Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de Dom Walmor Oliveira de Azevedo,
Arcebispo
Metropolitano de Belo Horizonte, MG
Esse
medo sustenta idolatrias hegemônicas com tons de perversidade, induz a
percepções equivocadas da realidade. Faz perceber o outro, o diferente, como
inimigo, estimulando uma dinâmica beligerante, marcada por ataques sem piedade.
Agressões que se manifestam, frequentemente, na propagação de mentiras,
interpretadas como verdades, nos diversos contextos onde prevalece a
incapacidade para o qualificado discernimento. Ambiente propício a quem se vale
da calúnia para esconder as próprias limitações, desqualificando outras
pessoas. Em vez de mudar e crescer, muitos se valem da mentira e dos ataques
para diminuir quem é diferente.
Constata-se,
pois, que o medo da mudança é o fantasma da imaginação de quem, mesmo
inconscientemente, sabe da própria incompetência para alcançar conquistas e
reconhecimento. Um sentimento que aprisiona indivíduos - consequentemente,
instituições e segmentos sociais - nos parâmetros da mediocridade. A solução e
o grande desafio é superar esse medo. E somente a abertura para se reconfigurar
é que permitirá às pessoas evoluírem, alcançarem novas intuições e
desenvolverem promissores projetos.
Abrir-se
para novas possibilidades não significa ‘mudar
por mudar’. O que deve ser buscado é a lucidez que permite não desprezar
novas respostas para os muitos problemas ainda sem adequada solução. Isso exige
vencer o comodismo e a ignorância, superar os medos que ferem a capacidade para
o adequado discernimento. Esse temor diante da possibilidade de mudança
aprisiona, inviabiliza a adequada vivência da cidadania e da espiritualidade.
Impede o descortinar de um tempo novo, o que resulta na falta de compromisso
com a vida comunitária.
Assim,
perdem-se tempo e oportunidades, pois continuam os investimentos em processos
obsoletos, produtores de prejuízos e atrasos. E mesmo diante das evoluções nos
diferentes campos do saber, na área da educação, saúde e comunicação, não
faltam exemplos de situações de penúria, que já deveriam ter sido superadas. Um
exemplo é o aumento assustador de epidemias com o retorno de doenças já
consideradas erradicadas, resultado do descaso, da exploração irresponsável do
meio ambiente, do caos que se instala na sociedade a partir dos esquemas de
enriquecimento ilícitos. Esses males fazem crescer a insegurança no coração das
pessoas, mesmo entre aquelas que vivem a falsa tranquilidade por terem
acumulado muitos bens.
Tudo
isso, aliado à crescente violência, à falta de respeito ao semelhante e ao meio
ambiente, no fim, contribui para o desvanecimento da alegria de viver. E o
progresso científico experimentado na atualidade não é suficiente para colocar
o mundo nos trilhos da paz e emoldurar as sociedades nos parâmetros do
desenvolvimento integral. Consequentemente, a economia da exclusão, a idolatria
do dinheiro e a desigualdade social prevalecem, impedindo que o mundo se torne
mais justo, solidário e fraterno.
Há,
pois, a urgência de se superar o medo das mudanças. E o tempo da Quaresma é
oportunidade para, corajosamente, se enfrentar qualquer receio de viver uma
transformação pessoal. Quando se fala sobre a necessidade de reformas
estruturais e conjunturais na sociedade há de se admitir que o ponto de partida
é reconfigurar o mais recôndito da alma e da consciência de cada indivíduo. E
uma fecunda experiência espiritual oferece a cada pessoa a oportunidade para se
renovar.
Da
maestria do coração de Jesus nasce o convite central para operar mudanças na
interioridade humana, que reúne muitas aptidões, dons do Criador, mas se torna
fragilizada pelo pecado. O remédio para não ter medo de mudar é acolher, sem
justificativas e delongas, o convite para uma autêntica conversão. Decisão que
exige humildade para reconhecer e superar os próprios limites e as escolhas
equivocadas. Um passo necessário para experimentar a alegria de ser bom e de
fazer sempre o bem, justamente por não ter medo de mudar.’
Fonte
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