Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
‘Vivemos na
quarta revolução da visão do mundo e o Papa Leão XIV, ao referir a questão da
inteligência artificial (IA) subjacente à escolha do nome, assume este como um
desafio para a missão cristã no futuro.
A primeira foi
a revolução espacial que aconteceu com Copérnico ao ampliar a
nossa noção de espaço da Terra ao Cosmos. A segunda revolução foi temporal e
aconteceu quando Darwin ampliou a nossa noção da vida à de uma evolução ao
longo de muitos anos. A terceira revolução é mais subtil, a mental,
que aconteceu com Freud e a ideia do inconsciente ou uma maior apreensão da
realidade da nossa consciência.
Segundo o
filósofo Luciano Floridi, a quarta revolução é a informacional onde
nos tornamos, juntamente com as máquinas, inforgs ou
organismos informacionais, conectados através da infosfera e
partilhando um espaço de ação com o mundo artificial por nós criado. Esse mundo
começou a ser habitado por agentes virtuais com os quais interagimos
diariamente.
Há dias
precisei esclarecer um assunto sobre o pagamento do alojamento do meu site e
o agente que a empresa me facultava para interagir era, por padrão, o virtual.
Para poder estabelecer um diálogo aberto, sem que estivesse restrito à base de
dados das questões mais comuns, precisei explicitar a necessidade de conversar
com um ‘agente humano’. A expansão da agência baseada em IA será útil por não
estar restrita aos ritmos normais de um humano que precisa de voltar a casa do
trabalho. Uma IA não dorme, não come (embora precise de eletricidade para
alimentar os servidores), não julga, não perde a paciência, não se cansa e
procura ser sempre simpática sem qualquer hipocrisia. Tudo isto porque não
sente nenhuma emoção. Quando queremos resolver problemas técnicos e diretos,
uma IA será o ideal, mas se existirem nuances relacionadas com aspectos ou
fases particulares da nossa vida, a compaixão, a compreensão, o pôr-se no lugar
daquele que sofre com o problema exige um coração humano.
Os problemas da
revolução industrial que levaram Leão XIII a escrever a Rerum Novarum são
diferentes dos desafios que começamos a enfrentar com a quarta revolução
informacional prenhe de agentes virtuais nos quais as empresas começam a
conferir algum poder de decisão. As questões éticas e de responsabilidade são
enormes e sérias.
Um papa cuja
escolha é uma inspiração do Espírito Santo implica que Deus vê o sentido para
onde tende o mundo e oferece-nos um pastor para nos orientar pelos montes e
vales da vida profunda. A Quarta Revolução será um inequívoco desafio pastoral
porque afetará a vida de todo o ser humano, a sua dignidade, sentido de justiça
e trabalho. Porém, não serão apenas as questões relacionadas com a justiça
social e o trabalho, mas também com a vida das nossas comunidades onde há
décadas que os agentes virtuais começaram a entrar através de toques de
telemóvel durante a consagração eucarística. Ainda não é claro o caminho a
seguir, mas a eleição de Leão XIV é um sinal de Deus Conosco.’
Fonte : *Artigo na íntegra
https://www.combonianos.pt/alem-mar/opiniao/4/1369/leao-xiv-e-a-quarta-revolucao/
Nenhum comentário:
Postar um comentário