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sexta-feira, 20 de setembro de 2024

A fé conduz ao amor

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo do Padre José Alem, CMF


‘Agora permanecem estas três : a fé, a esperança e o amor. Mas a maior delas é o amor (1 Cor 13,13)’


A Fé é um dom do amor de Deus para a nossa plena vida. A fé nos leva a crer nas verdades que não se veem e que são as maiores e mais importantes : crer no único e verdadeiro Deus, que é Uno e Trino, na existência de anjos, na existência de espíritos maus, na existência da alma, do céu, do inferno… Acreditar, enfim, em tudo o que a Igreja crê e ensina, fruto da ação do Espírito Santo, que a conduz pela história.

É preciso que nossa fé seja bem compreendida e vivida neste mundo, onde muitas pessoas não creem mais e, muitas vezes, até desrespeitam aqueles que creem. A fé é um ato de adesão, de decisão, de abertura da alma ao mistério de Deus que se revela. A fé faz ver, não com os olhos, mas com o espírito; dá luz e sabedoria para acolher o mistério revelado além das aparências.

E a fé gera também esperança. Podemos esperar sempre se temos fé. Esperar que tudo o que cremos se realize e nos conduza à vida plena. A própria vida não tem fim, apenas supera o limite do tempo e do espaço. A fé nos revela que a vida atinge sua plenitude e seu autêntico sentido na eternidade. A esperança nos conduz à confiança dessa vida plena que existe depois desta, isto é, o paraíso para os que viveram no amor, amando a Deus e ao próximo; o inferno, para os que não viveram o amor e, por isso, pecaram; e o purgatório, para aqueles que, mesmo amando, precisam purificar-se para serem plenos e, assim, gozarem do paraíso. E há ainda a caridade, que nos torna capazes de amar a Deus e ao próximo. A caridade é a plenitude de tudo. É viver na terra como no céu. É a vida de Deus em nós e entre nós.

São Paulo, na primeira carta aos Coríntios, capítulo 13, revela, conduzido pelo Espírito Santo, como entender e viver o amor como a plenitude da fé, da esperança, da vida. Ensina o que é amar como Jesus ama e como tudo um dia vai desaparecer, restando apenas o Amor. Quem vive no amor, por amor, sendo amor, salva sua vida. No amor está a fonte e o ápice da vida, como Jesus viveu e ensinou, e espera que seus discípulos vivam. São Paulo conclui sua mensagem de maneira clara e categórica : ‘Agora permanecem estas três : a fé, a esperança e o amor. Mas a maior delas é o amor’ (1 Cor 13,13).

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/maria-mae-do-verbo.html

terça-feira, 17 de setembro de 2024

Maria, mãe do Verbo

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo do Padre Brás Lorenzetti


Existem inúmeros títulos marianos sobre os quais poderíamos discorrer ou muitos temas bíblicos à nossa disposição para refletir sobre eles, porém, fico pensando em como se poderia estabelecer uma aproximação ao tema do Mês Bíblico deste ano, que é o Livro de Ezequiel, e o lema ‘Porei em vós meu Espírito e vivereis’ (Ez 37,14). 

Algumas verdades e escritos de Ezequiel nos direcionam a Maria no sentido da profecia à realização. Se da parte de Ezequiel os oráculos proféticos anunciam uma realidade de salvação, em Maria a salvação se torna realidade; se os gestos proféticos querem mostrar a verdade e a presença de Deus no meio de povo, chamando-o à conversão, em Maria, na pessoa de um ser frágil e inocente, o Jesus Menino se torna presença viva de Deus, profeta verdadeiro e definitivo entre nós (cf. Jo 6,14); em relação às parábolas e alegorias proferidas por Ezequiel, como a do povo de Israel que se torna videira estéril, podemos dizer que Maria é videira que dá o fruto verdadeiro e definitivo, Jesus. Se a parábola da esposa infiel é uma forma de chamar o povo à fidelidade ao seu Senhor, em Maria vemos a fidelidade mais extremada e absoluta : ‘Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua Palavra’ (Lc 1,38); as visões e êxtases do profeta nos remetem ao realismo do Magnificat proclamado por Maria : ‘Desde agora me proclamarão bem-aventurada todas as gerações, porque realizou em mim maravilhas aquele que é poderoso e cujo nome é santo’ (Lc 1,46-55). Assim, em Maria as profecias se tornam realidade e os anúncios proféticos se cumprem plenamente. 

No campo social, o profeta acusa de infidelidade as lideranças políticas, religiosas e o próprio povo, enquanto Maria proclama que a presença de Jesus, o Deus feito carne, vai promover a solidariedade, saciando de bens os indigentes (cf. Lc 1,53), que os abastados, os que só confiam em sua riqueza e em sua presunção, os que só confiam na riqueza e na sua prepotência, vão sentir sua mão pesada e serão dispersados (cf. Lc 1,53). Se o livro do profeta Ezequiel é marcado pela esperança da restauração, em Maria a profecia se torna realidade : a esperança se chama agora Jesus de Nazaré, o Deus encarnado entre nós.

Que o Senhor derrame seu Espírito sobre nós, a fim de que tenhamos verdadeira vida e discernimento; que possamos ver a presença profética de Maria na vida da Igreja e sua intercessão nos torne fiéis ao Espírito que plenifica e dá vida; que venha sobre nós o dom da profecia e da disponibilidade total, como em Maria.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/maria-mae-do-verbo.html


domingo, 15 de setembro de 2024

Uma reflexão sobre os caminhos tortuosos da migração

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 Migrantes em trânsito na região de Colchane, no Chile (Foto: OIM Chile)

*Artigo do Padre Alfredo J. Gonçalves, CS


‘Migrar é um direito, direto de ir e vir? Teoricamente, sim, na verdade não! Pelo contrário, para milhões e milhões de pessoas, migrar é uma obrigação. Migração forçada, compulsória. Sair não por decisão própria, mas por uma série de circunstâncias adversas. Alguns autores falam de fatores de expulsão. Fatores que pressionam as pessoas a deixarem sua terra natal, às vezes a família, amigos e parentes. A terra natal tem subjetivamente um caráter sagrado : nela estão sepultados os restos mortais dos antepassados. Os principais ‘fatores de expulsão’ estão ligados, em primeiro lugar, às condições socioeconômicas em que vive a população de origem. Faltam oportunidades reais de sobrevivência, o que leva a buscá-las em outra parte. Evidente que os países de origem coincidem com o subdesenvolvimento, a pobreza, a miséria e a fome.

Em segundo lugar, as tensões, conflitos e guerras formam um segundo bloco de expulsão. Diferenças e turbulências de ordem étnica, religiosa, política ou ideológica tendem a produzir refugiados em série. O refugiado é aquele que não pode voltar atrás, sob pena de perseguição, encarceramento ou morte. Daí a fuga em massa dos países conflagrados, com a intenção de encontrar um lugar de refúgio. Segundo o ACNUR, o número de refugiados e deslocados internos forçados em todo planeta já ultrapassa a casa dos 120 milhões de indivíduos.

Muitos migrantes estão sendo expulsos, em terceiro lugar, devido aos efeitos nocivos, e cada vez mais extremos, das mudanças climáticas. Estiagens, inundações, tornados, furacões, etc. afetam em geral os setores mais vulneráveis da população. Na verdade, não poucos destes migrantes já viviam em situação precária no país de origem, forçadas a ocupar os lugares mais perigosos e sujeitos a tragédias. Poder-se-ia dizer que essas catástrofes climáticas apenas marcam a hora da partida. Alguns falam de ‘refugiados climáticos’, expressão que o ACNUR ainda não reconhece. Claro, outras motivações levam as pessoas a migrar. Saúde, educação, moradia, turismo são algumas delas. Também vivem em constante migração aqueles que trabalham com os meios de transporte, tais como motoristas, marítimos, aeroviários… Sem ignorar, ainda, os missionários, peregrinos, soldados, técnicos de empresas transnacionais, entre outros.

Por outro lado, no processo de migração, os autores falam também em fatores de atração. Um dos mais batidos são as luzes, atrativos e oportunidades proporcionadas de modo particular pelo universo urbano. O termo ‘luzes’, neste caso, poderia servir de metáfora para os direitos humanos mais elementares : acesso mais fácil ao trabalho, à moradia, à escola, aos serviços de saúde, transportes, e assim por diante. Em outras palavras, os ‘fatores de atração’ pressupõem, em geral, os ‘fatores de expulsão’. A carência extrema alimenta o sonho de vida melhor, impondo a necessidade de migrar. O que significa que ‘fatores de expulsão’ e ‘fatores de atração’ comportam duas faces da mesma moeda.

O fenômeno migratório, cada vez mais intenso, diversificado e complexo inclui, via de regra, três aspectos : polo de origem, polo de destino e lugares de passagem. Alguns países são predominantemente pontos de saída, outros de chegada e outros ainda de trânsito. Mas não é incomum que algumas nações reúnam, ao mesmo tempo, duas ou três dessas circunstâncias, tais como Turquia e Grécia, México e Portugal, Espanha e Líbia, para citar casos específicos. O certo é que origem, destino e trânsito, apesar de existirem enquanto predominância, se cruzam e se misturam, se interpelam e se entrelaçam. O que levanta a dificuldade de trabalhar com o esquema estreito de ‘fatores de expulsão’ e ‘fatores de atração’.

Se é certo que os migrantes contemporâneos sabem evidentemente de onde partiram, poucos sabem onde replantar as próprias raízes. Tal como nas migrações históricas da Europa para as Américas, os migrantes de hoje nunca esquecem a terra onde nasceram e criaram raízes. Diferentemente daqueles, porém, grande parte dos atuais desconhece o lugar de chegada. Batem de fronteira em fronteira, até encontrarem acolhida. Em outros tempos, o lugar de origem e o lugar de destino estavam mais ou menos determinados. Não é o que ocorre atualmente. Aos milhares e milhões, os migrantes passam a errar de um lugar a outro, como aves de arribação, sem um galho onde repousar. Tudo na ‘aventura’ da migração se tornou mais incerto, mais inseguro e mais inquietante. Em conclusão, não custa lembrar que o direito de migrar (ir-e-vir) corresponde ao direito de permanecer em sua pátria. Tudo depende de oferecer a cada cidadão oportunidades iguais de desenvolvimento. Aqui, se fazem necessárias políticas públicas estruturais, no sentido de evitar a todo custo a migração forçada. Então, sim, migrar ou ficar será um direito de todos’.

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://migramundo.com/uma-reflexao-sobre-os-caminhos-tortuosos-da-migracao/

sábado, 14 de setembro de 2024

Sua cruz me deu vida (14.set)

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Lino Rampazzo


Abrindo o livro do Atos dos Apóstolos, escritos por São Lucas, podemos verificar como nasceu a Igreja. Foi pelo anúncio do Evangelho. 

‘Evangelho’ é um termo de origem grega que significa ‘bom anúncio’. Qual foi este ‘bom anúncio’? Podemos responder com a seguinte afirmação : Jesus Cristo morreu e ressuscitou para a nossa salvação. 

Simplesmente do ponto de vista histórico, a morte de Jesus foi o assassinato de um inocente, mas, à luz da fé, sua morte foi o maior ato de amor da história, que salva a humanidade. Graças a esse grande ato de amor, Deus perdoa os homens, que são irmãos de Jesus, por isso Ele se tornou homem. É o Cristo mesmo que transmite o sentido verdadeiro da sua morte, mais exatamente nas palavras da consagração da Última Ceia : ‘Isto é meu corpo, dado por vós : fazei isto em memória de mim’ (Lc 22,19); ‘Este cálice é a nova aliança em meu sangue, derramado por vós’ (Lc 22,20).

É a partir desse anúncio que Pedro, no dia de Pentecostes, pede que os ouvintes da mensagem se arrependam dos pecados, recebam o Batismo e entrem a fazer parte da Igreja. Os novos cristãos ‘perseveraram na doutrina dos apóstolos, na vida da comunidade, na fração do pão, e nas orações’ (At 2,42). 

Ressalta-se que a expressão ‘fração do pão’ indicava a celebração da santa Missa. Nessa celebração, como acima lembrado, os cristãos sentem-se estritamente ligados à cruz, graças ao corpo de Cristo, ‘dado por nós’, e ao sangue de Cristo, ‘derramado por nós’.

Voltamos ao grande mistério do sofrimento e da morte de Cristo. Isso é demonstrado pela atitude dos discípulos de Emaús, que tinham perdido a esperança em Jesus diante da sua condenação à morte. A essa altura, o mesmo Jesus explicou como devia ser interpretada sua terrível morte : ‘Não era necessário que o Cristo sofresse essas coisas para entrar na sua glória? E, começando por Moisés e percorrendo todos os profetas, explicou-lhes em todas as Escrituras o que lhe dizia respeito’ (Lc 24,26-27).

A partir dessa ‘base da nossa fé’, começamos todas as nossas orações com o sinal da cruz, vivenciamos a sexta-feira como o dia da cruz de Cristo e o domingo como o dia da ressurreição. Celebramos a Semana Santa, com destaque na quinta-feira, dia da Última Ceia, na sexta-feira, dia da morte de Cristo, e no domingo da Páscoa, dia da ressurreição.

Vamos concluir estas reflexões com o hino que o apóstolo Paulo nos apresenta na Carta aos Filipenses : ‘Cristo Jesus, apesar de sua condição divina, não reivindicou seu direito de ser tratado como igual a Deus. Ao contrário, aniquilou-se a si mesmo e assumiu a condição de servo, tornando-se semelhante aos homens. Por seu aspecto, reconhecido como homem, humilhou-se, fazendo-se obediente até a morte e morte de cruz. Por isso Deus o elevou acima de tudo e lhe deu o nome que está acima de todo nome, de modo que ao nome de Jesus todo joelho se dobre nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua proclame que Jesus Cristo é o Senhor para a glória de Deus Pai’ (Fl 2,6-11)’.

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/sua-cruz-me-deu-vida.html


sexta-feira, 13 de setembro de 2024

A guerra esquecida do Sudão

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Bernardino Frutuoso,

jornalista


Neste número da Além-Mar damos um grande destaque ao drama que está a viver o Sudão, envolvido num conflito esquecido, devastador e pouco mediatizado.

A guerra civil começou no dia 15 de Abril de 2023 com confrontos em Cartum, a capital do Sudão, entre o Exército sudanês e as Forças de Ação Rápida (RSF). As duas forças lutam pelo controle do poder no país. O conflito já fez mais de 15 mil mortos e 8,6 milhões de deslocados e refugiados; 24,8 milhões de sudaneses enfrentam insegurança alimentar e, sem ajuda internacional, um milhão de pessoas poderão morrer de fome este ano.

Um ano depois do início do conflito, em Abril passado, as Nações Unidas organizaram a conferência internacional do Sudão em Paris, procurando chamar a atenção para uma das maiores catástrofes humanas no planeta. António Guterres, secretário-geral da ONU, lembrou que, por estar com a atenção centrada nas tensões no Médio Oriente, o mundo «se está a esquecer do povo do Sudão». O diplomata português sublinhou que esta «é uma guerra contra os muitos milhares de civis que foram mortos e dezenas de milhares de mutilados para o resto da vida. É uma guerra contra os direitos humanos e o direito humanitário internacional». Da conferência resultaram as promessas de ajuda no valor de dois mil milhões de euros, mas ainda falta muito para os obter. 

Na declaração final, os participantes na conferência – co-presidida pela Alemanha, França e União Europeia – instaram as partes em conflito a porem termo às violações dos direitos humanos e a permitirem o acesso da ajuda humanitária. Um apelo que não foi ouvido. Percebe-se que nenhum dos grupos armados está disponível para conversar, alcançar um cessar-fogo e traçar um caminho para a paz. Pelo contrário, em Maio, milícias do Darfur que se tinham mantido neutrais desde o princípio do conflito decidiram apoiar o Exército e os combates estenderam-se também a El-Fasher, a capital do Darfur do Norte, a única cidade desse Estado que tinha escapado aos horrores da guerra. 

Sabemos que o país é rico em recursos naturais, nomeadamente urânio e ouro, e as potências estrangeiras, interessadas em explorar esses recursos, financiam os grupos envolvidos na guerra. Numa entrevista ao jornal Público, a investigadora Daniela Nascimento, professora da Universidade de Coimbra, especialista no Sudão, sublinhava, precisamente, que o conflito «está a ser apoiado a partir de fora» : «Temos a Arábia Saudita envolvida, temos o Qatar, os Emirados Árabes Unidos. Temos, por outro lado, as Forças de Apoio Rápido a serem apoiadas no terreno pelo Grupo Wagner, tendo como contrapartida o acesso às minas de ouro do Sudão.»

Apesar desta situação dramática, os missionários continuam o seu labor evangelizador no país. Os Missionários Combonianos e outros religiosos foram obrigados a deixar as suas missões e obras. Em Cartum, como refere o padre Jorge Naranjo, destruíram grande parte da cidade e o Comboni College (Universidade dos Combonianos) deixou de funcionar nas suas instalações e mudou-se para Porto-Sudão, no mar Vermelho, com aulas que se fazem sobretudo em modalidade virtual.

Sem perder a esperança, e levantando a nossa prece a Deus, sonhamos com um futuro melhor para o povo do Sudão’.

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.combonianos.pt/alem-mar/opiniao/4/1234/a-guerra-esquecida-do-sudao/

quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Povo da rua : a busca por visibilidade e as ações transformadoras da realidade

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Cintia Lopes


‘Os desafios da Pastoral do Povo da Rua para promover dignidade aos excluidos’

‘A população de rua no Brasil aumenta a cada ano em diferentes regiões do país. Em 2023, 261 mil pessoas viviam em situação de rua no Brasil, número onze vezes maior que há dez anos. Já nos dois primeiros meses deste ano de 2024, mais 10 mil pessoas foram para as ruas, totalizando assim aproximadamente 272 mil pessoas em situação de rua, sendo que 70% dos moradores de rua são negros e 87% estão na faixa etária entre 18 e 59 anos. 

Os dados foram divulgados no último levantamento feito pelo CadÚnico, o Cadastro Único para Programas Sociais do governo federal, em março. Além disso, observa-se um crescente aumento de muitos migrantes nas ruas, como venezuelanos, haitianos, peruanos, senegaleses, cubanos, libaneses, entre tantos outros que se juntam a várias famílias brasileiras em situação de rua. É notório que a população está indo cada vez mais cedo para as ruas e permanecendo aí longos períodos. Quais seriam as principais causas para tantas pessoas nas ruas especialmente nos grandes centros urbanos?

É preciso observar que a violência estrutural que acomete parte da população brasileira é muito anterior à pandemia da covid-19, ainda que após o período pandêmico tenha havido um aumento de famílias inteiras e de mulheres nas ruas. Especialistas apontam que as principais causas são nesta ordem : conflitos familiares e comunitários, perda ou precarização de moradia, perda ou precarização de trabalho e o uso prejudicial de álcool e outras drogas são as principais causas que levam as pessoas à situação de rua no país, o que indica que é um problema principalmente relacionado a políticas públicas e econômicas.

Para atuar pelos direitos e necessidades dessa parcela da sociedade, que muitas vezes representa os excluídos, a Pastoral do Povo da Rua tem como missão criar vínculos com a população em situação de rua e identificar os potenciais de vida desenvolvendo ações que transformem essa exclusão em realidade de vida para todos, como reforça Ivone Maria Perassa, coordenadora nacional da Pastoral do Povo da Rua e há onze anos nela atuando. Ela explica que uma das principais funções da coordenação é fortalecer a atuação dos agentes da pastoral em escala nacional e contribuir com a formação para que os agentes consigam, de fato, junto com a rua pensar em ações transformadoras da realidade. ‘Por muito tempo e diversas vezes, quem atua com população de rua a vê composta por pessoas que precisam de comida, roupa, água e cobertor e aí geralmente ficam nessas ações. Na pastoral, nós consideramos que essas são ações emergenciais de que todo ser humano necessita, como comer, beber, dormir, tomar banho, mas não podemos ficar somente nelas’, pondera Ivone.

Ao longo de mais de quarenta anos, a pastoral contribui especialmente para que a população de rua se fortaleça, conheça seus direitos, organize-se em pequenos grupos ou comunidades e consiga dar seus passos de forma organizada na defesa dos seus direitos ou na proposição de políticas públicas. Dentre as conquistas, vale destacar a atuação no campo da política pública – com as criações de conselhos, comitês, portarias que garantem os direitos da população de rua tornando-a mais visível. ‘A visibilidade surge quando se está organizado. Essa é uma ação que a pastoral tem focado muito : fortalecer a organização dessa população para que possa sair dessa situação’, detalha Ivone, que explica ainda que ‘hoje a população de rua consegue entrar e fazer debate, dialogar com o judicial, com o ministério público, com o Executivo, com o Legislativo. Consegue ser respeitada ou ser ouvida enquanto em tempos passados eram barrados na porta’.

Dentre os projetos encabeçados pela pastoral, o ‘Moradia primeiro para população de rua, criado em 2019, tem como objetivo incluir pessoas em situação crônica de rua e proporcionar uma vida digna e reestruturada. Outro propósito é mostrar aos municípios que incluir a população na moradia é mais econômico e com resultados eficazes’, exemplifica a coordenadora.

O alto custo de vida e o desemprego crescente também contribuem para que a rua seja o destino de famílias inteiras : ‘A rua virou uma opção porque é o lugar em que as pessoas optam por viver já que não dão conta de pagar com o que recebem a comida, a moradia, o remédio e outras despesas. Após a pandemia, muitas outras pessoas com transtornos mentais, depressão profunda, sequelas respiratórias e que não são idosas não se sentem mais úteis na vida’, diz Ivone. À medida que as pessoas não dão conta de viver e de trabalhar temos um problema social e econômico. ‘Presenciamos uma crise pela falta de programas de moradias coletivas adequadas e residências terapêuticas para aqueles com transtornos mentais. Moradias dignas para essa população com um custo social, ofertas de trabalho que sejam de acordo com essa realidade de uma população que não tem um acesso tão ágil às tecnologias’, reflete ela. 

Hoje, a metade das vagas disponíveis nas moradias públicas – sejam em abrigos, albergues, casas de acolhimento – está como residências fixas. ‘São idosos, pessoas deficientes que estão lá porque não têm outro local para ir. Os equipamentos públicos que deveriam ser rotativos estão ocupados por residências coletivas fixas e precárias’, alerta Ivone.

Os municípios, de um modo geral, investem nos chamados programas de higienização, que é a expulsão das pessoas das suas cidades, de forma discreta, com o recolhimento de pertences e, por vezes, com atos de violência. O problema é então transferido, já que a migração acontece para municípios de pequeno e médio porte. ‘O grande desafio é fazer com que o poder público invista em programas que sejam de inclusão e de estruturação dessas vidas, focando projetos de geração de renda e inclusão na moradia. Entendemos que é a porta de saída para essa população’, diz ela. 

Uma das vozes mais atuantes e reconhecidas na luta contra a invisibilidade do povo em situação de rua é o Padre Júlio Lancellotti, vigário episcopal para a Pastoral do Povo da Rua da Arquidiocese de São Paulo (SP). Muitos dos projetos desenvolvidos por ele em conjunto com a pastoral são criticados por políticos conservadores e por uma parcela da sociedade. Ivone frisa : ‘O Padre Júlio tem tido uma força de expressão fundamental. Ele é firme naquilo que acredita, tem garra, resistência, consciência política, além de ser respeitado. Essa pressão que o Padre Júlio recebe é semelhante à que grupos que desenvolvem trabalhos diretos na rua com abordagem, entrega de alimentos, de roupas e cobertas têm sofrido no Brasil inteiro, por isso, nossa luta maior é por políticas públicas estruturantes’.

Os cidadãos comuns, especialmente cristãos católicos, podem ajudar efetivamente essa corrente de solidariedade e acolhimento dentro de suas próprias realidades, cidades, bairros onde moram. ‘Identifiquem pessoas em sofrimento nesse grau de abandono que é a situação de rua. Não se fechem. Conversem e ouçam o que elas têm a dizer. Se não tiverem nada mais para ofertar, a orientação é contatar as autoridades dos municípios para avaliar as possibilidades de casas de acolhimento e abrigos. A participação dos cristãos no suporte emergencial, em socorro à vida, é necessária em todos os momentos’, finaliza Ivone’.

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/povo-da-rua-a-busca-por-visibilidade-e-as-acoes-transformadoras-da-realidade.html


quarta-feira, 11 de setembro de 2024

Gregório e o canto gregoriano

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 

*Artigo de Ricardo Abrahão 


‘São Gregório Magno – Papa e doutor da Igreja – nasceu em 3 de setembro do ano 540 e morreu a 12 de março do ano 604’

‘A música sempre teve um papel fundamental na celebração litúrgica, mas, a partir de São Gregório Magno, ela recebe atenção mais profunda e se torna necessária escola de oração. Após ter estudado Direito e entrado para a política como prefeito de Roma, São Gregório Magno decidiu retirar-se em um mosteiro, onde praticou a oração, o recolhimento e dedicou-se aos estudos da Sagrada Escritura e dos padres da Igreja. De monge a Papa, Gregório promove reforma litúrgica na Igreja e o canto e a música passam por revisão e organização em vigor até os dias de hoje. Em sua obra Diálogos, redigiu o exemplo de homens e mulheres com reflexões místicas e teológicas. O segundo livro é sobre a vida de São Bento de Núrsia. O mosteiro beneditino ofereceu grandes provas sobre a eficiência entre música, coro, oração e trabalho. Inspirado no modelo musical que ressoa até os dias atuais pelos claustros, Gregório compõe melodias próprias à liturgia e funda a Schola Cantorum.

Antes de tudo, o canto gregoriano é oração. Sem conceituar oração, não há possibilidade de entender e interpretá-lo. A Schola Cantorum era inicialmente formada por clérigos e incluía um ‘cantor’ ou mais solistas. O sentido de haver um cantor ou solista é remontar à voz do pastor que guia as ovelhas, isto é, quem nos guia é a Palavra de Deus e canto gregoriano nada mais é do que a Palavra cantada. Por que cantada? Porque o canto é a manifestação do corpo em movimento à Palavra, o exercício do Espírito Santo para que a fé seja viva, pois a fé sem obras é morta. É um princípio que o Concílio Vaticano II reforça com letras maiúsculas apontando o verdadeiro sentido do canto em nossa vida de Igreja : ‘Os compositores, imbuídos do espírito cristão, compreendam que foram chamados para cultivar a música sacra e para aumentar-lhe o patrimônio. Que as suas composições se apresentem com as características da verdadeira música sacra e possam ser cantadas não só pelos grandes coros, mas se adaptem também aos pequenos e favoreçam uma ativa participação de toda a assembleia dos fiéis. Os textos destinados ao canto sacro devem estar de acordo com a doutrina católica e inspirar-se sobretudo na Sagrada Escritura e nas fontes litúrgicas’ (Constituição Dogmática Sacrosanctum Concilium, 121).

São Gregório faz reverberar em nossos ouvidos a beleza da liturgia bem celebrada, da submissão do canto ao Espírito Santo e da construção harmônica de sermos Igreja – o coro do Senhor. Interpretar a Palavra de Deus pelo canto é mergulho na oração, meditação, contemplação interior. É fazer da vida uma eterna salmodia! No livro Liturgia das horas e contemplação, Anselm Grün diz : ‘Sem oração somos separados da vida divina em nós. Sem oração ela é soterrada sob os escombros do barulho dos nossos pensamentos e sentimentos’.

Que o canto da caridade seja o único canto de nossos corações!’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/gregorio-e-o-canto-gregoriano.html


segunda-feira, 9 de setembro de 2024

O caminho do jubileu dentro de Roma : as basílicas papais - São Paulo Fora dos Muros

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo da redação da revista Ave Maria


‘As quatro basílicas papais em Roma são São Pedro no Vaticano, São João de Latrão, Santa Maria Maior e São Paulo Fora dos Muros. Essas são as igrejas ‘maiores’ com as portas santas, que são abertas pelo Papa durante o ano jubilar.

Após o Édito de Milão em 313, que assegurou a liberdade de culto aos cristãos, o imperador Constantino decidiu presentear a jovem Igreja com duas basílicas, erigidas sobre os túmulos de Pedro e Paulo. No entanto, no século V, devido ao crescente número de peregrinos e ao espaço limitado da basílica original de São Paulo, os imperadores Teodósio, Valentiniano II e Arcádio se viram obrigados a ampliar a estrutura, alterando sua orientação para o oeste.

Finalmente, em 1854, o Papa Pio IX inaugurou a imponente basílica que conhecemos hoje, a qual ainda preserva, em seu interior, a corrente que, segundo a tradição, mantinha o apóstolo Paulo preso ao soldado romano durante sua vigília enquanto aguardava o julgamento.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/o-caminho-do-jubileu-dentro-de-roma-as-basilicas-papais-sao-paulo-fora-dos-muros.html


sexta-feira, 6 de setembro de 2024

Deficiência não é inabilidade

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Roselyne Wambani Wafula


‘As crianças com deficiência possuem um universo de potencialidades inexploradas e uma coragem extraordinária. A experiência da irmã Beatrice Jane Agutu numa escola do Quénia confirma que a deficiência não é inabilidade e que cada criança merece a possibilidade de brilhar.

«Como religiosas católicas, e especialmente como irmãs franciscanas de Santa Ana, somos chamadas a servir os mais vulneráveis. O nosso compromisso em aliviar o sofrimento e promover mudanças positivas continua a obrigar-nos a deixar que a nossa voz fale pelas numerosas pessoas vulneráveis que nos foram confiadas», disse a irmã Beatrice Jane, que gere a escola especial de São Martinho de Porres em Kisumu, no Quênia, ao serviço de mais de 300 crianças com várias deficiências. O seu testemunho não é apenas a narrativa de uma experiência, mas um convite à mudança de paradigma na oferta de cuidados, apoio e compaixão pelas pessoas vulneráveis.

O caminho da irmã Beatrice começou como professora em escolas normais. No entanto, uma vocação profundamente enraizada levou-a a explorar a educação especial, uma experiência que começou em 2003, quando foi chamada a trabalhar numa escola para surdos. «Apesar de não ter qualquer experiência prévia com a língua gestual», disse a Vatican News, «a minha determinação e compaixão impeliram-me». Hoje é uma comunicadora fluente com os surdos.

A irmã Beatrice é a confidente, guia, tutora e figura materna delas. O seu papel vai muito além da aquisição da língua. «Supervisiono uma comunidade de mais de 300 crianças com várias deficiências, como a paralisia cerebral, incapacidades físicas, desabilidades intelectuais e outras».

O percurso para entrar na sua escola não é fácil. Para que as crianças recebam um diagnóstico correto e um lugar adequado nas escolas, os pais devem navegar num complexo sistema de avaliações médicas e educacionais, antes que os seus filhos possam ser admitidos. «A nossa escola é um lar para estas crianças», explicou. «Muitas delas estão confinadas em casa, tratadas como pesos, invisíveis para o mundo; este isolamento agrava as vulnerabilidades das crianças e limita as suas oportunidades».

A escola serve como tábua de salvação para muitos, um lugar onde, dentro das suas paredes, as crianças encontram aceitação, liberdade, amizade, sentido de pertença, oportunidades para aprender e crescer e, o mais importante de tudo, amor. A firme convicção da irmã Beatrice no potencial dos seus alunos revelou-se contagiante. Ela não vê deficiências, mas habilidades inexploradas. A sua atitude positiva é uma prova da sua filosofia : «Deficiência não é inabilidade». Ela vê além dos seus desafios, reconhecendo o potencial que existe em cada criança.

«Gerir a escola é uma batalha constante e árdua», observou, indicando os imensos desafios que a sua escola deve enfrentar. O apoio inadequado do governo, a falta de recursos e as necessidades urgentes dos seus alunos são evidentes. Muitas vezes a sociedade considera estas crianças como um fardo, o que sobrecarrega a irmã Beatrice e o seu grupo.

Muitos pais não conseguem satisfazer as necessidades básicas, para não falar do custo dos cuidados e da educação especializada. Os pais, sobrecarregados com os desafios de criar uma criança com deficiência, recorrem frequentemente aos avós para receber apoio. «O governo», observou a irmã Beatrice, «oferece uma ajuda mínima, deixando que instituições como a nossa carreguem sozinhas o peso destes desafios». Até a sua congregação religiosa tem dificuldade em satisfazer as necessidades urgentes dos seus estudantes. No entanto, a irmã Beatrice e o seu grupo perseveram, proporcionando não só educação, mas inclusive cuidados essenciais, incluindo alimentação, vestuário e tratamentos médicos.

Talvez o desafio mais angustiante seja a indiferença da comunidade em geral. Em vez de oferecer apoio, a escola é muitas vezes vista como recurso a explorar. A escola e os seus alunos são convidados a contribuir para as atividades da Igreja, mas às vezes recebem pouca ajuda financeira. Numa entrevista a Vatican News, a senhora Claris Achieng Olare, mãe cujo filho sofre de paralisia cerebral, afirma que o estigma que sofrem como pais é que as pessoas pensam que os pais devem ter feito algo de errado e que esta é a consequência. Apela-se à sociedade para que aceite a existência destes casos, e o importante é prestar os cuidados e o apoio necessários a estas crianças sem preconceitos.

Apesar destes obstáculos, há momentos de triunfo extraordinário. Uma jovem, outrora incapaz de ler e escrever, tornou-se pregadora e fonte de inspiração para os seus coetâneos. «Estas histórias alimentam a minha paixão e impelem-me a continuar a cuidar destas crianças, a criar um mundo onde cada criança, independentemente das suas capacidades, seja valorizada e apoiada», declarou a irmã Beatrice, acrescentando : «Estas crianças devem ser celebradas, não compadecidas».

Concluindo, a religiosa exortou todos a cultivar os sonhos e o potencial das crianças com deficiência. «Une-te a nós», exortou, «na construção de um mundo onde a deficiência não seja uma inabilidade, mas um catalisador de resultados extraordinários».’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.osservatoreromano.va/pt/news/2024-09/por-036/deficiencia-nao-e-inabilidade.html

quarta-feira, 4 de setembro de 2024

Índia: religiosas ensinam teologia nas periferias

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

Ir. Shalini com dois membros de uma família que estão alojados em barracão temporário à beira da estrada 

*Artigo da Irmã Greta Pereira


A Irmã Shalini Mulackal ensina teologia sistemática no Vidyajyoti, um importante colégio teológico jesuíta em Délhi, na Índia, desde 1999. Enquanto fazia o mestrado na mesma faculdade, morava num bairro degradado, onde a sua comunidade vivia e trabalhava. A sua experiência na periferia tornou-se a base para a utilização coerente do método contextual da teologia, que procura realizar uma transformação dos indivíduos e da sociedade. Enquanto lecionava, continuou a visitar os bairros com os alunos e a orientá-los na sua reflexão teológica.

Ensinar teologia a partir dos últimos

A Ir. Shalini foi uma fonte de inspiração para muitos jovens teólogos na Índia graças ao seu estilo específico de ‘fazer teologia’. Leva frequentemente os seus estudantes aos bairros degradados, àqueles que vivem literalmente na periferia, como numa lixeira. Com os estudantes, a Irmã Shalini participou muitas vezes em protestos de mulheres que lutavam contra a violência e o estupro, mas também em manifestações de pessoas deslocadas e discriminadas contra os megaprojetos. A sua participação serviu como uma ação simbólica de solidariedade com grupos particulares dos seus direitos humanos fundamentais. A religiosa afirma que a sua força motriz como professora era a ‘paixão por Cristo e a compaixão pelas vítimas de sistemas sociais injustos’.

Teologia contextual

A Ir. Shalini acredita que a finalidade de fazer teologia é favorecer a transformação tanto no indivíduo como na sociedade. Por isso, o contexto da teologia deve partir da perspectiva e da experiência dos pobres. O seu método de ensino procura realçar a necessidade de abraçar uma opção preferencial pelos pobres e instilar o mesmo fogo nos seus estudantes. ‘Através do meu ensino, exemplos e interação com os alunos’, declarou ao Vatican News, ‘eu esperava que pelo menos alguns alunos se empenhassem verdadeiramente no serviço aos pobres’.

Necessidade de uma perspectiva feminina

A Ir. Shalini defende vigorosamente a perspectiva das mulheres em todas as disciplinas da teologia e em todos os aspectos da vida da igreja. ‘O nosso atual sistema de formação no seminário deve ser transformado’, afirmou. ‘A liderança da Igreja responsável pela formação nos seminários na Índia deverá pensar em fazer com que mais mulheres possam participar na formação e no ensino nos seminários’.

A religiosa contribuiu para o processo sinodal em curso, tanto na Arquidiocese de Délhi como na Conferência dos Bispos Católicos da Índia (CCBI). Analisando o relatório de síntese de 10 páginas das várias dioceses de rito latino na Índia, recordou que as mulheres se comoveram até às lágrimas quando experimentaram, pela primeira vez, a oportunidade de falar sem medo e de ser ouvidas.

‘Certamente a Igreja, sob a liderança do Papa Francisco, envia todos os esforços para ouvir as mulheres e responder às suas dificuldades’, declarou. ‘Por exemplo, não faz muito tempo, o Papa Francisco nomeou três mulheres no Dicastério para os Bispos. E, em 2020, nomeou 6 mulheres no Conselho para a Economia do Vaticano. O Papa Francisco permitiu também que as mulheres votassem no Sínodo sobre a sinodalidade’.

Religiosas do futuro

A Ir. Shalini sente fortemente que hoje, mais do que nunca, o mundo precisa de religiosas comprometidas que deem testemunho com a própria vida. Acredita que elas devem responder às novas necessidades como conselheiras, tutoras, guias espirituais, teólogas, terapeutas, ministras de cuidados pastorais e ativistas dos direitos humanos e ambientais.

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2024-08/projeto-sisters-india-delhi-irma-mulackal-professora-teologia-24.html


segunda-feira, 2 de setembro de 2024

Quênia: religiosas cegas oferecem seu testemunho ao povo de Deus

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
Da esquerda para a direita: Irmã Mary Carmen, Irmã Mary Veronica e Irmã Mary Angelina na capela 

*Artigo da Irmã Michelle Njeri, OSF


A família de Dom Orione inclui os Filhos da Divina Providência e as Pequenas Irmãs Missionárias da Caridade. No entanto, menos conhecido é que dentro da mesma família existe uma comunidade de Irmãs Sacramentinas, cujos membros são religiosas com deficiência visual.

As Irmãs Sacramentinas passam grande parte do dia em adoração ao Santíssimo Sacramento, mas também realizam um apostolado em sua comunidade local. O instituto foi fundado na Itália por São Luís Orione, um sacerdote italiano comumente conhecido como Dom Orione. No Quênia, a comunidade das Irmãs Sacramentinas conta com quatro membros : Irmã Mary Carmen, Irmã Mary Angelina, Irmã Mary Rachael e Irmã Mary Veronica.

Apostolado e oração

A Irmã Mary Veronica sempre desejou ser religiosa, mas teve dificuldades em encontrar uma congregação que a aceitasse devido à sua deficiência visual. Em 1981, uma irmã da Consolata a direcionou pela primeira vez para as Irmãs Sacramentinas, onde ela permanece até hoje. ‘Esta congregação de freiras com deficiência visual é única e é a única no Quênia’, disse a Irmã Mary Veronica. ‘Nosso fundador, Dom Orione, era uma pessoa caridosa e nos pediu para sermos mães e irmãs dos pobres. Oferecemos nossa falta de visão a Deus para os irmãos e irmãs que não conhecem a verdade, para que possam experimentar Deus, a luz do mundo.’

Embora tenham deficiência visual, as Irmãs Sacramentinas são contemplativas e, ao mesmo tempo, muito ativas. Ensinam catecismo em sua paróquia, visitam as pessoas na vila próxima e oferecem sua ajuda também online. ‘Em nosso carisma de Irmãs Sacramentinas, adoramos Jesus no Santíssimo Sacramento e falamos a Jesus sobre a humanidade. Encontramos as pessoas e falamos a elas sobre o amor de Deus. Levamos as almas a Jesus e Jesus às almas’, disse a religiosa.

As irmãs fazem Adoração em turnos e se envolvem em outras tarefas comunitárias, como agricultura, criação de aves, confecção de rosários e trabalhos de tricô, como atividades geradoras de renda para a sustentabilidade. ‘Nos unimos à congregação para dar e receber; não nos unimos para ser ajudadas. Procuramos ser autônomas em tudo o que fazemos’, disse a Irmã Mary Veronica, acrescentando : ‘Preciso de oportunidades, não de compaixão.’ 

Desafios da comunidade

Comprar livros escritos em braille não é fácil para as freiras com deficiência visual. Por muitos anos, elas importaram livros espirituais em braille do exterior. Com o aumento das tarifas de importação, as freiras não podem mais receber os livros como antes. No entanto, as religiosas reconhecem que os desafios as tornam completas. ‘Enfrentamos os desafios com alegria, ter deficiência visual não nos tira os talentos e capacidades’, afirma a Irmã Mary Rachael.

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2024-08/quenia-religiosas-deficiencia-visual-testemunho.html