Por Eliana Maria
(Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo da Irmã Maria Freira da Silva,
Diretora Geral da Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria
O cristianismo nos
primeiros séculos revela uma grandiosidade na radicalidade e no seguimento a
Jesus Cristo. Santos e mártires formaram a Sinodalidade do Caminho do Mestre.
Mulheres e homens entregaram sua vida na construção da Comunhão e da
Participação na Igreja. Ensinaram e aprenderam no itinerário, deixando-se
conduzir pelo Espirito Santo, na leitura assídua da Palavra de Deus, no serviço
aos pobres e doentes de seu tempo. Embora o retrato que se tem das mulheres é
de dedicação à família, ao marido, não é possível esconder tantas mulheres que
lideraram a vida das Comunidades, que foram testemunhas do evento Pascal de
Jesus Cristo Vivo e Ressuscitado na Vida Eclesial e na criação. Mulheres que
ultrapassaram o domínio do masculino e aderiram ao Cristianismo como
espaço de liberdade e de pertença a um Projeto maior que incluía a formação do
povo.
O mês de julho chega
até nós apresentando o nome de vários santos e santas. Entre tantos, está Santa
Macrina, virgem (†379), e irmã dos santos : Basílio Magno, Gregório de Nissa e
Pedro de Sebaste. Macrina era a filha mais velha de dez irmãos. Nasceu na
Cesaréia, na Capadócia, outrora um reino independente e Província do Império
Romano a partir de 14 d.C. Situados em torno do rio Halys — fronteira natural
entre a Ásia Menor romana e as regiões interioranas — o arcebispado de Cesaréia
formava, ao lado de Nissa (bispado), uma área fortemente cristianizada a partir
de 325. Sua família pertencia a um segmento da aristocracia helenizada da Ásia
Menor que prontamente aceitou o cristianismo (TEJA, 1989: 92).
Versada nas Sagradas
Escrituras, retirou-se para levar uma vida solitária no mosteiro de Annesi, no
norte da Turquia, antes propriedade de sua família. Macrina era
originária de uma família muito rica da Capadócia, era dotada de dotes
naturais, afirmava seu irmão Gregório de Nissa, o que sua mãe aproveitou para
ensinar-lhe as Sagradas Escrituras, onde encontrou terra fértil. Com o decorrer
do tempo, Macrina amassava o trigo para a Eucaristia. Era absorta em Deus e
zelosa com os pobres, aos quais distribua roupas e alimentos.
Assim, Macrina, de
quem Gregorio concorda em escrever, ‘para que uma vida tão luminosa não fosse
ignorada e não ficasse no esquecimento, sem proveito, obra de uma mulher que,
em virtude de sua vida filosófica, alcançou o mais alto grau de virtude’.
Macrina e outras virgens foram consideradas verdadeiros pilares do
cristianismo. Garantiam a pureza original do pensamento cristão.
Macrina possuía uma excelente bagagem intelectual : conhecia autores
cristãos, como Orígenes, ademais, lia as obras dos irmãos (CORRIGAN, s/d:
Internet).
É importante destacar
o papel de Macrina e outras virgens na elaboração de retiros para os quais
afluíam, jovens, pobres e também viúvas ricas que decidiram ingressar na Vida
Religiosa. Contribuiu na educação de seus irmãos, influenciando-os muito, três
dos quais também se dedicaram à Vida Contemplativa. Gregório diz que a irmã o
levou a desprezar o orgulho de seu conhecimento e o levou ao caminho da
humildade.
Basílio, que havia estudado retórica em Atenas, após longo período de estudos,
retorna um hábil retórico. Ele estava mais do que inchado com o orgulho da
oratória e desprezava os dignatários locais, superando em sua própria opinião
todos os homens de liderança e alta posição.
No entanto, Macrina
tomou-o pela mão, e com tanta rapidez o conduziu também na direção da marca da
filosofia, que renunciou às glórias deste mundo e desprezou a fama conquistada
pela fala (...) Sua renúncia à propriedade foi completa, de modo que nada
deveria impedir uma vida de virtude. VM [966C]
A influência de
Macrina, juntamente, com seu irmão Basílio, foi notável. Desde o mais
idoso, ela retransmitiu as tradições da Igreja da Neocesareia de forma
relevante, incluindo as mudanças do origenismo de seu apóstolo, Gregório
Taumaturgo com todos aqueles que impelia à vida contemplativa a partir do texto
das Sagradas Escrituras. Graças a ela, Basílio tornou-se eremita, fundou
mosteiros e elaborou as regras que regiam a vida monástica da Igreja Ortodoxa —
Basílio representa o novo homem das elites dominantes do Baixo Império :
aristocrático e proprietário de terras ligado à vida urbana, amante da cultura
grega, perseguido e criticado por seu cristianismo (TEJA, 1989: 94). De
Macrina a São Bento, a história do monaquismo no mundo cristão foi assim
modelada, baseada no ascetismo rigoroso, na leitura das Escrituras e no papel
das virgens como metáforas vivas do Paraíso Perdido.
Através da história
sobre sua vida, também podemos observar a atuação de uma mulher como líder
intelectual de sua família. Como guia espiritual e protetora ela era a ‘mestra’,
a senhora. O modelo de Macrina ajudou a fortalecer uma ideia corrente da época,
de que as mulheres Consagradas eram um repositório de valores para as
comunidades cristãs. Em uma carta de Basílio aos habitantes de Neocesareia,
mostra a força da imagem de Macrina, a audácia cristã feminina, na
propagação do cristianismo do século IV.
Por ocasião de sua
morte, Gregório de Nissa, seu irmão ao vesti-la com um linho fino como honra,
junto com a diaconisa Lampadion, mestra do coro, encontrou em seu coração preso
por uma corrente, um anel onde estava gravado a Cruz, e dentro a relíquia do
lenho da Cruz e junto uma Cruz de ferro. Sem dúvida é um dos primeiros
testemunhos da devoção à Cruz do Senhor. Nissa afirma que sua irmã recebeu
o dom da profecia, o dom dos milagres, o dom de
curar e o dom de expulsar demônios.
Macrina é modelo para
as mulheres Consagradas no que se refere ao amor pela Palavra de Deus, sua
escuta orante, sua pratica de solidariedade com os pobres, sua articulação a
respeito das regras da Vida Consagrada e da liderança na Comunidade, vivendo a
alegria do Evangelho. Seu caráter, sua autenticidade, sua liderança ímpar,
articulando as Comunidades eclesiais formam o retrato da mulher no Cristianismo
dos quatro primeiros séculos da Igreja’
Fonte : *Artigo na íntegra
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