*Artigo de Cardeal Dom Orani João Tempesta, O.
Cist.,
Arcebispo Metropolitano de
São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
‘Iniciamos um novo
ano! As perspectivas e sonhos são muitos! Porém, sabemos que a sociedade será
nova se as pessoas o forem. A vida cristã vivida com generosidade e coerência
deve ser um sinal para esse mundo cansado e abatido por tantas violências,
guerras e problemas. O exemplo dos santos nos anima a seguir ainda mais a Jesus
Cristo, nosso Salvador. A Igreja que caminha na cidade de São Sebastião do Rio
de Janeiro inicia o novo ano celebrando com alegre solenidade o seu padroeiro.
A partir do dia 7 de janeiro, começaremos a viver a Trezena de São Sebastião, o
anunciador da Misericórdia de Deus. Será também uma maneira de comemorar os 450
anos dessa cidade que, com suas belezas e mazelas, tem uma grande
responsabilidade em nosso país e se prepara para acolher a primeira Olimpíada
da América Latina.
A celebração
solene será no dia 20 de janeiro, quando teremos a graça de celebrarmos o
padroeiro de nossa Arquidiocese, de nossa cidade e de nossa Sé Catedral
Metropolitana : São Sebastião. Além da missa de manhã na Basílica Menor de
São Sebastião, o belo momento de unidade da cidade deve ser a grande procissão
à tarde, que percorrerá as ruas até a nossa Catedral de São Sebastião, Igreja
Mãe de nossa Arquidiocese. Começamos, assim, a viver o novo ano dentro do
Jubileu da Misericórdia convocado pelo Papa Francisco.
São Sebastião é um
dos santos mais famosos entre o povo brasileiro. Por causa de sua poderosa
intercessão e incontáveis milagres obtidos, ele se tornou padroeiro de muitas
cidades, e outras tantas cidades e bairros por todo o Brasil receberam o nome
de São Sebastião. Ademais, São Sebastião é protetor contra a peste, a fome e a
guerra, sendo a sua proteção confiada aos semoventes e às lavouras.
A fortaleza para
superar os diferentes tipos de dificuldades e situações foi um traço que marcou
a vida de São Sebastião, e ele nos anima a ter o mesmo espírito de confiança
total em Deus e audácia cristã para fazer da vida uma caminhada segura rumo à
felicidade.
São Sebastião
(256-288) nasceu na França e logo foi com os pais para Milão, na Itália. Nas
terras italianas cresceu na fé cristã e ficou famoso como valente soldado e
depois capitão da guarda do imperador Romano. Os cristãos eram perseguidos na
época e muitos foram presos e martirizados, porém, as pessoas não sabiam que
São Sebastião era cristão e, assim, ele conseguiu ajudar muitos irmãos presos
por seguirem o Cristo, diminuindo as penas, dando alimento e animando-os a
perseverarem na fé em Deus, mesmo que isso implicasse o martírio.
Enquanto o
imperador empreendia a expulsão de todos os cristãos do seu exército, Sebastião
foi denunciado por um soldado. Diocleciano sentiu-se traído, e ficou perplexo
ao ouvir do próprio Sebastião que era cristão. Tentou, em vão, fazer com que
ele renunciasse ao cristianismo, mas Sebastião com firmeza se defendeu,
apresentando os motivos que o animava a seguir a fé cristã e a socorrer os
aflitos e perseguidos.
O imperador,
enraivecido ante os sólidos argumentos daquele cristão autêntico e decidido,
deu ordem aos seus soldados para que o matassem a flechadas. Tal ordem foi
imediatamente cumprida : num descampado, os soldados despiram-no, amarraram-no
a um tronco de árvore e atiraram nele uma chuva de flechas. Depois o
abandonaram para que sangrasse até a morte.
Irene, mulher do
mártir Castulo, foi com algumas amigas ao lugar da execução para tirar o corpo
de Sebastião e dar-lhe sepultura. Com assombro, comprovaram que o mesmo ainda
estava vivo. Desamarraram-no, e Irene o escondeu em sua casa, cuidando de suas
feridas. Passado um tempo, já restabelecido, São Sebastião quis continuar seu
processo de evangelização e, em vez de se esconder, com valentia apresentou-se
de novo ao imperador, censurando-o pelas injustiças cometidas contra os
cristãos, acusados de inimigos do Estado.
Diocleciano
ignorou os pedidos de Sebastião para que deixasse de perseguir os cristãos, e
ordenou que ele fosse espancado até a morte, com pauladas e golpes de bolas de
chumbo. E, para impedir que o corpo fosse venerado pelos cristãos, jogaram-no
no esgoto público de Roma. Uma piedosa mulher, Santa Luciana, sepultou-o nas
catacumbas. Assim aconteceu no ano de 287. Mais tarde, no ano de 680, suas
relíquias foram solenemente transportadas para uma basílica construída nas
catacumbas pelo Imperador Constantino, onde se encontram até hoje.
São Sebastião é um
exemplo de coragem ante os obstáculos da vida e fidelidade mesmo diante das
contrariedades e perseguições. É interessante notar o seu empenho em fazer o
bem ocultamente, aproveitando todas as circunstâncias para semear alegria,
consolo e ânimo para as pessoas próximas, embora sabendo que quando fosse
descoberto poderia ter complicações. São Sebastião também pode ser reconhecido
por sua prontidão em fazer a Vontade de Deus e enorme espírito de serviço, pois
após recobrar a saúde ele se volta para os outros e quer continuar fazendo o
bem, sem achar que já fez muito na vida e que agora precisa repousar.
Portanto, São
Sebastião é exemplo de homem que testemunhou a fé católica e foi anunciador da
misericórdia de Deus. Por consequência, tendo a coragem de dizer que a Vida é
inalienável desde a concepção até o seu termo natural, e que os símbolos de
nossa fé não podem se curvar diante dos ‘imperadores
de plantão’.
Socorrei-nos, glorioso Mártir São Sebastião,
para que saibamos também ser anunciadores da misericórdia e da verdade. Que
saibamos viver o santo Evangelho de cada dia.’
Fonte :
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