Natal
- 25.12.2015
Isaías 9,1-6; 62,11-12; 52,7-10
Salmos 95, 96, 97
Tito 2,11-14; 3.4-7
Hebreus 1,1-6
Lucas 2,1-14; 2,15-20 João 1,1-18
‘O
Natal, tema familiar a todos, pode contemplar-se partindo de ângulos e
experiências diversas, com a certeza que o mistério não se esgota : pelo
contrário, oferece a cada pessoa, em cada época da sua vida e da sua história,
riquezas impensáveis, tesouros sempre novos a descobrir. No contexto da série
destes comentários bíblicos e missionários, que temos vindo a apresentar,
prefiro, desta vez, apresentar algumas reflexões mais espontâneas, tiradas de
diferentes contextos culturais e geográficos, que nos possam ajudar na
contemplação do mistério do Natal e encontrar caminhos para partilhar com
outros, de perto e de longe, a alegria do nascimento do Filho de Deus na nossa
natureza humana. Com esta abertura de horizontes, a nossa leitura missionária do
Natal aproximar-se-á mais do acontecimento histórico de Belém.
Deus em carne humana :
para todos
O Natal é
incarnação, significa Deus em carne, em natureza humana. «Caro salutis est cardo» (a
carne é fundamento da salvação), como diziam os primeiros Padres da Igreja.
Estamos na presença de um acontecimento histórico : a salvação passa através da
carne de Cristo, o seu nascimento, paixão, morte, ressurreição, ascensão,
eucaristia… É a carne de Deus, a carne de Maria, carne que sangra, se cansa,
sofre… Não é uma aparência de carne, como diziam os primeiros hereges, os
docetistas, mas carne concreta, componente essencial da pessoa humana. A
salvação de Deus chega-nos, historicamente, através da carne de Cristo
Redentor; mas, ao mesmo tempo, passa necessariamente através da nossa carne,
carne remida e carne necessitada de redenção. É necessário falar com termos
realistas da nossa carne em todas as suas situações e etapas : a carne forte,
dos anos juvenis e adultos (trabalho, atividades, família, viagens, lazer…); é
a carne bela (procura da beleza, moda, luxo, vaidade…); é a carne frágil
(debilidades físicas, doenças, sofrimento, morte…); é a carne destinada à
ressurreição, como dizemos no Credo. Sem distinções de cores : a salvação de
Deus é a mesma para todos. A Liturgia canta, neste tempo de Natal: «toda a carne», isto é, todo ser humano,
«verá a salvação de Deus». É esta a
bela notícia, a grande alegria anunciada pelos anjos em Belém «a todo o povo e a todos os povos» (Lucas
2,10).
De Belém ao Calvário – Do presépio à Cruz
Nos tempos de
Hitler, Edith Stein compôs a obra «O
Mistério de Natal» em que escreveu : «Os
mistérios do Cristianismo são um todo indivisível. Quem explora um mistério,
acaba por tocar todos os outros. Assim, o caminho que começa em Belém avança
irresistivelmente para o Calvário, vai do presépio à cruz». Basta ler as
palavras de Simeão no Templo, a fuga para o Egito, o massacre dos inocentes… A
Irmã Teresa da Cruz (Edith Stein) consumou o seu holocausto em 1942, em
Auschwitz. Estes factos repetem-se, hoje como ontem. No Iraque, em Orissa
(Índia), na Indonésia, nos EUA, no Egito, na Nigéria, no Sudão, na RD Congo, na
China, noutras partes do mundo continua o martírio dos cristãos e de outros
inocentes. Mas a criança do presépio é o Senhor ressuscitado. Edith Stein
conclui : «Cada um de nós, a humanidade
toda, chegará, juntamente com o Filho do Homem, através do sofrimento e da
morte, à sua mesma glória». São estas as últimas palavras do Mistério de
Natal, escrito por uma mártir do nosso tempo.
Mensagem de Belém
«Deste lugar desejaria chegar a toda a
humanidade, desejaria que a mensagem que sai desta gruta austera e pobre
chegasse a todos : até nas pequenas coisas do nosso dia a dia, até nas mais
escondidas ou aparentemente insignificantes, até naquelas que nos fazem sofrer,
está presente o mistério de Deus que, com amor, se inclina para cada um de nós.
Cada ano, da Missa do Natal, eu saio com um olhar novo. Até a vista da cidade
de Belém, com a sua desolação e o seu abandono pela falta de peregrinos, nos
faz pensar que um dia tudo isto dará lugar à alegria, à felicidade e à paz».
(Carta de Belém, 2004, do Cardeal Carlos
Maria Martini)
O olhar do pintor
Giotto, o
conhecido pintor medieval, pintou o nascimento de Jesus em Belém, que se
encontra na Capela Scrovegni, em Pádua. A pintura evidencia o momento do
primeiro olhar : Maria e o Menino olham-se nos olhos. Pela primeira vez.
Surpresa, alegria inefável, gratidão…! Maria descobre no rosto do menino o seu
próprio rosto, porque Jesus é todo seu. O Menino reflete-se no rosto da mãe e
glorifica a Deus seu Pai. Naqueles olhos que reciprocamente se contemplam,
descobre-se o novo olhar de Deus para com a pessoa humana e o novo olhar da
pessoa humana sobre Deus e os seus irmãos. Olhar de misericórdia, acolhimento,
confiança. Daquele momento, as relações com Deus, entre os seres humanos e com
a criação inteira, descobrem-se transformadas por este intercâmbio de olhares,
que assinala uma nova relação, baseada no respeito, na misericórdia, na
fraternidade.
Bom Natal!
«Empenhamo-nos nós também em descer…
Não para reordenar o mundo,
Não para o refazer à nossa medida,
mas para o amar;
para amar também aquilo que não podemos aceitar,
aquele que não é amável,
porque,
por detrás de cada rosto e de cada coração,
está, junto a uma sede de amor,
o rosto e o coração do Amor.
Empenhamo-nos,
Porque nós acreditamos no amor,
A única certeza que não tem medo do confronto,
A única certeza que basta para nos comprometermos para sempre!»
(Primo Mazzolari)
«É Natal cada vez que permitires ao Senhor de renascer,
Para o dares aos outros»
(Madre Teresa de Calcutá)’
Fonte :
* Artigo na íntegra http://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EuVpZllpZuTmkOhwoV
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