‘A vida de São João da Cruz
foi marcada pela pobreza. ‘Pobreza
que primeiro o abraçou e que depois fora por ele abraçado como valor no qual
achou um grande tesouro’.
Quando seu pai morreu, São João da Cruz tinha apenas dois
anos. Com nove anos foi acolhido numa espécie de orfanato para meninos pobres e
ali recebe os primeiros estudos e os meios para sobreviver. Precisou trabalhar
desde cedo para ajudar no sustento da família. Teve, portanto, uma infância
pobre e difícil, marcado por privações de todo o tipo.
Esta realidade dura da vida poderia ter-lhe enchido de
revolta e o levado a sucumbir à ganância de ter o que lhe faltou. Mas ao
contrário, para São João da Cruz a pobreza que ele viveu foi à chave para as
suas grandes experiências no caminho de Deus. É por ela que conseguimos
compreender a noite, a negação, o nada. Ele experimentou concretamente a
ausência de tudo o que o coração humano deseja (bens, afetos, consolações) e
nesta ausência encontrou Deus, o Tudo, diante do qual todas as coisas são nada.
A experiência da pobreza, por ele vivida à flor da pele,
molda profundamente o seu espírito.
Fez-se carmelita logo jovem. Mas descontente com a
vivência autêntica do evangelho do Carmelo estava decidido ir para a ordem
Cartuxa, que possui uma vivência particularmente radical da vida consagrada.
Foi quando conhece Santa Tereza de Jesus, que lhe garante poder viver essa
radicalidade almejada no Carmelo mesmo. Para tanto, fala de seus anseios
reformadores já em exercícios e o convida a ajudá-la a iniciar a reforma no
ramo masculino. Seus anseios e suas buscas coincidiam, havia uma comunhão de
desejo e ideal entre eles, dois grandes corações que se identificam, de modo
que empreendem juntos a reforma do Carmelo.
Houve um momento onde a reforma carmelita começa a ser
perseguida para desacelerar o processo. Os Padres calçados tomam medidas para
impedir a expansão e até mesmo conseguir a eliminação dos calçados. Em meio a
esses conflitos frei João da Cruz foi o que mais sofreu as consequências sendo
preso duas vezes : uma no início de 1576 e outra em dezembro e 1577. Esse
último foi o tempo mais doloroso, mais também o mais rico da vida de João da
Cruz.
Foi nos nove meses de prisão – num rincão sujo, sem luz
nem diálogo, respirando o mesmo ar e vestindo a mesma roupa – que tem a
maior experiência do nada que o acompanhou a vida toda e ele nunca hesitou em
abraçar. Transformou o momento doloroso de privações de toda espécie num
profunda experiência religiosa e psicológica. Em meio a escuridão, o
isolamento, o abandono por parte de seus irmãos, a privação da Eucaristia, os
maus tratos, ele confirma suas convicções evangélicas para saborear Deus na sua
total pureza sem misturá-lo com os consolos terrenos. Privado de tudo, de toda
espécie de consolo material, humano ou espiritual ele se une a Deus num amor
verdadeiramente puro.
Depois da prisão ele reassume seus cargos no Carmelo até
o momento em que, num capítulo da ordem ele teve que se opor aos caminhos que
queriam tomar contrários às inspirações de Tereza, já falecida. Em função disso
tiram tudo dele e até querem expulsá-lo da ordem; ele é posto de lado,
maltratado, desprezado, abandonado, caluniado e passa por mais uma terrível
noite. Mas com o seu coração abrandado e unido a Deus, não se deixa abater. No
fim de sua vida, já doente, onde poderia escolher um tratamento melhor, prefere
ir para um mosteiro cujo o superior o olhava com maus olhos. Oprimido pelas
dores físicas e morais era consolado pela sua união de amor com Deus, falecendo
em 1591.
São João da Cruz é místico, filósofo, teólogo e escritor
– poeta – e doutor da Igreja. São João da Cruz define o amor como trabalhar em
despojar-se e desnudar-se por Deus de tudo que não é Deus (2º livro da Subida, 5,7), colocando em relevo a necessidade de
purificação do amor, partindo da realidade desordenada em que o amor se encontra
e revelando aquilo que toca o homem no seu ordenamento.’
Fontes :
* Artigo na íntegra de http://pantokrator.org.br/po/artigos-pantokrator/historia-de-sao-joao-da-cruz/
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