao-xiv-viagem-apostolica-cristianismo-religioes.html