*Artigo de Dom Walmor Oliveira de Azevedo,
Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte
‘Não basta vencer as eleições do
domingo, pois a verdadeira conquista é muito mais difícil de alcançar. Trata-se
da vitória que é o bem do povo, particularmente dos mais pobres e sofredores,
enjaulados em condições indignas de vida, privados de direitos fundamentais. Os
analistas, com diferentes pontos de vista, indicam a complexidade do momento.
Diante de todos está o desafio do crescimento econômico, de se atender demandas
de infraestrutura e de libertação da máquina pública das garras ferozes dos que
dela se apossam, nos diversos níveis, instâncias e lugares, pelo Brasil afora,
incapacitando-a no atendimento de sua finalidade - o zelo e a garantia do bem
comum.
Ao considerar esse horizonte de
exigências e desafios, compreende-se ainda mais que a ida às urnas exige
responsabilidade de cada cidadão eleitor. Uma constatação evidente, mas que
merece sempre reflexões. Quando se observa a atual tendência do eleitorado na
sua escolha, percebe-se o peso da interrogação no ar. Este momento eleitoral
tem revelado a indecisão de muitos, a divisão equiparada das opiniões, ora para
um lado, ora para outro. Talvez isso seja sinal de certo amadurecimento da
democracia. Um gesto aparentemente simples, apertar teclas da urna eletrônica,
revela um processo da mais alta complexidade.
A candidatura escolhida vai nortear
rumos, ou desconsertá-los, no quadriênio subsequente. Discernir e fazer a
escolha, algo que precede o gesto simples e rápido de teclar, é agora o grande
desafio cidadão. Há uma avalanche de elementos a serem avaliados, um caminho a
ser bem trilhado rumo à definição mais apropriada possível, que colabore com o
desenvolvimento da sociedade brasileira. A velocidade das mudanças e o aumento
das necessidades reais do povo não admitem senão inovações, busca de novas
respostas e a garantia de avanços. Conquistas são possíveis, embora difíceis.
Particularmente, o eleitor deve buscar quem é capaz de superar a famigerada
desigualdade social que ainda rege violentamente a sociedade brasileira.
Buscar o caminho novo inclui a
verificação de um check list com incontáveis tópicos. Cada cidadão tem o
direito, e até o dever, de tomar conhecimento destes itens todos para viver seu
discernimento e alcançar uma amadurecida escolha. Também é importante
conhecê-los para exercer o direito de acompanhar a efetivação dos compromissos
assumidos por quem se elegeu e, portanto, tornou-se servidor do povo. Dois
aspectos, entre tantos, merecem alguma consideração neste momento decisivo. Um
deles se refere à qualidade do processo de escolha. Eleitores não podem
deixar-se influenciar apenas pelos resultados de pesquisas de intenção de voto,
até porque elas têm revelado muitas fragilidades e limitações. Também é
inadmissível aceitar que, a esta altura do terceiro milênio, ainda exista o
antigo ‘voto de cabresto’, com os ‘currais eleitorais’, onde se define uma
escolha pelos esquemas de dependência e se estimula a apatia em detrimento da
participação popular.
Outro aspecto que agrava o cenário
eleitoral é a carência de lideranças com perfis mais enriquecidos.
Infelizmente, a poluição partidária, formada pelo excessivo número de legendas
e, sobretudo, pela parcialidade e interesse cartorial, tem refletido na falta
de pessoas qualificadas para o exercício do cargo público. Consequentemente,
torna-se cada vez mais comum encontrar nas instituições públicas pessoas que
não se comprometem com o bem da sociedade e com a superação do sofrimento dos
mais pobres. O interesse cada vez mais hegemônico é a busca de ganhos para
classes e grupos. No segundo plano, fica o gosto cidadão de representar o povo,
servindo-o acima de tudo, trabalhando por suas necessidades.
A corrupção e os escândalos do uso
inapropriado dos recursos do erário público emolduram a política brasileira.
Essa grave crise na representatividade favorece mediocridades e, até mesmo, a
escolha de quem não consegue inovar, ousar, de quem prefere a conservação que,
por sua vez, alimenta o atual cenário. Diante de tantas necessidades de
mudança, é certo que ao cidadão não basta apenas votar, e aos escolhidos nas
urnas, não basta vencer as eleições. Há um íngreme caminho a ser percorrido.’
Fonte :
* Artigo na íntegra de http://www.news.va/pt/news/nao-basta-vencer
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