Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de
Fabrício Veliq,
teólogo protestante
‘Por
mais estranho que se possa parecer, a religião ainda é usada para mensuração do
status moral das pessoas. Se formos mais à fundo, é possível perceber que tal
critério não se encontra apenas nas pequenas comunidades locais, mas de alguma
forma, pelo menos no Ocidente, atinge todo um imaginário social, de maneira que
podemos pensar na construção de uma representação social que acredita que as
pessoas que têm alguma religião são mais próximas de Deus e mais moralmente
corretas do que aquelas que não a possuem.
Quando
olhamos para o meio cristão, essa característica aparenta ser mais notável.
Afinal, ainda é muito comum se ouvir ali que aqueles e aquelas que não se
converteram, por melhores que sejam em suas condutas, ainda estão longe de
Deus, ou ainda, que tais pessoas vão para o inferno (leia-se : câmara de
tortura na qual as pessoas não cristãs tendem a sofrer pelos séculos dos
séculos), ou ainda que a essas pessoas não convertidas faltaria a base da moralidade,
que seria a obediência ao texto bíblico.
Pode
parecer esquisito (e realmente é), mas esse tipo de visão ainda se impõe em
diversos cenários cristãos. Além dessa comparação com os de fora, a comparação
com os de dentro também se estabelece. Comumente se pensa que o/a pastor/a ou o
padre é uma pessoa mais próxima de Deus do que o resto da comunidade. Uma fala
do tipo : ‘vou pedir para o/a pastora orar, porque Deus o/a responde’
ainda se ouve em diversas comunidades cristãs, como se status ministerial fosse
garantia de intimidade com Deus. De alguma forma, tem-se a ideia de que aqueles
e aquelas imbuídos/as de alguma autoridade na comunidade teriam uma espécie de ‘acesso
especial’, como se fossem clientes ‘premium’ do grande banco
celestial, e por esse motivo, teriam acesso a um atendimento ‘personalité’,
ao contrário das outras pessoas, que deveriam esperar na fila dos guichês
normais de atendimento.
Pensar
a religião como critério de moralidade ou de intimidade e relacionamento com
Deus se mostra como algo extremamente pernicioso. Não só pelo risco direto de
se discriminar e desumanizar as outras pessoas que não compartilham da mesma
fé, como também pela legitimação que tal pressuposto dá para que charlatões/ães
se proliferem no meio do povo.
A
realidade, porém, nos mostra que a religião nunca deve ser vista como critério
de intimidade com Deus ou como critério de moralidade. Basta nos lembrarmos dos
diversos casos de abusos sexuais em diversas comunidades cristãs que vieram à
tona recentemente. Da mesma forma, pessoas que usam de sua pertença religiosa
para se considerarem superior às outras, na maioria das vezes tendem a usar tal
pertencimento como escudo para esconderem suas falhas e pecados.
Isso,
claro, não é um problema contemporâneo. Jesus mesmo, em sua parábola do fariseu
e do publicano, nos conta sobre certo fariseu, que se considerando superior aos
outros por causa de suas ações religiosas, orava de si para si, enquanto o
publicano, reconhecendo-se em sua humanidade falha, humilhando-se orava pedindo
misericórdia. Como conclui Jesus, o segundo saiu justificado e o primeiro não.
O
cristianismo como um todo, caso queira ser uma voz digna de ser ouvida ainda
hoje, necessita urgentemente se tornar como o publicano da parábola de Jesus.
Perceber-se como uma religião como qualquer outra, nem superior, nem inferior,
ensinando a/à seus/suas fieis tal princípio. Com isso, renunciar ao poder que
já há muito tempo se acostumou a ter, esvaziando-se dele para, através da volta
à mensagem simples de Jesus, deixar-se ser mais um instrumento nas mãos de Deus
para a transformação do mundo em um lugar melhor de se viver.’
Fonte : *Artigo na íntegra
https://domtotal.com/noticia/1569668/2022/03/a-religiao-como-criterio-de-mensuracao-de-status-moral/
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