Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo do Padre Dwight Longenecker
Tradução : Equipe Christo Nihil Praeponere
‘Pelo final do século V, o Império Romano estava em ruínas.
Enfraquecida desde dentro pela corrupção, pela opulência, pela luxúria e pelo
comodismo, a cidade de Roma foi, durante boa parte do século, violentamente
invadida por povos estrangeiros.
O Império foi à bancarrota, tanto moral quanto financeiramente, e,
por volta do ano 500, Bento — um jovem nobre da cidade de Núrsia — decidiu que
a melhor coisa que poderia fazer era subir para as montanhas e tornar-se
eremita. Primeiro, ele foi a Subiaco e viveu em uma caverna, onde foi orientado
por um monge mais velho. Finalmente, mudou-se para o sul, em Monte Cassino,
onde estabeleceu pequenas comunidades de homens e mulheres que pudessem seguir
uma vida simples e digna de trabalho, estudo e oração.
G. K. Chesterton diz que cada século é salvo pelo santo
que lhe é mais contrário. A simplicidade monástica de São Bento era
justamente a resposta de que a corrupção e a opulência do decadente Império
Romano precisavam. Ele respondeu à luxúria com a pureza, à avareza com a
simplicidade, à ignorância com a sabedoria, à decadência com a indústria e ao
cinismo com a fé. Suas comunidades nas montanhas se tornaram faróis em uma
época de trevas e um refúgio para as tempestades que estavam prestes a cair.
Vale a pena lembrar o exemplo de Bento hoje, quando muitos vêem
aproximar-se as mesmas tempestades do que parece ser a derrocada da civilização
ocidental. Quando consideramos o fim que levou a Roma pagã, os
paralelos são sensivelmente similares.
Também a nossa cultura está enfraquecida desde dentro por
incríveis opulência, luxúria e sensualidade. Como os antigos romanos, a nossa
sociedade mata os seus filhos que ainda não nasceram em um nível alarmante e
também investe grandes montantes em máquinas militares para dominar o mundo.
Nossos ricos ‘patrícios’ reinam de seus templos de poder sem nenhuma
preocupação com o povo, enquanto os ‘plebeus’ comuns rangem os dentes
com descontentamento cada vez maior. Também nós nos sentimos ameaçados por
bárbaros desconhecidos que vêm do outro lado do mundo e também nós nos
preocupamos em defender-nos das hordas que cruzam as nossas fronteiras.
Por que Bento escolheu simplesmente retirar-se? Acredito que ele o
fez porque percebeu que a civilização romana não tinha salvação, ela já tinha
chegado ao fim de sua vida útil. O primeiro capítulo da Epístola de São Paulo
aos Romanos explica como Deus entrega as pessoas aos seus desejos pecaminosos
e, por isso, as suas mentes ficam obscurecidas. Elas se tornam viciadas e cegas
pelo pecado e são incapazes de pensar retamente. Bento subiu para as montanhas
porque percebeu que com os romanos não havia diálogo. Não havia
argumento possível porque os seus corações e mentes estavam obscurecidos. Eles
tinham perdido a capacidade de raciocinar e a habilidade de escutar e amar a
verdade.
Essa é cada vez mais a situação do mundo de hoje. Já há muito
tempo que a nossa civilização virou as costas para a verdade, para a beleza e a
para a bondade da fé cristã; que temos nos sujeitado ao comodismo,
entregando-nos a grandes pecados de luxúria, crueldade e assassinato. Como
sociedade, nós destruímos o matrimônio, abusamos de nossas crianças, matamo-nos
uns aos outros, travamos guerras e roubamos dos mais pobres. Nossos corações e
mentes estão agora obscurecidos. Atingidos pelo câncer intelectual do
relativismo, não somos capazes nem de ouvir a razão nem de produzir argumentos.
Fomos abandonados ao turbilhão de nossas emoções, agitados pela raiva, pelo
ódio irracional e pela frustração demoníaca.
O que podemos fazer? Como católicos, nós viveremos cada vez mais a
‘opção beneditina’. Há quem pense que terminaremos nos escondendo em
nossos próprios enclaves, como sobreviventes de um holocausto nuclear, mais ou
menos como uma volta às catacumbas. Eu não seria tão pessimista. Acredito que a
‘opção beneditina’ pode ser simplesmente uma percepção de que precisamos
retornar à essência da nossa fé e vivê-la em nossas já existentes comunidades
paroquiais. Nossas paróquias podem tornar-se refúgios de paz, centros
de cultura, educação e razão. Elas podem tornar-se lugares onde a oração, o
trabalho e o estudo são valorizados.
Sem formar novas comunidades monásticas, nossas
famílias e paróquias podem transformar-se em ‘mosteiros domésticos’,
onde nós viveremos com simplicidade e cultivaremos com consciência a nossa
fé, refugiando-nos do dilúvio que devasta a nossa sociedade.
Para tanto, nós precisaremos reavaliar a nossa relação com a
cultura que nos rodeia. Precisaremos simplificar as nossas vidas. Será que
realmente precisamos de todas essas coisas materiais que nos puxam para baixo e
nos atolam nas dívidas e no estresse? Será que realmente precisamos correr tão
freneticamente, com tanta pressa, o tempo todo? Temos realmente que nos
conformar com a sociedade agitada, vaidosa e avarenta em que vivemos? Realmente
precisamos de todo esse entretenimento e distração que nos leva à destruição?
Acho que não.
Contra tudo isso, a ‘opção beneditina’ colocará o nosso
foco nos votos que estão no coração da Regra de São Bento : estabilidade, obediência e conversão
de vida. A estabilidade nos ajudará a desenvolver raízes profundas em nossa
fé, em nossas famílias e em nossa Igreja. Encontraremos aí a nossa segurança, e
não em nosso trabalho, em nosso dinheiro ou em nossas realizações. A obediência
significa que procuraremos submeter-nos constantemente às Sagradas Escrituras,
aos ensinamentos da Igreja, a Deus e uns aos outros. A conversão de vida
significa que tudo o que fizermos e dissermos, e toda decisão que tomarmos,
será determinada por nosso desejo de sermos completamente transformados na
imagem de Cristo. Ou, como São Bento põe em sua regra, ‘Christo nihil
praeponere — nada antepor a Cristo’.
As simples e humildes comunidades beneditinas se tornaram a
fundação da maior civilização que o mundo já viu. Por um milênio, a Europa
cristã esteve enraízada na singela intuição de São Bento de Núrsia. Se os
católicos fizerem essa opção, ainda podemos forjar uma fundação forte e
vigorosa para o futuro da nossa sociedade.’
Fonte : *Artigo na íntegra https://padrepauloricardo.org/blog/como-sao-bento-pode-ajudar-a-salvar-o-nosso-seculo
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