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terça-feira, 8 de janeiro de 2019

A outra face dos cristãos perseguidos


Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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*Artigo de Fernando Félix,
Jornalista


 Testemunhas valentes

Se a perseguição dos Fulani e de outros grupos radicais, como o Boko Haram ou os ex-rebeldes Seleka na Nigéria, na República Centro-Africana e no Níger, ou pelo al-Shabaab no Quénia e na Somália, é um dos maiores problemas para os cristãos na região, o amor de Deus semeado pelos discípulos de Jesus Cristo, sobretudo nas crianças, está a cultivar uma geração de pessoas capazes de testemunhar e transmitir o Evangelho a outras gerações. Os mais novos aprenderam, na prática, que a graça e a compaixão de Deus contrastam com os atos de ignorância, arrogância e terrorismo praticados por extremistas religiosos e grupos interessados nos recursos naturais.

O testemunho heróico dos cristãos africanos acontece mesmo nos países onde os ataques contra as comunidades cristãs são realizados pelo próprio Estado, nomeadamente Argélia, Egito, Eritreia, Líbia, Sudão e Mauritânia. Nestes casos, há uma institucionalização da intolerância, com leis e discursos de ódio contra as religiões que não são as do Estado. O proselitismo, as conversões, a presença de evangelizadores estrangeiros, por exemplo, são proibidos e perseguidos, havendo casos punidos com pena de morte.

Alicerçados na fé

Qaraqosh foi a última cidade de maioria cristã no Iraque a cair nas mãos do autoproclamado Estado Islâmico (EI), em 2014. Como fez em outras localidades, desde que surgiu em 2003, o EI quis subordinar os residentes. A maioria fugiu. Houve assassínios e prática de escravatura ou violência sexual contra as mulheres. Na altura, muitos prognosticaram que não haveria futuro para os cristãos do país. Os números parecem dar razão aos pessimistas : antes de 2003, havia cerca de milhão e meio de cristãos no Iraque, hoje, são perto de 300 mil.

Todavia, em Junho de 2018, os extremistas islâmicos foram expulsos de Qaraqosh e os antigos habitantes cristãos começaram a regressar à cidade. O padre George Jahola, da Igreja Católica Síria, responsável pela paróquia, orgulha-se do modo como a comunidade cristã está a reconstruir-se e a alicerçar o futuro do Cristianismo no Iraque. «Uma das primeiras coisas que me pediram, ainda antes de pensarmos na reconstrução das casas, foi que celebrasse uma missa na igreja completamente danificada, por dentro e por fora», lembrou o padre ao jornal digital Observador. Numa cidade ainda sem escolas nem outros serviços públicos, são as Igrejas cristãs (ortodoxas e católicas) que asseguram essas tarefas.

Em Qaraqosh, como em muitas localidades iraquianas e na vizinha Síria, o objetivo dos jihadistas de eliminar o Cristianismo não foi conseguido. Porque o Cristianismo tem raízes naqueles territórios. No que é hoje o Iraque aconteceram vários episódios bíblicos.

Resistência, diálogo e serviço

Na Ásia, continente onde nasceram as grandes religiões, o Cristianismo continua a ser obstruído e perseguido. Nos países onde os cristãos são minoritários, o ateísmo do Estado (na China e Coreia do Norte) ou a religião que é maioritária e, habitualmente, religião do Estado – seja Islã, Hinduísmo ou Budismo – proíbem qualquer proselitismo que não seja praticado por eles, e os que se convertem sofrem pressões para abandonar a nova religião, são discriminados, presos por blasfêmia ou apostasia e, no extremo, são mortos.

Os 141 milhões de católicos que vivem nos 48 países asiáticos dão testemunho do Evangelho por meio de uma convivência alicerçada no diálogo, na compreensão mútua e na recusa de práticas violentas como retaliação ou afirmação.

São duas as principais causas da perseguição aos cristãos americanos. Por um lado, o conceito que se tem de secularismo e laicidade dos Estados, que tem promovido uma verdadeira teofobia, isto é, rejeição absoluta de tudo o que tem que ver com Deus e a religião. Neste ambiente, os cristãos aprendem a ser fermento. Por outro lado, a lógica da corrupção e do capitalismo selvagem é intolerante para com os cristãos que defendem os direitos dos pobres e do meio ambiente, mas estes mantêm-se firmes.

A Europa assemelha-se à América na teofobia. Todavia, a intolerância religiosa vira-se para os imigrantes e refugiados muçulmanos que estão a chegar ao seu território. Gerou-se uma cultura de suspeição e desconfiança, que quer impedir novas vagas de migrantes.

Os cristãos europeus são chamados a ter um coração inquieto, que não se deixe acomodar, mas que procure fazer algo pela defesa da dignidade de cada pessoa e da concórdia entre os povos e religiões.’


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