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domingo, 30 de junho de 2024

Aumento de casamentos forçados e mutilação genital feminina

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo da Vatican News


‘Os numerosos casos de casamentos forçados e precoces e de mutilação genital feminina alarmam cada vez mais a comunidade internacional. De fato, até a presente data, aproximadamente 650 milhões de mulheres no mundo casaram antes dos dezoito anos, enquanto 230 milhões sofreram mutilação genital.

Mas a situação também é grave na Itália e é por isso que a ONG ActionAid decidiu lançar o projeto ‘Join our Chain’. ‘É um modelo multissetorial que opera em três níveis, com vista à prevenção e intervenção em situações de risco’, explica Benedetta Balmaverde, diretora do projeto ActionAid, à Rádio Vaticano – Vatican News.

Os números do fenômeno

Os casamentos forçados e a mutilação genital feminina registaram um aumento de 15% desde 2016. São dados oficiais, fornecidos pelo Unicef, mas que descrevem apenas parcialmente a gravidade dos dois fenômenos. Na verdade, os casamentos forçados e a mutilação genital feminina continuam ser práticas generalizadas em muitos países, especialmente na África Subsaariana, no Médio Oriente e no Sudeste Asiático.

A Europa, e especificamente a Itália, não está isenta deste triste fenômeno. Os últimos dados disponíveis, publicados em 2019, indicam que mais de 87 mil mulheres foram vítimas destes episódios, com uma concentração significativa de casos nas comunidades nigeriana, etíope e egípcia. ‘O número total absoluto destas práticas está aumentando – explica Balmaverde – uma vez tratar-se de países que registram um forte crescimento demográfico. E o crescimento ocorreu especialmente após a pandemia. Contudo, quando estas mulheres chegam à Itália, a implementação destas práticas diminui. Mas faltam pesquisas atualizadas em nível nacional’.

O projeto ‘Junte-se à nossa Corrente’

Promovido pela ActionAid em Milão e agora ampliado também a Roma, o projeto visa combater o fenômeno da mutilação genital feminina e do casamento precoce.

‘A cadeia de intervenção – continua Balmaverde – está dividida em três fases : emergência, para coleta de relatórios de situações de risco; despacho, para reportar casos às instituições presentes na área; e assistência e proteção, para proteger e apoiar as vítimas.’

A iniciativa consiste em uma abordagem integrada que, para combater estas duas práticas nocivas, conta com a participação de diferentes profissionais e setores : escolas, serviços sociais e de saúde, autoridades policiais e linguística-culturais mediadoras.

‘Um papel fundamental - conclui Balmaverde - é desempenhado pelos formadores comunitários, figuras-chave nas atividades de sensibilização e apoio nas comunidades envolvidas. A nossa intervenção pretende ser uma resposta concreta a estas graves violações de direitos, integrando prevenção, assistência e proteção.

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.vaticannews.va/pt/mundo/news/2024-06/casamento-forcado-e-precoce-e-mutilacao-genital-feminina.html

sexta-feira, 28 de junho de 2024

O treinamento da arte de amar

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo do Padre José Alem, CMF


Sempre compreendamos que praticar aquilo em que nós acreditamos e desejamos viver faz-nos um com os outros até que eles também descubram o grande ideal que nos motiva e pode transformar o mundo. Esse é nosso programa de vida, nosso caminho a seguir com Jesus. 

Será possível viver assim? Sejamos sinceros: às vezes, sim, às vezes, não. Nem sempre é fácil fazer-se um com o próximo : sofrer com quem sofre nos custa esforço, ensinar quando perdemos a paciência, ajudar a mãe em casa enquanto nossos colegas brincam, ir fazer o que o pai nos pede para ajudá-lo quando se tem vontade é de se divertir… 

Fazer-se um com os outros exige paciência, coragem, perseverança, decisão, enfim, todas as virtudes que só o amor sincero pode nos dar. Entretanto, não há outro caminho. É preciso amar sempre. 

Como fazer para amar sempre, sobretudo se ainda estamos iniciando essa experiência de vida e temos tão pouca experiência? É bom lembrar que tudo na vida exige esforço, até as coisas mais agradáveis. Veja como é preciso ter dedicação e esforço para praticar um esporte : sem treinamento não é possível conseguir nadar bem, por exemplo. 

Também nós, se queremos levar avante a nossa luta por um mundo melhor, a nossa revolução de amor, devemos treinar todos os dias sem interrupção. Como fazer esse treinamento? É algo muito simples. Você quer aprender mesmo a amar a Deus, amar as pessoas por amor a Ele? Não espere um instante sequer, não pense muito, não fique somente no desejo de amar. Ame logo, no momento presente. Amar agora, neste instante, fazendo a vontade de Deus e não a nossa própria. E a vontade de Deus é sempre amar. 

A vida é feita de cada momento presente. O passado já se foi e nós o colocamos no coração de Deus. O futuro ainda não existe, só vai existir quando se tornar presente, sendo assim, é o presente que conta, o momento que passa e que para você, para mim, para todos nós deve ser colhido de imediato e vivido bem até o fim, fazendo nele o que Deus quer de melhor para nós : caminhar, dormir, estudar, brincar, ajudar alguém, orar, ir à Missa… Enfim, tudo o que no momento presente de melhor podemos fazer por Deus e pelas pessoas, mesmo que isso nem sempre seja o que mais queremos. 

Temos que aprender a escutar a voz de Deus no íntimo da nossa consciência. A consciência é como um órgão, não físico, que lhe dirá o que Deus quer de você a cada momento. Por exemplo : se você se desentendeu com alguém, sentirá no seu íntimo – por meio de sua consciência – que deve amar a todos, até os que o incomodam ou prejudicam. 

Viva bem o que Deus quer no momento presente da vida e assim, como um ponto após o outro formam a reta, do mesmo modo momento após momento vai-se formando a sua vida, a vida de cada pessoa. 

Podemos viver cada instante da vida fazendo a nossa vontade ou a vontade de Deus. Se somos seguidores de Jesus, devemos aprender sempre com Ele a fazer em cada instante e sempre a vontade de Deus, que nos torna sempre novos e impede que se instale em nós o egoísmo. Dessa forma, vamos construindo o ‘homem novo’, como diz o apóstolo São Paulo, quando amamos e vamos derrotando o ‘homem velho’, símbolo do egoísmo que destrói todo amor. 

Treine sempre, a todo o momento. Se às vezes não conseguir e fracassar, peça perdão a Deus e recomece. Também os grandes atletas nem sempre acertam e reconhecem suas quedas e erros, mas perseveram, prosseguem no jogo apesar dos percalços e assim vão chegando à vitória. A taça que esperamos é bem mais preciosa. Não é uma coisa, apenas é o ‘Paraíso’ no qual queremos chegar. 

Não existe idade para morrer. Todo dia é dia. A vida passa depressa e temos uma vida só. Como usar bem o tempo que passa? Como viver bem a vida que nos foi dada por Deus? O segredo é um só : amar a Deus e por Ele amar os outros. 

Se o seu coração, diante de todas as circunstâncias, tristes ou alegres, diante de todos os deveres, diante de todas as pessoas, tivesse podido expressar o seu desejo mais profundo e ardente, diria : ‘Amar é o que importa!’.

Sim, o que importa é amar a Deus. O resto todo é vaidade, é passageiro. Diga sempre a si mesmo : ‘Amar-te, meu Deus, é o que importa’.

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/o-treinamento-da-arte-de-amar.html

terça-feira, 25 de junho de 2024

Como amar a Deus sobre todas as coisas?

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo do Padre Luiz Antônio de Araújo Guimarães 


Essa é uma pergunta que os jovens frequentemente fazem, pois amar a Deus sobre todas as coisas parece ser algo abstrato, mas não é, de fato. Muitas coisas querem ocupar o primeiro lugar : circunstâncias, pessoas, bens materiais, e Deus, onde fica? Para saber como amar a Deus sobre todas as coisas é necessário, antes de tudo, conhecer os mandamentos e confrontá-los com a própria vida.

A Sagrada Escritura assim descreve sobre o primeiro mandamento : ‘Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com toda a tua mente’ (Mt 22, 37). A arte de amar é própria de Deus, e Ele é a origem do amor, ou seja, o amor por excelência. Por isso, quem O ama com todo o coração, alma e mente saberá o que é verdadeiramente o amor. Ninguém sobrevive sem amor, mas também ninguém conhecerá o amor se não amar a Deus sobre tudo e sobre todos. Amá-Lo, por sua vez, é o princípio do saber, conforme está escrito no livro dos Provérbios. O homem sábio buscará amar a Deus, e nada ocupará o primeiro lugar em sua vida a não ser Ele.

No entanto, há alguns atos de recusa ao amor a Deus. O Catecismo da Igreja Católica, no parágrafo 2094, diz : ‘Pode-se pecar contra o amor de Deus de diversas maneiras : a indiferença descuida ou recusa a consideração da caridade divina; desconhece-lhe o cuidado preveniente e nega-lhe a força. A ingratidão não reconhece, por desleixo ou recusa formal, a caridade divina, não retribuindo amor com amor. A tibieza, que é hesitação ou negligência em corresponder ao amor divino, pode implicar a recusa de se entregar ao movimento da caridade. A acédia ou preguiça espiritual chega a recusar a alegria que vem de Deus e a aborrecer o bem divino. O ódio a Deus nasce do orgulho : opõe-se ao amor de Deus, cuja bondade nega, e ousa amaldiçoá-lo como Aquele que proíbe o pecado e lhe inflige o castigo’.

Veja bem! A indiferença, a ingratidão, a tibieza, a acédia (preguiça espiritual) e o ódio são atitudes que impedem o ser humano de amar a Deus sobre todas as coisas. Lamentavelmente, os que se distanciam de Deus, além de recusarem o Seu amor – porque foi Ele quem amou e ama primeiro – não saberão amar de verdade. Neste mundo que muitas vezes apresenta essas correntes e nega a verdadeira face do amor, pode-se provocar os jovens com a pergunta : você conhece o amor? Sabe o que ele significa? Sobrevive sem o amor? Certamente, o jovem levará a pergunta para o contexto de realidades efêmeras, dos amores e não do Amor. Mas aí está um bom momento para explicar sobre o amor a Deus como plenitude da alma.

Confrontar, em reflexão, o primeiro mandamento com as atitudes do dia a dia será um meio eficaz para saber se o amor a Deus está em primeiro lugar. Por exemplo, há tantos jovens que dizem não precisar de Deus, de religião, de espiritualidade. Será que eles são felizes? Claro que não! Em contrapartida, tantos outros têm buscado mais a Igreja, se deixando tocar pelo amor de Deus e buscando viver segundo Seus mandamentos. Será que estes são felizes? Claro que sim! E convém dizer que esta felicidade não está na ausência de dor, de sofrimentos, de provações, mas sim na firme certeza de que o Amado nunca deixará de lado aquele e aquela que O ama. Já garante São Paulo Apóstolo : ‘Aliás, sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são os eleitos, segundo os Seus desígnios’ (Rm 8,28).

Daí, portanto, amar a Deus não é algo abstrato; é, por certo, muito concreto. Olhe bem para as suas atitudes do dia a dia e veja se elas estão te levando a amar a Deus sobre todas as coisas ou não. Se elas privilegiarem o amor a Deus, verás quão bom é amá-Lo sobre tudo e sobre todos e nunca mais deixarás de assim fazer. Lembre-se dos sinais do artigo anterior : pare, olhe e siga! Avante!’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/como-amar-a-deus-sobre-todas-as-coisas.html

domingo, 23 de junho de 2024

A vocação de São João Batista

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo do Padre Fellinto Oliveira Britto


São João Batista é uma das personagens mais importantes e veneradas na tradição cristã. Conhecido como o precursor do Cristo de Deus, sua vocação se caracteriza por um chamado divino para preparar o caminho do Senhor e convidar as pessoas ao arrependimento de seus pecados. São João Batista nasceu em circunstâncias milagrosas, conforme relatado no Evangelho de São Lucas. Seus pais, Zacarias e Isabel, eram idosos e não tinham filhos, mas Zacarias recebeu uma visita do Arcanjo São Gabriel que anunciou o nascimento de João. São Gabriel disse que ‘João seria grande aos olhos do Senhor e estaria cheio do Espírito Santo desde o ventre materno’.

Desde a sua juventude, São João viveu no deserto, onde levou uma vida ascética. Ele vestia-se com peles de camelo e se alimentava de gafanhotos e mel silvestre, um estilo de vida austero que simbolizava sua total consagração a Deus e a rejeição das comodidades mundanas. O deserto também representava um lugar de preparação espiritual, um tema comum na história bíblica para aqueles que estão sendo preparados por Deus para uma missão especial.

São João Batista começou seu ministério público pregando às margens do Rio Jordão, onde batizava as pessoas. Sua mensagem central era ‘o arrependimento dos pecados’, pois o Reino de Deus estava próximo. Preparando as pessoas para a chegada de Cristo, ele foi o último profeta do Antigo Testamento e o único que viu o próprio Messias. São João chamou as pessoas ao arrependimento genuíno e à conversão, advertindo-as da ira vindoura e convocando-as a demonstrar frutos dignos de arrependimento. Ele batizava aqueles que confessavam seus pecados, um rito que simbolizava a purificação e a renovação espiritual.

Um dos eventos mais significativos do ministério de João foi o batismo de Jesus. Apesar de sua relutância inicial, João batizou Jesus no Rio Jordão. Durante o batismo, o Espírito Santo desceu sobre Jesus em forma de pomba, e uma voz do céu declarou : ‘Este é o meu Filho amado, em quem me agrado’ (Mt 3,17). Este acontecimento marcou o início do ministério público de Jesus e confirmou a missão de São João como precursor do Messias.

Este grande Profeta também foi um corajoso defensor da verdade e da justiça, não hesitando em confrontar as autoridades de sua época. Ele denunciou publicamente o rei Herodes Antipas por tomar Herodíades, esposa de seu irmão, como sua própria esposa. Esta denúncia levou à sua prisão e, consequentemente, à sua morte. São João foi decapitado por ordem de Herodes, a pedido de Herodíades, que buscava vingança.

A vocação de São João Batista foi caracterizada por sua profunda humildade e dedicação ao chamado de Deus. Ele sempre apontou além de si mesmo, direcionando as pessoas para Jesus, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Ele é lembrado como um modelo de fé, coragem e abnegação, cuja vida e ministério prepararam o caminho para a chegada de Jesus Cristo. Sua mensagem de arrependimento e preparação para a vinda do Reino de Deus continua a ressoar na tradição cristã até hoje.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/a-vocacao-de-sao-joao-batista.html

sexta-feira, 21 de junho de 2024

Qual a relação da solenidade de São João Batista com as festas juninas?

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Valdeci Toledo


Em 24 de junho, a Igreja celebra o nascimento de São João Batista. A data dessa festa, três meses após a anunciação e seis meses antes do Natal, corresponde às indicações de Lucas (1,36.56-57) e é uma das festas mais antigas, pois desde o século IV já havia celebrações litúrgicas em honra a João Batista. 

No dia 29 de agosto, a Igreja celebrará também a memória do seu martírio. João Batista é o único santo, além de Maria, a mãe de Jesus, de quem se celebra também o nascimento segundo a carne, pois na liturgia católica é comum celebrar o dies natalis, nascimento para o Céu dos seus santos, quando eles morrem biologicamente. No caso de João Batista, podemos dizer que se celebram os dois nascimentos, na Terra e no Céu. 

Anúncio da chegada dos tempos messiânicos

A Sagrada Escritura nos relata que Maria, logo após o anúncio do nascimento de Jesus, também foi informada pelo Anjo Gabriel sobre a gravidez de sua prima Isabel, o que a fez se dirigir à casa de sua prima para ajudá-la em seus últimos meses de gestação. Assim, Maria, grávida de Jesus, deve ter sido aquela que ajudou no parto de João Batista e o segurou em seus braços. 

João é filho de Zacarias e Isabel e seu nascimento anuncia a chegada do Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo. O Evangelho dá João o apelido de ‘Batista’ porque ele anuncia um novo rito de purificação (cf. Mt 3,13-17), no qual o batizado não imerge sozinho na água, como nos ritos judaicos, mas recebe a água batismal das mãos de algum ministro. João pretendia mostrar, assim, que o homem não se pode purificar sozinho, mas que toda santidade vem de Deus. João Batista é também lembrado como homem de grande mortificação, pois habitava o deserto, vestia-se de pelos de camelo e se alimentava de gafanhotos e mel silvestre (cf. Mt 3,4). 

O maior dos profetas

João Batista foi o maior entre os profetas, pois foi ele quem anunciou o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (cf. Lc 7,26-28; Jo 1,29.36). Sua vocação profética desde o ventre materno reveste-se de acontecimentos extraordinários, pois é um tempo repleto de alegria, é o momento da preparação para o nascimento de Jesus (cf. Lc 1,14.58). O Batismo de penitência que acompanha o anúncio dos últimos tempos é figura do Batismo segundo o Espírito Santo, que renovará todas as coisas (cf. Mt 3,11). 

É Jesus mesmo quem declara quem é esse profeta : ‘Em verdade vos digo : entre os filhos de mulheres, não surgiu outro maior que João Batista’ (Mt11,11). Assim, João Batista é o último dos grandes profetas de Israel, o primeiro a dar testemunho de Jesus e a iniciar o Batismo para o perdão dos pecados; nesse contexto, batizou Jesus e foi mártir em defesa da lei judaica. 

A origem das festas juninas e o dia de São João

As festas juninas, também conhecidas como festas de São João, são as comemorações anuais brasileiras adaptadas do solstício de verão europeu, haja vista que aqui no Brasil ocorrem no meio do inverno. Essas festividades, introduzidas pelos portugueses, são celebradas durante o mês de junho em todo o país. 

A prática de fazer fogueiras, na tradição pagã, era para combater as pestes que provocavam mortandades. Contra isso, as pessoas descobriram um remédio, fazer com ossos de animais uma fogueira cuja fumaça afugentava os males. Essa relação das festas juninas com as fogueiras soma-se também a uma tradição que lembra que os ossos de São João Batista foram queimados na cidade de Sebasta ou Sebaste (localizada na Palestina). A cidade de Gênova conserva as cinzas de São João Batista como relíquias veneradas em sua catedral. 

Essas práticas pagãs dos povos europeus foram cristianizadas quando o cristianismo passou a ser a principal religião do continente europeu. Para facilitar a conversão dos diferentes povos pagãos, a Igreja Católica utilizava a inculturação das festividades, adicionando-as ao calendário católico e acrescentando nelas elementos cristãos, com o propósito de purificá-las dando-lhes novo sentido. Outra festa na qual essa prática se repetiu, por exemplo, foi a comemoração do Natal, que acontece todo mês de dezembro, na qual se dá o solstício do inverno, quando a duração dos dias começa a aumentar, um perfeito paralelismo sobre o que disse João ‘importa que Ele cresça e eu diminua’ (Jo 3,30).

Por analogia, podemos dizer que a fogueira lembra que João também foi uma tocha acesa e ardente no seu compromisso com a vontade de Deus.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/qual-a-relacao-da-solenidade-de-sao-joao-batista-com-as-festas-juninas.html

terça-feira, 18 de junho de 2024

O precursor

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Diego Lelis, CMF

‘Naqueles dias, apareceu João Batista, pregando no deserto da Judeia. Dizia ele : ‘Fazei penitência porque está próximo o Reino dos Céus’.’ (Mt 3,1-2)

‘Viva João Batista,

Viva o precursor!

Porque João Batista

Anunciava o Salvador.’ (Hinário popular)

No mês de junho, celebramos o nascimento de São João Batista. Esse santo é um dos mais venerados no mundo e o único a ter seu nascimento terreno comemorado, isso porque a Igreja celebra a festa dos santos na data em que eles partiram deste mundo para a casa do Pai.

João, o Batista, é reconhecido como o último dos profetas, aquele que teve a missão singular de preparar o caminho para a vinda de Jesus Cristo. Sua vida e seu ministério são marcados por uma profunda ligação com a figura de Cristo antes mesmo de seu nascimento.

O Evangelho de Lucas nos revela um momento extraordinário que ressalta essa relação única entre João e Jesus. No relato da visitação, Maria, mãe de Jesus, vai ao encontro de sua prima Isabel, que está grávida de João Batista. Ao chegar e saudar Isabel, o bebê João estremeceu de alegria no ventre de sua mãe, indicando, segundo a tradição, o reconhecimento da presença de Jesus ainda não nascido. Isabel, cheia do Espírito Santo, exclamou : ‘Donde me vem esta honra de vir a mim a mãe de meu Senhor? Pois eis que, ao chegar aos meus ouvidos a voz da tua saudação, a criancinha saltou de alegria no meu ventre’ (Lc 1,43-44). Essa passagem é particularmente significativa, pois revela não apenas a singularidade da missão de João, mas também a sua profunda consciência da presença salvífica de Cristo. Vê-se nesse evento uma antecipação da missão de João, que seria o precursor do Messias, anunciando a sua chegada e preparando os corações para acolhê-lo.

O canto do Magnificat, proclamado por Maria em resposta à saudação de Isabel, também ressalta a importância de João como o precursor de Jesus. Nesse cântico, Maria exalta a grandeza de Deus e reconhece a bênção de ser a mãe do Salvador. Ela diz  : ‘Sua misericórdia se estende aos que o temem. Manifestou o poder do seu braço : desconcertou os corações dos soberbos. Derrubou do trono os poderosos e exaltou os humildes’ (Lc 1,50-52).

O canto do Magnificat é o anúncio de um novo tempo que será pregado mais fortemente por João ao anunciar a chegada do Reino e a necessidade de conversão. 

Ao celebrarmos a vida e o testemunho de São João Batista somos convidados a nos prepararmos e recebemos o Salvador, que nos convida à conversão.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/o-precursor.html


sábado, 15 de junho de 2024

Um novo caráter a serviço do reino de Deus

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo do Padre Flávio José Lima da Silva


‘A história da humanidade é marcada com grandes acontecimentos. Desde os primórdios, identificamos a ação de Deus junto a seu povo. As Sagradas Escrituras, sobretudo o Antigo Testamento, apresentam a revelação que Deus vivia na vida do povo de Israel. Esse povo, ao compreender Deus como criador, libertador e salvador, buscava ser fiel dentro da limitação humana. É preciso que fique claro : Deus quis revelar-se à humanidade por meio do povo de Israel. 

Segundo as Sagradas Escrituras, Deus escolhe pessoas para orientar seu povo. Desde o início foi assim e essas pessoas eram escolhidas a partir da sua fidelidade ao projeto de Deus e por causa do caráter, do compromisso que mostravam. O tempo passa e a história vai seguindo o seu percurso e Deus continua acreditando na humanidade, mesmo que esta não lhe seja fiel na totalidade. Deus permanece firme em sua aliança.

Deus, mantendo sua aliança na plenitude dos tempos por causa do seu infinito amor de Pai, vem à humanidade por meio de seu Filho unigênito nascido de uma mulher (cf. Gl 4,4-5). Assim, Jesus Cristo é a Palavra que se fez carne e habitou no meio da humidade (cf. Jo 1,18), ou seja, Jesus é a certeza do amor de Deus para com o seu povo. Sendo obediente e comprometido com o projeto do Pai, Jesus Cristo é exemplar no seu caráter e é plenamente fiel a tudo que o Deus Pai lhe confiou.

Foi necessário apresentar-se bem sucintamente, um panorama da vida do povo de Deus a partir do Antigo Testamento chegando até o Novo Testamento, e nesse contexto foi possível perceber o caráter daqueles que fizeram a opção em seguir o projeto apresentado por Deus. Vale destacar que Deus escolheu alguns para guiar, orientar e formar seus povos, eles tiveram papéis fundamentais na construção do Reino, pois, comprometidos, foram exemplares na missão.

Hoje o Reino de Deus continua, pois Ele mantém sua aliança com a humanidade, é fiel, sua bondade e misericórdia são infinitas. No entanto, faz-se necessária uma mudança de vida, é chegada a hora de um novo caráter. O Reino de Deus precisa ser anunciado com muita firmeza; temos grandes exemplos nas Sagradas Escrituras de pessoas que eram fiéis, comprometidas com Deus e a partir desses exemplos é urgente que hoje também tenhamos pessoas dedicadas, comprometidas, pois o Reino de Deus precisa ser anunciado.

Por fim, para um novo caráter a serviço do Reino de Deus, devemos colocar em prática o nosso Batismo, pois por meio desse Sacramento nos tornamos herdeiros da vida eterna, com ele temos o certificado da salvação, mas, precisamos colocar em prática a fé que professamos. Para obtermos um novo caráter é necessário seguir Jesus Cristo de fato e segui-lo pressupõe fazer o que Ele fez, sendo assim é preciso amar sem medida, perdoar sempre, acolher o próximo e nos colocarmos a serviço do Reino. Jesus fez isso com muita leveza, façamos o mesmo e assim estaremos a serviço do Reino de Deus.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/um-novo-carater-a-servico-do-reino-de-deus.html


quinta-feira, 13 de junho de 2024

Pedro, um homem de fé

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Frei Ricardo da Cruz, OFM Conv


Pedro é o apóstolo mais conhecido dos evangelhos e em todos ele assume um papel de liderança. Pedro significa ‘rocha’, ‘pedra’, isto é, algo firme, sólido e constante. Tal nome, em um primeiro momento, parece não fazer sentido para uma pessoa que possui como características a inconstância e a impulsividade.

Antes de seu encontro com Jesus seu nome era Simão. Foi o próprio Jesus que, fixando nele o olhar, disse : ‘Tu és Simão, filho de João; chamar-te-ás Cefas [que significa pedra]’ (Jo 1,42). Jesus não tinha o costume de mudar o nome de seus discípulos, mas o fez com Pedro. O seu nome era na verdade um mandato que ele recebia do Senhor. Dessa forma, para que Pedro se tornasse verdadeiramente uma ‘rocha’ seria preciso passar por um caminho de transformação. Pedro é, talvez, o apóstolo que mais expressa aquilo que cada cristão é como seguidor do Senhor e, ao mesmo tempo, a possibilidade que cada cristão tem de se transformar no caminho de seguimento de Jesus Cristo. 

Pedro, em sua humanidade, deixa transparecer as suas fraquezas, o medo e até mesmo a covardia, características que são notadas em todo cristão que está no caminho de seguimento de Jesus Cristo. Porém, Pedro revela que a fé não anula a fragilidade humana, ao contrário, faz com que cada discípulo de Cristo tome consciência de sua fragilidade e se coloque no caminho de transformação e conversão.

A inconstância de Pedro é muito clara nos diversos relatos dos evangelhos; ao mesmo tempo em que ele professa a sua fé em Jesus Cristo reconhecendo-o como Messias (cf. Mt 16,16), não aceita o sofrimento e a morte violenta que o Messias deveria passar em Jerusalém, por isso chama Jesus à parte para tentar dissuadi-lo : ‘Deus não o permita, Senhor! Isso jamais te acontecerá’ (Mt 16,22). O sofrimento e a morte pela qual Jesus deveria passar não condiziam com a imagem do Messias esperado por Pedro, por isso o mesmo que fora chamado pelo Messias a ser a pedra na qual edificaria a sua Igreja (cf. Mt 16,18) então era é chamado de pedra de tropeço (cf. Mt 16,23). 

A fé de Pedro é consolidada mediante o processo de vivência e de escuta atenta do Senhor. Ora Pedro manifesta uma fé madura e inspirada pelo Espírito quando reconhece Jesus como Filho de Deus (cf. Mt 16,16), ora é repreendido por Jesus por não pensar como Deus e sim como os homens (cf. Mt 16,23). A fé é um caminho de consolidação, de experiência com Deus, de conversão e transformação. Pedro, apesar de sua inconstância e contradições, é capaz de permanecer firme no seguimento de Jesus, professa uma fé verdadeira no Messias, que é o único que tem palavras de vida eterna (cf. Jo 6,68).

A fé de Pedro ensina a todo cristão que Deus chama seus seguidores em sua integralidade, com suas virtudes e fraquezas. A fé de Pedro está na sua humanidade frágil que busca corresponder ao chamado divino. Pedro é um homem de fé porque acreditou que Deus poderia transformar sua história convertendo-o de simples pescador a líder da Igreja de Jesus Cristo. Sua fé se manifesta na abertura e disponibilidade de deixar-se transformar pelo Espírito de Deus.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/pedro-um-homem-de-fe.html


terça-feira, 11 de junho de 2024

Musicalidade e mansidão

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Ricardo Abrahão 

 

‘Tem circulado entre a fala de pacientes do meu consultório de psicanálise e pessoas da minha convivência diária a constatação de que, em geral, a maioria não tem escutado bem. Não são questões auditivas. São questões de escuta atenta. Então, reflito bastante sobre tudo o que me dizem e prefiro não encontrar ‘culpados’, ou seja, colocar a culpa em redes sociais e aparelhos digitais, o que muitos terapeutas tem feito. Minha preferência é pensar que não estamos nos concentrando o suficiente na musicalidade da escuta. Afinal, música e escuta necessitam concentração.

Proponho uma reflexão baseada na escuta musical : Jesus concentrou com precisão o coração como o lugar onde a escuta é eficaz. Ele diz que o caminho é fazer como Ele mesmo, ou seja, sendo manso e humilde de coração. Mansidão e humildade são palavras que fundamentam a história da escuta humana. Os sábios nos guiaram por caminhos seguros e foram homens de excelente escuta. Atualmente há uma grande procura sobre a música como ferramenta de cura, meditação, equilíbrio e paz.

O cristianismo é mansidão e humildade e, para ser chamada música cristã, os sons musicais na Igreja necessitam veicular e promover acesso à mansidão e à humildade no coração humano. Do contrário, torna-se muito grande o risco de colocar o coração nas deturpações da vida. O Coração de Jesus é a música do Amor por excelência.

É tempo de parar e aprender a escutar a Voz que canta no Sagrado Coração de Jesus, evitando a dispersão e promovendo a concentração. A musicalidade do Coração Divino rege acordes que conduzem, os que verdadeiramente escutam, ao caminho seguro da verdadeira paz. Nossa única tarefa é aprender a escutar sempre. Que o Amor seja nossa música!’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/musicalidade-e-mansidao.html

domingo, 9 de junho de 2024

Fidelidade à Vocação

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Pedro Nascimento,

Leigo Missionário Comboniano


A vocação, dom de Deus para cada pessoa, é manifestação do Amor do Senhor por cada um de nós, um amor incondicional que começa mesmo antes do nosso nascimento. Podemos compreender isso através da vocação de Jeremias, quando o Senhor lhe diz : «Antes de te haver formado no ventre materno, Eu já te conhecia; antes que saísses do seio de tua mãe, Eu te consagrei e te constituí profeta das nações» (Jer 1, 4-5). 

Com efeito, Deus ama-nos, conhece-nos, chama-nos à felicidade e no nosso coração estará sempre uma sede de Deus, do Seu Amor, de fazer a Sua vontade, apesar dos medos, das dúvidas, dos anseios. Refere o Papa Francisco que «a vocação brota do coração de Deus e germina na terra boa do povo fiel, na experiência do amor fraterno» (Mensagem para o 51.º Dia Mundial de Oração pelas Vocações).

Viver em plenitude

No caminho de discernimento pessoal, importa compreender a nossa essência, o que nos faz feliz, a que somos chamados. Nem todos somos chamados a ser profeta das nações como Jeremias, mas somos chamados a uma vocação específica! E se formos fiéis à nossa vocação, de certeza que faremos coisas maravilhosas na nossa relação com Deus, na nossa vida, na vida dos que nos rodeiam. Viver em plenitude a nossa vocação é assumir o desejo de ser santos (1Ped 1, 16) ou, como refere São Daniel Comboni, «santos e capazes». A construção de um mundo melhor, mais justo e fraterno passa pela vivência genuína da nossa vocação. Santo Afonso Rodrigues, irmão jesuíta, foi porteiro numa escola e, na simplicidade da sua vida, conseguiu ser luz para aqueles que consigo se cruzavam.

Assumir a sua vocação não foi fácil para Jeremias, que logo disse ser muito novo (Jer 1,6), tal como não será fácil para cada pessoa compreender (e, por vezes, aceitar) a vocação. Para mim também não foi fácil assumir o desejo de viver a vocação laical e missionária e partir para outra terra; quantas vezes pensei que não tinha dons para partilhar, que não me iria adaptar; quantas vezes me questionaram sobre o que ia fazer; quantas vezes me disseram que há tanto para fazer no nosso país. E todas são questões legítimas!

O discernimento espiritual, a oração, a escuta de Deus, permitiu compreender a que sou chamado! Cada um é chamado a algo em específico e o importante é viver com alegria a nossa vocação, seja na nossa aldeia, vila ou cidade, ou noutro país! Ecoam em nós as palavras de João Paulo II : «Irmãos e irmãs : não tenhais medo de acolher Cristo». 

A vocação de Jeremias inspira-me muito, ajudou-me bastante no meu discernimento pessoal. Existe uma música da irmã Glenda, que escutei (e escuto) inúmeras vezes e usa o texto de Jeremias (cf. 20, 7-9) : «Tu seduziste-me, Senhor, e eu deixei-me seduzir!» No caminho que vamos fazendo, Deus seduz-nos, estimula-nos a viver a vocação. Não impõe! Mas pacientemente, consegue derrubar as nossas barreiras, as resistências e no fim, vencidos, diremos : «Dominaste-me e venceste-me.»

Fiel à vocação

Na fidelidade à sua vocação, Jeremias sofreu. Chegou mesmo a desejar a sua morte (cf. Jer 20,17). Aliás, Jeremias chegou mesmo a desejar não pensar, nem falar mais em Deus. Contudo, acaba por confessar : «No meu coração, a sua palavra era um fogo devorador, encerrado nos meus ossos» (Jer 20,9). 

Assumir na nossa vida a vocação de Deus pode ser bastante difícil. Viver os valores do Reino, muitas vezes considerados ultrapassados pela sociedade, escutar a vontade de Deus quando a nossa é completamente diferente é incómodo, cria tensão. Aconteceu com Jeremias, com imensos homens e mulheres ao longo dos tempos, acontece nos dias de hoje. Mas Jeremias foi fiel. Apesar das dores, das lamentações, Jeremias cumpriu a sua missão, falou de Deus ao Povo, convidando à conversão (Jer 7,3), denunciou a adoração de outros deuses (Jer 7, 16-20 e as injustiças sociais (Jer 12, 1-5).

Na história vocacional de Jeremias, verificamos que Deus é fiel à Sua Palavra, está conosco. Jeremias ensina-nos a ser fiéis à Palavra de Deus, apesar das dificuldades que possam surgir. Seguir Jesus em fidelidade à vocação implica assumir também os dissabores que por vezes surgem, implica viver com e por Amor. Como nos ensina o Papa Francisco: «Mas existe um amor maior, um amor que vem de Deus e se dirige a Deus, que nos permite amar a Deus, tornando-nos seus amigos, e nos concede amar o próximo como Deus o ama, com o desejo de partilhar a amizade com Deus. Por causa de Cristo, este amor impele-nos para onde humanamente não iríamos : trata-se do amor pelos pobres, pelo que não é amável, por quem não nos ama e não nos é grato. É o amor pelo que ninguém amaria; até pelo inimigo. Até pelo inimigo. Isto é ‘teologal’, vem de Deus, é obra do Espírito Santo em nós» (Audiência geral, 15/05/2024).

Testemunha do amor de Cristo

O padre Fugain Dreyfus Yepoussa é um jovem comboniano da República Centro-Africana. Está agora em Espanha e vem do Peru, onde esteve seis anos a prestar o seu serviço missionário. Conta-nos o seu testemunho vocacional e frisa que, como Jeremias, teve momentos de alegria, mas também de solidão e incompreensão. No entanto, sempre viveu com serenidade e com a certeza de que Deus o chama a ser missionário.

«Quando estava na escola secundária, encontrei-me com um ex-postulante comboniano. Ele falou-me de São Daniel Comboni e ofereceu-me o livro Salvar a África com a África. Ao lê-lo, senti que Deus me chamava a dar o meu pequeno contributo para ‘salvar a África’. Decidi contatar os Missionários Combonianos. Assim começou o meu caminho de discernimento e de formação na congregação. Em 2006, entrei no postulantado em Bangui e quando terminei fui enviado para o noviciado de Cotonou, no Benim.

Fiz os votos religiosos e fui destinado à R. D. do Congo, para estudar Teologia. Em 2015, regressei ao meu país para um período de serviço missionário.

Em 2017, depois da ordenação sacerdotal, deixei o meu continente para partir para o Peru. Durante seis anos fiz uma experiência missionária na paróquia de Buen Pastor na cidade de Arequipa. Conhecer outro povo, outra cultura, outra língua e, sobretudo, outra forma de viver a fé cristã e católica enriqueceu-me; foi uma graça ter partilhado a minha fé com eles.

As visitas às famílias da paróquia ajudaram-me a conhecer melhor a realidade pastoral peruana. Recordo com especial carinho os seis meses que passei num bairro chamado Huarangal. Durante a tarde ia de casa em casa para cumprimentar e passar tempo com as pessoas. Estas visitas permitiram-me entrar em contato com a realidade da pobreza. O que mais me impressionou foi a alegria das pessoas simples. Isso ajudou-me a compreender que a felicidade não depende de bens materiais.

Nem tudo no Peru foi cor-de-rosa. Não faltaram momentos de solidão por estar longe da família. Além disso, a vida numa nova cultura tão diferente da minha não foi fácil. Por vezes, senti-me incompreendido e fiquei chocado com certas reações das pessoas em relação a mim por ser africano, mas compreendo muito bem que tudo isto faz parte dos desafios missionários. 

Depois de seis anos no Peru, posso dizer que a vida missionária é o caminho que o Senhor traçou para mim. Vale a pena ser missionário comboniano, porque para mim não há maior alegria do que partilhar a minha fé cristã com os mais pobres e abandonados.»

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.combonianos.pt/alem-mar/artigos/8/1205/fidelidade-a-vocacao/

quinta-feira, 6 de junho de 2024

A superação da violência contra a pessoa idosa

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 

*Artigo de André Bernardo,

jornalista 


Paraná, 1993. A pediatra Zilda Arns (1934-2010) voltava de Florestópolis, município localizado a 453 quilômetros de Curitiba, quando desembarcou em Londrina. Foi comemorar os 10 anos de fundação da Pastoral da Criança, em 1983. No aeroporto da cidade, o mau tempo provocou o atraso de alguns voos e o cancelamento de outros. No saguão, enquanto esperava a situação voltar ao normal, a coordenadora nacional da Pastoral da Criança conheceu e fez amizade com o geriatra João Batista Lima Filho, então presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), do Paraná. Entre uma conversa e outra, Zilda Arns comentou que, durante as visitas a crianças e gestantes, os agentes pastorais eram, muitas vezes, sabatinados por idosos sobre problemas típicos da velhice, como insônia e hipertensão, mas, que, na maioria dos casos, eles não sabiam o que responder. Foi quando João Batista admitiu que, há tempos, a SBGG se perguntava sobre como poderia ajudar a tirar dúvidas da população brasileira que, já naquela época, dava sinais de que estava envelhecendo. Foi ali, no aeroporto de Londrina, que o semeador saiu a semear a semente da Pastoral da Pessoa Idosa (PPI). 

Curitiba, 2024. No próximo dia 5 de novembro, a Pastoral da Pessoa Idosa completa 20 anos de existência. Apenas um ano depois de sua fundação, em 2005, a pastoral já contava com 3,6 mil líderes voluntários para atender 31,6 mil pessoas idosas. Hoje, quase duas décadas depois, são 18,7 mil agentes para 64,7 mil idosos. Esses números, porém, não estão consolidados. Muitos agentes ainda não migraram para o novo Sistema de Informação e Gerenciamento da Pastoral da Pessoa Idosa, o SIGPPI. ‘O número de pessoas idosas que recebem efetivamente a visita domiciliar mensal dos voluntários da pastoral é muito maior’, garante a atual coordenadora nacional, Sandra Regina Capana Michellim. Ao lado de Dom José Antônio Peruzzo, Sandra Regina compõe a atual diretoria. E um dos desafios enfrentados atualmente pela pastoral é o aumento do número de casos de violência contra pessoas idosas. ‘A cultura do descarte é, infelizmente, uma prática comum em nossa sociedade. O Papa Francisco aponta alternativas para mudar essa triste realidade. Uma delas é a fraternidade. Precisamos nos tornar pessoas mais fraternas, acolhedoras e disponíveis’, afirma Sandra Regina. 

O aumento da violência contra pessoas idosas no Brasil pode ser traduzido em números. Segundo dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), o país registrou, em 2022, 95,9 mil denúncias de violência contra idosos. Um ano depois, esse número saltou para 143,5 mil. Um aumento de quase 50%! Só nos primeiros quatro meses de 2024, o MDHC contabilizou 57 mil denúncias contra pessoas idosas. É um número 33% maior do que o registrado no mesmo período de 2023 : 43 mil. A que o ministério atribui esse aumento de 14 mil casos? Quem responde é o secretário nacional dos Direitos da Pessoa Idosa, Alexandre da Silva. ‘São três fatores : a eficácia do Disque 100, a repercussão do Junho Violeta e o aumento do número de casos de violência contra a pessoa idosa propriamente dito’, detalha o doutor em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo (USP). O Disque 100 é o principal canal de denúncia de violação de Direitos Humanos existente no Brasil. O serviço funciona 24 horas, incluindo sábados, domingos e feriados, e as ligações podem ser feitas, gratuitamente, de qualquer telefone fixo ou móvel. 

Só em abril de 2024, o Disque 100 registrou 56,4 mil denúncias – 15,5 mil delas contra a pessoa idosa. Em geral, as denúncias contra a pessoa idosa ocupam sempre o segundo lugar no ranking, atrás somente das denúncias contra crianças ou adolescentes. O serviço contabiliza, ainda, denúncias contra a mulher, cidadão, família ou comunidade, pessoas com deficiência, em restrição de liberdade, população LGBTQIA+ e em situação de rua. Já o mês de junho, batizado de Junho Violeta, é considerado o mês de conscientização sobre a violência contra a pessoa idosa. O tema da campanha do ano passado foi ‘Assim você me vê?’. No vídeo da campanha, veiculado no rádio e na TV, são apresentados ao público alguns tipos de violência, como o abandono (‘Faz anos que ninguém vem, ninguém liga, é como se eu já tivesse morrido’), a exploração financeira (‘Só tenho dívidas, me aplicam golpes, minha família tira tudo de mim’) e agressões físicas (‘Vivo trancada, vivo apanhando, vivo sonhando com uma vida diferente’). ‘O número de denúncias aumentou porque as pessoas idosas, cientes de seus direitos, estão se sentindo encorajadas a denunciar mais’, acredita Sandra Regina, da PPI. 

O site do ministério lista nove tipos de violência. Abandono, violência física e patrimonial são apenas três delas. Há mais seis : violência psicológica, institucional e sexual, negligência, abuso financeiro e discriminação. ‘A física ainda é o tipo mais comum. Mas há outros que, muitas vezes, o próprio idoso não sabe que é. Chamá-lo por um nome de que ele não gosta é um exemplo de violência psicológica’, afirma Alexandre da Silva, do MDHC. A física é o tipo mais ‘visível’ – deixa hematomas pelo corpo. Já a psicológica é do tipo ‘invisível’. Em geral, insultos como ‘Você não serve para nada!’ ou ‘Você só me dá trabalho!’ passam despercebidos. Outro exemplo é o abuso financeiro : não deixar que o idoso, em pleno gozo de suas faculdades mentais, administre o próprio dinheiro. ‘Os responsáveis pelo idoso são negligentes quando deixam de oferecer cuidados básicos, como higiene, saúde e proteção. E a forma extrema de negligência é o abandono. Acontece quando há ausência ou omissão de socorro’, explica a advogada Maria Luiza Póvoa Cruz, presidente da Comissão Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa do Instituto Brasileiro de Direito da Família (IBDFAM). 

A coordenadora nacional da Pastoral da Pessoa Idosa (PPI) garante que os 18,7 mil agentes estão capacitados para identificar eventuais casos de violência em suas visitas pastorais. E o que fazer numa situação dessas? ‘Agir silenciosa e discretamente para não levantar suspeitas e garantir a segurança do idoso’, responde Sandra Regina. O Disque 100 é apenas um dos muitos canais de denúncia para a população. Há outros. Como as delegacias de polícia (e não apenas as especializadas no atendimento à pessoa da terceira idade) e os conselhos municipais de defesa dos direitos da pessoa idosa. Para identificar eventuais casos de violência, a assistente social Marisa Accioly, especialista em gerontologia pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), dá algumas dicas, como escutar atentamente a pessoa idosa e prestar atenção às mudanças de comportamento. ‘Se o idoso antes falante agora anda meio calado, olha para baixo quando fala e quase não responde perguntas, é sinal de que algo errado pode estar acontecendo’, alerta Marisa Accioly, da SBGG. ‘Muitas vezes, ele se sente intimidado em fazer a denúncia porque vive no mesmo local que seu agressor’. 

  Sim, a situação é mais grave do que parece. Na maioria das vezes, quem comete a violência contra o idoso não é, ao contrário do que se imagina, o cuidador que a família contratou para cuidar dele. É a própria família! Essa foi a conclusão a que chegou o advogado Vicente de Paula Faleiros em 2007, por ocasião da publicação do livro Violência Contra a Pessoa Idosa. Depois de analisar 19 mil ocorrências registradas em 27 capitais, o autor chamou a atenção do leitor para um dado estarrecedor : os principais agressores eram seus filhos e filhas. ‘No Brasil, os idosos sofrem preconceito e discriminação de todos os lados : em casa, no trânsito e até do próprio Estado!’, lamenta Vicente Faleiros. ‘O pior cenário é quando o idoso é obrigado a morar com o agressor e, não bastasse, ainda precisa atender suas demandas de usuário de álcool e drogas’. Em 2019, um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), coordenado pela pesquisadora Cecília Marília de Souza Minayo, revelou que seis em cada dez casos de violência contra a pessoa idosa ocorrem dentro de casa. E mais : dois em cada três agressores eram filhos e cônjuges. ‘Família violentas colhem violência!’, observou Minayo.

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/a-superacao-da-violencia-contra-a-pessoa-idosa.html