*Artigo de Dom Alberto Taveira Corrêa,
Arcebispo Metropolitano
de Belém, PA
‘Jesus
nos contou de forma maravilhosa que Deus é Pai. A paternidade e a maternidade
estão presentes em nossa natureza humana, e toda pessoa recebe esta missão,
ainda que de formas diferentes. Ninguém nasceu para a esterilidade, pois todos
nascemos para gerar, e não poderia ser de outro modo, pois somos imagens e
semelhança de Deus, que é Pai e Mãe, ao mesmo tempo. Deus nos pede
respeitosamente nossas entranhas paternas e maternas, como pediu à Virgem
Maria, para continuar a gerar a vida. E é necessário que os homens assumam de
forma madura sua forma de amar, para ser pais.
No
entanto a paternidade está em crise, o que leva à crise de lideranças maduras e
corajosas no mundo. E quando faltam pais, idolatra-se a imagem de uma eterna
juventude. Não basta ao homem gerar filhos, sem ser realmente pai. A ausência
dos pais se expressa na ausência física, na ausência afetiva, com medo de
expressar carinho e afeto e na ausência normativa, já que os pais devem claros
em seus critérios sem receio de estabelecer limites. Sejam homens capazes de
amar com vigor e ternura, para que se estabeleça o adequado equilíbrio de
relações entre as pessoas, a partir da magnífica polaridade entre homem e
mulher, criada pelo próprio Deus.
Nas
pessoas consagradas, o caminho é peculiar. No início, encanta-os ser irmãos.
Depois, alguém os vê com traços de pai, e estes entendem ter recebido também a
vocação paterna. E isto dá um sentido bonito ao celibato. Para os padres, cujo
dia foi celebrado há pouco, ser pai pastor é a oportunidade maravilhosa que
Deus lhes presenteia para amar muitos filhos e filhas. Encanta pôr à disposição
de Deus a sensibilidade, os afetos, a imaginação, a inteligência, a poesia, a
beleza, a serviço do Espírito que gera vida em cada Batismo, Absolvição,
Eucaristia, Confirmação, Unção, Matrimônio. Mas também para eles é longo o
caminho para chegar a amar com gratuidade, pureza de mente e coração, sem
pretender tomar posse e sem a rigidez que provém do medo de amar e ser amados.
No
dia dos pais, com o qual se abre a Semana Nacional da Família, realizada em
todo o Brasil, desejamos valorizar a vocação paterna e os muitos testemunhos
encontrados em nossas Paróquias e Comunidades. Neste ano, o tema da Semana da
Família é ‘O amor é a nossa missão. A
família plenamente viva’. E a vitalidade da família quer ser por nós
reconhecida a partir do exercício da paternidade, na vocação masculina de gerar
vida, fundamental em nosso mundo e na Igreja.
Fomos
todos chamados a amar. E este amor começa em Deus, que é sua fonte, sem o qual
todo amor humano desfalece. Queremos convidar todos os homens a acolherem com
coração aberto o fato de serem amados por Deus e por ele chamados a amar. Amar
é dar a vida pelos outros, com clareza e firmeza. Não há maior manifestação
possível de virilidade do que sair de si mesmos para fazer o bem, buscando
corajosamente o bem dos outros, começando pela prole que os homens têm a graça
de gerar, participando da obra criadora de Deus. Sua missão é feita de um olhar
acolhedor para a paternidade do próprio Deus, e lhes cabe enfrentar as
múltiplas dificuldades da vida com ousadia e firmeza.
O
amor há de ser vivido na família, e nos voltamos hoje de modo especial para os
homens que receberam a vocação da paternidade. Cabe-lhes, por fidelidade à
vocação recebida, a iniciativa do amor. Dar o primeiro passo para edificar a
família e buscar o trabalho que lhes possibilite prover às necessidades do lar.
Para tanto, devem descobrir cada dia mais o sentido da gratuidade. Está na
natureza humana a superação das relações de troca com preço. É magnífico saber
que pais de verdade não cobram pagamento dos que lhes são confiados. Isso faz
com que, por mais simples que sejam suas vidas, sejam pessoas totalmente
entregues à missão recebida. Vivem um ofício de amor, com o qual acolhem a
todos e preferem cada pessoa, conhecendo a esposa e cada um dos filhos.
Permanecem no amor (Cf. Jo 15, 9-11), acompanhando cada um dos membros da
família, fiéis e perseverantes. Acompanhar é permanecer no amor, prolongar no
tempo e no espaço a acolhida e a animação. É a atitude de quem assume a posição
de pai, com atenção e serviço.
Em
Deus Pai, a acolhida é atitude permanente. Ele não só acolhe como é acolhedor.
E isto aprendemos com o ensinamento e a vida de Jesus, que faz conhecer o Pai,
começando dos noivos de Caná, até chegar ao bom ladrão do Calvário. Ele nos ensina
a ser filhos do Pai celeste. ‘Ouvistes o
que foi dito : Amarás o teu próximo e poderás odiar teu inimigo. Eu, porém, vos
digo : amai vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos
maltratam e perseguem. Deste modo sereis os filhos de vosso Pai do céu, pois
ele faz nascer o sol tanto sobre os maus como sobre os bons, e faz chover sobre
os justos e sobre os injustos. Se amais somente os que vos amam, que recompensa
tereis? Não fazem assim os próprios publicanos? Se saudais apenas vossos irmãos,
que fazeis de extraordinário? Não fazem isto também os pagãos? Portanto, sede
perfeitos, assim como vosso Pai celeste é perfeito’ (Mt 5, 43-48). A
Família, Igreja Doméstica, tem como vocação ser o rosto de Jesus, de braços
abertos e coração palpitante, com boas vindas escrita nos umbrais da casa. E o ‘dono da casa’ é chamado a ser sinal do
Pai e do Filho, conduzido pela força do Espírito Santo. A Igreja Doméstica será
de verdade uma casa de acolhimento na medida em que seus moradores acreditarem
na força do Espírito que a ninguém nega sua presença e que a cada um acolhe no
mais íntimo do coração, como ‘doce
hóspede da alma’.
Justamente
porque o mundo em que vivemos é frio e calculista e são muitíssimos os que se
sentem sem apoio, queremos voltar ‘para
casa’, reencontrando no lar, fundado no Sacramento do Matrimônio, a fonte
de realização sonhada por todos. Neste dia dos pais, olhamos com gratidão para
aqueles que já vivem com intensidade sua magnífica vocação e rezamos pelos que,
tendo-a recebido de graça, ainda não descobriram toda a sua grandeza. Nosso
presente é dizer que são presente de Deus para nossas famílias!’
Fonte :
* Artigo na íntegra de http://www.zenit.org/pt/articles/e-necessario-que-os-homens-assumam-de-forma-madura-sua-forma-de-amar-para-ser-pais
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