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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

‘A Parusia do Senhor’ – Primeira Pregação do Advento de 2025

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Benedetta Capelli


‘‘Não andarilhos sem rumo’, mas ‘sentinelas que, na noite do mundo, mantêm humildemente a sua fé’ para ver a luz ‘capaz de iluminar todo homem’. Padre Roberto Pasolini, pregador da Casa Pontifícia, acompanha-nos numa viagem em que o tempo do Advento se torna uma oportunidade para sermos ‘peregrinos rumo a uma pátria’, em um caminho marcado pela esperança e que tem como horizonte a salvação.

A primeira de três meditações previstas sobre o tema ‘Aguardando e apressando a vinda do dia de Deus’, centra-se na Parusia do Senhor e introduz em um tempo singular : a conclusão do Jubileu da Esperança. ‘O Advento’, sublinha o capuchinho, ‘é o tempo em que a Igreja reacende a esperança, contemplando não só a primeira vinda do Senhor, mas sobretudo o seu regresso no fim dos tempos.’ É o momento em que somos chamados a ‘aguardar e, ao mesmo tempo, apressar a vinda do Senhor com vigilância serena e diligente’.

Perceber a graça de Deus

‘Parusia’ é um termo usado quatro vezes pelo evangelista Mateus no capítulo 24 com um duplo significado : ‘presença’ e ‘vinda’. Jesus compara a expectativa de sua vinda aos dias de Noé antes do dilúvio universal. Eram dias em que a vida seguia normalmente e em que Noé sozinho construiu a arca, o instrumento da salvação. Sua história levanta questões essenciais para a compreensão do que o homem moderno precisa reconhecer. Diante de novos e complexos desafios, ‘a Igreja é chamada a permanecer um sacramento de salvação em uma era de mudanças’.

‘A paz - enfatiza o Padre Pasolini - permanece uma miragem em muitas regiões até que antigas injustiças e memórias feridas sejam curadas, enquanto na cultura ocidental o senso de transcendência é enfraquecido, esmagado pelo ídolo da eficiência, da riqueza e da tecnologia. O advento da inteligência artificial amplifica a tentação de uma humanidade sem limites e sem transcendência.’

O mistério de um Deus que tem confiança na humanidade

Perceber não basta, é preciso reconhecer ‘a direção para a qual o Reino de Deus continua a se mover dentro da história’, retornando à capacidade profética do Batismo. Perceber a graça de Deus, ‘esse dom da salvação universal que a Igreja humildemente celebra e oferece, para que a vida humana seja libertada do fardo do pecado e do medo da morte’. Uma graça à qual os ministros da Igreja não podem se habituar, correndo o risco de se familiarizarem tanto com Deus a ponto de o tomarem como óbvio. Assim, tomamos consciência do mistério de um Deus que ‘continua diante de sua criação com confiança inabalável, aguardando dias melhores’.

Apagar o mal

O pregador da Casa Pontifícia recorda que, para redescobrir o rosto de Deus que acompanha ‘sua criação ferida’, devemos recorrer à história do dilúvio universal, quando o Senhor vê o mal no coração humano. Esse mal não pode ser vencido pela mudança, pela evolução, porque à humanidade não serve somente realizar-se, mas também de salvar-se. ‘O mal não deve ser simplesmente perdoado : deve ser apagado, para que a vida possa finalmente florescer em sua verdade e beleza.’ Apagar, na cultura do cancelamento em que a humanidade de hoje está imersa, não é apenas destruir tudo, eliminar o que parece pesado nos outros. ‘Todos os dias cancelamos muitas coisas, sem nos sentirmos culpados ou causar qualquer dano. Apagamos - recorda Pasolini - mensagens, arquivos inúteis, erros em documentos, manchas, vestígios, dívidas. De fato, muitos desses gestos são necessários para permitir que nossos relacionamentos amadureçam e tornem o mundo habitável.’ Apagar significa abrir-nos a Deus, partindo de nossa própria fragilidade, e permitir que Ele nos cure.

A vida floresce quando Deus volta a estar no centro

O Senhor nunca se cansa de encontrar ‘um homem sábio, alguém que busca a Deus’, assim como fez com Noé, que por sua vez sentiu a graça do Senhor. No homem na arca, Deus encontra a possibilidade de apagar e recomeçar. ‘Somente quando o homem retorna para viver diante da verdadeira face de Deus é que a história pode realmente mudar’, enfatiza o monge capuchinho. ‘A história do dilúvio nos lembra que a vida floresce somente quando reconstruímos os céus, na medida em que colocamos Deus de volta no centro.’ O dilúvio se torna ‘uma passagem de recriação através de um momento de descrição’. ‘É uma mudança temporária nas regras do jogo, para salvar o próprio jogo que Deus havia inaugurado com confiança.’

Decidir não ferir 

O dilúvio é, portanto, ‘uma renovação paradoxal da vida’. Deus não se esquece da humanidade e coloca seu arco nas nuvens como sinal de aliança. O Senhor depõe suas armas com uma solene declaração de não violência. ‘Pode parecer - acrescenta o padre Pasolini - uma metáfora ousada, quase inadequada para falar de Deus e da forma como a sua graça se manifesta. No entanto, a humanidade, após milênios de história e evolução, ainda está longe de saber como imitá-lo.’

A Terra, de fato, está dilacerada ‘por conflitos atrozes e intermináveis, que não dão trégua a tantas pessoas fracas e indefesas.’ A decisão daqueles que, apesar de terem a capacidade, escolhem voluntariamente não ferir é reconfortante, porque compreendem que só acolhendo os outros é que a aliança ‘pode ser duradoura, verdadeira e livre.’

O tempo do bem

‘Vigiai pois, porque não sabeis o dia em que o seu Senhor virá’ : esta é a recomendação final de Jesus. Não saber o dia e a hora deste evento criou muita expectativa no passado, sublinha o pregador, mas hoje as coisas parecem ter invertido. ‘A espera diminuiu ao ponto de, por vezes, dar lugar a uma subtil resignação quanto ao seu cumprimento.’ Hoje, prevalece ‘uma vigilância cansada, tentada pelo desânimo’.

O tempo de espera é o tempo de semear o bem e aguardar a vinda de Jesus Cristo. Cuidado com duas grandes tentações que afetam a humanidade e a Igreja : ‘esquecer a necessidade da salvação e pensar que podemos recuperar o consenso cuidando da aparência externa da nossa imagem e diminuindo a radicalidade do Evangelho’. Devemos — enfatiza o capuchinho — retornar ‘à alegria — e também ao esforço — de seguir, sem domesticar a palavra de Cristo’. Somente como ‘sentinelas nas fronteiras do mundo’, como escreveu o monge Thomas Merton, podemos aguardar o retorno de Cristo.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.vaticannews.va/pt/vaticano/news/2025-12/predicatore-casa-pontificia-avvento-pasolini-parusia-attesa.html

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