Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo do Padre Paulo Ricardo
‘Quando o mundo desperta no dia seguinte ao Carnaval, é Quarta-feira de
Cinzas. Para os mundanos e pagãos, trata-se de mais um dia como qualquer outro.
Para nós, católicos, porém, inicia-se um tempo forte de oração e penitência : o
tempo da Quaresma.
A Igreja, mãe e mestra dos homens, tem o dever de
ensinar-lhes o caminho da santidade. Por isso, ela possui toda uma pedagogia,
com métodos e programas de ensino, que movem o coração do homem na direção do
Céu.
A Quaresma faz parte dessa pedagogia como um tempo
especial dedicado a um combate mais denso contra as nossas tendências
pecaminosas. Não se trata, portanto, de um período em que a Igreja simplesmente
se veste de roxo, mas de um kairós, ou seja, um tempo oportuno para
nossa conversão.
Para viver bem esse período, o homem deve conhecer o seu fundo mau e
reconhecer-se necessitado da graça divina. O tempo da Quaresma é esse tempo em que o homem passa quarenta dias
meditando sobre a Paixão de Nosso Senhor, a fim de afastar-se do homem
velho e, na Páscoa, ressurgir como um homem novo. Afinal, o que a Igreja deseja
não é somente a nossa libertação do pecado, mas a nossa santificação e
configuração a Cristo; ela quer, portanto, a nossa conversão mais profunda —
uma espécie de segunda decolagem, por assim dizer —, que retira o cristão
da lógica do mundanismo.
Na Quaresma, a Igreja nos exorta a praticar a esmola, o jejum e,
sobretudo, a oração, como descrito no Sermão da Montanha (cf. Mt 6).
Essas três práticas servem para ‘matar’ o homem velho dentro de nós e abrir o
nosso coração à graça santificante. Elas desligam o motor do pecado
— isto é, aquilo que São João chama de concupiscência da carne,
concupiscência dos olhos e soberba da vida (cf. 1Jo 2,
16) — e dispõem as nossas almas a serem movidas pelo amor de Deus. O jejum
mortifica a concupiscência da carne, a esmola mortifica a concupiscência dos olhos
e a oração mortifica a soberba da vida.
Tudo que há no
mundo é a concupiscência da carne. Essa carne de que fala São João não é bem o nosso corpo, mas aquela
inclinação da alma a querer os prazeres ilícitos da criatura. A alma humana, quando dominada pelo
pecado, vive uma desordem. Ela deixa de governar a vida do homem
para submeter-se às paixões carnais. Por isso ela recebe o nome de ‘carne’.
O jejum serve justamente para moderar essa fuga da dor e busca pelo
prazer, ordenando o nosso espírito, de modo que a alma domine sobre as paixões
e não o contrário. Assim, privar-se de coisas agradáveis como doces,
refrigerantes e o consumo de carne (brancas e vermelhas, atenção) é algo
bastante recomendável.
A concupiscência dos olhos. O homem é a única criatura de Deus que possui uma sede de
conhecimento, esse desejo que move o nosso olhar para tudo que seja ‘belo’ e ‘interessante’
às vistas. Por exemplo, nenhum outro animal é capaz de passar o dia inteiro no
Facebook, ou mudando de canal, ou passeando no shopping sem comprar nada, como
faz o ser humano.
O homem nasceu para conhecer a verdade. Porém, o pecado original causou uma desordem no seu
interesse pelas coisas, de modo que as pessoas se perdem na curiosidade malsã. Daí
a necessidade da esmola como exercício de desapego e abnegação.
A soberba da vida. O pecado original maculou o ser
humano com o vício diabólico do orgulho, essa atitude de achar-se suficiente e
dizer ‘eu me basto’. Na história da Igreja, esse vício se espalhou por heresias
como o pelagianismo e o semipelagianismo, que pregavam a ideia de uma
santificação sem a necessidade da graça de Deus, mas apenas por méritos
humanos.
O método mais eficaz para combater o orgulho é a oração. Colocando-se de joelhos diante de Deus, o
homem reconhece a sua debilidade e incapacidade para todo bem, qual um mendigo
na soleira da porta de Deus. Isso abre o nosso coração para o dom
da caridade, para a verdadeira esperança, que reside apenas em Deus, pois Ele é
que vai nos capacitar a amar e santificar os nossos irmãos. De resto, o homem
desespera-se de si mesmo para esperar apenas na providência divina.
Uma prática bastante recomendável para o tempo da Quaresma é a
participação diária à Santa Missa, com comunhões bem feitas, e a
frequência à Confissão. Nessa dinâmica, a nossa alma vai se identificando mais depressa à vontade do Divino
Mestre, que toca o nosso corpo e a nossa alma por meio dos sacramentos.
Com essa força, tornamo-nos mais resistentes às tentações, às concupiscências
da carne e dos olhos e à soberba da vida.
Não podemos nos esquecer ainda que o tempo da Quaresma é também o tempo
de Nossa Senhora, a mulher do Apocalipse que se retirou para o deserto, a fim
de vencer o dragão, a serpente maligna que pretendia devorar seu Filho. Peçamos, pois, o auxílio da Mãe Divina e
vivamos esses quarenta dias na expectativa de novos céus e nova terra, no dia
da ressurreição.’
Fonte : *Artigo na íntegra
https://padrepauloricardo.org/episodios/como-viver-bem-o-tempo-da-quaresma
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