Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo
de Mirticeli Medeiros,
jornalista e mestre em História da Igreja, uma das
poucas brasileiras
credenciadas como vaticanista junto à Sala de Imprensa
da Santa Sé
‘Quando pensamos no chefe da Igreja
Católica, não conseguimos imaginá-lo sem aquela roupa branca. Porém, em outras
épocas, o sumo pontífice vestia branco e vermelho respectivamente, e
complementava essa indumentária com alguns acessórios, que também serviam para
que ele se destacasse entre os cardeais purpurados.
A
história mais famosa sobre a introdução da prática remonta o século XVI, quando
o Papa Pio V, que pertencia à ordem dos dominicanos - cujos membros vestem
hábito branco - resolveu continuar usando a túnica da sua congregação por baixo
das insígnias pontifícias.
Embora
essa história tenha se tornado, popularmente, a principal explicação para a
formalização dessa prática, as fontes históricas atestam que esse costume, na
verdade, se consolidou muito antes.
Um
relato sobre a posse do Papa Vitório III (1086) fala que ele ‘se recusou a
usar a veste branca sobre a qual seria colocado um manto vermelho’,
comprovando, com isso, que era comum aos papas fazer uso do acessório. Isso aumenta
a suspeita, entre os historiadores, que já em época carolíngia os pontífices a
adotavam.
Mais
à frente, os livros cerimoniais escritos entre os séculos XIII e XVI descrevem
que, na coroação pontifícia, ‘uma veste branca de linho, revestida por um
manto púrpura’ compunha o ‘guarda-roupa’ do recém-eleito.
Mas
será que somente o pontífice romano manteve essa tradição? A resposta é não.
O
patriarca da Igreja Ortodoxa Romena, cargo atualmente ocupado por Daniel,
arcebispo de Bucarest, locus tenens do trono de Cesaréia e Capadócia, como é
chamado, também usa batina branca. Dos patriarcas do cristianismo oriental, é o
único a fazê-lo, já que as vossas beatitudes, tanto da Igreja Católica quanto
das igrejas ortodoxas, adotam o preto como cor predominante do vestuário
episcopal.
Assim
como acontece em Roma, o uso do branco na igreja romena, por parte de seu líder
supremo, também é amparado por uma tradição milenar.
Geralmente,
alguns patriarcas ortodoxos das igrejas eslavas portam já, no dia a dia, a
talar preta com a kamilafca branca - uma espécie de barrete, traduzindo para o
vocabulário latino. Nas igrejas de tradição grega, os chefes das igrejas
possuem todos os acessórios na cor preta.
No
caso da romena, em particular, o período no qual essa igreja foi elevada à
categoria de patriarcado (século XIX), reacendeu essa tradição.
A
Igreja Ortodoxa Romena nasceu da fusão entre as metrópoles de Moldávia e da
Ungro-Valáquia, em 1885. Seu primeiro patriarca, Miron Cristea, na cerimônia de
posse, foi presenteado com um manto branco que, segundo a tradição, teria sido
usado por todos os patriarcas eslavos. A relíquia simbolizava a própria
autonomia da igreja romena frente aos patriarcados orientais históricos
(Jerusalém, Alexandria, Antióquia, Constantinopla), nos quais seus respectivos
líderes usavam, justamente, a cor preta.
Diferente
do catolicismo, que atribui às vestes do Papa as categorias teológicas da
santidade e da paz, no caso da Igreja Ortodoxa Romena, o branco simboliza a
manutenção de ‘uma ortodoxia e de uma canonicidade permanente’ as quais,
segundo seus membros, ‘jamais foram quebradas’.’
Fonte : *Artigo na íntegra
https://domtotal.com/noticia/1569816/2022/03/o-papa-da-romenia/
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