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domingo, 30 de novembro de 2025

Quem foi Pôncio Pilatos?

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo do Padre José Inácio de Medeiros, CSsR


‘Existem alguns personagens que meio ‘sem querer, querendo’ acabaram entrando para a história, ficando seus nomes registrados para a posteridade. Esse é o caso de Pôncio Pilatos, que participou do julgamento de Jesus, tendo o gesto de ‘lavar as mãos’ eternizado, figurando hoje como atitude de quem não deseja se comprometer. Tanto assim, que seu nome entra, inclusive, na oração do Credo, o Símbolo Apostólico do cristianismo.

O que se sabe sobre Pôncio Pilatos

Pilatos tornou-se um dos governadores romanos mais conhecidos da história, principalmente por seu papel na condenação de Jesus Cristo à morte na cruz.

Ele governou a Judeia entre os anos 26 e 36 d.C., residindo na cidade de Cesareia, localizada na costa do Mediterrâneo. Por ser o representante de Roma na região, tinha autoridade sobre questões administrativas, financeiras, militares e judiciais, sendo ainda o responsável por manter a ordem e a paz entre a população local, majoritariamente judaica, com forte identidade religiosa e nacional.

Sabe-se que foi muito conturbada sua administração, pela falta de habilidade em lidar com as questões judaicas. Entre outras coisas, ele foi acusado de usar os recursos do Templo de Jerusalém para construir um aqueduto que levaria água para Cesareia. Os judeus se revoltaram e o acusaram de roubar o dinheiro sagrado. Ele ordenou que seus soldados se infiltrassem entre a multidão para reprimir a manifestação com violência, acarretando a morte de muitos judeus. Mas, o caso mais famoso e controverso de Pilatos foi o julgamento de Jesus Cristo que, preso pelos líderes religiosos dos judeus através do Sinédrio, foi acusado de blasfêmia e de incitar o povo contra Roma. Jesus foi então levado a Pilatos, que tinha autoridade para condená-lo ou determinar a sua liberdade.

O julgamento de Jesus

Os quatro evangelhos narram com detalhes o julgamento de Jesus, cada um acrescentando novos detalhes, mas todos são unânimes ao afirmar que Pilatos não encontrou nenhum motivo para condenar Jesus, e que tentou libertá-lo, oferecendo ao povo a escolha entre soltar Jesus ou Barrabás, um criminoso.

E, convocando Pilatos os principais dos sacerdotes, e os magistrados, e o povo, disse-lhes : Haveis-me apresentado este homem como pervertedor do povo; e eis que, examinando-o na vossa presença, nenhuma culpa, das de que o acusais, acho neste homem.  Nem mesmo Herodes, porque a ele vos remeti, e eis que não tem feito coisa alguma digna de morte. 16 Castigá-lo-ei, pois e soltá-lo-ei. E era-lhe necessário soltar-lhes um detento por ocasião da festa. Mas toda a multidão clamou à uma, dizendo : Fora daqui com este e solta-nos Barrabás. Barrabás fora lançado na prisão por causa de uma sedição feita na cidade e de um homicídio. Falou, pois, outra vez Pilatos, querendo soltar a Jesus. Mas eles clamavam em contrário, dizendo : Crucifica-o! Crucifica-o! Então, ele, pela terceira vez, lhes disse : Mas que mal fez este? Não acho nele culpa alguma de morte. Castigá-lo-ei, pois e soltá-lo-ei. Mas eles instavam com grandes gritos, pedindo que fosse crucificado. E os seus gritos e os dos principais dos sacerdotes redobravam.  Então, Pilatos julgou que devia fazer o que eles pediam. E soltou-lhes o que fora lançado na prisão por uma sedição e homicídio, que era o que pediam; mas entregou Jesus à vontade deles. Lucas 23, 13 a 25.

O destino de Pôncio Pilatos

Não há uma comprovação histórica exata sobre o destino de Pilatos após o julgamento de Jesus. O historiador judeu Flávio Josefo afirma que Pilatos foi destituído do cargo por causa de outro conflito com os samaritanos, povo que vivia na região da Samaria.

Fontes antigas dão diferentes versões sobre o fim de Pilatos, mas uma tradição cristã, afirma que Pilatos foi exilado nas Gálias, onde encontrou a morte. Segundo a Igreja Etíope, Pilatos se converteu ao cristianismo e, sendo martirizado, passou a ser venerado como santo.

Pilatos, porém, passou para a história como símbolo de covardia, de injustiça, de ambiguidade, de pragmatismo, de ironia, de falta de piedade ou de arrependimento. Numa linguagem moderna pode-se dizer que Pilatos ‘ficou em cima do muro’ com medo de se comprometer. Por outro lado, ele é um personagem que revela a complexidade das relações os conflitos entre o poder político e religioso, entre a cultura romana e a cultura judaica, entre a história e a tradição.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2025-07/curiosidades-biblia-quem-poncio-pilatos.html

sexta-feira, 28 de novembro de 2025

O cristianismo na Turquia

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
Santa Sofia, catedral cristã construída pelo imperador Justiniano no século VI e atualmente convertida em mesquita

*Artigo da Vatican News


‘Ao preparar-me para realizar a Viagem Apostólica à Turquia, com esta carta desejo encorajar em toda a Igreja um renovado impulso na profissão da fé, cuja verdade – que há séculos constitui o património comum dos cristãos – merece ser confessada e aprofundada de maneira sempre nova e atual. A este respeito, foi aprovado um precioso documento da Comissão Teológica Internacional : Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador. O 1.700º aniversário do Concílio Ecuménico de Nicéia. Remeto-me a ele, porque oferece perspectivas úteis para aprofundar a importância e a atualidade não só teológica e eclesial, mas também cultural e social do Concílio de Nicéia. (Leão XIV, Carta Apostólica In Unitate Fidei, no 1.700° aniversário do Concílio de Niceia).

Os cristãos na Turquia (Türkiye) 

Terra natal de São Paulo de Tarso e ‘berço’ da propagação do cristianismo, os cristãos representam hoje uma minoria em uma população de quase 86 milhões, com uma maioria absoluta de muçulmanos sunitas. Embora a Constituição turca reconheça a liberdade de culto e, segundo uma circular de 2003, a conversão de uma fé para outra seja legal, as comunidades cristãs, juntamente com outras minorias religiosas no país, enfrentam hoje diversas dificuldades.

Em particular, a Igreja Católica continua a não ter um reconhecimento jurídico, nem mesmo o status de ‘confissão admitida’ que o Tratado de Lausanne de 1923 havia concedido aos ortodoxos, aos armênios ortodoxos e aos judeus. Essa falta de reconhecimento se estende à questão dos bens e das propriedades, mas também a todas as estruturas, como dioceses e paróquias, e ao status do clero. Um sinal positivo nesse sentido foi o decreto de 2011, pelo qual o então primeiro-ministro Tayip Erdoğan estabeleceu a restituição aos cristãos greco-ortodoxos, caldeus, armênios e judeus das propriedades confiscadas pelo governo nacionalista de Kemal Ataturk na primeira metade do século XX. Restituição da qual foi excluída a Igreja Latina.

A reivindicação da Igreja por maior liberdade religiosa, contudo, também enfrentou hostilidade de grupos e partidos islamistas, defensores do retorno a um Estado confessional. Embora as relações com o governo islâmico moderado do primeiro-ministro Erdoğan tenham sido marcadas pelo diálogo, na última década a Igreja Católica na Turquia também viveu momentos dramáticos com os assassinatos do padre Andrea Santoro em Trabzon, em 2006, e de dom Luigi Padovese, Vigário Apostólico da Anatólia, assassinado em İskenderun, em junho de 2010.

O Patriarcado Ecumênico 

A Igreja Ortodoxa conta com aproximadamente 225 milhões de fiéis, presentes principalmente no sudeste e leste da Europa. É composta por diversas Igrejas Patriarcais, que mantêm sua autonomia, embora permaneçam unidas em espírito de fé. O termo ‘ortodoxo’ foi adotado pela primeira vez pelos cristãos gregos no século IV para distinguir a fé canônica das doutrinas heterodoxas. Também são chamadas ortodoxas algumas Igrejas Orientais que se separaram no século V, após a controvérsia monofisista.

As Igrejas Ortodoxas são lideradas por um Patriarca, título que remonta às cinco primeiras Igrejas de Roma, Constantinopla, Alexandria, Antioquia e Jerusalém, e à Pentarquia estabelecida sob Justiniano (527-565). O título foi posteriormente estendido ao Metropolita de Moscou (século XVI), aos Arcebispos da Sérvia e Bulgária (início do século XX) e ao chefe da Igreja da Romênia (meados do século X), enquanto o chefe da antiga Igreja da Geórgia tem o título de ‘Catholicos Patriarca’. Por fim, a Igreja Apostólica Armênia (Etchmiadzin) é liderada por um Catholicos.

A hierarquia ortodoxa inclui as três antigas ordens de diácono, presbítero e bispo : o arquidiácono é um diácono; o arquimandrita é um sacerdote; o metropolita, o arcebispo e o patriarca são bispos.

O Patriarcado Ecumênico constitui a sede mais elevada e o centro supremo da Ortodoxia em todo o mundo. O Patriarca Ecumênico é primus inter pares, o primeiro entre iguais, em relação aos outros Patriarcas da Ortodoxia, e a primazia de Constantinopla incorpora canonicamente a unidade da Ortodoxia e coordena suas atividades. Sua jurisdição eclesiástica inclui, além de Istambul, quatro dioceses turcas, o Monte Atos, Creta, Patmos e as Ilhas do Dodecaneso e, após a emigração, dioceses na Europa Central e Ocidental, nas Américas, no Paquistão e no Japão. Por fim, o Patriarcado Ecumênico representa os ortodoxos em todo o mundo, nos territórios não sujeitos à jurisdição direta dos outros Patriarcados Ortodoxos. A sede do Patriarcado esteve, durante séculos, ao lado da Catedral de Santa Sofia. Após a queda de Constantinopla em 1453, foi transferida e está localizada no bairro de Fanar desde 1601.

O Patriarca Ecumênico de Constantinopla, S.S. Bartolomeu I Demétrio Archondonis, nasceu em 1940 na ilha de Imoros, no Mar Egeu (atual Gökçeada, Turquia). Cidadão turco, mas pertencente à comunidade grega da Turquia, estudou na Escola Teológica de Halki (1961), no Pontifício Instituto Oriental de Roma, no Instituto Ecumênico de Bossey e na Universidade de Munique. Ordenado diácono (1961) e sacerdote (1969), tornou-se secretário particular de seu antecessor, o Patriarca Ecumênico Demétrio (1972-1991). Metropolita da Filadélfia (1973) e de Calcedônia (1990), foi eleito o 270º sucessor de Santo André em 2 de novembro de 1991, adotando o nome de Bartolomeu I. Notório o seu empenho em favor da cooperação inter-ortodoxa e o diálogo ecumênico, bem como com o meio ambiente,  o que lhe rendeu o apelido de ‘Patriarca Verde’.

A Igreja Patriarcal de São Jorge 

A Igreja Patriarcal de São Jorge fica ao lado do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla. O prédio sagrado, de 1720, não possui cúpula, em conformidade com a regra estabelecida pelos otomanos após a conquista da cidade, já que as cúpulas eram consideradas prerrogativa exclusiva de mesquitas e prédios ligados à tradição islâmica.

De notável valor artístico é o Trono do Patriarca Ecumênico, incrustado com marfim e datado do final do período bizantino. A Igreja Patriarcal abriga as relíquias de alguns dos santos mais venerados da antiga Constantinopla, como Eufêmia de Calcedônia. Desde a festa de Santo André (30 de novembro) de 2004, a Igreja Patriarcal também abriga parte das relíquias de São Gregório, o Teólogo, e São João Crisóstomo, entregues em 27 de novembro de 2004 ao Patriarca Bartolomeu I.

A Catedral Latina do Espírito Santo 

A Catedral Latina do Espírito Santo foi aberta ao culto em 5 de julho de 1846. As relíquias de vários santos foram colocadas perto do altar, incluindo a de São Lino, Papa e mártir (67-69), sucessor do Apóstolo Pedro. Na festa de São João Crisóstomo, padroeiro do Vicariato Apostólico de Constantinopla (27 de janeiro de 1884), o Papa Leão XIII doou uma relíquia do santo à Catedral.

A Catedral, afiliada à Basílica de São Pedro do Vaticano em 11 de maio de 1989, tem capacidade para aproximadamente 550 pessoas. No pátio, encontra-se uma estátua do Papa Bento XV, erguida pelos turcos em 1919, apesar de ele ainda estar vivo, em reconhecimento pelo seu compromisso com as vítimas turcas da guerra de 1915-1918, com a inscrição : ‘Ao grande Pontífice da tragédia mundial, Bento XV, benfeitor dos povos, sem distinção de nacionalidade ou religião, como sinal de gratidão, o Oriente.’ Durante seu pontificado, ocorreram massacres de cristãos armênios no Império Otomano, e Bento XV fez tudo o que pôde para ajudá-los.

A Catedral do Espírito Santo foi visitada pelo Papa Paulo VI (1967), acompanhado pelo Patriarca Ecumênico Atenágoras ; João Paulo II (1979), acompanhado pelo Patriarca Ecumênico Dimitrios I; Bento XVI (2006) e Francisco (2014), acompanhado pelo Patriarca Bartolomeu I.

Catedral Apostólica Armênia 

O Patriarcado Armênio de Constantinopla é uma sede autônoma da Igreja Apostólica Armênia. A sede do Patriarca Armênio de Constantinopla, também conhecido como Patriarca Armênio de Istambul, é a Igreja Patriarcal Surp Asdvadzadzin (Igreja Patriarcal da Santa Mãe de Deus), no bairro de Kumkapı. O Patriarcado Armênio de Constantinopla reconhece a primazia do Catholicos de Todos os Armênios, na sede espiritual e administrativa da Igreja Armênia, Etchmiadzin (Armênia), em assuntos referentes à Igreja Apostólica Armênia em todo o mundo. Em assuntos locais, a sé patriarcal é autônoma.

Igreja Siríaca Ortodoxa 

A Igreja Siríaca Ortodoxa é uma Igreja Ortodoxa Oriental autocéfala originária da Síria, mas com seguidores espalhados por todo o mundo. A Igreja é liderada pelo Patriarca siro-ortodoxo de Antioquia, com sede em Damasco, a capital da Síria. A Igreja Siríaca Ortodoxa tem aproximadamente dois milhões de fiéis em todo o mundo. O Patriarca da Igreja Siríaca Ortodoxa de Antioquia e de Todo o Oriente é Inácio Efrém II. Membro do Conselho Mundial de Igrejas, ele contribuiu significativamente para a fundação da organização ecumênica Christian Churches Together (‘Igrejas Cristãs Unidas’) em 2007.

A Igreja siríaca ortodoxa Mor Ephrem está localizada em Yeşilköy, no lado europeu de Istambul. Inaugurada em 2023, é a primeira e, até o momento, a única igreja construída na Turquia desde a fundação da República. É dedicada a Efrém, o Sírio. A igreja levou dez anos para ser construída, sete dos quais sete anos devido a questões administrativas. Sua inauguração foi adiada pela pandemia de COVID-19 e pelo terremoto de 2023 na Turquia e na Síria.

A Igreja Católica na Turquia (dados)

 Segundo dados fornecidos pelo Escritório Central de Estatística da Igreja, existem na Turquia cerca de 60 mil católicos (0,6% da população), pequeno rebanho pastoreado por 10 bispos, 18 sacerdotes diocesanos e 58 sacerdotes religiosos (76 no total). Os diáconos permanentes são 2, os religiosos não sacerdotes 5, religiosas professas 37, membros de Institutos Seculares 1, missionários leigos 2, catequistas 56. Há 1 seminarista menor e 10 seminaristas maiores.

A Igreja no país tem 7 Circunscrições Eclesiásticas, 40 paróquias, além de 18 outros centros pastorais. Administra 13 escolas maternais e primárias, com 1.165 estudantes; 10 médias inferiores e secundárias, com 5.198 estudantes; e um instituto superior/universidade, com 400 estudantes.

Ademais, possui 5 hospitais, 2 ambulatórios, 5 casas para idosos e pessoas com invalidez; 2 orfanatos e jardins da infância; tem 1 consultório familiar, além de outras 7 instituições.

Estão presentes na Turquia : 

Dos Latinos :

1 Arquidiocese em (Izmir/Esmirna)

2 Vicariatos Apostólicos (Istambul, Anatólia)

Dos Caldeus :

1 Arquieparquia (Diarbekir)

Dos Armênios :

1 Arquieparquia (Istambul)

Dos Sírios :

1 Exarcado Patriarcal (Turquia)

Dos Bizantinos :

1 Exarcado Apostólico (Istambul)

İznik, anteriormente conhecida como Niceia, é uma cidade na Turquia, localizada a 130 km a sudeste de Istambul, no centro do distrito homônimo da província de Bursa. A cidade é mais conhecida por ter sediado dois Concílios Ecumênicos : o convocado pelo Imperador Constantino I em 325 e aquele convocado pela Imperatriz Irene de Atenas em 787. Hoje, a localidade é mais conhecida por sua produção de cerâmica.

Em 2014, foram descobertas as ruínas do que mais tarde ficou conhecido como as ruínas de uma antiga basílica de três naves. A igreja, construída há aproximadamente 1.600 anos em nome de São Neófito, um jovem mártir cristão morto em 303 durante as perseguições do Imperador Diocleciano, foi destruída por um terremoto em 740, e seus restos foram submersos pelo lago. As ruínas, visíveis graças a fotografias aéreas da época de sua descoberta, agora são facilmente avistadas da margem.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2025-11/turquia-cristianismo-viagem-apostolica-leao-xiv.html

quinta-feira, 27 de novembro de 2025

Coração que confia sempre

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo do Padre Fernando Domingues,

Missionário Comboniano


‘A confiança em Deus é uma característica típica de quem vive centrado no amor do Coração de Cristo. É como viver sempre ligados a uma força que é muito maior do que toda a energia que nós mesmos possamos produzir para motivar o que fazemos e o estilo de vida que escolhemos para o nosso dia-a-dia.

Na carta encíclica sobre a qual temos refletido nestes últimos meses, o Papa Francisco apresenta-nos o testemunho de Cláudio de la Colombière, um dos santos que experimentou a devoção ao Coração de Jesus e colaborou muito para que ela se difundisse na Igreja. A sua partilha inspirou muita gente a descobrir a sua fé de maneira nova (ver DN n.º 126). São Cláudio confessa, a certo ponto : «Meu Deus, estou tão convencido que velais sobre aqueles que em Vós confiam, e que nada pode faltar a quem de Vós tudo espera, que resolvi viver o futuro sem preocupação alguma, e descarregar sobre Vós todas as minhas preocupações [...]. O que nunca perderei é a esperança; conservá-la-ei até ao último instante da minha vida.»

Este cristão, que olhava para Cristo através da imagem do seu Sagrado Coração, vivia na certeza de que Deus cuidava sempre dele, o acompanhava e estava presente não só nos seus momentos de oração, mas também ao longo de todo o dia, nos trabalhos que precisava de realizar. Por isso, ele vivia cada momento sentindo-se sempre acompanhado pela presença amorosa de Deus, e não se preocupava com o seu futuro pois, fosse ele o que fosse, São Cláudio tinha a certeza de que o amor de Deus lá estaria para o sustentar e lhe dar toda a energia de que precisasse.

Ele colocava o seu presente e o futuro inteiramente nas mãos de Deus, sabendo que aquele Amor que ele contemplava no Coração de Cristo não deixaria desperdiçar nenhum dos seus esforços para fazer o bem. E quando alguns dos trabalhos que ele fazia pareciam não dar fruto, ele não se angustiava e nunca perdia a esperança, pois sabia que tudo ficava naquele depósito seguro que é o Coração de Cristo e, a partir dali, daria fruto a seu tempo, o tempo de Deus.

Vemos aqui uma atitude muito parecida com a maneira como o próprio Jesus enfrentava os aparentes fracassos da sua missão e até mesmo o mistério tremendo da sua morte. Jesus tinha a certeza de que tudo ficava nas mãos seguras do Pai do Céu e que, a seu tempo, o bem que ele agora fazia ia produzir frutos abundantes. E foi assim que do aparente fracasso da sua paixão e morte nasceu «ao terceiro dia» a sua vida nova na ressurreição, e daí nos veio o Espírito Santo com os seus dons, e daí, da oferta incondicional da Sua vida, acabou por nascer a Igreja e tudo o que hoje vivemos nela.

Centrar o nosso olhar no Coração de Cristo comunica-nos a mesma energia que animava Jesus e ajuda-nos a confiar sempre n’Ele, na certeza de que todo o bem que vamos fazendo fica, de algum modo, depositado no seu Coração, como uma semente que o amor de Deus fará germinar e crescer e dar fruto, a seu tempo.

Podemos viver confiando no Coração de Cristo e, como São Claúdio, conservar a esperança até ao fim.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.combonianos.pt/alem-mar/opiniao/4/1480/coracao-que-confia-sempre/

segunda-feira, 24 de novembro de 2025

A criminalização da migração e a atribuição da violência aos que “veem de fora”

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
Caçados como animais

*Artigo do Padre Alfredo J. Gonçalves, CS


‘No decorrer da história humana, os temas da violência e da migração sempre andaram de braços dados. Tensões, conflitos e guerras têm produzido, aos milhares e milhões, esses ‘condenados da terra’ (Frantz Fanon) : são exilados vencidos, não raro utilizados como escravos pelos vencedores; vítimas do tráfico, em especial de mulheres e crianças, para fins de exploração sexual ou trabalhista; refugiados que se põem em fuga por motivações étnicas, religiosas, políticas, ideológicas e climáticas; migrantes, filhos da pobreza e da desigualdade socioeconômica, que escapam da miséria e da fome, na busca por novas oportunidades de melhor vida. Isso sem falar na saúde e educação, fatores que também deslocam muitas pessoas.

Esse casamento por vezes perverso entre violência e migração vem jogando hoje um papel primordial na prática política dos regimes democráticos. Um papel que emerge com força redobrada no momento dos pleitos eleitorais. Alguns países podem servir de exemplo : Estados Unidos, Portugal, Equador e Chile. Nos quatro casos, a disputa eleitoral mais recente envolveu direta, ou indiretamente, a posição dos candidatos quer em relação à violência, quer em relação à migração. Como pano de fundo, em lugar dos direitos humanos dos migrantes desenraizados, vinha à tona o famigerado discurso da segurança nacional.

Nos Estados Unidos, caso mais emblemático, essa temática foi tão evidente durante a campanha eleitoral que, logo após o retorno de Donald Trump à Casa Branca, este colocou em prática um processo de deportação de números sem precedentes, punindo muitos trabalhadores e trabalhadoras que há anos, e até décadas, fizeram daquele país a sua pátria de adoção. Em Portugal, o partido Chega ganhou um número expressivo de cadeiras no parlamento. E, como havia alardeado e como era de se esperar, pôs-se logo a trabalhar para endurecer e legislação migratória, fechando as portas a novas tentativas de entrar no velho continente. No Chile e no Equador, migração e violência estiveram no topo da disputa pelo poder, porém, ao que tudo indica, com resultados ainda incertos e talvez distintos.

O cenário torna-se sombrio, preocupante. Criminaliza-se a migração e o migrante, a ponto de atribuir a violência aos que ‘veem de fora’. Uma e outro, em geral, aparecem nas páginas, imagens e comentários da crônica policial, ao lado do crime organizado e do terrorismo. Impõe-se como novo bode expiatório o outro, o diferente, o estrangeiro. Com isso legitima-se toda e qualquer atitude de repressão e racismo, de xenofobia, preconceito e discriminação. Trata-se de um rechaço que se mede, de um lado, pela ascensão da extrema direita em boa parte do planeta e, de outro lado, pela rejeição crescente de grande parte da população. Os céus estão prenhes de tormenta e tempestade para quem se aventura pelas estradas do êxodo.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://migramundo.com/a-criminalizacao-da-migracao-e-a-atribuicao-da-a-violencia-aos-que-veem-de-fora/

sábado, 22 de novembro de 2025

Sao Columbano, Abade (543-615)

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo da redação da revista Ave Maria

 

‘‘Precisamos passar pela estrada real para a cidade de Deus por meio da aflição da carne e da contrição do coração, com a dura fadiga do corpo e a humilhação do espírito (…); se te distancias da batalha, também te distancias da coroa.’

Columbano ficou famoso pela severidade da sua ascese, embora poucos conheçam o seu ânimo delicado de poeta. Assim ele descreve uma viagem sua de barco descendo o rio Moselle para subir ao longo do Reno : ‘É belo entre os bosques cortar com a quilha a correnteza do Reno, deslizando docemente sobre as ondas. Povo meu, ouve-se o eco de cada grito. Levanta-se o vento, virá terrível a chuva, mas a força do homem domina a tempestade’.

A palavra da santa reclusa

Columbano nasceu na Irlanda, na província de Leinster, filho único de uma família rica que não teve necessidade de enviá-lo à escola do mosteiro, podendo oferecer-lhe excelentes mestres em casa. É compreensível que o mantivessem no lar, sonhando para ele uma vida feliz e uma bela descendência.

Entretanto, ao chegar à adolescência, gostava de dirigir o olhar para além das quatro paredes da nobre casa paterna, buscando horizontes mais amplos. Um dia foi aconselhar-se com uma reclusa famosa por sua santidade. Perguntou-lhe o que deveria fazer da sua vida. A mulher, fitando o jovem de coração puro e físico forte, com o gesto decidido dos profetas, não hesitou : intimou-o a deixar tudo e dirigir-se ao mosteiro mais próximo.

Columbano, sem se comover diante das lágrimas da mãe, despediu-se dos pais e mestres, colocando-se sob a orientação firme do Abade Sinell, do mosteiro de Clain-Inis.

Em casa, havia estudado com interesse não só a Bíblia, mas também os sábios e poetas pagãos – Sêneca, Virgílio, Ovídio, Lucano, Juvenal – e os poetas cristãos dos primeiros séculos, tendo alcançado sucesso em composições poéticas. No entanto, seu coração estava totalmente tomado pela observância monástica irlandesa, que não deixava espaço ao homem velho. No estudo da Sagrada Escritura e na leitura dos padres, alimento quotidiano do monge, descobria dimensões novas e insuspeitadas.

A santa reclusa dissera-lhe para fugir do mundo e ele o fez, mas, permanecendo ainda na sua terra e pertencendo à nobreza, parentes e amigos vinham visitá-lo com frequência, o que não o ajudava a romper com o antigo ambiente. Pediu então transferência para o norte, ao mosteiro de Bangor, sob a austera direção do Abade Comgallo.

Foi uma escolha feliz : a sintonia entre ambos era perfeita. O jovem Columbano compartilhava plenamente as diretrizes do abade e praticava com fervor a severa disciplina de Bangor. Sua inteligência livre impressionava o abade, que logo o promoveu a mestre dos noviços e pensava tê-lo, um dia, como sucessor.

A paixão do missionário

Esse desígnio, porém, não se concretizou. Columbano foi tomado pela febre missionária que, naquele tempo, ardia nos monges irlandeses : o desejo de evangelizar o continente europeu, mergulhado na barbárie e no paganismo após as invasões dos povos do norte e do leste.

A Irlanda havia sido poupada desse flagelo e conservara, em seus mosteiros, tanto a pureza da fé quanto a herança da civilização cristã trazida por São Patrício. Columbano convenceu o abade a deixá-lo partir com doze monges – um novo ‘colégio apostólico’ – para reevangelizar a Europa.

Após passarem pela Cornualha, desembarcaram na Gália por volta de 588-590. Apresentaram-se ao rei Gontrano, da Borgonha, a quem Columbano expôs seu plano : levar o Evangelho aos pagãos e construir um mosteiro entre eles, pedindo apenas um pedaço de terra inculta e liberdade para viver sem interferências.

O rei concedeu o pedido e logo começaram o trabalho. Cortaram árvores, reconstruíram muralhas e tetos, abriram portas e janelas. Antes do inverno, tinham já abrigo, lenha e uma igreja para orar.

O inverno foi rigoroso e as provisões, escassas. Na primavera, prepararam o solo e semearam. Um bispo local enviou víveres, comovido pela pobreza deles. Columbano agradeceu, mas advertiu o bispo para não interferir na vida interna do mosteiro.

O éden na floresta

Com o tempo, o povo acorria de longe para contemplar o milagre : a floresta transformada num jardim, um novo Éden. Diziam que os monges, silenciosos no trabalho e melodiosos na oração, tinham o dom de transformar tudo o que tocavam.

Certo dia, faltava-lhes água potável. Um monge lamentou-se ao abade, que indicou um local junto a uma grande árvore : ‘Cavem aqui, teremos água em abundância’. Brotou, de fato, uma fonte inesgotável, o que o povo considerou um milagre.

A vida na floresta harmonizava-se com a natureza : monges, animais e plantas conviviam em paz. Passarinhos não fugiam deles; cabritos e corças comiam em suas mãos.

O historiador Jonas de Bobbio, que escreveu a vida de Columbano, relata que ele se retirou certa vez para orar numa gruta, antiga morada de um urso. Ao regressar, o urso o encontrou, mas não o atacou. Depois de comer sua presa, retirou-se, deixando a pele, da qual o santo aproveitou para fazer sandálias para os monges.

A comunidade crescia, recebendo jovens e até bandidos arrependidos. Columbano discernia cada vocação, acolhendo os sinceros e afastando os dissimulados. Fundou outros dois mosteiros – Luxeuil e Fontaine – e escreveu as Regras dos Monges e Regras Domésticas, que estabeleciam a disciplina e as penitências.

A maldade de Bruneilde

A corte do rei Teodorico era marcada pela corrupção. Quem governava de fato era a rainha-mãe Bruneilde, que impedia o casamento do filho e o cercava de vícios. Columbano, firme na fé, recusou-se a abençoar os filhos ilegítimos do rei, dizendo ‘Estes não levarão jamais o cetro.’

Bruneilde, furiosa, perseguiu o abade, decretando seu exílio. Columbano e os monges irlandeses foram presos e enviados a Besançon. Mais tarde, libertado, regressou brevemente a Luxeuil, mas a perseguição continuou. Expulso novamente, escreveu aos monges : ‘Se afastares os adversários, não existe mais luta; e sem luta, não existe coroa. Com a luta vêm a coragem, a vigilância, o fervor, a paciência, a fidelidade, a sabedoria, a firmeza, mas, se suprimes a liberdade, suprimes também a dignidade’.

A viagem para Bobbio

Columbano partiu então para novas terras. Após evangelizar na região do lago de Constança e enfrentar resistências, atravessou os Alpes e chegou à corte do rei dos longobardos, Agilulfo. Por intermédio da rainha Teodolinda, recebeu terras às margens do rio Bobbio, onde fundou o seu último mosteiro.

Ali, já idoso e enfermo, trabalhou até a morte, em 23 de novembro de 615. Seus mosteiros formaram uma rede que unia povos diversos na fé cristã e reavivava a cultura à luz do Evangelho.

A espiritualidade columbana

A espiritualidade de Columbano era simples e firme : o Evangelho vivido com radicalidade. Em suas Instruções aos monges, ele escreveu : ‘Se o homem usar retamente as faculdades que Deus concedeu à sua alma, será semelhante a Deus (…). O primeiro mandamento é amar o Senhor com todo o coração, porque Ele nos amou primeiro. O verdadeiro amor, porém, não se demonstra com simples palavras, mas com fatos e na verdade’.

Columbano ensinava que o amor renova a imagem de Deus em nós : ‘Precisamos restituí-la na caridade, porque Ele é caridade (…). Precisamos restituí-la na bondade e na verdade, porque Ele é bom e verdadeiro (…). Intervenha o próprio Cristo e trace no nosso espírito os traços específicos de Deus, infundindo-nos a sua paz’.

Em um mundo marcado por rivalidades e vinganças, Columbano pregava que os discípulos de Cristo deveriam ser ‘espirituais e unânimes’, vivendo em concórdia fraterna e unidade eclesial, reflexo da própria unidade de Deus.

Para ele, chegar à unanimidade exigia seguir Cristo crucificado – um seguimento que não gera tristeza, mas alegria : ‘Não existe sofrimento no amor, naquele amor de Deus que renova em nós a sua imagem’.

 Assim viveu e ensinou São Columbano, abade e missionário, cuja vida uniu fé, cultura e civilização sob o sinal da cruz e da liberdade cristã.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/sao-columbano-abade-543-615-23-de-novembro.html

sexta-feira, 21 de novembro de 2025

A Babilônia

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo do Padre José Inácio de Medeiros, CSsR

 

‘Enquanto os seus oficiais a cercavam, o próprio Nabucodonosor veio à cidade. Então Joaquim, rei de Judá, sua mãe, seus conselheiros, seus nobres e seus oficiais se entregaram; todos se renderam a ele. Conforme o Senhor tinha declarado, ele retirou todos os tesouros do templo do Senhor e do palácio real, quebrando todos os utensílios de ouro que Salomão, rei de Israel, fizera para o templo do Senhor. Levou para o exílio toda Jerusalém : todos os líderes e os homens de combate, todos os artesãos e artífices. Era um total de dez mil pessoas; só ficaram os mais pobres.  Nabucodonosor levou prisioneiro Joaquim para a Babilônia. Também levou de Jerusalém para a Babilônia a mãe do rei, suas mulheres, seus oficiais e os líderes do país. O rei da Babilônia também deportou para a Babilônia toda a força de sete mil homens de combate, homens fortes e preparados para a guerra, e mil artífices e artesãos. Segundo Livro dos Reis, Capítulo 24, versículos de 11 a 16

Uma das páginas mais tristes da história do Povo de Israel que aparece em diversas narrativas bíblicas é, sem dúvida alguma, o chamado ‘Cativeiro da Babilônia’. Essa tragédia será para sempre lembrada como resultado da desobediência do povo para com a aliança de Deus.

A Babilônia aos poucos passa a ser vista não apenas como uma potência de importância histórica, mas desempenha um papel central na narrativa bíblica como símbolo da rebelião humana contra Deus. No Novo Testamento, a Babilônia assume um significado ainda mais profundo, representando um sistema mundial que se opõe ao Reino de Deus e que persegue aos cristãos. A queda de Babilônia passa a ser vista então como a queda do mal diante de Deus.

Em outras citações bíblicas, como no capítulo 10 do livro do profeta Isaías, aparece uma profecia sobre a Assíria, país que conquistou o reino de Israel aproximadamente entre 725 e 721 a.C. Nos capítulos 13 e 14, Isaías fala sobre a Babilônia, o país que conquistou Judá aproximadamente entre 600 e 588 a.C.

Potência política e mundanismo

A antiga Babilônia é hoje considerada um dos impérios mais ricos e mais mundanos da história. Originários dos povos amoritas que habitavam a região sul do deserto árabe, os babilônios criaram uma das civilizações que ocuparam a Mesopotâmia, região localizada entre os rios Tigre e Eufrates, onde hoje se encontra o moderno Iraque e parte da Turquia.

Promovendo a dominação dos acadianos que já ocupavam a região, o povo amorreu realizou um processo de expansão territorial que anexou várias cidades da Mesopotâmia, até que em meados do século XVIII a.C., o rei Hamurábi consolidou o Primeiro Império Babilônico.

Durante o seu governo centralizador e autoritário, Hamurábi ergueu a cidade de Babilônia, que se transformou em um dos mais importantes centros urbanos e comerciais da Antiguidade. Além disso, ele também foi responsável pela compilação de um importante conjunto de leis talhadas em um monumento de pedra conhecido como o Código de Hamurábi de onde se originou a tristemente célebre Lei de Talião, instrumento jurídico que de forma geral determinava a execução de penas que se igualassem aos prejuízos causados por algum delito, falha ou acidente.

Umas das maravilhas dos tempos antigos

Apesar de promover o crescimento e a prosperidade do Império Babilônico, uma série de revoltas internas somada com a invasão dos cassitas e dos hititas provocaram a queda e o desparecimento do Primeiro Império Babilônico que foi retalhado em diferentes reinos menores.  O tempo passou e no ano de 1300 a.C., os assírios, potência militar de então, subjugaram todos os reinos que outrora formaram o Primeiro Império Babilônico.

Mais tarde, no século VII a.C., ocorreu, por sua vez, a queda dos assírios devido às invasões dos caldeus e dos medos, vindos da região onde hoje se situa o moderno Irã.

As invasões possibilitaram a criação do Segundo Império Babilônico que atingiu o seu apogeu no governo do rei Nabucodonosor. Durante o seu reinado a civilização babilônica viveu um tempo de grandes conquistas militares e de execução de diversas obras públicas. Data dessa época os famosos Jardins Suspensos da Babilônia que causavam inveja e espanto em todos os que os conheciam e que hoje figuram entre as principais construções arquitetônicas do Mundo Antigo, sendo considerados umas das sete maravilhas do tempo antigo.

No governo do rei Nabucodonosor os hebreus foram escravizados e levados ao cativeiro. Esse episódio, lembrado como o período do Cativeiro da Babilônia seria cantado nos salmos e em outras citações bíblicas e nunca mais esquecido.  Segundo as narrativas bíblicas, depois de 50 anos, os hebreus ganharam autorização para retornarem para suas terras vindo um período de reconstrução com os sacerdotes Esdras e Neemias.

Após a morte de Nabucodonosor, os persas invadiram, saquearam e dominaram a Babilônia que nunca mais se reergueu.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.vaticannews.va/pt/vaticano/news/2025-06/curiosidades-biblia-babilonia.html

quarta-feira, 19 de novembro de 2025

A missão e a revolução da ternura

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo do Padre Brás Lorenzetti


‘Um dos aspectos importantes da vida de um cristão é a sua disposição para partilhar a fé em que acredita. Em outros tempos, falava-se em missão; atualmente, preferimos o termo ‘evangelização’. Esse ‘embeber-se’ do espírito missionário tem como finalidade que nos sintamos comprometidos e identificados com a própria missão da Igreja, que é anunciar o Evangelho ao maior número possível de pessoas. Se acreditamos que viver em profundidade a fé dá sentido à vida e nos faz felizes, queremos que outros também tenham a mesma oportunidade e sintam essa alegria e felicidade em suas vidas.

Existem muitas formas de ser evangelizador, de acordo com o dom de cada um. Uma dessas formas é a oração, que não pode faltar nunca na ação missionária. O fruto que colhemos é a paz : em nossos corações, nas famílias e na sociedade.

A humanidade vive hoje uma situação preocupante : nunca houve no mundo tantos conflitos armados ao mesmo tempo, desde a Segunda Guerra Mundial. Atualmente assistimos a um triste recorde de guerras e conflitos entre países e grupos; os continentes todos possuem essa ‘mancha’ da violência em seus territórios. 

Em nosso país, não temos conflitos armados de grandes proporções, porém, os grupos armados e facções promovem uma verdadeira guerra urbana, vivendo do assalto e do roubo que, junto com a droga, levam ao medo e à morte. A sociedade, sobretudo nos grandes centros urbanos, convive com o medo que, no fundo, tem como raízes a desigualdade e o incentivo ao acúmulo descontrolado de bens. 

A proposta da Igreja é que essa guerra só pode ser vencida com a revolução da ternura. A Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (A alegria do Evangelho) propõe ‘(…) um estilo mariano na atividade evangelizadora da Igreja. Porque sempre que olhamos para Maria, voltamos a acreditar na força revolucionária da ternura e do afeto’ (288). De fato, a presença de Maria, estrela da nova evangelização, estimula-nos a confiar no seu poder intercessor como forma de combater o ódio, a intolerância e a violência na sociedade. De nossa parte, o convite é que colaboremos com a promoção da justiça social, fator que leva à pacificação da sociedade.

Os cristãos católicos, juntamente com o empenho pela igualdade e pela justiça, estão redescobrindo a força da oração, especialmente mediada e motivada pela intercessão de Maria, especialmente por meio do santo Rosário. Que esse movimento mariano progrida cada vez mais como um verdadeiro modo de evangelizar e de fazer frente à violência e às guerras existentes no mundo. Confiemos, pois, no poder intercessor da nossa mãe Maria e tenhamos como missão acreditar e colaborar pela paz no mundo.

Ó Maria, mãe da ternura e estrela da evangelização, rogai por nós!’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/a-missao-e-a-revolucao-da-ternura.html